sábado, 25 de agosto de 2012

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A ESCOLA SOB O DOGMA DO MERCADO: UMA REFLEXÃO SOBRE O 
TRABALHO DO SUPERVISOR DE ENSINO NESTE CONTEXTO
Ms. Denise Camargo Gomide
1
Supervisora de Ensino da Secretaria de Estado da Educação
Rua Elvira Chaib Zidan, 61 – Santo Antonio de Posse SP
Telefone: (19) 9173-9377

INTRODUÇÃO
O presente artigo propõe diretrizes de análise a partir da identificação histórica de 
formas de privatização da educação pública que exigem uma investigação mais aprofundada, 
destacando formas prioritárias de atuação e de legitimação dos projetos do empresariado para 
a educação, buscando identificar nesse contexto as inferências na ação supervisora, apontando para 
uma dinâmica humanizadora e emancipatória no trabalho do supervisor de ensino.
O período histórico compreendido para esta análise preliminar inicia-se em 1984 até 
os dias atuais, período este caracterizado principalmente pelo processo de globalização, 
transição democrática e educação (inter)nacional. 
O processo de globalização desencadeado a partir dos anos 80 possibilitou a abertura 
política do país e quebrou as barreiras nacionais (territoriais) que impediam que as forças do 
capital ocupassem amplos espaços, criando assim possibilidades inéditas de expansão e 
acumulação.
Com este novo ciclo de expansão do capital, a questão da qualidade da educação, 
tomada hoje em nível mundial, como fator de desenvolvimento econômico passou a ser 
analisada sob a lógica do mercado, e traduzida em índices e rankings. 
Nesse contexto, foram implementadas diversas reformas, como, por exemplo, a 
Reforma do Estado e a Reforma Educacional que preconizavam reestruturar o Estado no 
sentido de desconstruir o Estado providência em prol de um Estado máximo para o capital, 
convertendo assim o sistema educativo em campo de domínio do capital e da produção de 
mercadorias.
No campo educacional, a livre expansão do capital permitiu uma maior abrangência 
do seu campo de ação, dando continuidade e ampliando a tendência privatizante dos anos da 
Ditadura Militar. Nesse sentido, este período histórico foi o cenário da maior perda para o 
ensino público quando a Constituição Federal de 1988 escancarou as portas, que na verdade 
                                                          
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dcgomide@gmail.com2
nunca foram fechadas, para que o setor privado pudesse se apropriar de novas fatias do 
público para a educação, justamente por não garantir a destinação exclusiva dos recursos 
públicos para as instituições de ensino mantidas pelo Estado.
No tocante às reformas, o discurso da qualidade foi então a base da Reforma do Estado 
que pretendia tornar mais eficiente o desempenho da máquina governamental, proporcionando 
serviços de melhor qualidade para os cidadãos. Contudo, se adequando aos interesses 
estratégicos dos agentes governamentais, o foco parece ter se deslocado para a esfera 
administrativa, incluindo aí a parceria público-privada como uma das estratégias utilizadas em 
âmbito governamental, que através de parcerias com setores do mercado passou a assumir a 
prestação de serviços públicos antes compreendidos na esfera estatal.
METODOLOGIA
A construção desta análise, sob uma ótica crítica e de referencial marxista, 
considerou as categorias gramscianas que ajudam a compreender o papel da sociedade civil
na construção da hegemonia e as relações de poder implícitas nas políticas governamentais.
A partir dessas questões, procuremos, a partir da compreensão de Gramsci sobre a 
educação unilateral referenciada no conceito de Capital Humano, indagar sobre a redefinição 
da função social da escola pública diante da presença desses organismos privados.
A relevância do tema se confirma porque difunde uma identidade social que se opõe 
ao posicionamento dos educadores que defendem a educação pública comum, única e 
desinteressada, expressa na Escola Unitária de Antonio Gramsci:
A escola unitária requer que o Estado possa assumir as despesas que hoje 
estão a cargo da família, no que toca à manutenção dos escolares, isto é, que 
seja completamente transformado o orçamento da educação nacional, 
ampliando-o de um modo imprevisto e tornando-o mais complexo: a inteira 
função de educação e formação das novas gerações torna-se, ao invés de 
privada, pública, pois somente assim pode ela envolver todas as gerações, 
sem divisões de grupos ou castas. (GRAMSCI, 2006, p. 121).
