quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Por que é preciso ensinar bondade aos jovens?

Especialista no tema defende que os pais devem inspirar os filhos a estenderem a mão às crianças que apresentam dificuldades
Fonte:http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/por-que-e-preciso-ensinar-bondade-aos-jovens-0dnj3t00pa1y0817lrgt1jqc5?utm_campaign=boletim
Nesses dias que parecem muito menos bondosos e mais abrasivos, nos quais bons exemplos para as crianças podem ser um pouco difíceis de encontrar, a literatura infanto-juvenil oferece um caminho positivo para o pensamento e para lembrar como é importante se ensinar a bondade aos filhos. Esse ensinamento, por sua vez, não deve parar no jardim de infância, como muitas vezes acontece, mas precisa ser trabalhado também com os filhos mais velhos, ao longo de todo o ensino básico.
Uma das escritoras que defende o ensino da bondade tanto em casa como na escola é R. J. Palacio, autora do livro “Extraordinário”, obra voltada aos estudantes da segunda metade do ensino médio e disseminada nas instituições de ensino americanas.
O romance apresenta a história de Auggie Pullman, um garoto com severa malformação facial, e de seus amigos, conquistados com esforço e que logo deixam de enxergá-lo como diferente. A obra acabou de comemorar seu quinto aniversário e já vendeu cinco milhões de cópias.
Para março, a autora, que gasta muitos de seus dias falando com crianças e professores sobre bondade, prepara o lançamento de um novo livro ilustrado sobre o tema intitulado “We’re All Wonders” (“Somos Todos Extraordinários”, em tradução livre), que tem as crianças menores como público-alvo.
Em entrevista ao Washington Post, R. J. Palacio falou sobre “Extraordinário”, o novo livro e sobre como os pais precisam se lembrar de que o ensino da bondade não deve parar no jardim de infância. Confira:

Como surgiu a ideia para “Extraordinário”?

Estava com meus dois filhos em frente a uma sorveteria. Meu filho mais velho, de três anos, começou a chorar porque estávamos perto de uma garotinha que tinha severas malformações craniofaciais. No momento, não reagi da maneira como gostaria de ter reagido. Estava tão receosa que sua reação pudesse magoá-la que tentei deixar o lugar o mais rápido possível. Então, me dei conta de que ela poderia pensar que fiz isso porque não queria que ele a visse. Às vezes você simplesmente não sabe como agir para que suas ações reflitam suas boas intenções. Foi essa situação que me impeliu a pensar como deve ser estar na pela dessa criança e de sua mãe. Comecei a escrever naquela noite, mais como uma meditação, e simplesmente continuei escrevendo.

Quando você começou a escrever o livro, tinha planejado escrever sobre bondade?

Não sabia que seria um tema abrangente de toda a obra. Mas meu filho mais velho estava indo para o sexto ano do ensino fundamental. Eu estava cercada de crianças dessa idade o tempo todo. Passamos muito tempo [quando eles são pequenos] ensinando as regras do parquinho, nos preocupando com esses pequenos códigos morais. Mas, na hora em que eles se aproximam do final do ensino fundamental, nos esquecemos de lembrá-los. Nesse momento eles precisam disso mais do que nunca. Gastamos mais tempo com “você fez sua lição de casa?” Então me ocorreu que essas crianças precisam ser lembradas sobre como serem bondosas umas com as outras. Precisam que nós as inspiremos a serem bondosas umas com as outras. Há tantos diálogos nos filmes e na TV nos quais maldade passa por normal no fim do ensino fundamental, como se fosse algo a que você tivesse apenas que sobreviver. Não sei por que deveríamos aceitar que crueldade passe como normal. Então queria um livro que lembrasse as pessoas que é legal ser bondoso, não é um sinal de fraqueza. E não se trata apenas de não ser um bully [pessoa que pratica o bullying], mas de expressar empatia e compaixão.

Mas como um pai cria um Jack Will [o personagem do livro que se torna o melhor amigo de Auggie]?

