sábado, 11 de agosto de 2012


10 NOVAS COMPETÊNCIAS PARA ENSINAR

Perrenoud, Philippe (2000) 10 Novas Competências para Ensinar, Artmed.
Competências  Competências mais específicas a trabalhar em formação contínua

1. Organizar e dirigir situa-
ções de aprendizagem
i. Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem
ensinados e sua tradução em objectivos de aprendizagem.
ii. Trabalhar a partir das representações dos alunos.
iii. Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem.
iv. Construir e planear dispositivos e sequências didácticas.
v. Envolver os alunos em actividades de pesquisa, em projectos de
conhecimento
2. Administrar a progressão
das aprendizagens
i. Conceber e administrar situações- problema ajustadas ao nível e
às possibilidades dos alunos.
ii. Adquirir uma visão longitudinal dos objectivos do ensino.
iii. Estabelecer laços com as teorias subjacentes às actividades de
aprendizagem.
iv. Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem, de
acordo com uma abordagem formativa.
v. Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões de
progressão.
3. Conceber e fazer evoluir os
dispositivos de diferenciação
i. Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma.
ii. Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto.
iii. Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de
grandes dificuldades.
iv. Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples
de ensino mútuo.
4. Envolver os alunos em suas
aprendizagens e em seu trabalho
i. Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o
sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a capacidade
de auto-avaliação.
ii. Instituir um conselho de alunos e negociar com eles diversos tipos
de regras e de contratos.
iii. Oferecer actividades opcionais de formação, à la carte.
iv. Favorecer a definição de um projecto pessoal do aluno.
5. Trabalhar em equipa
i. Elaborar um projecto em equipe, representações comuns.
ii. Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões.
iii. Formar e renovar uma equipe pedagógica.
iv. Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e
problemas profissionais.
v. Administrar crises ou conflitos interpessoais. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
Fernando Cadima  2
Competências  Competências mais específicas a trabalhar em formação contínua
6. Participar da administração
da escola
i. Elaborar, negociar um projecto da instituição.
ii. Administrar os recursos da escola.
iii. Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros.
iv. Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos
alunos.
7. Informar e envolver os pais
i. Dirigir reuniões de informação e de debate.
ii. Fazer entrevistas.
iii. Envolver os pais na construção dos saberes.
8. Utilizar novas tecnologias
i. Utilizar editores de texto.
ii. Explorar as potencialidades didácticas dos programas em relação
aos objectivos do ensino.
iii. Comunicar-se à distância por meio da telemática.
iv. Utilizar as ferramentas multimédia no ensino.
9. Enfrentar os deveres e os
dilemas éticos da profissão
i. Prevenir a violência na escola e fora dela.
ii. Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e
sociais.
iii. Participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta.
iv. Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em
aula.
v. Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justiça.
10 Administrar sua própria
formação contínua
i. Saber explicitar as próprias práticas.
ii. Estabelecer seu próprio balanço de competências e seu programa
pessoal de formação contínua.
iii. Negociar um projecto de formação comum com os colegas (equipe, escola, rede).
iv. Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do,
sistema educativo.
v. Acolher a formação dos colegas e participar dela. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
1.1. Conhecer os
conteúdos a
serem ensinados
e sua tradução
em objectivos de
aprendizagem.
- Relacionar os conteúdos com os objectivos e as situações de aprendizagem.
- Dominar os conteúdos com suficiente  fluência para construí-los em
situações abertas ou em tarefas complexas.
- Os saberes e os saber-fazer são construídos em situações múltiplas e
complexas, cada uma delas dizendo respeito a vários objectivos/disciplinas.
- Explorar acontecimentos e  interesses  dos alunos para favorecer a
apropriação activa e a transferência dos saberes.
- O professor deve saber identificar ‘noções-núcleo’ (Meirieu, 1989) ou
‘competências-chave’ (Perrenoud, 1998) para organizar as aprendizagens, orientar o trabalho em aula e estabelecer prioridades.
1.2. Trabalhar a
partir das representações dos
alunos.
- Uma boa pedagogia não ignora o que os alunos pensam e sabem.
- É errado trabalhar a partir das representações dos alunos para a seguir as desvalorizar.