No tocante à ação supervisora, buscaremos retomar a ação do “intelectual orgânico” 
delineado por Gramsci, no sentido de ter  um projeto assumido conscientemente e, pautado 
nele, ser capaz de despertar, de mobilizar as pessoas para a mudança e fazer junto, com os de 
sua “classe” (a massa docente), o percurso para estabelecer uma linha de mediação no sentido 
de provocar, subsidiar e interagir.
Todo grupo social, ao nascer do terreno originário de uma função essencial 
no mundo da produção econômica, cria também, organicamente, uma ou 3
mais camadas de intelectuais que conferem homogeneidade e consciência da 
própria função não apenas no campo econômico, como também no social e 
político: o empresário capitalista gera junto consigo o técnico da indústria, o 
cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um 
novo direito etc. (Gramsci, 1975, p. 1.513)
RESULTADOS
Nessa perspectiva, podemos inferir que o campo econômico passa a exercer influência 
e dominação sobre todas as esferas sociais fazendo com que as políticas públicas sejam 
orientadas por este novo padrão, especialmente as políticas educacionais:  "trata-se de um 
‘novo padrão desenvolvimentista' a partir do qual o campo econômico constitui-se na ‘molamestra' em torno da qual se articulam o social e o educacional" (SOUZA, 2010, p. 91).
Assim, a questão do financiamento público da educação se destaca entre as estratégias 
da Reforma Educacional e faz parte de uma intricada rede de interesses políticos e 
econômicos das mais diversas ordens e se insere numa problemática mais ampla e polêmica, 
que é o mercado educacional, vislumbrado após a inclusão da educação como um serviço na 
Organização Mundial do Comércio (OMC) na década de 1990. 
Na historiografia educacional brasileira, a temática do público e do privado tem sua 
origem em 1821 (CURY, 2005) quando passa a atestar a ineficiência e incapacidade do 
Estado Nação em garantir a educação básica, que na época se definia como o ensino das 
primeiras letras e, hoje, século XXI, é incapaz de dar conta da educação com qualidade.
Ao longo da história, a educação passou por mudanças, mas continua sendo uma arena 
de embates ideológicos, políticos e culturais. Impulsionadas pela globalização hegemônica e 
transformações na economia, as parcerias entre setor público e privado têm se efetivado 
principalmente através de transferências de serviços historicamente considerados privativos 
do poder público para grupos privados e tornam-se recorrentes em vista do crescimento desta 
prática no Brasil.
Nessa perspectiva, o cenário educacional brasileiro passa a adquirir novas 
configurações diante do mundo globalizado, colocando em evidência e em posições decisivas 
a lógica mercadológica, contrapondo-se ao Estado que passa assumir uma postura de mero 
expectador. No entanto, vale ressaltar que na “saída” do processo educacional, o Estado, 
ironicamente, vem atuando como regulador, na medida em que impõe mecanismos de 
avaliação, cujos resultados encontram-se atrelados a metas, índices, rankings, que valem 
direta ou indiretamente recursos financeiros, tanto para instituições públicas, governos e 
instituições privadas. 4
DISCUSSÃO
Diante da postura do Estado enquanto regulador, no sentido de “garantir” a qualidade 
da educação através de mecanismos externos de avaliação, retomaremos o conceito de 
qualidade nas últimas décadas, fazendo um panorama histórico do desenvolvimento do 
conceito e suas implicações na educação até a década de 90, quando então o debate sobre a 
qualidade na educação se tornou mais acirrado. 
Na década de 20 do século passado, a noção de qualidade emerge no processo de 
industrialização, associada à idéia de tempo e de eficiência do trabalhador no desempenho de 
suas tarefas: "qualidade" tinha como referente o "controle de defeitos de fabricação". Esse 
padrão permaneceu nas décadas de 30, 40 e 50, orientado pela teoria e pelos métodos da 
administração científica desenvolvida por Taylor.
