sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Doença de Chagas Foto: José de Aragão Barbeiro (vetor da doença de chagas) que acabou de se alimentar com sangue humano Descrita em 1909 por Carlos Chagas, a doença de Chagas também é conhecida como tripanossomíase por Trypanosoma cruzi ou tripanossomíase americana (terminologia adotada pela Nomeclatura Internacional de Doenças, NID). Diz-se tripanossomíase qualquer enfermidade causada por protozoários flagelados do gênero Trypanosoma, que parasitam o sangue e os tecidos de vertebrados. O Trypanosoma geralmente é transmitido de um hospedeiro a outro por insetos – no caso humano, o principal vetor é um percevejo popularmente conhecido como barbeiro ou chupão (insetos das espécies Triatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus). O Trypanosoma é transmitido no ato de alimentação do vetor. Assim que o barbeiro termina de se alimentar, ele defeca, eliminando protozoários e colocando-os em contato com a ferida e a pele da vítima. A doença de Chagas também pode ser transmitida por transfusão de sangue ou durante a gravidez, de mãe para filho. Normalmente o quadro clínico da infecção surge de 5 a 14 dias após a transmissão pelo vetor e 30 a 40 dias para as infecções por transfusão sanguínea, mas as manifestações crônicas da doença de Chagas aparecem mais tarde, na vida adulta. A fase grave é caracterizada por febre de intensidade variável, mal-estar, inflamação dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço. Podendo ocorrer e persistir durante até 8 semanas uma reação inflamatória no local da penetração do parasito (inchação), conhecida como chagoma. O edema inflamatório unilateral das pálpebras (sinal de Romaña), ocorre em 10 a 20% dos casos. As manifestações fatais, ou que podem constituir uma ameaça à vida, incluem inflamação do miocárdio (músculo presente no coração) e inflamações que comprometem a meninge e o cérebro. A fase crônica sintomática decorre com maior frequência de lesões cardíacas, com aumento do volume do coração, arritmias cardíacas, e comprometimento do trato digestivo, com inchação do esôfago e do estômago. A enfermidade é diagnosticada por exame de sangue. Não existe vacina contra a doença de Chagas, e a melhor maneira de enfrentá-la ainda se dá por meio da prevenção e do controle, combatendo sistemáticamente os vetores, mediante o emprego de inseticidas eficazes, construção ou melhoria das habitações de maneira a torná-las pouco próprias à proliferação dos triatomíneos, eliminação dos animais domésticos infectados, uso de cortinados nas casas infestadas pelos vetores, controle e descarte do sangue contaminado pelo parasita e seus derivados. Fontes: Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde, Luís Rey, editora Guanabara-Koogan Série Doenças, presente na página eletrônica do Centro de Informações Científica e Tecnológica (CICT) da Fiocruz 29/08/2006 às 15:11 Glossário de doenças

Doença de Chagas

 Foto: José de Aragão
Foto: José de Aragão

Barbeiro (vetor da doença de chagas) que acabou
de se alimentar com sangue humano

Descrita em 1909 por Carlos Chagas, a doença de Chagas também é conhecida como tripanossomíase por Trypanosoma cruzi ou tripanossomíase americana (terminologia adotada pela Nomeclatura Internacional de Doenças, NID). Diz-se tripanossomíase qualquer enfermidade causada por protozoários flagelados do gênero Trypanosoma, que parasitam o sangue e os tecidos de vertebrados. O Trypanosoma geralmente é transmitido de um hospedeiro a outro por insetos – no caso humano, o principal vetor é um percevejo popularmente conhecido como barbeiro ou chupão (insetos das espéciesTriatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus).
Trypanosoma é transmitido no ato de alimentação do vetor. Assim que o barbeiro termina de se alimentar, ele defeca, eliminando protozoários e colocando-os em contato com a ferida e a pele da vítima. A doença de Chagas também pode ser transmitida por transfusão de sangue ou durante a gravidez, de mãe para filho.
Normalmente o quadro clínico da infecção surge de 5 a 14 dias após a transmissão pelo vetor e 30 a 40 dias para as infecções por transfusão sanguínea, mas as manifestações crônicas da doença de Chagas aparecem mais tarde, na vida adulta. A fase grave é caracterizada por febre de intensidade variável, mal-estar, inflamação dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço. Podendo ocorrer e persistir durante até 8 semanas uma reação inflamatória no local da penetração do parasito (inchação), conhecida como chagoma. O edema inflamatório unilateral das pálpebras (sinal de Romaña), ocorre em 10 a 20% dos casos. As manifestações fatais, ou que podem constituir uma ameaça à vida, incluem inflamação do miocárdio (músculo presente no coração) e inflamações que comprometem a meninge e o cérebro. A fase crônica sintomática decorre com maior frequência de lesões cardíacas, com aumento do volume do coração, arritmias cardíacas, e comprometimento do trato digestivo, com inchação do esôfago e do estômago.
A enfermidade é diagnosticada por exame de sangue. Não existe vacina contra a doença de Chagas, e a melhor maneira de enfrentá-la ainda se dá por meio da prevenção e do controle, combatendo sistemáticamente os vetores, mediante o emprego de inseticidas eficazes, construção ou melhoria das habitações de maneira a torná-las pouco próprias à proliferação dos triatomíneos, eliminação dos animais domésticos infectados, uso de cortinados nas casas infestadas pelos vetores, controle e descarte do sangue contaminado pelo parasita e seus derivados.
Fontes:
29/08/2006 às 15:11 Glossário de doenças

O patrimônio arquitetônico de Manguinhos

O patrimônio arquitetônico de Manguinhos

O edifício majestoso desponta por entre a vegetação no alto da colina e dá um efeito estranhamente belo. O traçado é o de um palácio inglês do período elizabetano, com suas torres, ameias e galerias. As fachadas, pisos e forros são uma fantasia oriental, um retorno à arquitetura da Península Ibérica dominada pelos árabes.
O Pavilhão Mourisco, como é mais conhecido o prédio central da Fiocruz, começou a ser construído em 1905, pelo arquiteto português Luiz Moraes Júnior, com base em desenhos do próprio Oswaldo Cruz. Nenhum recurso foi poupado na construção. Com 50 metros de altura e 45 de largura, assenta-se sobre uma base de granito negro. Olhado de fora, apresenta-se em tons sóbrios no avermelhado dos tijolos das paredes externas e no revestimento de cobre das duas torres. De perto, explode em cores: as varandas são revestidas de azulejos portugueses, o piso é coberto de mosaicos franceses, que lembram os desenhos dos tapetes árabes. As portas são de peroba amarela entalhada, com maçanetas de bronze dourado. As paredes e o teto são de estuque cor de mate dourado, decorado em alto-relevo com elementos geométricos. A escadaria principal é de ferro forjado e mármore de Carrara. O estilo neo-mourisco torna-se ainda mais vívido no terceiro andar, onde o salão de leitura é dividido em dois ambientes por uma elegante arcada apoiada sobre colunas, com paredes e teto em estuque branco esculpido com arcos, rosáceas e caneluras. No teto do quarto e último pavimento, visível desde o hall de entrada no primeiro piso, um grande vitral em cores fortes coroa toda a obra.

