domingo, 16 de outubro de 2011

O DIA ONLINE - EDUCAÇÃO - Ministro da Educação não descarta problemas na aplicação do Enem

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Habilidades para ensinar

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Tamanho da fonte: A- A+Por: Ana Carolina Mascarenhas 16/10/2011

Conhecimento, bom humor e amor à profissão dão aos professores status de Popstar

Comemorado em 15 de outubro, o Dia do Professor foi oficializado como feriado escolar em 14 de outubro de 1963, pelo Decreto nº 52682/63 assinado pelo presidente João Goulart. O texto dizia que o Ministério da Educação e Cultura e os estabelecimentos de ensino deveriam promover eventos que envolvessem os alunos e familiares para homenagear “o mestre”. Na maioria das vezes, o decreto não é cumprido e se restringe a um “feliz dia dos professores”, mas o importante é não esquecer daqueles que têm um papel fundamental na formação da sociedade, ainda mais aqueles eleitos como os mais especiais pelos próprios alunos.
É o caso da professora Rosângela Andrade, de 51 anos, um tipo de profissional que os alunos nunca esquecem. Trabalhando no Colégio Abel, em Icaraí, há 17 anos, é ela quem recebe os alunos no primeiro dia de aula no momento em que o vínculo com a família começa a ser quebrado. Em meio à insegurança e às lágrimas de mães e filhos no primeiro dia de aula, Rosângela os recebe desde 1994.
Em 2000, ela assumiu sua primeira turma: a antiga primeira série, atual segundo ano do ensino fundamental. Ao todo, ela foi a primeira professora de sete turmas. Todo ano a instituição realiza a solenidade da perseverança, na qual os alunos que estudam no colégio desde o primeiro ano fundamental até o terceiro ano médio são homenageados. Nelson Gemal, 17 anos, participou do evento recentemente e relembra o difícil período de adaptação. Ele é só elogios a “tia” Rosangela, que também é professora da catequese.
“Eu vim de uma escola pequena, então foi difícil me adaptar. Uma das maiores qualidades da Rosangela é a paciência para enfrentar essa dificuldade da falta da mãe, que não foi só minha, mas de toda a turma. Minha mãe, e inclusive os meus avós, são gratos a ela. Toda a turma lembra dela com muito carinho”, conta Nelson.
“Apesar de ser formada em Letras e poder dar aulas para outras séries, eu não quero. Gosto de trabalhar com as crianças, a alegria e a inocência delas são encantadoras. Eles são o reflexo da vida e dar forma ao indivíduo é incrível. Como diria o fundador da escola, devemos educar com a “firmeza de pai e ternura de mãe”, afirma Rosangela, que se inspira em sua primeira professora, a “tia” Isabel. 
O troféu que aparece na foto de capa, a professora ganhou de presente de um aluno de sua primeira turma na escola. Há uma inscrição “World´s Greatest Teacher”, que significa melhor professora do mundo, em português. “Acho que foi uma espécie de Oscar”, brinca a educadora.
Se química não é uma das matérias mais fáceis ou preferidas entre os alunos, o professor Antonio Carlos Álvares, 53, pelo menos torna as aulas mais divertidas com bordões engraçados como “Tá difícil? Segura na mão de Deus e vai”. Tonico, como é conhecido, dá aulas há 33 anos e conta que escolheu a profissão por identificação. Quando ainda cursava engenharia química na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dava aulas à noite, após ter sido aprovado em um concurso para o magistério. Com a exigência da licenciatura para poder lecionar, começou a estudar também química na Universidade Federal Fluminense (UFF). Pelo ritmo acelerado e a falta de tempo, optou por continuar apenas na UFF.
Ele já foi professor do antigo Instituto São Marcos, sócio do pré-vestibular Sala 2, Colégio M3, Sistema Elite de Ensino, GayLussac e do Estadual Nilo Peçanha, em São Gonçalo. Há 25 anos trabalha no Colégio Salesiano, em Santa Rosa, e há cinco anos no Colégio Pedro II, no Barreto.