- Resta  trabalhar a partir das concepções dos alunos,  dialogar com
eles, fazer com que sejam avaliadas para  aproximá-las dos conhecimentos científicos a serem ensinados.
1.3. Trabalhar a
partir dos erros
e dos obstáculos
à aprendizagem.
- Aprender não é primeiramente memorizar, retocar informação, mas
reestruturar o seu sistema de compreensão do mundo.
- A didáctica das disciplinas interessa-se cada vez mais pelos erros e tenta compreendê-los, antes de combatê-los.
- Astolfi propõe que se considere o  erro como uma ferramenta para
ensinar, um revelador dos mecanismos de pensamento do aluno.
1.4. Construir e
planear dispositivos e sequências didácticas
- Uma  situação de aprendizagem insere-se num  dispositivo e numa
sequência didáctica na qual cada tarefa é uma etapa em progressão.
- o dispositivo depende dos conteúdos, do nível dos alunos, das opções
do professor.
- A competência consiste na busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequências de aprendizagem e na identificação do que eles/as
mobilizam e ensinam.
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem
1.5. Envolver os
alunos em actividades de pesquisa, em projectos de conhecimento
- O mais importante permanece implícito porque uma sequência didáctica
só se desenvolve se os alunos a aceitarem e tiverem realmente vontade
de saber.
- A dinâmica de uma  pesquisa é sempre simultaneamente intelectual,
emocional e relacional. Daí o delicado equilíbrio entre a estruturação
didáctica e a dinâmica da turma.
- A competência passa pela  arte de comunicar, seduzir, encorajar,
mobilizar, envolvendo-se como pessoa. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
2.1.Conceber e
administrar
situaçõesproblema ajustadas ao nível e
às possibilidades
dos alunos.
- Características de uma situação-problema:
(i) constituir um obstáculo para a turma.
(ii) estudo de 1 situação concreta, hipóteses.
(iii) 1 verdadeiro enigma para ser resolvido.
(iv) necessidade de usar instrumentos com vista à resolução.
(v) oferecer resistência suficiente.
(vi) situar-se na zona de desenvolvimento proximal (Vygotky).
(vii) antecipação dos resultados precede a busca
(viii) debate científico dentro da classe.
(ix) a validação da solução é feita conjuntamente (não pelo prof).
(x) reexame colectivo do caminho percorrido à consolidação dos procedimentos para projectos futuros.
2.2. Adquirir
uma visão longitudinal dos
objectivos do
ensino.
- A massificação e a urbanização generalizaram as classes de um único
nível com prejuízo da visão longitudinal dos objectivos programáticos.
- Felizmente que nem todas as escolas funcionam assim, facilitando a
construção de estratégias de ensino-aprendizagem a longo prazo.
- Não se pode pretender que os alunos alcancem num ano a capacidade
de ler, escrever, reflectir, argumentar, expressar-se pelo desenho ou pela
música, cooperar, realizar projectos.
- Para colmatar esta insuficiência é fundamental o trabalho em equipa
entre os colegas que ensinam vários níveis.
- O verdadeiro desafio é o domínio da totalidade da formação de 1 ciclo
de aprendizagem e, se possível, de todo o ensino básico.
2.3. Estabelecer
laços com as
teorias subjacentes às actividades de aprendizagem.
- As actividades de aprendizagem são escolhidas em função de uma ‘teoria’- científica ou ingénua, pessoal ou partilhada.
- Saber escolher e modular as activ. de aprendizagem é uma competência
essencial, que supõe um bom conhecimento dos mecanismos gerais do
desenvolvimento e da aprendizagem, não isoladamente, mas em cooperação com os colegas.
2.4. Observar e
avaliar os alunos
em situações de
aprendizagem,
de acordo com
uma abordagem
formativa.
- Nada substitui a observação dos alunos no trabalho, quando se quer
conhecer as suas competências.
- A primeira intenção é formativa e deve contribuir para levar o aluno a
aprender melhor e a ter uma melhor percepção do seu trabalho.
- O prof. deve: estimular a auto-avaliação, a avaliação mútua, a metocognição, ter uma percepção da classe para (re)orientar o ensino.