Ele teve de ser incentivado a ser Jack Will. Seu primeiro impulso não foi “ei, quero ir brincar com aquele garoto”. Mas sua mãe tomou o tempo para conversar com ele e não simplesmente mandá-lo, mas inspirá-lo. É nisso que adultos realmente têm muito impacto nas crianças. Sempre pensei que era estranho quando adultos me falavam “ele não me dá mais ouvidos” a respeito de seus filhos pré-adolescentes. Eles ouvem. Eles podem revirar os olhos e fazer sua ceninha de pré-adolescente, mas estão nos ouvindo. Com Jack Will, isso o colocou nos trilhos. Contraste isso com os pais de Julian [o praticante de bullying no livro], que estavam tão dedicados a lhe dar uma experiência perfeita que estavam cegos para o fato de que ele não era uma criança bondosa. E não foram capazes de instruí-lo a ser bondoso. Todos precisamos nos lembrar de que estamos criando nossas crianças, mas também estamos ajudando a criar as crianças dos outros. Mesmo que nossos filhos sejam socialmente hábeis e estejam se divertindo, devemos estar atentos às crianças que estão tendo dificuldades e inspirar nossos filhos a lhes estenderem a mão.

“Extraordinário” é um livro para crianças da segunda metade do ensino médio. Conte-me sobre o novo livro ilustrado.

Pelos últimos vários anos, professores me sugeriram que eu fizesse uma versão ilustrada de “Extraordinário”. A mensagem seria maravilhosa para crianças menores. Peguei o tema de ser diferente e ser extraordinário e da bondade e criei uma história sobre um garotinho, Auggie Pullman, que usa sua imaginação para lidar com a hostilidade que recebe por causa de sua aparência.

O que você acha da situação atual nos Estados Unidos, no que diz respeito à bondade e àquilo que as crianças estão vivendo?

Uma das maiores tragédias da última eleição foi a magnitude da exposição das nossas crianças à crueldade absolutamente devastadora e à maldade que se passam e continuam a se passar por política corriqueira. A falta de respeito, a falta de dignidade, a falta de qualquer vergonha de mentir, todas as coisas que ensinamos nossos filhos a não serem. As crianças aprendem o que veem. Então se veem o presidente dos Estados Unidos tirando sarro de uma pessoa com deficiência, toda uma organização política discriminando uma cultura ou religião, eles internalizam isso. Minha esperança é que um livro como “Extraordinário”, e qualquer outro livro em circulação que possa desfazer o mal que essa eleição fez, vá ao menos mitigar o que aconteceu.

Como os pais podem ajudar as crianças a atravessar a realidade atual?

Agora, mais do que nunca, os pais precisam se engajar. Fala-se sobre cidades e estados santuários, mas precisamos de escolas e lares santuários. Podemos proteger nossos filhos e nós mesmos da feiura e crueldade que passa por normal e assegurar que estamos oferecendo um pequeno santuário próprio. Um santuário de bondade.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Precisamos de uma sociedade “educógena”

 Por: Ilona Becskeházy em 
A expressão famílias educógenas foi utilizada pela primeira vez por Jean Floud, em 1961, no texto “Social Class Factors in Educational Achievement”, editado pela OCDE. A meu conhecimento, o único pesquisador brasileiro a fazer menção a ela é CASTRO (1976) que a define como famílias que se caracterizam por oferecer certo tipo de ambiente familiar favorável à educação (p. 73). Esse autor reconhece, entretanto, o caráter vago dessa noção no texto original da OCDE, mas ressalta a conclusão da autora inglesa de que esse tipo de família vai de tornando mais freqüente conforme se sobe na escala social.

