sábado, 29 de dezembro de 2012


Revista Lusófona de Educação, 2009,14, 77-99

Estilos de liderança e escola democrática
Leonor Lima Torres* & José A. Palhare*

 
                RESUMO
O sistema educativo português tem assistido, nas últimas duas décadas, ao aparecimento de medidas de política educativa cuja agenda reformista tem dado importância crescente às dimensões da gestão e da liderança escolares. Ao longo deste percurso marcado por ensaios e reajustamentos morfológicos nos órgãos de gestão, denota-se uma valorização crescente do papel das lideranças no desenvolvimento da autonomia das escolas. Percepcionada politicamente como uma solução óptima para a resolução dos problemas da indisciplina, do abandono e do insucesso, a liderança emerge paulatinamente como uma variável de controlo da excelência escolar, ao arrepio de uma cultura de gestão colegial historicamente enraizada nas escolas portuguesas. Apesar de serem claras as influências de inspiração neoliberal na forma como se reduz a
realidade educativa a indicadores de natureza gerencialista, é interessante, mesmo assim, problematizar a natureza da relação entre os estilos de liderança e gestão e os resultados escolares e o seu impacto no desenvolvimento democrático da escola. Partindo da análise crítica aos Relatórios de Avaliação Externa das Escolas, elegemos como objectivo central deste texto a discussão dos significados conferidos a uma "boa liderança", a uma "boa organização e administração escolar" e à sua eventual relação com os resultados escolares, de modo a compreendermos quais as tensões que este processo avaliativo comporta no plano das configurações e das práticas organizacionais das diferentes escolas-objecto. Interrogamo-nos se este processo não constituirá uma espécie de "missionarismo gestionário", que subverte as lógicas de decisão autónoma e democrática das escolas
Palavras-chave: Liderança escolar; democracia e participação; cultura de escola; avaliação externa das escolas.


Docentes e Investigadores do Instituto de Educação, Universidade do Minholeonort@iep.uminho.pt.

Referências bibliográficas

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"O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para revelar realidades e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades." (Arendt, 2001, p. 212)

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José Robson Almeida.


v. 14, n. 14 (2009)

v. 14, n. 14 (2009)


v. 14, n. 14 (2009)


Revista Lusófona de Educação


Sumário

Editorial

EditorialPDF
António Teodoro, Manuel Tavares

Artigos

A Aplicação da Etnografia Crítica nas Relações de PoderPDF
Diane Gérin-Lajoie
As situações de deficiência no processo de escolarização: quais os grandes desafios da Europa?PDF
Charles Gardou
Educação, qualificação, trabalho e políticas públicas: campos em disputasPDF
Emília Prestes, Roberto Véras
Os sete pecados da governação global. Paulo Freire e a reinvenção das possibilidades de uma pedagogia democrática e emancipatória da educaçãoPDF
Madalena Mendes
Estilos de liderança e escola democráticaPDF
Leonor Lima Torres, José A. Palhares
Mídia e intervenção psicossocial nas comunidades: em busca de novas possibilidadesPDF
Maria Aparecida Craveiro Costa, Ana Paula Távora da Silva, Carina Pessoa Santos
Historiografia da educação na América Portuguesa: balanço e perspectivasPDF
Thais Nívia de Lima Fonseca
Análise descritiva da afetividade nos professores em formação na faculdade de ciências da educação da universidade de GranadaPDF
José Álvarez, Manuel Fernández
As tecnologias da informação e comunicação como recursos no Ensino Secundário: um estudo de casoPDF
Maria Carmen Ricoy, Maria João V. S. Couto
O acolhimento familiar numa perspectiva ecológico-socialPDF
Paulo Delgado

Recensão

Stephen R. Stoer & António Magalhães (2005). A Diferença Somos Nós – A Gestão da Mudança social e as Políticas educativas e sociais.PDF
Anabela França Mota

Notícias

NotíciasPDF
José Brás, Maria Neves Gonçalves, Bento Cavadas, Madalena Mendes

Sítios Digitais

Repositórios de acesso abertoPDF
Vasco Graça

Teses e Dissertações

Teses e DissertaçõesPDF
Gracinda Cruz Machado Sousa, Manuel António Marques Dias, Maria de Fátima Martins da Costa Rodrigues, Miriam Barreto de Almeida Passos, Lídia Maria Costa Figueiredo, Inês Soares Vaz, Ana Maria Meireles Mendes

Abstracts

AbstractsPDF
Diane Gérin-Lajoie, Emilia Prestes, Véras Roberto, Madalena Mendes, Charles Gardou, Leonor Lima Torres, José A. Palhares, Thais Nívia de Lima e Fonseca, Maria Aparecida Craveiro Costa, Ana Paula Távora da Silva, Carina Pessoa Santos, José Álvarez Rodrigues, Manuel Fernández Cruz, Maria Carmen Ricoy, Maria João V. S. Couto, Paulo Delgado

Estilos de liderança e escola democrática | Torres | Revista Lusófona de Educação

Estilos de liderança e escola democrática | Torres | Revista Lusófona de Educação

Estilos de liderança e escola democrática


Leonor Lima Torres, José A. Palhares


Resumo


O sistema educativo português tem assistido, nas últimas duas décadas, ao aparecimento de medidas de política educativa cuja agenda reformista tem dado importância crescente às dimensões da gestão e da liderança escolares. Ao longo deste percurso marcado por ensaios e reajustamentos morfológicos nos órgãos de gestão, denota-se uma valorização crescente do papel das lideranças no desenvolvimento da autonomia das escolas. Percepcionada politicamente como uma solução óptima para a resolução dos problemas da indisciplina, do abandono e do insucesso, a liderança emerge paulatinamente como uma variável de controlo da excelência escolar, ao arrepio de uma cultura de gestão colegial historicamente enraizada nas escolas portuguesas. Apesar de serem claras as influências de inspiração neoliberal na forma como se reduz a realidade educativa a indicadores de natureza gerencialista, é interessante, mesmo assim, problematizar a natureza da relação entre os estilos de liderança e gestão e os resultados escolares e o seu impacto no desenvolvimento democrático da escola. Partindo da análise crítica aos Relatórios de Avaliação Externa das Escolas, elegemos como objectivo central deste texto a discussão dos significados conferidos a uma "boa liderança", a uma "boa organização e administração escolar" e à sua eventual relação com os resultados escolares, de modo a compreendermos quais as tensões que este processo avaliativo comporta no plano das configurações e das práticas organizacionais das diferentes escolas-objecto. Interrogamo-nos se este processo não constituirá uma espécie de "missionarismo gestionário", que subverte as lógicas de decisão autónoma e democrática das escolas.