2. Administrar a progressão das aprendizagens
2.5. Fazer
balanços perió-
dicos de competências e tomar
decisões de progressão.
- Convicção preliminar de que cada aluno é capaz de alcançar os objectivos mínimos.
- Operacionalização de várias formas de trabalho e de regulação do percurso individual de cada aluno.
- Saber constantemente onde se encontra cada aluno e regular o seu percurso de acordo com isso. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
3.1. Administrar
a heterogeneidade
no âmbito de uma
turma
- Mesmo a turmas organizadas em torno de alunos da mesma idade, não
são verdadeiramente homogéneas devido às disparidades nos seus
diferentes níveis de desenvolvimento.
- Quando o professor assume a heterogeneidade, a primeira tentação é
a da formação de grupos homogéneos. Mas esta é uma solução a que
só se deve recorrer pontualmente, devendo ser prioridade recair no
trabalho com grupos-heterogéneos.
- O importante, numa pedagogia diferenciada, é criar dispositivos múltiplos, não baseando tudo na intervenção do professor.
- Para isso, pode optar por: (i) utilizar planos semanais. (ii) propor
tarefas autocorrectivas. (iii) utilizar software interactivo. (iv) organizar o espaço de aula em oficinas, entre as quais os alunos circulam.
3.2. Abrir,
ampliar a gestão
de aula para um
espaço mais vasto.
- Utilizando apenas  as 4 paredes da sala de aula, poucos professores
poderão fazer milagres. Não é possível encontrar aqui e ali um novo
Freinet e inventar sozinho uma pedagogia diferenciada, activa,
cooperativa e adequada aos seus alunos.
- Parece mais sensato convidar os professores a juntar as suas forças, a
nível local, para conceber a diferenciação a várias escalas (turmas/anos) - organizar a aprendizagem em ciclos de actividade, conceber espaços de formação (tempo, recursos, forças, imaginação) que
reagrupem a aprendizagem dos alunos.
- As equipas pedagógicas que se lançam neste desafio, começam por
gastar o seu tempo com problemas de organização e a aprender a
negociação e a cooperação, reencontrando pontos de referência e
fazendo recair as suas decisões na definição de estratégias de ensinoaprendizagem que vão ao encontro dos problemas dos alunos.
3.3. Fornecer
apoio integrado,
trabalhar com
alunos portadores
de grandes dificuldades.
- O desempenho dos professores de apoio experientes traduz-se:
(i) saber observar a criança na situação
(ii) dominar o procedimento clínico (observar, agir, corrigir)
(iii) saber construir situações didácticas a partir do aluno
(iv) saber negociar/explicitar um contrato pedagógico
(v) praticar uma abordagem sistémica (comunicação, conflito, paradoxo, rejeição, não se sentir ameaçado à menor disfunção)
(vi) estar consciente dos riscos que se corre e faz correr numa situa-
ção de atendimento
(vii)ter domínio dos aspectos afectivos e relacionais
(viii) saber levar em conta a diferença e o ritmo do aluno
(ix) ter boas bases de psicologia social e reflectir sobre a acção
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação
3.4. Desenvolver
a cooperação
entre os alunos e
certas formas
simples de ensino
mútuo
- Os alunos podem formar-se mutuamente sem que um deles assuma
o papel de professor, basta envolvê-los numa tarefa cooperativa.
- Não se aprende sozinho. O verdadeiro desafio é inventar tarefas que
imponham uma verdadeira cooperação.
- Toda a pedagogia diferenciada exige a cooperação activa dos alunos -
implantar instituições internas, aprender a democracia e a regular o
trabalho colectivo. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
4.1. Suscitar o
desejo de
aprender, explicitar a relação
com o saber, o
sentido do trabalho escolar e
desenvolver na
criança a capacidade de autoavaliação.
- Na realidade, o desejo de saber e a decisão de aprender, pareceram,
por muito tempo, factores fora do alcance da acção pedagógica: se estivessem presentes pareceria possível ensinar, se não o estivessem
nenhuma aprendizagem pareceria possível.
- Aprender exige tempo, esforços, emoções dolorosas, angústia do fracasso, medo do julgamento de terceiros.
