domingo, 25 de dezembro de 2011

Especialista esclarece dúvidas de internautas sobre a nota do Enem


Candidatos protestaram contra seus resultados em reportagem do G1 -Fonte.

Principal motivo de insatisfação foi o peso diferente das questões objetivas.

Ana Carolina MorenoDo G1, em São Paulo

Centenas de estudantes que fizeram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em outubro protestam na internet desde a quarta-feira (21). As reclamações tiveram início minutos após a divulgação das notas do Enem 2011 pelo Ministério da Educação.
Procurado pelo G1, o MEC afirmou que não poderia explicar casos específicos, e afirmou que os esclarecimentos sobre a correção das provas havia sido publicada em seu site oficial.
A principal insatisfação está relacionada a notas muito abaixo do esperado, em comparação com o número de acertos no gabarito oficial.
Porém, segundo Tufi Machado Soares, professor de estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o modelo de prova utilizado pelo Enem é corrigido com base em algaritmos que levam em conta mais fatores, além da quantidade de acertos.
Especialista na Teoria da Resposta ao Item (TRI), com dez anos de experiência no assunto, Soares analisou algumas das reclamações mais frequentes que internautas deixaram em comentários na  reportagem do G1 "MEC divulga notas do Enem 2011".
Primeiramente, ele ressaltou que a metodologia não é "nenhuma grande novidade", e que diversos exames de outros países a aplicam há vários anos. No Brasil, MEC utiliza a TRI desde 1995 em provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), também de larga escala. "Mas essa é a primeira vez que se associou a TRI a um concurso público, a um exame usado para seleção, por isso toda essa discussão."
Segundo ele, a TRI não é mais injusta do que a pontuação bruta, que leva em conta apenas o número de acertos. Ela é apenas mais complicada de entender. "É que as pessoas estão acostumadas desde cedo à pontuação bruta, quer sempre saber quantos pontos fez, assim é mais fácil de ser compreendido."
Mais acertos, notas mais baixas
Andre Affonseca comentou que sua filha acertou 30 questões a mais no Enem deste ano em comparação com 2010, mas mesmo assim ficou com notas menores. "Se o TRI é tão 'perfeito' e 'justo' assim, como o MEC diz. Por que não divulga os pesos de cada questão agora?", questionou ele.
Cadernos de provas do Enem (Foto: G1)Cadernos de provas do Enem (Foto: G1)
Segundo o professor da UFJF, "é impossível fornecer os pesos das questões", já que ele não é o único fator que determina a nota. Ele afirma que são três os parâmetros usados pelo Enem: a discriminação (ou seja, o poder de distinguir os estudantes que sabe a matéria dos que não têm essa proficiência), o grau de dificuldade da questão (que é definido a partir do pré-teste realizado pelo MEC) e a possibilidade de acerto ao acaso (o "chute").
Essa possibilidade é explicada pelo especialista de Juiz de Fora como uma "chance mínima de acerto para todos os alunos", e considera não só as questões que o candidato acertou, mas também as que ele errou.
Inconformados
Em seu comentário, a candidata Manuella Braun considerou "totalmente injusto" seu resultado. "Eu acertei 41 questões na prova de português [eram 45 no total] e minha nota foi 673,0 [a nota máxima na prova de linguagens e códigos foi 795,5]."
Paulo Azevedo também não soube explicar seu baixo rendimento no Enem. "Com certeza tem alguma coisa errada com essas notas, acertei 40 e 39 em linguagens e em ciências humanas, respectivamente, e elas duas ficaram na casa de 650-660. Como isso é possivel?", questionou o estudante.
Calculando a pontuação de Manuella, caso todas as questões tivessem o mesmo peso e a nota máxima partisse de 1.000, sua na prova de linguagens e códigos seria 911,1. Considerando o mesmo cálculo com os acertos de Paulo, ele teria nota 888,8 em linguagens e 866,6 em ciências humanas.
No caso de ambos, Soares esclarece que o modelo usado pelo Enem "visa, justamente, evitar que a comparação dos indivíduos seja feita, simplesmente, pelo porcentual de acerto ou pela pontuação bruta". Segundo ele, "há mais casos de empates quando se usa pontos brutos", já que, por exemplo, "alunos que tem o mesmo número de acertos podem ter acertado itens diferentes, e isso não é considerado no cálculo da medida".
Isso quer dizer que acertar muitas questões não garante uma nota muito alta, porque a equação que leva ao resultado final é mais complexa do que apenas somar o número de acertos ou subtrair o número de erros.
O professor da UFJF ressalta, ainda, que "o método é totalmente objetivo e, portanto, não há interferência humana na valoração das questões".
Redação
A redação foi bastante criticada pelos estudantes. Antonio Carlos Rodrigues Aragão Filho, de Fortaleza (CE), enviou comentário ao G1 afirmando que "as notas de redação, novamente, vieram aparentemente desligadas de qualquer critério, com relatos absurdos, como de estudantes que se preparam mais para a prova deste ano, e, mesmo assim, obtiveram notas muito piores".
Segundo o internauta, a incoerência entre a percepção dos candidatos e o resultado final pode gerar desconfiança. "Como saberemos os critérios adotados se não temos o básico acesso às correções de nossas redações?", questionou.
O internauta Diego Coutinho discordou de sua nota na redação. Segundo ele, é a terceira vez que fez o Enem. Em 2009, tirou 925, em 2010, 800, reconhecendo que usou uma "citação inadequada". Já, neste ano, sua nota caiu para 580.
Coutinho questionou se a "correção antecipada" - referindo-se à divulgação dos resultados duas semanas antes do prazo inicial - "será valorizada, ao passo que destrói o sentimento de justiça de jovens brasileiros".
No caso da redação, Tufi Soares afirma que uma prova aberta depende de um julgamento por parte de um avaliador. Na sua opinião, isso faz com que ela fique "mais sujeita a erros de medida do que provas objetivas".
No entanto, diz ele, "é possível utilizar procedimentos padronizados de correção que minimizem essa subjetividade". O professor ressaltou que a pontuação da redação não utiliza, ainda, a TRI
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