Croqui original desenhado por Oswaldo Cruz para a construção do Castelo Mourisco
Nenhum detalhe foi esquecido: os gradeamentos das janelas têm 18 desenhos diferentes; a louça dos banheiros veio da Inglaterra; as luminárias alemãs, fabricadas em ferro fundido ou bronze dourado, têm cúpulas de opalina lilás. O elevador tem cabine de mogno, cúpula de espelhos e portas internas de cristal bisotado. Instalado em 1909, é o mais antigo ainda em funcionamento no Rio de Janeiro.
Próximos ao Pavilhão Mourisco, erguem-se dois outros prédios em puro e sóbrio estilo inglês: o Pavilhão do Relógio, de 1904, e o da Cavalariça para Animais Inoculados, de 1904. O primeiro destaca-se pelo relógio de quatro faces, que ainda funciona. O segundo, pela beleza das janelas com sacadas e gradeamento art-nouveau.
Desde 1981, o conjunto arquitetônico da Fiocruz está protegido por tombamento decretado pelo Serviço do Patrimônio Histórico Nacional. Silencioso e discreto, Oswaldo Cruz jamais explicou com clareza o que o levou à delirante escolha das formas para seu palácio. Como o alpinista que escalou o Everest "porque ele está lá", o cientista quis aquele estilo "porque é o mais bonito".

Um português em estilo mourisco

Um português em estilo mourisco

O arquiteto Luiz Moraes Júnior 
Foi num vagão do trem da Leopoldina que o jovem engenheiro português Luiz Moraes Júnior conheceu Oswaldo Cruz. Naquela época, o Instituto Soroterápico Federal acabara de ser criado e Luiz Moraes fazia, cotidianamente, o percurso dos técnicos de Manguinhos, pois trabalhava na reforma da Ermida da Penha. A partir daí, mal sabia ele que o seu destino iria se entrelaçar intimamente ao de Oswaldo Cruz e ao conjunto arquitetônico de Manguinhos, onde se destaca a obra do Castelo Mourisco, hoje símbolo da Fiocruz.
Luiz Moraes nasceu em Faro, capital da província de Algarve, em 28 de janeiro de 1868. Era filho de Luiz Moraes e de Eugênia Amélia da Fonseca Morais. Graduou-se como engenheiro civil, casou-se e teve sua primeira filha. Porém, pelo que consta, não foi feliz no casamento, o que o teria levado a emigrar para o Brasil com 32 anos.
A princípio, Luiz Moraes veio para o Rio de Janeiro como técnico de uma firma alemã, ao que parece contratada para executar obras de restauração do Mosteiro de São Bento. Resolveu fixar-se aqui, por conta própria, contando certamente com o apoio de parentes, que lhe facilitaram o acesso à colônia portuguesa e às construções eclesiásticas. Ele era sobrinho do Visconde de Moraes, um dos negociantes mais ricos e influentes do Rio de Janeiro e parente do vigário-geral da Penha, com quem obteve o seu primeiro trabalho como arquiteto independente, em 1900.
Ao fazer amizade com o pessoal do Instituto Soroterápico Federal, Luiz Moraes passou a conhecer de perto o trabalho que os pesquisadores faziam no laboratório na Fazenda de Manguinhos. Sua vida profissional mudou tanto quanto a de seus companheiros, quando Oswaldo Cruz assumiu, em março de 1903, a Diretoria Geral de Saúde Pública. Desde então, Moraes tornou-se artifície não só do conjunto arquitetônico de Manguinhos, como também de todas as instalações criadas ou reformadas por Oswaldo Cruz, no seu esforço de modernizar o sistema sanitário do Rio de Janeiro.
 
Na charrete, Oswaldo Cruz e pesquisadores chegam em Manguinhos.
Ao fundo, pode-se ver o Castelo Mourisco ainda em contrução


Durante os sete anos em que Oswaldo Cruz esteve à frente da Saúde Pública e nos 15 anos em que dirigiu o Instituto batizado com seu nome, Luiz Moraes acumulou experiência notável em construção civil nos campos da arquitetura hospitalar, sanitária e médico-experimental.
Entre os inúmeros trabalhos realizados por Luiz Moraes, além do conjunto arquitetônico de Manguinhos, destacam-se a sede da Policlínica do Rio de Janeiro, na antiga Avenida Central, hoje Rio Branco, a residência da família Oswaldo Cruz, na Praia de Botafogo, ambas demolidas; o Pavilhão Visconde de Morais, na Beneficiência Portuguesa, hoje totalmente descaracterizado; a conclusão das obras do Desinfectório de Botafogo, na Rua General Severiano, atual Hospital Rocha Maia; os Dispensários da Fundação Gaffré Guinle; o prédio do jornal Tribuna de Petrópolis; a reforma do Hospital do Engenho de Dentro (reforma); e o túmulo de Oswaldo Cruz no Cemitério São João Batista.
Fonte e fotos: Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Exposição recupera trajetória de Emmanuel Dias

Exposição recupera trajetória de Emmanuel Dias

Marcelo Garcia
Durante mais de três décadas dedicadas ao estudo da doença de Chagas no início do século 20, o pesquisador Emmanuel Dias se destacou pelo estudo pioneiro de estratégias de eliminação do vetor, fundamentais para o controle da doença em toda a América Latina, reunindo o mais numeroso acervo de artigos da história do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Recentemente, o Centro de Estudos do IOC comemorou o centenário de nascimento do especialista. O evento marcou também a nomeação do Anfiteatro Emmanuel Dias e a inauguração da exposição Doutor Emmanuel Dias, que recupera a história das contribuições científicas do pesquisador.
 Emmanuel Dias teve papel fundamental no combate ao vetor da doença de Chagas no Brasil e na América Latina, com trabalhos pioneiros na utilização de inseticidas contra o barbeiro (Fotos: Acervo COC)
Emmanuel Dias teve papel fundamental no combate ao vetor da doença de Chagas no Brasil e na América Latina, com trabalhos pioneiros na utilização de inseticidas contra o barbeiro (Fotos: Acervo COC)

