domingo, 21 de fevereiro de 2016


Uma Reflexão Com a Querida Fernanda Rossi!

Todo ensino depende de princípios. E para que um professor possa ensinar princípios é necessário que ele tenha discernimento de quais princípios regem sua profissão, desta forma poderá vivenciar em seu dia a dia de trabalho valores e virtudes que venham de encontro com tais alicerces.


Mas o que é ser professor? Há muitos livros que tentam responder a esta pergunta, já foi dito que é um dom, como se fosse uma capacidade além da pessoa. Mas tal como qualquer outra profissão ela requer habilidade, mas não é um dom e sim uma decisão. Decisão esta que engloba: trabalho, treinamento, disposição para lidar com pessoas, o que exige amor ao próximo, tolerância e respeito às diferenças.


Estes são os princípios da profissão de educador: é ensinar com amor. Pois conteúdos só podem ser aprendidos numa relação afetiva, caso contrário, serão apenas assuntos decorados. Conhecidos mas desconectados de aplicação. Para um aluno desenvolver um conhecimento ele precisa gostar, se identificar com aquele conteúdo e estes sentimentos são produzidos no aluno através da figura do professor.


Da mesma forma há princípios que regem todas as escolas. O mais básico – e, ironicamente, o que estamos distantes na atualidade – é do entendimento de que a escola é uma instituição afetiva. Sim, a escola é uma empresa, mas se baseia num compromisso ético de ensinar e a ética do ensino esta totalmente ligada a ética do cuidado. Não se pode ensinar sem cuidar, um não ocorre sem o outro. A criança quando entra na escola precisa ser cuidada por este espaço, por isto a escola complementa a família. É um lugar de intimidade entre professor e aluno, e entre alunos, onde amizades são construídas e vivenciadas. As questões emocionais que a criança vive em casa repetirá na escola e será a postura dos educadores ali presentes determinantes para sua resolução.


A escola é um espaço de cuidado e não só de aprendizado. As escolas antigas, gregas principalmente, baseavam-se nesta premissa. As pessoas se reuniam para aprender a pensar, falavam de duvidas sobre a constituição do universo, da Terra, das estrelas e etc. não havia material didático, nem quadro negro e muito menos sala de aula, mesmo assim, as pessoas tinham sede de aprender. Os avanços para a formação do espaço escolar foram importantes e são necessários para que a educação avance. Porem, foi-se esquecendo de que crianças são incultas, não sabem das coisas e precisam aprender inclusive a ser cidadãos dentro da escola. O que só pode ensinado de forma afetiva.


Ainda mais quando a entrada na escola se dá cada vez mais cedo. Bebês tem ido para a escola, e se este não for um espaço amoroso que seres sairão dali? Não há desenvolvimento emocional sem convivência afetiva e isto requer pessoas que se dediquem a cuidar dos pequenos, antes dos 13-14 anos de idade uma criança não sabe se cuidar sozinha e por isso precisa tanto de pais presentes, como de professores influentes. Que gostem de sua profissão e gostem, principalmente, de crianças.


Tudo precisa ser aprendido – como brincar, como socializar, o que são limites, quais seus direitos e deveres. A criança não entra na escola sabendo tais coisas, ate mesmo porque o ambiente familiar atual não proporciona esta socialização. As famílias hoje são pequenas, com poucos filhos, sem quintal, então é dentro da escola que a criança aprenderá a dividir, compartilhar, esperar, se frustrar.


Os berçários e pré-escolas têm um papel, desta forma, fundamental no desenvolvimento da criança. Que vai muito além da educação pura e simples.


Por esta razão os pais precisam buscar um ambiente que venha de encontro com seu jeito de ser, nem toda escola serve para toda criança. A escola é extensão do lar, tem que ter valores parecidos com os que os pais pregam em casa. Se a escola tem outra visão de mundo o espaço familiar e escolar não se completarão e com isto a criança sofre, a escola sofre e os pais sofrem.


A escola é um espaço lúdico que possibilita o brincar, interagir, expressar-se. Principalmente na primeira infância, que é brincando, socializando que a criança desenvolve afetos. O foco deve ser em desenvolver capacidades, mais do que transmitir conteúdos. Pois quando a criança entende as capacidades que têm e quais são suas habilidades, saberá usar o aprendizado a seu favor. Isto envolve professores atentos, dispostos e dedicados. Mas o resultado são crianças mais calmas, obedientes e satisfeitas.


Pois quando a escola é este espaço afetivo a criança cria vínculos com as pessoas e as coisas existentes ali. Desta maneira, a escola passa a ser vista como algo bom, desejável e agradável. Não é um espaço de depósito, onde os pais deixam as crianças para trabalhar, nem um meio para chegar ao vestibular, a escola tem como fim maior desenvolver a capacidade de pensar, de se relacionar socialmente, de despertar o desejo pelo conhecimento e por querer uma profissão. Nada disto pode ser desenvolvido num espaço sem afeto.


Há grande necessidade de pais e escolas manterem um diálogo próximo e profundo. Claro, que, infelizmente, esta não é a realidade da maior parte das escolas. O que é uma pena e uma grande perda para todos. Pois há uma grande diferença entre família e escola: a escola tem início, meio e fim; enquanto que a família é eterna. A escola ficara na lembrança do adulto, podendo marcá-la de forma positiva ou negativa. Mas os pais serão presentes na vida dos filhos enquanto eles viverem, mesmo depois que os pais falecem seus exemplos e ensinamentos se mantêm atuantes na vida de um filho.


Então quando os pais conseguem demonstrar ao filho o quanto desejam e respeitam o espaço escolar, criam uma semente para que a criança também goste deste espaço. E posso tolerar as regras ali existentes.


Os pais precisam entender que a escola é um desejo deles para os filhos. A escola proporciona o que os pais não podem: escolarização e a socialização. É onde a criança aprende coisas, se socializa e organiza sua personalidade. Quando há afetividade neste processo o aprendizado pode ser aplicável. A educação não fica maçante, ao contrario torna-se desejável. Por isso os pais precisam escolher a escola, conhecê-la, visitá-la, serem presentes neste espaço. A escola realiza o desejo dos pais, mas o pais não podem realizar os desejos da escola:, por esta razão é necessário que pais e professores conversarem muito, que tenham um dialogo aberto e franco.


Quando a escola conhece o ambiente familiar, as vivencias e dificuldades da família pode orientá-los e os pais podem ser ajudados no processo da educação do filho. É desta maneira que o espaço escolar torna-se afetivo, completando a família. Um trabalho de união e não de separação.