- O professor deve saber aplicar estratégias que intensifiquem o desejo
de aprender.
- Antes do ingresso na cultura escrita, já muitas crianças oriundas de
meios favorecidos apresentam esta vontade. Este  trabalho terá de ser
realizado pelo professor com as outras (como poderia a criança desejar o
domínio de uma coisa que mal imagina que existe?).
4.2. Instituir
um conselho de
alunos e negociar com eles
diversos tipos de
regras e de contratos.
- O conselho de classe, inventado por Freinet, é muitas vezes reduzido a
um lugar de resolução de desvios e conflitos. O trabalho, os saberes e
a aprendizagem não devem ser expulsos deste concelho, porque os problemas podem ser causados pelo tédio e pela falta de sentido do trabalho escolar.
- Como forma de aperfeiçoar o contrato pedagógico, porque não instituir
os ‘direitos do aprendiz’: (1) não estar sempre atento, (2) ao seu foro
íntimo, (3) a só aprender o que tem sentido, (4) a se movimentar…
- Os poderes do grupo-turma são consideráveis e podem desempenhar um
papel importante de mediação: a relação com o saber pode ser redefinida na turma, supondo da parte do professor, a vontade e a capacidade
de escutar os alunos e de ajudá-los a formular o seu pensamento.
4.3. Oferecer
actividades
opcionais de
formação.
.
- Não é uma actividade menor. Qualquer um é capaz de propor actividades
equivalentes em certos momentos: o tema de um texto ou desenho, a
escolha de um poema ou canção.
- Geralmente, os professores subestimam a importância dessas escolhas dos alunos, apenas o fazem nas disciplinas secundárias ou só aceitam as propostas se eles próprios dominarem todas as suas implicações.
- No entanto, o sentido de uma actividade, para qualquer um, depende
muito do seu carácter escolhido ou não escolhido. Quando a escolha é
rígida aumenta o cansaço, o stress, a insatisfação e a ausência de sentido.
- A escolha pode ajudar à diversificação.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho
4.4. Favorecer
a definição de
um projecto
pessoal do aluno.
- Face à realidade, a emergência de um projecto pessoal do aluno (PPA)
parece uma espécie de fraude, porque aos alunos com um PPA a escola
quase não oferece encorajamentos.
- A primeira faceta desta competência consiste em identificar os PPA’s ,
sobre as diferentes formas, valorizá-los e reforçá-los. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
5.1. Elaborar um
projecto em
equipe, representações comuns.
- A escola caminha para a cooperação profissional:
(i) os professores, os psicólogos e as equipas de apoio,
(ii) a emergência no 1º ciclo de papéis específicos (APA, coordenação de
projectos, intervenção de professores especialistas),
(iii) partilha de recursos, partilha de ideias, partilha de alunos.
- Se todos se protegerem e só oferecerem uma ideia lisa, as trocas permanecerão vazias. Serão sempre os mesmos a falar, os mesmos a
ouvir, alguns sentir-se-ão julgados e desacreditados.
- Logo os professores devem saber trabalhar eficazmente em equipa: (i)
assumindo os seus medos, perdas de autonomia, territórios a proteger. (ii) fazendo a transição da pseudo-equipa para a verdadeira
equipa, (ii) discernindo os problemas que requerem cooperação e
criando o espírito de uma cultura de cooperação.
5.2. Dirigir um
grupo de trabalho, conduzir reuniões.
- Todos os membros de um grupo são colectivamente responsáveis
pelo seu funcionamento: respeito pelos horários, por chegar a conclusões, por dividir tarefas, combinar os próximos encontros, a avaliação
e a regulação do funcionamento.
- É sensato delegar-se um condutor do grupo para conduzir as reuniões e
evitar: (i) todos a falar ao mesmo tempo, (ii) mudar/saltar de assunto,
(iii) alguém de monopolizar o debate e outros não falarem ou expressarem as suas ideias, (iv) posições categóricas. (v) atrasos e abandonos
da sessão a meios.
- No entanto, qdo alguém toma as rédeas pode ser alvo de sarcasmos ‘sim
chefe!’. «É preciso ser ingénuo ou um tanto kamikase para desempenhar esse papel no meio docente.