Afilhado de Carlos Chagas e um de seus mais importantes seguidores, Emmanuel Dias também dedicou sua vida ao estudo da doença de Chagas. Durante sua carreira produziu trabalhos pioneiros e até hoje muito relevantes sobre aspectos da epidemiologia, biologia, clínica, controle e diagnóstico da infecção. A morte prematura em um acidente de carro, em 1962, encerrou a carreira mais profícua de um pesquisador do IOC, com um total de 203 trabalhos publicados.
Nascido em 1908, formou-se em medicina pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Como tese de conclusão do curso, fez um dos mais completos estudos da biologia doTrypanosoma cruzi. O trabalho foi publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, com um prefácio do próprio Carlos Chagas, e recebeu os prêmios Gunning e de Louvor.
A relação do pesquisador com o IOC começou ainda antes de seu nascimento. Filho do primeiro assistente de Oswaldo Cruz, Ezequiel Dias, e da cunhada do sanitarista, Maria Cândida Fonseca Dias, Emmanuel era afilhado de Carlos Chagas e ganhou experiência durante a faculdade, com estágios voluntários que desenvolveu no Instituto, sob a orientação do padrinho. Na época, teve como companheiros inseparáveis os jovens Walter Oswaldo Cruz, Evandro Chagas e Carlos Chagas Filho.
Depois de formado, tornou-se pesquisador do IOC e herdou o comando do laboratório que era liderado por Chagas, pouco antes da morte do padrinho. Em 1943 fundou, em Bambuí (MG), um centro de estudos até hoje em funcionamento, e no qual também atuou como diretor. A partir dessas experiências, publicou a maior casuística sobre forma aguda de transmissão vetorial da doença da Chagas no Brasil e, junto com outros pesquisadores do IOC, o mais completo estudo sobre a cardiopatia chagástica feito até hoje no mundo, além de diversos artigos sobre a biologia, a epidemiologia e o diagnóstico da doença.
 Em 30 anos dedicados à pesquisa em doença de Chagas, Emmanuel (à direita) desenvolveu estudos pioneiros na biologia do parasito, na análise da cardiopatia associada à doença e no controle dos insetos vetores
Em 30 anos dedicados à pesquisa em doença de Chagas, Emmanuel (à direita) desenvolveu estudos pioneiros na biologia do parasito, na análise da cardiopatia associada à doença e no controle dos insetos vetores

O trabalho desenvolvido por Emmanuel Dias também o põe, ainda hoje, como uma das mais importantes agentes do controle da doença nos países latino-americanos. Em 1947, Emmanuel publicou um de seus mais clássicos e pioneiros trabalhos, sobre o emprego do Gammexane, um inseticida, no controle do principal vetor da doença no Brasil, Triatoma infestans. A partir da descoberta, o pesquisador atuou ativamente na divulgação da doença junto a políticos, intelectuais, médicos, sanitaristas e demais profissionais da saúde, visando seu controle e a eliminação de seus vetores.
Nos anos seguintes, publicou diversos estudos sobre a infestação domiciliar do barbeiro e sobre estratégias e ferramentas de controle dos vetores, inclusive na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. “Emmanuel Dias foi, também, um dos principais incentivadores do engajamento da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) na iniciativa de erradicação da doença de Chagas do continente americano”, afirma o pesquisador-emérito da Fiocruz e chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, José Rodrigues Coura. “Seus trabalhos serviram de base para as atuais estratégias de combate ao tripanossomídeos e para a aplicação dos inseticidas atualmente utilizados contra os vetores da doença de Chagas”.
Hoje a doença de Chagas é amplamente conhecida, com sua transmissão eliminada em extensas regiões do continente americano. Emmanuel Dias, que atuou em iniciativas para o controle da doença em diversos países das Américas do Sul, Central e no México, é considerado pela Opas e pelo governo brasileiro como o principal artífice desta vitória. “Seja por meio de estudos biológicos sobre o parasito, de estudos clínicos sobre a manifestação da infecção ou iniciativas para seu controle”, conclui Coura, “ele marcou a história da pesquisa em doença de Chagas, do IOC e da ciência brasileira, como um dos mais e importantes pesquisadores brasileiros”.
Exposição apresenta coração de paciente com Chagas estudado pelo pesquisador
A exposição itinerante Doutor Emmanuel Dias, também relacionada ao ciclo de comemorações do centenário da descoberta da doença de Chagas, está instalada no Pavilhão Arthur Neiva do IOC. A mostra reúne dez painéis que contam a trajetória do pesquisador e suas mais importantes contribuições para a ciência, além de uma bomba para fumigação original, como as usadas nas campanhas para eliminação do barbeiro promovidas pelo pesquisador. “Os painéis apresentam reproduções de fotos do acervo da COC e também imagens obtidas junto ao arquivo da família de Emmanuel Dias, que nunca vieram a público”, conta Lisabel Klein, curadora da exposição. Também estarão em exposição a reprodução de documentos, cartas e até um cartaz de uma campanha de erradicação do vetor da doença de Chagas.
 O coração de um paciente morto em decorrência da cardiopatia associada à doença de Chagas, que faz parte da exposição, é o unico exemplar conhecido comprovadamente estudado por Emmanuel Dias
O coração de um paciente morto em decorrência da cardiopatia associada à doença de Chagas, que faz parte da exposição, é o unico exemplar conhecido comprovadamente estudado por Emmanuel Dias

Lisabel ressalta a importância de exposições como essa para o recuperação e a valorização da história da instituição e de seus pesquisadores. “As imagens retratam a infância de Emmanuel, todas as fases de sua carreira na instituição, seu trabalho em Bambuí e algumas das principais parcerias que estabeleceu ao longo de sua carreira, com outros grandes nomes da ciência brasileira”, explica a curadora. “Recuperar a riqueza de histórias como essa é fundamental para inspirar as novas gerações de pesquisadores e sensibilizá-las para a grandeza e a importância da instituição”.
A exposição conta ainda,com uma peça histórica: o coração de um paciente chagásico, estudado por Emmanuel Dias na década de 1940. A peça  pertence ao acervo da Coleção de Anatomia Patológica do IOC, sob a guarda do Laboratório de Patologia.
“Durante a ditadura militar, no episódio conhecido com o Massacre de Manguinhos, em 1970, toda a documentação das coleções foi destruída, assim como grande parte das peças históricas, o que reduziu significativamente a coleção”, conta a pesquisadora Bárbara Dias, do Laboratório de Patologia. “Muitas das 854 peças que compõe hoje o acervo se salvaram porque foram escondidas pelos pesquisadores em outras partes do campus ou até em suas residências, o que provavelmente também ocorreu com esse exemplar estudado por Emmanuel Dias.”
A peça, por ainda apresentar sua etiquetagem original, é a única comprovadamente estudada pelo pesquisador. “A maioria das peças da época não apresenta mais essa identificação”, explica Bárbara. “Mesmo do exemplar estudado por Emmanuel Dias só conhecemos o nome do paciente a quem pertencia o coração, mas nos falta qualquer outra informação que possa caracterizar melhor o caso, já que toda documentação e a ficha da paciente foram destruídas”. Depois do Pavilhão Arthur Neiva a exposição será montada no hall dos pavilhões Helio e Peggy Pereira, Leônidas Deane e Carlos Chagas.
Publicado em 27/08/2008.