NOGUEIRA, Maria Alice. A categoria “família” na pesquisa em sociologia da educação: notas preliminares sobre um processo de desenvolvimento. Revista Inter-Legere, v. 1, n. 9, 2013. (pagina 157).
Por causa da constatação de que o perfil educógeno das famílias (o qual apresenta alta correlação com a renda, mas não dependente dela, como se vê acima) pode ter um efeito no desempenho dos alunos para além das escolas, as provas padronizadas costumam submeter os alunos que as respondem a questionários de cunho sociológico para identificar este componente (família educógena) e separá-lo do efeito da escola.
Isso se dá para que possa ser feita uma avaliação mais justa das escolas e da diferenciação entre elas, inclusive nos famosos rankings. Portanto, é importante conhecer o perfil de seus alunos. Quanto mais famílias educógenas em uma escola, maior a chance de um desempenho médio mais alto, pois mais famílias dão sua contribuição material e comportamental para o sucesso acadêmico de seus filhos.
É por isso, por exemplo, que o Inep divulga o ENEM por escola por faixas de Nível Sócio Econômico (NSE).
Mas para se determinar isso em larga escala, foi preciso traduzir essa percepção em perguntas de questionário. As provas padronizadas no Brasil também adotam essa prática, embora sejam mais concentradas em avaliar a renda do que a prática educógena ou anti-educógena das famílias.
Resolvi usar os questionários do Pisa, que acho mais abrangentes e lógicos para esse propósito, e fazer uma comparação. Em primeiro lugar então, vamos ver o que é que o pessoal do Pisa resolveu perguntar aos participantes do exame, para além dos itens de conforto e conexão com o mundo que são mais comuns nos questionários brasileiros, com foco maior na determinação da renda das famílias:
Próprio quarto
Software educacional
Internet
Dicionário
Lugar tranquilo para estudar
Escrivaninha
Livros de texto
Literatura clássica
Poesia
Obras de arte
Quantos livros em casa
Instrumentos musicais
Fiz uma comparação entre países da Europa e América do Norte e os da América Latina participantes do Pisa e reforcei o que já esperava: os alunos de países desenvolvidos contam com domicílios muito melhor preparados para o bom desempenho escolar que os da América Latina. Todos esses itens estão relacionados a enormes diferenças de desempenho quando o aluno responde sim ou não sobre tê-los à disposição em casa. O que faz mais diferença é a quantidade de livros em casa: a diferença em ter poucos (0-15) e mais de 500 livros. Nos países da Europa e América do Norte a diferença é entre os dois extremos é da ordem de 100 pontos, na América Latina é bem menor, em particular no Brasil e no México, assim como é menor a proporção de famílias com muitos livros em casa, de acordo com a resposta dos alunos. É possível que famílias de renda mais alta até tenham livros em casa, mas os alunos não os lêem!
Não é só uma questão de renda, mas de cultura e valorização de hábitos acadêmicos. As famílias brasileiras precisam mudar de hábitos para poderem esperar mais de seus filhos do ponto de vista acadêmico e também para poderem exigir mais do governo!

 Fonte: Excelência & Equidade em Educação Desenvolvimento econômico e justiça social de mãos dadas
https://exequi.com/2017/01/16/precisamos-de-uma-sociedade-educogena/

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Volta às aulas exige adaptação dos estudantes - Jornal da Vida

Volta às aulas exige adaptação dos estudantes - Jornal da Vida
#StandToRebuildLives / #NoToDrugs ) 

#VamosReconstruirVidas / #NãoÀsDrogas)

Olá a todos! Aqui, apresento uma iniciativa de ajuda humanitária, cujo denomina-se Projeto  Hominis. Nós, somos um grupo de pessoas responsáveis pelo mesmo, e pretendemos dar suporte a algumas causas sociais. Assim, insistir na chance de um futuro onde haverá o alcance de direitos básicos a todos.
No instante, nosso foco se volta para os direitos humanos, mais precisamente, estamos tentando ajudar a educação e o saneamento básico.
Além desses aspectos, buscamos o apoio para a recuperação de dependentes químicos. E dentro deste assunto, preparamos uma reportagem com uma série de entrevistas aos internos (em processo de tratamento e recuperação) de uma instituição chamada Maranathá. Cujo os esforços é reconstruir vidas e a superação de vícios.

A Dependência Química é considerada um transtorno mental, é uma doença química, provocada por uma reação química no metabolismo do corpo. O portador, com o tempo, vai se deteriorando gravemente e perdendo o controle do uso de substâncias. Afetando suas vidas psicologicamente (como o emocional) e fisicamente.
 Nessa situação (de dependência e vício), a maioria dos usuários precisa de ajuda através do tratamento adequado.

Para aqueles que assistirem, eu peço: Por favor, que além de tentarem acompanhar o seguinte vídeo até o seu instante final, e que perdoem nossas falhas quanto ao equipamento de filmagem, Ajudem-nos a espalhar esta mensagem. Até mesmo usando as nossas hashtags acima!


- Reportagem: https://www.youtube.com/watch?v=imzUv5YmCRI&t=563s

- Canal no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCbZLpLL9jRb_KHauy_CWp5A



Muito obrigado por sua atenção e devida paciência! Agradecemos além, pelo tempo de seu dia que dedicaste a nós.

Caso seja você um dependente químico (ou conheça alguém que seja), entre em contato e busque ajuda!