5.3. Formar e
renovar uma
equipe pedagógica.
- A iniciativa para formar uma equipa pode resultar: (i) do desejo de
colaboração entre 2 ou mais pessoas. (ii) de uma decisão dos órgãos de
gestão para fazer face a um problema interno/externo. (iii) da união para
fazer frente a uma ameaça ou conflito. (iv) da subdivisão em núcleos
mais pequenos de um projecto do estabelecimento. (v) da iniciativa ou
desejo de inovação de alguns professores que tentam mobilizar os seus
colegas.
5.4. Enfrentar e
analisar em conjunto situações
complexas, práticas e problemas
profissionais
- Uma equipa perde o vigor se não conseguir ‘trabalhar sobre o trabalho’.
- O verdadeiro trabalho de equipa começa quando os seus membros se
afastam do ‘muro de lamentações’ para agir, utilizando toda a sua autonomia e capacidade de acção.
5. Trabalhar em equipa
5.5. Administrar
crises ou conflitos
interpessoais
- É preciso abandonar a ilusão dos discursos sobre a paz e harmonia. O
conflito faz parte da vida e é a expressão da capacidade de recusar e de
divergir que faz parte da nossa autonomia.
- Uma sociedade sem conflitos seria uma ‘sociedade de ovelhas’ ou uma
sociedade onde ninguém pensa. Porquê dramatizar inutilmente as oposições (jogos relacionais, de poder, de acerto de contas)?
- Coloquemos o conflito como componente da acção colectiva e questionemo-nos sobre a forma como poderemos utilizá-lo de maneira mais
construtiva que destrutiva. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
6.1. Elaborar,
negociar um projecto da institui-
ção.
- As ‘costuras’ dos sistemas educativos desmancham-se por mil razões,
mas principalmente porque o seu sistema de gestão permanece arcaico,
burocrático, mais baseado na desconfiança do que na confiança, na
liberdade clandestina do que na autonomia assumida, na ficção do
respeito escrupuloso dos textos do que na delegação de poderes, na
aparência do controlo do que na transparência das escolhas e delas
prestar conta.
- Será necessário que antes de se formar os professores para participar na
escola, se deva esperar para que essa evolução ocorra plenamente nas
mentes, nos textos legislativos ou modelos de trabalho? Não! A mudan-
ça começa com a adesão progressiva a novos modelos e com a construção progressiva dos saberes e das competências capazes de os pôr
em prática.
- Não há pior adversário da mudança do que esta constatação que os
cépticos gostam de sussurrar: «isso não vai funcionar», «eles não são
capazes».
- Deseja-se que o projecto da instituição estimule a colaboração daqueles
que aspiram abertamente a uma verdadeira autonomia profissional.
- Favorecer a sobrevivência de um projecto exige competências fora
do comum dos intervenientes: (i) perceber a ambiguidade, a tensão, a
realidade e os limites da autonomia, mantendo o equilíbrio e o sentido
crítico; (ii) construir uma estratégia colectiva.
6.2. Administrar
os recursos da
escola.
.
- Pode parecer simples, mas compromete a responsabilidade individual e
colectiva dos professores na gestão racional dos equipamentos/recursos, tendo em conta o orçamento disponível.
- É fundamental que todos participem na repartição equitativa dos recursos e na definição das prioridades (aquisição e utilização).
6.3. Coordenar,
dirigir uma escola com todos os
seus parceiros.
- O papel do presidente do CE será o de facilitar a cooperação entre os
diversos profissionais.
- Muitos professores trabalham sozinhos ou com um ou dois colegas mais
próximos, mas um mínimo de coordenação é necessária para: a interpretação do programa e da avaliação, o funcionamento do grupo/classe,
o tratamento de alguns casos, uma certa coesão da relação com os alunos
e os pais, partilhar recursos, etc.
6. Participar na Administração da Escola
6.4. Organizar e
fazer evoluir, no
âmbito da escola,
a participação
dos alunos.
- A participação dos alunos justifica-se por um duplo ponto de vista: o
direito a participar nas decisões que lhe dizem respeito e porque isso
constitui uma forma de educação para a cidadania.