Artigo sobre Vital Brazil descreve diálogo científico entre o Brasil e a França

Artigo sobre Vital Brazil descreve diálogo científico entre o Brasil e a França

Rafael Vinícius
A pesquisadora Rosany Bochner, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), teve um artigo de duas páginas publicado na edição especial da revista de divulgação científica francesa Biofutur, uma publicação para popularizar a ciência. O Primeiro Diálogo Científico entre o Brasil e a França: Vital Brazil e o nascimento do Instituto Butantan é o título do artigo, que aborda a história e o reconhecimento mundial do trabalho do médico imunologista e pesquisador brasileiro Vital Brazil, a preparação dos primeiros soros anti-peçonhentos no País, o nascimento do Instituto Butantan e as controvérsias com o trabalho desenvolvido pelo pesquisador francês Albert Calmette.
“Quando estive na França em 2008, o pesquisador Max Goyffon, do Museu de História Natural, que tem contato com os editores da publicação, encomendou o artigo sobre o Vital Brazil, uma vez que este é o ano da França no Brasil”, explica Rosany. O francês ofereceu o espaço para a pesquisadora falar sobre a história de Vital Brazil, suas pesquisas e a relevância de seu trabalho, baseado na descoberta de estudiosos franceses sobre a soroterapia anti-peçonhenta, como Calmette e Césarie Phisalix.
No artigo, a pesquisadora do Icict salienta que o nome de Vital Brazil é reconhecido mundialmente, visto que deu o primeiro passo em relação à criação dos sistemas de informação ligados ao registro de acidentes com animais peçonhentos. “Assim que o pesquisador criou o soro, houve o início da distribuição de um boletim para o registro do atendimento, com idade, nome e do paciente e demais dados do acidente”, destaca Rosany. Devido ao inédito trabalho com a coleta de dados, que eram publicados em um boletim criado por Vital Brazil, o trabalho do pesquisador inspirou o Sistema de Informação de Agravos de Notificação e o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox).
Os estudos desenvolvidos com os acidentes envolvendo animais peçonhentos levaram o Brasil a ter posição de destaque no cenário mundial, se pareando à França em termos de pesquisa. “Vital Brazil redirecionou suas pesquisas, fez descobertas e ainda debateu em pé de igualdade com um grande pesquisador da França, país que sempre se destacou na discussão do tema”, esclarece a pesquisadora. A partir do momento em que Vital Brazil teve contato com os projetos de Calmette e Phisalix, houve o início do seu interesse pelo trabalho imunológico, com destaque para a descoberta de soros específicos para cada serpente brasileira. “É neste ponto que surge a discussão com Calmette. Este acreditava que o soro produzido por suas pesquisas servia para qualquer serpente. Vital Brazil provou o contrário, que haveria um soro para cada uma”, afirma Rosany.
Quando Vital Brazil chegou ao Rio de Janeiro para estudar medicina precisava de dinheiro para custear seus estudos. A saída encontrada pelo pesquisador foi dar aulas de aritmética. “Esse pé na matemática talvez explique o interesse de Vital Brazil pelo trabalho com os dados de intoxicação”, explica a pesquisadora. Criador do Instituto Butantan e do Instituto Vital Brazil, o pesquisador teve toda a sua obra publicada em um livro, em 2002. O seu interesse com a pesquisa no campo das intoxicações surgiu quando começou a ver vários acidentes com serpentes na cidade de Botucatu (SP), na época em que trabalhava como clínico. “Vital Brazil nos dá orgulho de sermos brasileiros. O seu trabalho perdura até hoje”, conclui a pesquisadora.
Publicado em 30/6/2009.

Dissertação recupera a trajetória da ornitóloga Emília Snethlage no Brasil

Dissertação recupera a trajetória da ornitóloga Emília Snethlage no Brasil

Edna Padrão
A participação feminina em diversos campos das ciências, no final do século 19 e início do 20, foi maior do que se imaginava. As mulheres trabalharam como viajantes, coletoras e funcionárias de instituições científicas em museus e universidades. Esta foi uma das questões investigadas pela historiadora Miriam Junghans ao pesquisar a trajetória da naturalista alemã Emilia Snethlage para o Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Na defesa da dissertação Avis rara: a trajetória científica da naturalista alemã Emilia Snethlage (1868-1929) no Brasil, Miriam destacou que “a participação das mulheres nessas atividades era maior do que se pensava”.
 A ornitóloga na varanda do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1926<BR>
(Fotos: Arquivo Guilherme De La Penha/MPEG)
A ornitóloga na varanda do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1926
(Fotos: Arquivo Guilherme De La Penha/MPEG)