Conheça a instituição Maranathá : http://www.maranathario.com/




R.Alecrim

O Pisa além do ranking

Um retrato dos resultados e das questões do exame de leitura mostra em que precisamos avançar

por: 
FS
 
Fernanda Salla
Março de 2011
No ranking geral do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil é o 53º colocado entre os 65 países participantes. Se compararmos o desempenho em relação à primeira edição, em 2000, os cerca de 20 mil alunos de 15 anos que realizaram o exame conseguiram elevar em 9% a média brasileira, melhoria insuficiente, entretanto, para nos distanciar das últimas posições da lista. Repercutidos em jornais e revistas, esses números geram reações que variam do espanto ao desânimo. Mas não vão além disso. Para que essa espécie de Copa do Mundo da Educação ajude, de alguma forma, a aperfeiçoar o ensino, é preciso mergulhar no oceano de informações que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube das nações mais ricas do planeta e responsável pela realização da prova, disponibiliza assim que os resultados são publicados. 

O principal recurso é o relatório Pisa 2009 Results: What Students Know and Can Do (Resultados do Pisa 2009: O Que os Estudantes Sabem e Podem Fazer), um compêndio de 276 páginas com dezenas de tabelas, estatísticas e análises sobre o exame. NOVA ESCOLA esquadrinhou o material com a ajuda das especialistas Maria Teresa Tedesco, do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Gisele Gama, consultora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e diretora-presidente da Abaquar Consultores, em Brasília, e Kátia Lomba Bräkling, coautora dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (Isevec), em São Paulo. 

Esta reportagem é o resultado desse trabalho. Aqui, você confere detalhes sobre diversos aspectos do exame de leitura, a ênfase da edição de 2009 (o que, na prática, significa que a prova tem mais questões dessa área em relação às outras duas avaliadas, Matemática e Ciências). Um quadro-resumo sintetiza o que a prova avalia e como isso é feito (leia na próxima página). Um estudo dos gráficos mostra quem são os alunos que mais precisam de ajuda - infelizmente, eles são mais do que se imagina (leia o quadro abaixo). Três textos da prova de 2009 são comentados para exemplificar como o conhecimento é aferido pelas questões. Por fim, apresentamos um histórico da avaliação, o que ela revela sobre o ensino brasileiro e suas vantagens e limitações.

Pior do que se pensa
Quase 60% dos alunos brasileiros têm baixa proficiência - ou nem sequer fizeram a prova 

Quando se fala do mau desempenho brasileiro do Pisa, costuma-se mencionar a quantidade de alunos nos níveis mais baixos de proficiência. Na prova de leitura, quase metade tirou no máximo nota 2. É muita gente, mas a situação verdadeira é ainda pior: falta considerar quem está fora da escola ou em situação de atraso escolar (pelos critérios da OCDE, alunos de 15 anos que nem mesmo chegaram à 7ª série). No caso brasileiro, esse grupo corresponde a 19,4% da população na faixa etária avaliada - índice alto em relação aos países líderes do ranking (veja o gráfico abaixo). A soma do contingente fora da escola com o de baixa proficiência dá 59,4%. Ou seja: seis em cada dez jovens de 15 anos ou não reúne condições para fazer a prova ou não é capaz de compreender textos relativamente simples.

Um retrato desalentador Alunos fora da escola ou com desempenho ruim são a regra na América Latina. Ilustração e gráfico: Luciano Veronezi
Um retrato desalentador 
Alunos fora da escola ou com desempenho ruim são a regra na América Latina
* População de 15 anos não matriculada ou cursando pelo menos a 7ª série.
Fonte: PISA 2009
Como funciona a prova de leitura

Realizado a cada três anos, o Pisa tem como objetivo determinar em que medida os estudantes na faixa de 15 anos possuem conhecimentos para uma inserção participativa na sociedade. A aferição utiliza como metodologia a Teoria da Resposta ao Item (TRI), que exige a repetição de perguntas em diversas edições para criar uma série de comparação. Na parte de leitura, o desempenho é avaliado em três competências: identificação e recuperação de informações, integração e interpretação, reflexão e avaliação. A escala avaliativa - usada para medir a dificuldade da questão e a nota dos alunos - comporta sete níveis de proficiência: 1b, 1a, 2, 3, 4, 5 e 6, sendo 1b o mais baixo, e 6, o maior. Um mesmo texto pode conter questões que exijam diferentes capacidades e avaliem diversos níveis de proficiência. 