Na década de 60, chegaram as experiências com inovações nos métodos de controle de 
qualidade dos produtos, que ficaram conhecidos como "Controle de Qualidade", 
caracterizando-se como controle de processos que englobava toda a linha de produção, desde 
o projeto até o acabamento.
Na década de 70, a experiência japonesa foi apropriada pelos Estados Unidos, que 
incrementaram algumas modificações de natureza administrativa e atribuíram ao referente de 
qualidade, não só o objetivo de evitar defeitos de fabricação, mas, de organizar toda a 
produção para atingir determinadas metas de produtividade, o que ficou conhecida como 
"administração por objetivos".
Nos anos 80, a evolução dessa prática administrativa adquiriu a designação de "Gestão 
pela Qualidade Total". E, assim, acompanhando a mudança da denominação, o referente 
também foi deslocado de "produto sem defeito" para "cliente sem defeito".
Na década de 90, a prática da gestão e controle do processo de trabalho foi comumente 
designada com a expressão "Qualidade Total", procurando construir um discurso de gerência 
moderna. Esse discurso de gerência moderna procurou trazer novos sentidos para a prática de 
gerenciamento, tornando-se uma das formas de representação da ideologia do mercado.
A partir então do início da década de 1990 há um processo de reconfiguração de 
políticas econômicas e educacionais, e profundas reformas que se estendem da 
redemocratização política à liberalização e à redução da sua esfera pública (Estado menor) e 
da reconstrução de sua regulamentação para expandir a esfera privada, sob uma lógica de 
otimização de recursos, com uma tendência  em vincular a educação a um discurso de 
qualidade sob a lógica empresarial: racionalização administrativa e processos produtivos 5
atrelados a critérios de eficácia e eficiência, sintonizando-se com o desenvolvimento 
econômico para que o Estado possa competir no mercado internacional.
Nessa perspectiva, o discurso da qualidade passa, assim como nas empresas, a 
ser a principal meta propagada pelo discurso político oficial dos governantes, como sinônimo 
de eficiência e eficácia, termos estes basilares do modelo empresarial, destacando-se assim 
como motor desencadeador de novas políticas e programas de ações na área educacional.
Contudo, diante dos baixos resultados em avaliações, nacional e internacional, 
como Pisa, Prova Brasil; Sabe; Enem, Idade, amplamente divulgados e criticados pela mídia 
nacional e internacional, que refletem nos índices do IDEB ([Índice de Desenvolvimento da 
Educação Básica) e no IGC (Índice Geral de Cursos), a educação pública torna-se notícia 
mercadológica de jornal e ganha espaço na mídia.
Apple (2004, p. 45) afirma que  "estamos em um período de reação em educação 
devido aos fracassos da mesma" e entende que nessa nova conjuntura política e econômica, o 
fracasso da educação é interpretado como prejudiciais ao desenvolvimento econômico e perda 
de competitividade internacional e, portanto, a escola e o ensino passam a ser vistos como 
investimento e o aluno como capital intelectual. 
Diante da profunda crise da social-democracia e do Estado do Bem-Estar que 
marcou profundamente as últimas três décadas do século XX, novas exigências se puseram
para a economia e para o Estado. As demandas da chamada sociedade  do conhecimento
pressionavam a educação a  mudar. Essa mudança foi  provocada principalmente pela
diminuição do papel do Estado em vários setores, particularmente, no educacional.
Através de programas de isenções tributárias, transferências diretas e indiretas, como 
bolsas de estudo para as escolas privadas, além de empréstimos com juros negativos e uma 
legislação bem flexível e amigável no que diz respeito ao funcionamento das escolas, os 
militares foram os grandes favorecedores da ação da iniciativa privada no campo educacional. 
Após o término do período militar, os presidentes civis, em virtude de uma profunda crise
fiscal presente no país, começam um movimento pela redefinição das funções do Estado. Essa 
redefinição tornou-se mais evidente a partir do Governo Collor, quando se iniciou o
programa de privatização. Nesse contexto, os investimentos no setor público foram
decrescendo em relação aos do setor privado, deslocando o eixo norteador das políticas 
implementadas para a lógica de mercado. 