Exemplo disso é o trabalho da ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929). Ela desenvolveu sua carreira científica no Brasil, trabalhando no Museu Paraense Emilio Goeldi, em Belém, e no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Dentre sua produção científica, o Catálogo das aves amazônicas, publicado em 1914 sob a orientação do zoólogo suíço Emilio Goeldi (1859-1917), foi um dos pontos altos. “Esse catálogo foi, ao longo de 70 anos, a obra mais completa e abrangente sobre o assunto, sendo citado até hoje. O intenso trabalho de campo que Emilia desenvolveu contribuiu para o conhecimento da distribuição geográfica da avifauna brasileira”, afirma Miriam.
Mas por que o interesse em estudar a trajetória da ornitóloga? Miriam explica que tudo começou em 2003, a partir do trabalho desenvolvido em um projeto da Casa de Oswaldo Cruz, o Projeto Adolpho Lutz, sob orientação dos pesquisadores da COC Magali Romero Sá e Jaime Benchimol. A partir da pesquisa, foi publicada a Obra completa de Adolpho Lutz e lançada a Biblioteca Virtual em Saúde Adolpho Lutz [www.bvsalutz.coc.fiocruz.br]. “Ao traduzir cartas de cientistas do início do século 20, encontrei algumas menções à Emilia. Chamou minha atenção o fato de ser uma mulher em um mundo no qual ‘circulavam’ apenas homens e pensei que poderia ser interessante investigar a trajetória científica da naturalista”, diz.
Nascida em 13 de abril de 1868, na Província de Brandemburgo, ao norte de Berlim, Emilia Snethlage foi uma das primeiras mulheres a cursar a universidade na Alemanha. Estudou história natural em Berlim, Jena e Freiburg, onde doutorou-se em 1904 com tese sobre a origem da inserção da musculatura dos insetos, por ela mesma ilustrada. Logo depois voltou a Berlim, onde passou a trabalhar no Museu de História Natural como assistente de zoologia, sob as ordens do decano do museu, o ornitólogo alemão Anton Reichenow (1847-1941). Foi por intermédio dele que Emilia soube da vaga para o cargo de um profissional de zoologia em um museu da América Latina, em Belém, onde atuaria durante alguns anos.
 Emília Snethlage no Museu Goeldi, em Belém, com a mascote do Jardim Zoológico
Emília Snethlage no Museu Goeldi, em Belém, com a mascote do Jardim Zoológico

A principal característica da vida profissional de Emilia foi o intenso trabalho de campo, com viagens e excursões para coleta de espécimes. Isto não era muito usual para a época, pois os cientistas, geralmente, faziam apenas uma ou duas grandes viagens de estudos e coletas durante a vida. A mais importante dessas jornadas, que obteve intensa e favorável repercussão no meio científico, foi a travessia entre os rios Xingu e Tapajós, em 1909, acompanhada apenas por índios e tendo que vencer toda a sorte de dificuldades.
Apesar da legitimidade profissional e institucional, Miriam afirma que Emilia tinha consciência da ambiguidade do seu papel social de cientista, por ser mulher. Para reduzir esse impacto, procurava manter uma aparência física sóbria e feminina. Usava calças compridas apenas quando ia a campo e mantinha os cabelos longos, embora admitisse: “a moda dos cabelos curtos seria de fato muito cômoda para uma naturalista, mas as senhoras no interior poderiam estranhar”. Após o afastamento de Goeldi do museu que leva seu nome e a morte do seu substituto, o botânico Jacques Huber, ela assumiu a direção da instituição. Mas sua gestão foi conturbada pelo desenrolar da crise política que levou à Primeira Guerra Mundial.
Em 1922, Emilia transferiu-se para o Museu Nacional, no Rio, onde passou a trabalhar como naturalista viajante, a convite do paraense Bruno Lobo, então diretor da instituição. A serviço do museu realizou numerosas viagens científicas por Maranhão, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, além de percorrer um longo trecho do Rio Araguaia. Em 1926, foi convidada a ingressar na Academia Brasileira de Ciências.
Em 1929, ela percorreu o Rio Madeira, o único dos afluentes ao sul do Amazonas que não havia explorado como desejava. Mas a viagem não chegou a ocorrer, pois Emília faleceu em Porto Velho, em 25 de novembro do mesmo ano. Segundo a historiadora Miriam Junghans, além dos seus estudos ornitológicos, Emilia publicou ainda artigos sobre geografia e etnografia.
Publicado em 5/8/2009.

Há 70 anos, morria Adolpho Lutz

Há 70 anos, morria Adolpho Lutz

João Paulo Soldati
Há exatas sete décadas morria um dos mais importantes cientistas brasileiros. Pioneiro da helmintologia, Adolpho Lutz dedicou 30 anos de trabalho ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Para marcar a data, a publicação sobre o cientista ganhou uma versãoonline gratuita. Nesse material fica-se sabendo o que levou os pais do futuro cientista a atravessarem o Atlântico em busca de uma cidade com belezas naturais exuberantes, clima agradável, ar puro e comida farta. Foi essa a expectativa dos pais de Adolpho Lutz ao deixarem a Suíça rumo ao Rio de Janeiro. No entanto, não foi aquele o cenário que o casal Lutz encontrou na capital do Império brasileiro, no princípio de 1850. O ambiente era sujo, com ruas sem saneamento básico e esgoto a céu aberto. Vivia-se o auge da epidemia de febre amarela, que causou milhares de mortes na então capital brasileira.
 Adolpho Lutz e a filha Bertha, em um laboratório de Manguinhos (Foto: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)
Adolpho Lutz e a filha Bertha, em um laboratório de Manguinhos (Foto: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)

Mesmo com todas as adversidades, cinco anos depois, em meio a um surto de cólera na cidade, nascia Adolpho Lutz. Aos dois anos, seus pais decidiram retornar a Berna. O menino cresceu na Europa, dedicando-se intensamente aos estudos durante a juventude. Viveu em cidades europeias – Leipzig, Estrasburgo, Praga, Londres e Paris – e graduou-se em medicina na Universidade de Berna. Aos 26 anos, regressou ao Brasil.
Lutz imprimiu à carreira a marca de sua vasta formação: conjugou a ação em clínica médica com a condução de estudos científicos em laboratório e em campo. Passou por importantes instituições, como o Instituto Bacteriológico de São Paulo. Sua principal área de pesquisa foi a helmintologia – o estudo sobre helmintos, popularmente conhecidos como vermes, causadores de doenças parasitárias. Publicou trabalhos de destaque na área, incluindo temas como ancilostomíase e esquistossomose.
Em 1908, Lutz ingressou no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), então chamado Instituto Soroterápico Federal. Na instituição, integrou o seleto grupo dos cientistas pioneiros de Manguinhos, que incluía Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Foram 30 anos de trabalho nos laboratórios do IOC, que Lutz dedicou principalmente ao estudo dos helmintos parasitos de vertebrados. Sua obra continua viva: as amostras coletadas pessoalmente por Lutz integram até hoje a Coleção Helmintológica do IOC, uma das mais antigas e diversas da América Latina. Marcando as sete décadas de morte do cientista, o livro Adolpho Lutz e a Coleção Helmintológica do Instituto Oswaldo Cruz, lançado em 2009, ganha versão online gratuita, que pode ser acessada clicando aqui.
Lutz é descrito na obra como um naturalista com uma curiosidade aguçada e conhecimento vasto. Os pesquisadores Jaime Benchimol, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e Luiz Fernando Ferreira, do IOC, traçaram um panorama da vida e obra de Adolpho Lutz, que mostraram períodos importantes da vida do pesquisador. Para mais informações sobre a vida e obra do cientista, acesse aqui a Biblioteca Virtual de Saúde Adolpho Lutz.
Publicado em 7/10/2010.