- A turma é o primeiro lugar de participação democrática e de educa-
ção para a cidadania.
- É nela que se enfrenta a contradição entre o desejo de emancipar os
alunos e a tentação de moldá-los.
- A pedagogia de Freinet oferece procedimentos concretos para conciliar esta prática e para construir instituições internas. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
7.1. Dirigir reuniões de informa-
ção e de debate.
- Os pais que assistem a uma ‘reunião de pais’ sabem, ou descobrem, que
este não é o momento apropriado para resolver os casos particulares.
Mas, quando a situação do seu filho realmente os preocupa, podem ficar
tentados a falar disso no meio de um problema geral: trabalhos de casa
excessivos/insuficientes, disciplina/indisciplina,  avaliação muito rigorosa/generosa, etc.
- O professor terá que adquirir a capacidade de descodificar, em declara-
ções aparentemente gerais, preocupações pessoais e tratá-las como tal.
- Terá de adquirir a competência de não marcar reuniões gerais quando
os pais têm preocupações particulares.
- Uma das competências maiores é distinguir com clareza a sua autonomia profissional, a política educativa, os programas, as normas e as
orientações da instituição. Dissociar-se totalmente da instituição que o
emprega é tão desastroso quanto assumir categoricamente todos os
diplomas legais.
7.2. Fazer entrevistas.
.
- A entrevista deve ser preparada, definidos os seus objectivos, modo da
iniciar e de deixar os interlocutores à vontade.
- Convocar os pais autoritariamente e tratá-los como acusados no tribunal não permite instaurar um diálogo de igual para igual.
- Alguns professores cultivam uma tal assimetria na relação que pode
levar os pais a se sentirem tratados como alunos.
- A competência maior é saber situar-se claramente: partilhando responsabilidades, inquietações, mobilizando-os e utilizando um tom
cortês.
7.3. Envolver os
pais na constru-
ção dos saberes.
- Não se limita a convidá-los a desempenhar o seu papel de controlo do
trabalho escolar do seu educando, a mobilizá-los para a dinamização
de oficinas, apresentar a sua profissão ou uma paixão, mas também
envolver os pais na construção dos saberes i.e. conseguir a sua adesão à
pedagogia do professor.
- Se quisermos a democratização do ensino, só nos resta defender uma
pedagogia activa e diferenciada, explicando-a aos pais e tentando conquistar os mais renitentes.
7. Informar e Envolver os Pais
7.4. Enrolar  - Nas relações com os pais devem ser evitadas algumas tentações: (i)
negar factos; (ii) insistir no seu carácter excepcional; (iii) admitir que
há pessoas indesejáveis na turma; (iv) distanciar-se dos colegas; (v)
invocar falta de autoridade do EE; (vi) afirmar que o interlocutor não é
representativo; (vii) referir as dificuldades das condições de trabalho
ou de funcionamento, (viii) lembrar o respeito aos territórios, etc.
- Saber informar e envolver os pais é ser capaz de utilizar apenas excepcionalmente este tipo de argumentos. É assumir a incerteza e o conflito
e aceitar a necessidade de instâncias de regulação.
- A parceria é uma construção permanente, onde tudo correrá melhor
se os professores aceitarem tomar a iniciativa, sem monopolizar a discussão, dando provas de serenidade.  Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
8.1. Utilizar editores de texto.
- A escola não pode ignorar as novas tecnologias de informação e da
comunicação (TIC), que transformam espectacularmente as nossas
maneiras de comunicar, de trabalhar, de decidir e de pensar.
- Tradicionalmente, o ensino baseia-se em documentos. Um professor
pouco criativo contentar-se-á com a utilização do manual escolar.
- Através das TIC, professores e alunos terão acesso a todos os mapas
imagináveis (políticos, físicos, económicos, demográficos), com possibilidades ilimitadas de mudança de escala, de passagem a textos explicativos, animações ou até mesmo a imagens directas via satélite.
- A transferência do impresso para o suporte digital supõe que o professor
construa a capacidade de saber o que está disponível, de mover-se nesse mundo e de fazer escolhas.
- É possível escolher e apresentar documentos, adaptá-los, enriquecê-
los com imagens ou outras fontes.