Sendo assim, com o fim do regime militar, essa ideologia privatista ganhou força e
aos poucos se incorporou às idéias e práticas já arraigadas no Brasil. Os grupos econômicos
privados passaram a acusar o Estado pela crise dos anos 80. A retomada do processo6
inflacionário, a manutenção de uma grande, onerosa e desnecessária burocracia, e a 
crescente dívida interna atribuída à necessidade de empréstimos a juros cada vez mais altos, 
alimentando uma especulação financeira sem precedentes, são alguns dos fatores apontados 
por esses grupos econômicos interessados no mercado educacional.
Nessa luta ideológica, podemos definir o termo “privatizou brasileiro” a partir de 
Cunha (1995, p. 11) “como a prática de pôr a administração pública a serviço de grupos
particulares, sejam econômicos, religiosos ou político-partidários”.
Genericamente, o termo privatização designa as iniciativas que ampliam o papel do
mercado em áreas anteriormente consideradas privativas do Estado, não só a partir da venda
de bens e serviços de propriedade exclusiva do Estado, mas, também, da liberalização de
serviços, até então de responsabilidade do Estado como a educação, saúde e meio 
ambiente.
A prestação de serviços educacionais no Brasil  pelo setor privado já vinha se
expandindo desde a década de 1960, mas foi intensificado a partir da década de 1970, 
quando foi inaugurado o primeiro programa governamental de privatização. As políticas
educacionais, posteriores à década de 1980, atendiam às recomendações do Banco Mundial
que, após a eclosão da crise do endividamento, passou a impor uma série de
condicionantes para a concessão de novos empréstimos. Soares  (1996)  afirma que os 
programas de ajuste do Banco Mundial possuíam cinco eixos principais, dentre os quais 
se destaca, aqui, a privatização das empresas e dos serviços públicos.
Contudo, foi na década de 1990 que esta discussão efetivamente veio à tona, de 
modo mais específico com o início do governo Collor quando o Estado passou a delegar a 
maior parte de suas obrigações ao setor privado, se limitando apenas àquelas de caráter 
assistencial para os cidadãos cujo poder aquisitivo não permite pagar por um serviço privado.
Essa interferência do privado no setor público pode ser identificada na legislação
que, segundo Cunha (2000) favoreceu a iniciativa privada e reconheceu as instituições
privadas com finalidade lucrativa a partir da LDB de 1996, ao  mesmo tempo em que
mantinha estagnados os recursos financeiros para as instituições públicas.
Em 30 de dezembro de 2004 foi aprovada a Lei de n
o
11.079 (BRASIL, 2004), que 
trata das Parcerias Público-Privadas – PPPs, instituindo normas gerais para licitação e 
contratação de parcerias público-privadas no âmbito da administração pública. Desse modo,
excetuando o poder de regular, legislar e policiar, todo o restante poderá vir a ser objeto de
ação do setor privado.7
É bem verdade que grandes expectativas nortearam a transição entre os governos dos
presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva no tocante a 
educação pública.
No entanto, a desmobilização das principais entidades que representavam a classe 
trabalhadora, refletiu negativamente na militância em defesa da escola pública. As políticas 
educacionais governamentais passaram a convergir com as proposições educacionais do
empresariado. Este movimento se expressa através do que se tornou o maior empreendimento 
da educação de Lula: o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
A partir de então, o empresariado passou a ter grande expressão na educação pública
brasileira com a concomitante ascendência do grupo empresarial “Movimento Todos pela
Educação” que se legitimou com o decreto presidencial do PDE. Este decreto, na prática,
revogou a lei do PNE e teve como principal objetivo a instituição de programas educativos
de caráter fragmentado, de gestão privada e que não incidem sobre a ampliação dos direitos 
no campo educacional (SAVIANI, 2007).
Como forma de legitimar a política privatizante encaminhada pelo PDE, expressa 
pelas parcerias público-privadas para todos os níveis e modalidades de ensino, o próprio 
decreto institui a realização de um exame padronizado de conhecimentos pelos alunos das 
escolas públicas, que gera o IDEB. Hierarquizando o repasse financeiro às escolas públicas 
a partir de um sistema de gratificações meritocrático, repassa-se um maior montante às
escolas que atingiram maior IDEB, que curiosamente coincidem com aquelas em que as
fundações privadas tem atuado mais efetivamente, inclusive definindo os conhecimentos a
serem priorizados na escola tendo em vista à realização dos testes.