Esquistossomíase

Esquistossomíase

Pablo Ferreira
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nas áreas tropicais e subtropicais, a esquistossomíase só é superada pela malária em termos de importância sócio-econômica e de saúde pública. A doença tem presença constante em mais de 74 países (praticamente todos subdesenvolvidos), de 500 a 600 milhões de pessoas correm riscos de serem atingidas por ela e mais de 200 milhões são infectadas a cada ano.
 Foto: Arquivo/Fiocruz
Foto: Arquivo/Fiocruz

O Schistossoma mansoni. Na foto, o mais fino é a fêmea e o mais grosso, o macho
A esquistossomíase (forma adotada pela Nomeclatura Internacional de doenças) também é conhecida como bilharziose ou esquistossomose. É causada por vermes do gênero Schistosoma, que parasitam as veias do homem e de outros animais, onde se fixam por meio de ventosas. Dentre as diversas espécies, destacam-se o S. haematobium (mais comum na África e no Mediterrâneo), o S. japonicum (mais presente no sudeste asiático) e o S. mansoni (presente, sobretudo, em países americanos, como o Brasil), que será a espécie descrita aqui. O verme apresenta sexo separado, pertence à família dos trematódeos e pode chegar a medir um centímetro de comprimento.

O ciclo
A água é o meio que o S. mansoni utiliza para infectar o homem (hospedeiro principal) e o caramujo do gênero Biomphalaria (hospedeiro intermediário). O ciclo de evolução da esquistossomíase começa quando fezes de algum enfermo infectadas com ovos entram em contato com a água. Os ovos germinam e liberam a primeira forma larval doS. mansoni, conhecida como miracídio. A larva precisa de condições ambientais apropriadas para sobreviver, o que acaba com o mito de que a esquistossomíase ocorre apenas em águas poluídas.
 Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR
Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR
 Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR
Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR

O ciclo da esquistossomíase: os ovos (foto à esquerda), lançados na água junto com
as fezes de algum doente, eclodem e originam o miracídio (foto à direita) que...
Assim que sai do ovo, o miracídio busca e penetra o caramujo, onde, durante 20 ou 30 dias, multiplica-se e transforma-se em outra larva, conhecida como cercária. Um caramujo é capaz de liberar milhares de cercárias em um só dia, dando início à segunda fase do ciclo. Normalmente as cercárias são libertas entre 11 e 17 horas, raramente à noite e são capazes de sobreviver só durante algumas horas. Uma vez na água, a cercária nada em busca de seu hospedeiro definitivo.
 Foto: Peter Illicciev/Fiocruz
Foto: Peter Illicciev/Fiocruz
 Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR
Foto: Sinclair Stammers/OMS/TDR

...penetra o caramujo do gênero Biomphalaria (foto à esquerda), onde multiplca-se e
transforma-se na segunda forma larval do S. mansoni: acercária (foto à direita)
Após penetrar o corpo humano, a cercária migra para a corrente sangüínea ou linfática. Com um dia de infecção, é possível encontrar larvas nos pulmões e nove dias depois as mesmas rumam para o fígado, onde alimentam-se de sangue e iniciam sua maturação. No vigésimo dia, os vermes, já adultos, começam a se acasalar e sete dias depois a fêmea já libera os primeiros ovos. Em média, apenas após o quadragésimo dia de infecção será possível encontrar ovos de S. mansoni nas fezes do enfermo.
 Foto: Doenças infecciosas e parasitárias, de Ricardo Veronesi
Foto: Doenças infecciosas e parasitárias, de Ricardo Veronesi

A esquistossomíase também é popularmente conhecida como barriga d'água
Os sintomas
Febre, dor de cabeça, calafrios, sudorese, fraqueza, falta de apetite, dor muscular, tosse e diarréia, esse os sintomas da esquistossomíase em sua fase aguda. O fígado e o baço também aumentam devido às inflamações causadas pela presença do verme e de seus ovos. Se não for tratada, a doença pode evoluir para sua forma crônica, onde a diarréia fica cada vez mais constante alternando-se com prisão de ventre e as fezes podem aparecer com sangue. O doente sente tonturas, coceira no ânus, palpitações, impotência, emagrecimento e o fígado endurece e aumenta ainda mais. Nesse estágio, a aparência do enfermo torna-se característica: fraco, mas com uma enorme barriga, o que dá a doença seu nome popular de barriga d'água.
O tratamento
O tratamento é feito, sobretudo, por meio da administração de medicamentos como o oxamniquine ou o praziquantel, porém, a melhor maneira de enfrentar a esquistossomíase e evitar que ela aconteça. Para tanto, faz-se necessária uma extensa política de saúde pública e sanitária, já que a esquistossomíase está diretamente ligada a problemas sócio-econômicos. Portanto, controlar a existência da Biomphalaria não é suficiente, é preciso melhorar a qualidade de vida das populações e tomar medidas sanitaristas, como, por exemplo, a construção de sistemas adequados de esgoto.
Fonte:
– Wladimir Lobato Paraense
– Comitê de Doenças Tropicais (TDR)
– Organização Mundial de Saúde (OMS)
– Doenças infecciosas e parasitárias, Ricardo Veronesi, editora Guanabara
– Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde, Luís Rey, editora Guanabara-Koogan
– Enciclopédia Barsa
29/08/2006 às 15:45 Glossário de doenças

Estudo sobre bactérias multirresistentes a antibióticos recebe prêmio em simpósio



Estudo sobre bactérias multirresistentes a antibióticos recebe prêmio em simpósio

João Paulo Soldati
Um estudo que investigou a incidência de duas importantes bactérias multirresistentes a antibióticos – as enterobactérias produtoras de β-lactamases de espectro estendido (ESBL) e as carbapenemases do tipo KPC (KPC-2) – em hospitais do Rio de Janeiro obteve o prêmio de segundo melhor trabalho acadêmico no 2º Simpósio Internacional de Microbiologia Clínica, realizado pela Sociedade Brasileira de Microbiologia, em Florianópolis. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
 Polyana diz que prêmio é incentivo para dar prosseguimento à pesquisa
Polyana diz que prêmio é incentivo para dar prosseguimento à pesquisa