"A prova do Pisa é extensa e requer fôlego de leitura. Aí já aparecem as primeiras dificuldades dos nossos estudantes, pois é preciso que eles sejam capazes de entender e não apenas decodificar o que está escrito", afirma Gisele. Nesse ponto, conta muito o contato constante com diferentes gêneros e seus portadores (jornais, revistas, enciclopédias, livros etc.), o que permite antecipações sobre o que se pode encontrar. Por exemplo: num texto jornalístico, sabe-se que o título da reportagem traz (ou deveria trazer) o fato mais importante. Saber isso agiliza a localização de dados e o entendimento global. Trabalhar essas competências não é uma tarefa exclusiva do professor de Língua Portuguesa. "Ao reproduzir a variedade de tipos de textos que existem na vida real (mapas, tabelas, lista de instruções etc.), o Pisa apresenta elementos presentes em várias disciplinas. A leitura faz parte de todas elas", afirma Gisele. 

A situação piora quando se pede que os jovens brasileiros reflitam sobre o que está escrito. Um sintoma disso são as inúmeras respostas em branco nas questões discursivas. Para a especialista, esse problema pode estar sendo agravado pelo tipo de exame que estamos habituando nossos alunos a fazer. Na Prova Brasil, por exemplo, há apenas questões de múltipla escolha, o que não incentiva a prática de exprimir as reflexões por escrito. "Essa falta de familiaridade faz com que os estudantes não estejam acostumados a dar opinião sobre o que aprendem", completa. 

Apesar de sua inegável influência nas políticas públicas e nas salas de aula, o Pisa não está isento de ressalvas. No artigo La Internacionalización de la Evaluación de los Aprendizajes en la Educación Básica, a argentina Emilia Ferreiro aponta que é bom tê-las em mente para não "aplicar cegamente as receitas dos organismos internacionais, aqueles que atuam como se soubessem de tudo de antemão". Uma primeira crítica mira o interesse principal do exame: a aquisição de competências. De acordo com a especialista, essa perspectiva coloca o ensino de conteúdos em segundo plano, o que é um erro, já que é fundamental conhecer as teorias e ideias estruturantes de cada área. Assinalando a falta de diálogo dos exames internacionais com as culturas latino-americanas, Emilia afirma que a prova não consegue medir o que, de fato, se ensina. Para que isso ocorra, seria preciso que o exame considerasse o currículo de cada país. Por fim, a pesquisadora considera injusto responsabilizar apenas as instituições escolares pelos maus resultados, uma vez que os problemas da Educação têm raízes que vão da desigualdade social à falta de capacitação. Um bom caminho, diz Emilia, seria inspirar-se no exemplo da Finlândia, onde a profissão docente é valorizada. "Quando poderemos dizer algo assim na América Latina?", questiona ela.

Como funciona a prova de leitura
Aplicado a cada três anos, exame afere competências de alunos de 65 países 

Objetivo 
Avaliar a capacidade dos jovens de 15 anos de entender textos, interpretá-los e refletir sobre eles, de modo a conseguir atender aos objetivos específicos da leitura, desenvolver seu conhecimento e participar da sociedade. 
Foco em interpretação e não na decodificação ou na busca de informações literais 

Formatos de textos 
Contínuo Inclui diferentes tipos de prosa e seus gêneros: textos informativos (reportagens e verbetes), argumentativos (editoriais e artigos) e ficcionais (fábulas, contos etc.). 

Não contínuo Texto em que o conteúdo se encontra disperso em diferentes blocos: gráficos, mapas, diagramas e listas. Se vier acompanhado de um texto contínuo (como uma reportagem), torna-se um texto misto. 

Múltiplo Composto de textos independentes (que podem ou não ter o mesmo gênero) reunidos em coletânea para propósitos específicos (comparar opiniões, mostrar diferentes formas de apresentar uma informação etc.). 
Textos não contínuos e múltiplos são pouco trabalhados no Brasil 

Competências avaliadas Acessar e recuperar informações Afere a capacidade de encontrar e coletar informações específicas, que podem estar explícitas ou exigir que se relacionem dados do texto. 

Integrar e interpretar o que se lê Envolve fazer a relação entre diferentes partes do texto para processar o que foi lido e entender o assunto tratado. Inclui identificar relações de causa e efeito, equivalência e comparação. 

Refletir e avaliar o sentido de um texto Exige relacionar o que está escrito com informações e valores externos ao material, como experiências pessoais e conhecimento específico sobre o tema tratado. 
Um mesmo texto pode servir para avaliar diferentes competências