Os convênios estabelecidos com a iniciativa privada, em geral sob forma de parcerias,
estão no âmago da redefinição da função do Estado como provedor da educação pública,
de forma que os particularismos defendidos pelos grupos empresariais investidores agora
têm espaço para definir o caráter da escola pública, expressando um papel cada vez mais
orgânico dos interesses da burguesia. Desta forma, o capital se torna também mais presente
nos assuntos relativos à formação humana e a educação passa a constituir-se como um
espaço de disputa de projetos sociais de classe, no qual cabe ao capital forjar  um ethos 
coerente com o novo espírito do capitalismo.
Além de definir a pauta do conhecimento difundido na escola, o empresariado se 
vale de algumas vantagens como as generosas isenções tributárias e da associação positiva 
de sua imagem aos serviços típicos de Estado.
Após a resistência contra as reformas do Estado e da deslegitimação do neoliberalismo8
explícito, os governos comprometidos com as políticas neoliberais estão retomando estas
reformas valendo-se de mecanismos persuasivos e do discurso ideológico. Afirma-se que é
possível manter os valores do público no setor privado, através do conceito de 
“publicização”, atualizado nas novas formas de organização da sociedade civil. Segundo o 
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, “publicização” equivale  “(...) a 
descentralização para o setor público não-estatal da execução de serviços que não envolvem 
o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado, como é o caso dos
serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica.” (BRASIL, 1995, p.1).
Esta ofensiva neoliberal tem pautado o papel do supervisor de ensino a partir de uma
cultura de administração centrada em práticas autoritárias, fiscalizadoras e reprodutoras de 
políticas públicas emanadas dos órgãos centrais. Sendo assim, faz-se necessário reafirmar as 
ações que incorporam a práxis do Supervisor Humanizador e Emancipador, que se 
caracterizam pela consciência de sua função social, disposição política para a ação 
supervisora, sensibilidade social, capacidade argumentativa e compromisso em assumir-se 
como intelectual orgânico, comprometido com a sua formação e com a de sua classe, a massa 
docente, sendo capaz de organizá-la e instrumentalizá-la para  a realização de um projeto 
educativo comprometido com a transformação social, afastando-se assim daquela postura de 
controle burocrático.
Para isso, é preciso romper com as ideologias impostas pelo capitalismo, no sentido de 
questioná-las, combatendo assim a ação supervisora desvinculada da ação político-social.    
Nessa dinâmica, o supervisor de ensino precisa lembrar, antes de mais nada, que é um
educador, e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a 
reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o conhecimento desvinculado da 
realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente (repetência ou aprovação sem 
apropriação do saber), a  discriminação social na e através da escola, o nível de exclusão e 
miséria social; na busca de uma práxis educacional que a cada dia mais se aproxime do 
compromisso com a emancipação social.
Nessa perspectiva, o supervisor de ensino precisa compreender o sentido pedagógico e 
político da sua ação. Compreender o sentido pedagógico implica em reconhecer a sua função 
como essencialmente comprometida com a qualidade do ensino. Compreender o sentido 
político consiste em considerar que esta qualidade de ensino deve estar comprometida, por 
sua vez, com a realização de um projeto educativo qualitativamente adequado às classes 
trabalhadoras, atual clientela majoritária da escola pública, de modo a assegurar o acesso aos 
conhecimentos socialmente construídos, enquanto instrumental indispensável à participação e 9
transformações sociais, e não se limitar  ao oferecimento das primeiras letras ou o 
conhecimento básico para o exercício da atividade laborativa.
CONCLUSÃO
Diante dessas considerações, entendemos que  a luta histórica dos educadores em 
defesa de uma escola pública, obrigatória, gratuita, laica e  que cumpra com o papel de 
transmissora dos conhecimentos historicamente construídos, não pode ser negligenciada nem 
mesmo interrompida pela expansão do protagonismo do setor privado e da crescente 
desresponsabilização do Estado com a educação pública.