Cinco hospitais foram avaliados no estudo. “O interesse sobre o assunto surgiu a partir da crescente incidência dessas bactérias nos hospitais estudados e a carência de dados sobre o tema”, relata a estudante Polyana Silva Pereira, que iniciou o trabalho como projeto de iniciação científica e que, devido à importância, continuou  nessa linha de pesquisa no projeto de mestrado, conduzido no programa de pós-graduação stricto sensu em biologia celular e molecular do IOC.
O trabalho teve como objetivo determinar a prevalência dos genes codificadores de β-lactamases em 293 amostras de enterobactérias isoladas de hemocultura – coletadas em cinco hospitais do Rio de Janeiro no período de 2007 a 2008. Os resultados demonstraram que 41% das amostras foram produtoras de ESBL, encontradas em bactérias comoKlebsiella pneumoniaeEnterobacter cloacaeEscherichia coliProteus mirabilisSerratia marcescensM. morganniiE. aerogenes, P. stuartiiC. freundiiS. rubidae e K. oxytoca. Todas as cepas foram resistentes às cefalosporinas de terceira geração e algumas apresentaram resistência a outros grupos de medicamentos antibióticos, como aminoglicosídeos, quinolonas e sulfamidas. Já 19% das cepas de K. pneumoniaeapresentaram resistência aos carbapenemas e foram produtoras de KPC-2.
A presença destes mecanismos de resistência tem uma interferência direta no tratamento do paciente, reduzindo as alternativas terapêuticas disponíveis. No caso, surge a necessidade de recorrer a antimicrobianos de última geração, o que aumenta a pressão seletiva e pode ocasionar o aparecimento de novos tipos de resistência, restringindo cada vez mais as possíveis opções de tratamento.
De acordo com Polyana, o reconhecimento do trabalho num simpósio internacional de microbiologia clínica, em que foram apresentados trabalhos de grande relevância na área e discutidos temas relacionados a resistência bacteriana foi gratificante. “O prêmio é um incentivo para darmos prosseguimento à linha de pesquisa”, conclui.
A pesquisa também é assinada pela pesquisadora Liliane Miyuki Seki e Carlos Machado Felipe de Araújo (aluno de iniciação científica) e contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Publicado em 20/10/2010.

Fiocruz Minas ganha prêmio mundial de melhor fotografia feita em microscópio


Fiocruz Minas ganha prêmio mundial de melhor fotografia feita em microscópio

O Laboratório de Entomologia Médica  (LEM) do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz MInas) ficou em primeiro lugar no 17º Congresso Internacional de Microscopia e Microanálise. A imagem premiada foi feita por Rafael Pimenta, com orientação da pesquisadora Nágila Secundino. O trabalho foi apresentado pelo estudante durante o concurso IMC17 Outstanding Micrograph, oferecido no 17th International Microscopy Congress, realizado pela Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise (SBMM), no Rio de Janeiro. A imagem premiada foi feita no microscópio laser confocal Zeiss 510 do Centro de Pesquisa e foi considerada a melhor da categoria Ciência da Vida. O equipamento utiliza laser de diferentes comprimentos de ondas que fazem uma varredura da amostra e captam sua fluorescência.
 Na imagem premiada, as estruturas vermelhas menores são os núcleos das células epiteliais, que darão origem ao córion da casca do ovo. As maiores são os trofócitos, ou <EM>nurse cells</EM>. Em verde, o vitelo, localizado no citoplasma celular
Na imagem premiada, as estruturas vermelhas menores são os núcleos das células epiteliais, que darão origem ao córion da casca do ovo. As maiores são os trofócitos, ou nurse cells. Em verde, o vitelo, localizado no citoplasma celular

Sob orientação de. Nágila, Rafael Nacif Pimenta analisou e fotografou o desenvolvimento ovariano de mosquitos. Apresentada com o título Oócito de Culex quinquefasciatus no Congresso, a micrografia feita na Fiocruz Minas concorreu com imagens enviadas por laboratórios e centros de pesquisa de vários países.
“Disseram que foram 150 fotos no total, que participaram do concurso. É a primeira vez que participei de qualquer concurso relacionado com fotos de microscopia”, conta Pimenta. Para conseguir a imagem, ele usou uma técnica chamada de Z-Stack, que consiste em tirar várias imagens de uma mesma amostra em diferentes planos focais, e depois usar um softwarepara obter uma única imagem tridimensional.
Ao ganhar o prêmio, Pimenta agradeceu a toda a equipe do LEM e, em especial, à sua ex-orientadora de iniciação científica, Nágila Secundino, pelo incentivo e apoio que possibilitaram a formação na área de microscopia. Hoje, o estudante esta no Laboratório da Biologia Molecular de Parasitos e Vetores da Fiocruz, no Rio de Janeiro, sob orientação de Yara Traub-Cseko.
Publicado em 22/10/2010.

Cientista que criou o primeiro vírus sintético dá palestra sobre os rumos e as encruzilhadas da biotecnologia


Cientista que criou o primeiro vírus sintético dá palestra sobre os rumos e as encruzilhadas da biotecnologia

João Paulo Soldati
“Eu não planejo ser Deus, nunca planejei e fiquei muito chateado como as pessoas repercutiram negativamente sobre o caso”. A declaração do cientista Eckard Wimmer, em tom de desabafo, foi feita em entrevista após a conferência proferida na quinta-feira (21/10), no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Wimmer, que trabalha no Departamento de Genética e Microbiologia da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, publicou na revistaScience, em 2002, o artigo que relata a criação do vírus sintético da poliomielite – considerada um marco na biotecnologia, por ser o primeiro vírus construído em laboratório.

 Wimmer destacou a possibilidade de desenvolvimento de vacinas com base na biologia sintética<BR>
(Foto: Rodrigo Ávila/IOC)
Wimmer destacou a possibilidade de desenvolvimento de vacinas com base na biologia sintética
(Foto: Rodrigo Ávila/IOC)

