quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Genômica não rende patentes ao Brasil, mostram dados da USP

SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO O Brasil saiu na frente em biologia molecular quando sequenciou o genoma da Xylella fastidiosa, causadora do "amarelinho" da laranja, em 2000. Mas os resultados do investimento, pelo menos em número de patentes, foram abaixo do esperado. É isso que mostra um levantamento feito pelo cientometrista da USP Rogério Meneghini e pelo seu orientando Estêvão Gamba. Brasil deveria extrair lições da trajetória sul-coreana Em um artigo que será publicado em maio nos anais da ABC (Academia Brasileira de Ciências), eles revisaram dez anos de patentes de biologia molecular, de 1996 a 2007 (em geral, esse tipo de análise se debruça a partir dos últimos três anos). A base verificada foi a americana USPTO, em que são registradas marcas e patentes de todo o mundo. Nesse período, o Brasil teve um total de 279 registros de patentes em biologia molecular. O número é menos da metade do México (776) e de um terço da China (996). Mesmo assim, o crescimento de patentes do país na área foi de 3.700%. "É preciso lembrar que partimos praticamente do zero em patentes de biotecnologia. Sob esse ponto de vista, crescemos muito", explica o engenheiro agrônomo Sérgio Salles-Filho. Ele é especialista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em política científica. No entanto, o aumento da China no mesmo período foi de 5.275%. Em 1996, esse país só tinha quatro patentes em biologia molecular. "Os números do Brasil mostram que a atividade de produção tecnológica é baixa", explica Salles-Filho. De fato, em termos de produção científica em biologia molecular, ou seja, artigos publicados, os números são bem diferentes. Num ranking feito por Meneghini a partir da base de dados bibliográfica "Scopus", o país teve um crescimento de 515% em artigos na área --e só perdeu para a China (que cresceu 1.243%). "Isso se deve a uma questão cultural. Ainda temos pouca cultura de patenteamento", complementa Salles-Filho, da Unicamp. PIONEIRISMO Em 2000, o sequenciamento da bactéria do "amarelinho", que causa o entupimento dos vasos da planta e atinge cerca de 30% dos laranjais paulistas, foi capa da revista "Nature" e colocou o Brasil como protagonista na genômica internacional. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) investiu cerca de US$ 12 milhões nas pesquisas da Xylella, que reuniram quase 200 cientistas em 35 laboratórios do país. Hoje, porém, a rede de sequenciamento foi desfeita, e a doença do citrus continua sem cura --apesar de que a "cura" não era um objetivo inicial das pesquisas. O foco, de acordo com a Fapesp, era formar pessoas na área. Além disso, algumas empresas de base tecnológica emergentes acabaram mudando de percurso. Exemplos disso são a Allelyx e a Canavialis, compradas pela multinacional Monsanto em 2008 por R$ 612 milhões. Ambas foram fundadas em 2002 com capital de risco da Votorantim. Para o biólogo Fernando Reinach, fundador da Allelyx e diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, é esperado que empresas de fundo de risco sejam vendidas. Mas, na época, a negociação foi criticada pelo governo e, conforme a Folha apurou, acabou retraindo os investimentos públicos em empresas de base tecnológica. De acordo com Reinach, a Allelyx teve cerca de 30 patentes registradas na USPTO entre 1996 e 2007. "Mas não basta analisar número de patentes. É preciso ver o que elas geraram de lucro", diz. Em editorial recente publicado na "Nature", a revista cobrou uma postura mais agressiva da ciência brasileira na área de biotecnologia. Mas afirmou: "A Xylella mudou a percepção do Brasil de si mesmo e seu lugar no mundo da ciência."

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