É fato que a presença desses organismos privados redefine a função social da escola 
pública, ao preconizar uma educação comprometida com o capital, e por isso necessita ser 
repensada, avaliando suas origem histórica e suas conseqüências, identificando qual o sentido
da educação veiculada por essa iniciativa da sociedade civil dirigida pelo empresariado.
A formação preconizada pelos projetos do empresariado para a educação não é capaz
de garantir o ensino “desinteressado” e sem  “finalidades práticas imediatas ou muito
imediatas; formativo ainda que instrutivo, isto é, rico de noções concretas” (GRAMSCI,
2006, p.49), conformando uma estratégia educativa pró-sistêmica e incompatível com o 
público.
Estas questões são de fato instigadoras e incômodas diante do modo que tem se 
buscado atingir a dita qualidade da educação e, portanto, é preciso  questionar as bases 
ideológicas desse modelo educacional que vem sendo delineado e consolidado, apontando os 
seus riscos à educação pública, pois com o deslocamento da educação pública para  uma
atividade a ser operada em sintonia com o chamado livre mercado, a principal tendência da
agenda educacional atual é o enfraquecimento da escola pública.
Sendo assim, concluímos que em nome da eficiência e da democratização do Estado
e da sociedade surgem os instrumentos políticos e administrativos adequados à reprodução
ampliada do capital. Estes instrumentos aparecem como elementos discursivos, de caráter
ideológico, utilizados para a extração de uma maior taxa de mais-valia e como mecanismos
de controle social, como: a flexibilização, a autonomia organizacional, o incentivo à inovação,
a descentralização, a gestão por resultados, a administração voltada para o cliente, a
negociação de metas e índices de desempenho entre as agências estatais e a utilização de
mecanismos de mercado na prestação de serviços públicos (BENTO, 2003), que são 
nitidamente identificadas nos documentos criadores das novas políticas educacionais e,10
portanto, devem ser  questionadas, considerando que o  modelo gerencial das empresas é
incompatível com os princípios inerentes à educação verdadeiramente pública.
Neste tipo de formação veiculada nas escolas não há a garantia do ensino
desinteressado. Ou seja, escola básica pública sob uma perspectiva socialista e democrática
“não deve ter finalidades práticas imediatas ou muito imediatas, deve ser formativo ainda
que instrutivo, isto é, rico de noções concretas” (GRAMSCI, 2006, p.49).
Manifesta-se então  a necessidade retomar os nexos entre as classes sociais e seus
projetos de educação. Em oposição ao Estado burguês e ao mercado, que mascaram os
interesses do capital, os projetos educacionais que tem como objetivo a defesa da educação
pública de qualidade para os filhos dos trabalhadores devem pautar-se no marxismo por seu
inseparável caráter científico e ideológico.
Simultaneamente à difusão do fracasso das escolas públicas através dos índices de 
desempenho, argumenta-se que a gestão privada é o único caminho para a  melhoria da
qualidade da educação, já que modelo empresarial está imbuído da “técnica” da 
administração institucional. Esta tentativa de destituir o Estado da sua imagem competente
para gerir as atividades sociais está no bojo das ações da reestruturação produtiva do capital
na atualidade.
O proposto “ajuste estrutural” ao qual deveriam submeter-se os países capitalistas
dependentes, marca assim início da implementação das políticas neoliberais, que sustentam
a privatização dos serviços públicos essenciais e um Estado como um mero “regulador” legal
destas atividades.
A institucionalização do IDEB é um dos retratos do que o Estado avoca como sua 
principal função: a “observação” do funcionamento da escola básica de forma a gratificar 
ou penalizar as escolas conforme aproximação ou distanciamento de um conjunto de “metas”
definidas por um consórcio de interesses particularistas.
A educação pública precisa cumprir com a  função social de elevar a formação
humana, possibilitando, aos filhos dos trabalhadores, os conhecimentos que sempre lhes 
foram negados. A eles,  o Estado Capitalista só oferece as primeiras letras, a mínima
instrumentação para o trabalho precário. É por isso que aqueles que vivem o trabalho
explorado devem se utilizar das instituições públicas como espaço da luta de classes contra a
difusão dos interesses hegemônicos do capital e pela educação que represente de fato uma
dimensão da emancipação humana.11
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VASQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. 1.ed. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra; 1968.

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