A convite do pesquisador Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC, Wimmer apresentou a conferência Recodificação de genomas virais de RNA através da síntese do genoma inteiro: genética e aplicações práticas para um público formado por cientistas, estudantes e jornalistas. Durante uma hora de apresentação, o pesquisador – que visita o Brasil pela primeira vez –, falou sobre a recodificação do genoma do RNA do vírus da pólio apontando o procedimento da pesquisa que revolucionou a biologia.
Perdas e ganhos
“A nova era da genética esta aí. A descoberta do sequenciamento do genoma humano foi algo extraordinário. O que vem ocorrendo agora é um grande volume de sequenciamentos do genoma de milhares de vírus”, destacou. “O desenvolvimento de vacinas a partir da recodificação do genoma de um vírus é algo inovador. Todos estes trabalhos na criação de microorganismos sintético significam uma revolução em novas vacinas, novos medicamentos e na produção de biocombustíveis”.
Ao mesmo tempo em que abre caminho para novas formas de combate a doenças, a biologia sintética é observada com cautela por Wimmer. “Nós não podemos proteger totalmente os dados daqueles que poderiam fazer mau uso dos avanços da biologia sintética. A responsabilidade cabe aos cientistas, de agir eticamente”, afirma. “Existe sim motivo para temer que grupos mal intencionados, com recursos, possam acessar na internet o genoma de um vírus como o da varíola e criá-lo em uma estrutura de laboratório”, frisou.
Perfil
Eckard Wimmer nasceu em Berlim em 1936, em pleno regime nazista, três anos antes da eclosão da II Guerra Mundial. Em 1962, Wimmer recebeu o título de doutor rerum naturarum(Dr. rer. nat.), denominação específica para título em PhD em ciências naturais na Alemanha. O cientista tem pós-doutorado em química orgânica pela Universidade de Göttingen. Seis anos depois, emigrou da Europa em direção aos Estados Unidos. Atualmente, vive em Long Island, Nova Iorque, próximo ao campus da universidade onde atua. Desde 1974 é membro do Departamento de Genética Molecular e Microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Stony Brook, onde foi reitor entre 1984 e 1999.
O pesquisador já publicou cerca de 300 artigos científicos. Em 1991, publicou a síntese do vírus da poliomielite – experiência que estimulou vários estudos sobre replicação viral. A partir da síntese, em 2002 o cientista publicou os estudos sobre a síntese do vírus da polio na ausência de um modelo natural fora das células vivas. O trabalho, que marcou uma nova era na Biologia com a criação do primeiro vírus artificial em laboratório, chamou a atenção mundial, com elogios e críticas pesadas da comunidade científica e da sociedade civil.
O feito foi reconhecido como uma nova estratégia de investigação da função gênica e da patogenicidade, permitindo alterações em larga escala em um genoma. Wimmer e seus colaboradores recodificaram e desenvolveram genomas virais de RNA alterados por computadores, através da síntese do genoma. A estratégia, segundo Wimmer, é levar a engenharia de genomas virais para o desenvolvimento de vacinas.
Publicado em 22/10/2010.

Canal Saúde apresenta debate sobre o transplante de órgãos

Canal Saúde apresenta debate sobre o transplante de órgãos

O setor de transplante de órgãos no Brasil recebeu R$ 76 milhões do Ministério da Saúde, em setembro passado. O investimento tem destino certo: criar novos leitos para transplantar medula óssea; implementar centros para transplante de córnea, ossos e pele; e capacitar profissionais do setor. Outra preocupação do Ministério da Saúde é a mobilização da sociedade para doação de órgãos. O governo lançou campanha para estimular a discussão sobre a importância de doar e de informar à família a decisão. O Ministério espera aumentar em 20% a quantidade de transplantes realizados pelo Sistema Único de Saúde. O SUS atende mais de 90% dessas cirurgias no país. O Canal Saúde da Fiocruz foi atrás de experiências bem sucedidas, e encontrou em Santa Catarina a liderança no ranking nacional de transplantes pelo terceiro ano seguido. E exibe a reportagem sobre o tema no programaSala de Convidados, nesta sexta-feira (22/10), às 13h, na TV e na internet.
 O programa mostrará todas as fases do processo de transplante de órgãos
O programa mostrará todas as fases do processo de transplante de órgãos

Sala de Convidados vai mostrar, ainda, como se dá o processo desde a doação até a cirurgia. O cuidado que o profissional de saúde precisa na abordagem às famílias diante de uma situação de doação. A formação de uma rede envolvida em todo este processo. A participação do telespectador é o mote do programa.
Compartilhe o assunto com os convidados do programa: o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Alexandre Marinho; a coordenadora da Central Nacional de Transplantes, Rosane Nothen; o secretário da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e coordenador de Transplantes Hepáticos do Hospital Geral de Bonsucesso, Lucio Pacheco; e o gerente da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos do Estado de Santa Catarina (CNCDO/SC), Joel de Andrade.
No programa Sala de Convidados o público participa ao vivo pela web, no chat, assistindo pela NBR ou ligando 0800 701 8122. Se preferir, pode antecipar a participação pelo e-mailcanal@fiocruz.br. Para saber como assistir a NBR na sua cidade ou obter mais informações sobre a NBR, acesse aqui. Para assistir no site do Canal Saúde, acesse aqui, clique na TV com a inscrição “ao vivo” e participe a partir do chat associado à transmissão.
Publicado em 21/10/2010.

Adolescentes com doenças crônicas apresentam menor adesão à fisioterapia respiratória


Adolescentes com doenças crônicas apresentam menor adesão à fisioterapia respiratória

A pesquisa A influência da idade no grau de adesão à fisioterapia de crianças e adolescentes com doenças respiratórias crônicas, desenvolvida pela fisioterapeuta do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Luciana Machado, foi premiado no 15º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória, que ocorreu em Porto Alegre. O estudo, apresentado pelo fisioterapeuta Carlos Roberto Pereira, concorreu com mais de 150 trabalhos e conquistou o 2º lugar na categoria Pôster Profissional.
 Segundo Luciana, os adolescentes apresentaram menor grau de adesão que crianças ao tratamento
Segundo Luciana, os adolescentes apresentaram menor grau de adesão que crianças ao tratamento

Fruto de um estudo transversal desenvolvido com 37 crianças e adolescentes acompanhados pela equipe do Ambulatório de Fisioterapia Respiratória do IFF, o trabalho coletou, por meio de questionário, dados sobre a escolaridade dos pacientes e de seus responsáveis, local de residência, renda familiar, idade de início do tratamento, apoio familiar, entre outras informações. O objetivo era avaliar a influência da idade de crianças e adolescentes no seu grau de adesão à fisioterapia respiratória, que foi medido a partir do número de presenças do paciente ao ambulatório dividido pelo número total de consultas agendadas para o período no qual foi realizada pesquisa.
Orientado pela pesquisadora Christine Gonçalves e realizado com a participação dos fisioterapeutas Carlos Roberto Pereira, Márcia Castro, Nelbe Nesi e Roberta Correia, o estudo constatou que a idade influenciou em 20% no grau de adesão à fisioterapia dos pacientes portadores de doenças respiratórias crônicas. Segundo Luciana, os adolescentes apresentaram menor grau de adesão que crianças mais jovens ao tratamento. “É preciso considerar as possíveis dificuldades desse público em coordenar os cuidados com a saúde e suas atividades de vida diária a fim de contribuir para o aumento da adesão ao tratamento e a conseqüente melhora da qualidade de vida”, constata a autora.
Publicado em 22/10/2010.