8.2. Explorar as
potencialidades
didácticas dos
programas em
relação aos objectivos de ensino
- Podemos fazer uso didáctico de 2 tipos de software: os programas que
são feitos para o ensino e os que não o sendo podem ser explorados
para fins didácticos.
- O Ensino ou a Aprendizagem Assistida por computador (EA ou AA)
contam-se entre os primeiros. A sua evolução tem recaído no modo de
formulação das perguntas e das respostas, na sua animação e aspecto
gráfico, na sofisticação crescente dos programas de modo a analisar as
respostas e a gerir as progressões.
- Os processadores de texto, as folhas de cálculo, os programas de processamento de imagem fazem parte dos segundos. O papel do professor
consistirá na selecção dos programas que lhe parecem mais adequados
para facilitar o trabalho, o aprofundamento e o domínio da matéria
pelo aluno.
8.3. Comunicar
à distância por email.
.
- Há alguns anos pareceria ficção científica. Hoje, uma turma pode trocar correspondência, várias vezes ao dia, com a turma da sala do lado
ou do outro lado do Atlântico.
- Escreve-se a mensagem de algumas linhas ou de algumas páginas,
pouco importa, junta-se ou não documentos mais volumosos (textos,
imagens , sons) e envia-se seleccionando-se a morada no livro de endereços.
- A distância está igualmente esbatida na consulta de sites temáticos, na
consulta de bases de dados ou do horário de uma instituição.
8. Utilizar novas Tecnologias
8.4. Utilizar as
ferramentas multimédia no ensino
- Cada vez mais os CD-ROMs e os sites multimédia farão uma séria
concorrência aos professores, se estes não quiserem ou não souberem
utilizá-los para enriquecer o seu próprio ensino.
- A competência do professor consistirá em utilizar os instrumentos
multimédia já disponíveis e, talvez em desenvolver nesse domínio
curiosidade e abertura. Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
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 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
9.1. Prevenir a
violência na Escola e fora dela.
- A violência, a brutalidade, os preconceitos, as desigualdades, as discriminações existem , a televisão exibe isso todos os dias. Não se pode
pedir à escola que seja aberta à vida e fazer crer que todos os adultos
aderem às virtudes cívicas e intelectuais que ela defende.
- Agora, os  adolescentes têm as condições propícias para ironizar as
palavras idealistas dos seus professores e dos seus pais.
- Quando se projectou o filme «Sementes de Violência», nos anos 60,
pensava-se que isso só acontecia nos guetos americanos, com adolescentes abandonados à sua própria sorte. Hoje, todos os países desenvolvidos sabem que não é assim (desemprego, droga, álcool, tédio).
- É por isso que lutar contra a violência na escola é, antes de mais nada,
falar, elaborar uma significação colectiva dos actos de violência que
nos circundam e reinventar regras e princípios de civilização.
9.2. Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais,
étnicas e sociais
- Não basta ser individualmente contra os preconceitos e as discrimina-
ções, é necessário sê-lo também socialmente.
- Os valores e o comprometimento pessoal do professor são decisivos
para os alunos irem vencendo preconceitos e se tornarem mais tolerantes para com a diferença.
9.3. Participar
da criação de
regras da vida
comum referentes à disciplina na
escola, às sanções
e à apreciação da
conduta.
- É importante negociar as regras com os alunos. Mas o professor
aberto a negociações não abandona o seu papel de adulto e de mestre e
não instaura a autogestão, antes, procura constantemente:
- Que a turma assuma de maneira responsável a definição das regras
e a sua aplicação;
- Mas quando a turma não o faz, assume ele inteiramente essa responsabilidade em favor do respeito pelas regras.
- A competência fundamental do professor é saber viver na ambiguidade
de ser partidário do acordo mas, ao mais pequeno sinal de alarme,
assumir o seu papel de responsável/autoridade.
9. Enfrentar os Deveres e os Dilemas Éticos da Profissão
9.4. Analisar a
relação pedagógica, a autoridade e
a comunicação
em aula
- Sedução, chantagem afectiva, sadismo, amor e ódio, gosto pelo
poder, medos e angústias jamais estarão ausentes da relação pedagógica.