“O melhor da profissão é o contato humano. Cada turma é uma turma, por mais que os conteúdos ensinados sejam os mesmos, as reações são diferentes. É como se fosse um teatro, onde cada plateia é única. Mais do que mostrar um caminho, construo um caminho com eles”, explica Tonico.
Após ter trabalhado em tantas escolas, não é difícil encontrar ex-alunos do professor que lembram dele com carinho e saudade. Uma das comunidades criadas no Orkut em sua homenagem é a “Eu amo Tonico” e tem mais de 900 membros. A estudante de Serviço Social Leda Beatriz Tavares, 24, ex-aluna do Elite, é um deles.
“Tonico foi um dos poucos professores que me ensinaram química mostrando a realidade com experiências. Tinha que chegar em casa e estudar a matéria, mas a maneira engraçada como ele ensinava ajudava muito na hora da prova”.
Outra matéria para qual os alunos fazem cara feia é a física. Mas isso não acontece no Colégio Santa Mônica, em São Gonçalo. Com as aulas ministradas pelo professor Alfredo Mitidieri, 40, os adolescentes aprendem com experiências. Professor há seis anos, Alfredo acredita que desta maneira o ensino é muito mais eficiente e a compreensão, maior. Entre os experimentos estão carrinhos movidos a ratoeiras, para ensinar a conservação da energia, foguetes impulsionados por água e um canhão de ar comprimido que arremessa camisetas.
“Meu maior desafio é mostrar um novo olhar sobre a matéria. Física significa natureza e isso é muito mais do que decorar fórmulas e substituir os números. Quero que eles assimilem a teoria com situações cotidianas e com isso levem o conhecimento para toda a vida”, explica o professor.
Quem estuda comunicação social na UFF conta com as divertidas aulas do professor Guilherme Nery, de 38 anos. Ele conquista os alunos aproximando a linguagem teórica dos autores à linguagem dos jovens universitários. Foi no final da faculdade que Guilherme percebeu que sentia mais vontade de ser professor do que publicitário. Ele, que já deu aulas na UFRJ como bolsista, na Estácio de Sá e na Gama Filho, trabalha há seis anos na UFF. Começou como professor contratado e, em 2006, foi efetivado. Entre os professores que mais marcaram sua vida acadêmica, ele destaca Ivo Luchesi, das Faculdades Hélio Alonso (Facha), Henrique Antoun (UFRJ), James Áreas e Décio Rocha, ambos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
“Com certeza foram pessoas importantes na minha carreira. O melhor de ser professor é que a nossa matéria-prima é o conhecimento. Com ele formamos pessoas. Acho que a formação humanística é até melhor que a profissional. Quem não valoriza isso, perde o melhor da profissão”, afirma Nery, também homenageado com uma comunidade. O grupo “Desculpa aí se...”, um de seus bordões, tem mais de 300 membros.
O professor tem alunos adicionados ao seu perfil no Facebook e conta que ex-alunos da Gama Filho, universidade em que deu aula por apenas um semestre, deixam recados em que dizem que estão com saudades e que nunca mais o viram. Nery é querido por alunos, ex-alunos e até mesmo por quem nunca teve aula com ele.
“Ele é um dos melhores professores que eu já tive. Tem um comprometimento muito grande com os alunos. No primeiro dia de aula, somos avisados dos dias em que ele não poderá dar aula e quando serão as provas. Não é todo professor que é organizado desta maneira, ainda mais na faculdade. Ele é mais que um professor, é um amigo da turma”, afirma o aluno de publicidade da UFF Matheus Campos, de 20 anos.
“Apesar de não ter tido aula com o Nery, convivi muito com ele na faculdade. Ele é um cara muito legal e inteligente. É muito bem-humorado e passamos por várias situações divertidas”, conta o fotógrafo e ex-aluno aluno da Estácio de Sá, Marcelo Dantas de Oliveira, 31.
Tecnologia X ensino
Ipods, celulares, netbooks. São com esses aparatos tecnológicos que os professores têm que dividir a atenção dos alunos. Soma-se a isso a falta de hierarquia que muitos enfrentam em sala. Diante deste cenário, dar aula pode parecer um verdadeiro sacríficio.