- A primeira competência do professor é  aceitar essa complexidade e
reconhecer os implícitos do ofício. Não pode renunciar inteiramente à
sedução, à atracção e a uma certa forma de manipulação. Necessita
desses recursos para fazer o seu trabalho.
- A sua competência é saber o que faz, o que supõe um trabalho regular
de desenvolvimento pessoal e de análise das práticas.
- O professor deve dominar as ‘técnicas de justiça’,  o que supõe uma
explicitação dos direitos e dos deveres, de alunos e professores, e um
esclarecimento dos procedimentos de justiça na turma e na escola.  Reflectir a Educação  Competências de Ensino - Perrenoud
Fernando Cadima  12
 Competências mais
específicas
Sugestões/Indicações
10.1. Saber
explicitar as pró-
prias práticas.
- Trata-se de uma competência vital porque ela condiciona a actualiza-
ção e o desenvolvimento de todas as outras. Nada pode ser adquirido
por ‘simples inércia’ e a ‘liberdade só se gasta se não for usada.
- As práticas pedagógicas mudaram profundamente ao longo das últimas
décadas: (i) são baseadas em objectivos de nível taxonómico mais elevado; (ii) visam mais as competências; (iii) recorrem a métodos mais
activos; (iv) deixam mais liberdade e manifestam maior respeito pelo
aluno; (v) concebem o  ensino como a organização de situações de
aprendizagem, ao invés de lições; (vi) concedem mais espaço às tarefas
abertas, situações-problema e trabalho de projecto; (vii) valorizam a
cooperação dos alunos; (viii) tendem a  romper o grupo-turma como
única estrutura de trabalho; (ix) são mais sensíveis à pluralidade de
culturas; (x) estão mais dependentes da TIC e usam-nas mais; (xi) dão
mais espaço à  acção, observação e experimentação; (xii) são socialmente menos valorizadas e menos protegidas das críticas; etc.
- Saber explicitar as suas práticas é a base de uma autoformação: (i) é
aprender, é mudar a partir de diversos procedimentos; (ii) entre eles, a
leitura, a experimentação, a inovação, o trabalho em equipa, a reflexão ou a simples discussão com os colegas.
10.2. Estabelecer
o seu próprio
balanço de competências e o seu
programa de formação
- Podemos passar a vida a reflectir sobre as questões da avaliação, sem
que com isso se descubra o principio básico da avaliação formativa. Para
ultrapassar o limite é necessário um salto qualitativo que passa pela
construção de novos meios de acção pedagógica.
- A lucidez profissional consiste em saber quando se pode progredir
através dos meios que a situação oferece ou a partir de meios externos.
10.3. Negociar
um projecto de
formação comum
com os colegas
(equipa, escola,
rede)
- Quando há um colectivo forte ao nível da instituição é relativamente
fácil definir as necessidades de formação com um projecto comum.
Infelizmente tais condições estão longe de ser preenchidas em toda a
parte; Em muitos estabelecimentos a cooperação profissional é incipiente.
- É necessário que alguém tome a iniciativa e convença os seus colegas
da importância da formulação de um projecto comum.
10.4. Envolverse em tarefas
numa escala mais
ampla ou ao nível
do Sistema Educativo - As competências exigidas a nível local, regional ou nacional são sensivelmente as mesmas.
- Envolver-se em tarefas numa escala mais ampla é uma via para a formação contínua muito mais fecunda, pq impõe uma visão mais sisté-
mica e a tomada de consciência das diversas práticas, dos recursos e
da organização.
10. Administrar a Sua Própria Formação Contínua
10.5. Acolher a
formação dos
colegas e participar dela
- Quando se pergunta aos professores se querem receber estagiários, isso
pode ser visto como uma oportunidade de renovação.
- Mas é preciso atingir um certo nível de especialização para pretender formar outrem, pq  compartilhar saberes e criar experiências
formadoras impele a explicitar, organizar e aprofundar o que se
sabe.
- Ou seja, obriga a reflectir sobre aquilo em que se acredita dominar, a
avaliar a parcela do implícito , de incerteza e de confusão, a identificar saberes ultrapassados, frágeis ou abandonados.

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