A psicanalista, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da UERJ e pós-doutoranda em psicologia social, Joana Novaes, afirma que a falta de atenção dos alunos é muito maior em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Em locais onde não há acesso às tecnologias, os alunos são muito mais atentos e valorizam as aulas e palestras. Isso gera um aumento do esforço dos professores para dar uma aula interessante. É preciso se atualizar constantemente e preparar aulas surpreendentes a cada dia.
“Os alunos querem um animador de plateia. Isso acaba tendo que ser uma necessidade diante do aumento de alunos com déficit de atenção. É uma tendência dessa geração superestimulada”, explica.
Outro fator que a psicanalista destaca é a horizontalização da relação e a importância do exercício de articular o pensamento. Afinal, em tempos de internet é comum que os alunos não tenham uma boa escrita e copiem conteúdos de sites para fazer trabalhos.
“É preciso estabelecer limites na relação aluno/professor. Eles podem ser amigos, mas sem esquecer que existe uma hierarquia e que deve ser respeitada. A experiência do professor é fundamental e deve ser mostrada à turma. A prova é importante porque é o momento em que o aluno vai mostrar com suas próprias palavras o que aprendeu dos conteúdos”, acrescenta.
Com a palavra, os professores
Apesar do amor que sentem pela profissão, os professores reconhecem os problemas que atingem a classe. Para os professores Alfredo e Tonico, a remuneração é um dos maiores obstáculos e acaba afetando os alunos de diferentes maneiras.
“Os salários não são nada atraentes. Por isso, muitos escolhem o bacharelado (área voltada para pesquisa). Isso gera falta de mão de obra qualificada. Não é raro encontrarmos professores de matemática e química ensinando física”, explica Alfredo.
“Para conseguir um salário bacana precisamos trabalhar em várias escolas. Com isso, ficamos sem tempo para nos atualizar. E atualização é fundamental na nossa profissão”, conta o professor de química.
Na opinião de Nery, o problema é de uma esfera ainda maior. Ele afirma que o salário do professor universitário é melhor que o dos profissionais de ensino fundamental e médio, mas a educação não é valorizada no país nem pelo governo e nem pelas pessoas.
“Enquanto países desenvolvidos investem 10% do PIB (produto interno bruto) em educação, o Brasil investe menos de 5%. O setor não é levado a sério nem de cima para baixo e nem de baixo para cima. Outro fator é que as pessoas não acreditam que ser professor é um trabalho como outro qualquer e sempre pedem favores. Não são poucos os alunos que me pedem para revisar projetos”, critica.
A “tia” Rosangela acrescenta que o profissional também foi desvalorizado com o passar dos anos e que a figura do professor já não é vista da mesma forma.
“As pessoas perderam um pouco do respeito que tinham pelo professor como aquele que tem o conhecimento para repassar. Não que sejamos superiores, mas a sociedade hoje em dia nos vê com um olhar completamente diferente”.
Salário não estimula
De acordo com o site do Sindicato dos Professores do Rio (Sinprorio) o salário-base de um professor do ensino fundamental é de R$ 979,77 para uma carga horária de cinco horas. Um professor universitário auxiliar deve receber, no mínimo, R$ 37,29 por hora aula (cada tempo de aula).
Apesar das dificuldades da profissão, há jovens que querem dedicar suas vidas ao ofício. É o caso da estudante de pedagogia da UFF Kellen Chagas, de 20 anos. Ela estudou durante o ensino médio no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, em São Domingos, que oferece formação para professores.
“Desde pequena quero ser professora. Mesmo com as dificuldades, é muito gratificante ver a evolução da criança com a construção da escrita e da leitura. Quero me dedicar às crianças”, afirma Kellen.

O FLUMINENSE

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O professor de física do Colégio Santa Mônica, Alfredo Mitidieri, costuma ensinar a disciplina com experiências reais e faz com que os alunos se apaixonem pela matéria.