terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Dani na FIOCRUZ

IOC teve participação fundamental no
diagnóstico da causa da morte de sul-africano
O IOC teve atuação decisiva no diagnóstico do caso do sul-africano William Charles Erasmus, morto recetemente no Rio de Janeiro com um quadro de febre hemorrágica não identificada. A investigação sobre a causa do óbito descartou a infecção por Arenavírus e concluiu que a morte foi causada por rickettsiose. [+] mais
Morte de sul-africano foi causada por bactéria do gênero Rickettsia

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram a causa do óbito de William Charles Erasmus, sul-africano de 53 anos morto na última terça-feira, 2 de dezembro, no Rio de Janeiro, com um quadro de febre hemorrágica não identificada. O resultado da investigação indica que a morte foi causada por rickettsiose, doença transmitida por carrapatos. Não há risco de transmissão pessoa a pessoa. O caso mobilizou a Fiocruz, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde.

A partir de dados sobre o período de estadia no país e o tempo necessário para a manifestação de sintomas, foi concluído que a infecção ocorreu antes da chegada ao Brasil (as manifestações clínicas da doença surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias).



A pesquisadora do IOC Elba Lemos, líder da equipe que realizou o diagnóstico molecular de febre maculosa, e o diretor vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde, Eduardo Hage



A investigação epidemiológica, que comprovou a ausência de vínculo entre este óbito e os casos de infecção por arenavírus que ocorreram na África do Sul, e os testes diagnósticos descartaram a suspeita de infecção por este vírus. As suspeitas de hantavírus, herpes, hepatites, malária e dengue, entre outras, também foram descartadas por testes laboratoriais.

O Ministério da Saúde anunciou que, como a doença não é transmitida entre humanos, a partir de hoje fica suspenso o acompanhamento clínico que vinha sendo realizado junto a pessoas que tiveram contato com o sul-africano. “A hipótese de arenavírus foi colocada porque havia uma coincidência temporal entre a data em que o paciente foi submetido a uma cirurgia na mesma clínica em Joahnesburgo onde houve casos fatais deste vírus. Foram realizados contatos com a Organização Pan-Americana de Saúde e conferências com os médicos que participaram do caso no hospital sul-africano”, anunciou Eduardo Hage, diretor de vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde, em entrevista coletiva na Fiocruz na tarde de domingo, 7 de dezembro.

Ary Carvalho de Miranda, vice-presidente de Serviços de Referencia e Ambiente da Fiocruz, destacou que os resultados são definitivos.“Podemos tranqüilizar a população”, sintetizou. “Os exames confirmaram a infecção por rickettsiose.”

Em todo o mundo, existem mais de 20 Rickettsias do grupo que pode causar a rickettsiose. O sul da África, Mediterrâneo e costa atlântica dos Estados Unidos são áreas de alerta para a doença.

A equipe da Fiocruz, liderada pela pesquisadora Elba Lemos, realizou o diagnóstico de febre maculosa por meio de análise de PCR (com base na identificação do DNA da Rickettsia), no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz (Laboratório de Referência Nacional para Rickettsioses). Segundo a especialista, a febre maculosa é um problema em todo o mundo. “Não é um problema exclusivo do Brasil, ou da África. É um sério problema de saúde pública”, descreveu. O diagnóstico foi finalizado na manhã deste domingo.

Como a morte foi causada por quadro de febre hemorrágica e o paciente teve passagem por localidades onde ocorrem doenças inexistentes no Brasil, todos os procedimentos foram desenvolvidos em laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB3) – procedimento recomendado para a investigação de agente patogênico desconhecido -, garantindo a contenção do agente e a segurança dos profissionais envolvidos nas análises.

A doença é de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, uma vez que os sintomas são semelhantes aos de outras doenças infecciosas febris. O início geralmente é abrupto e os primeiros sintomas são inespecíficos, incluindo febre (em geral elevada), dores de cabeça, dores musculares, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Podem ocorrer hemorragias na evolução da doença.

Sobre a febre maculosa
A febre maculosa pode ser causada por bactérias do gênero Rickettsia. Existem mais de 20 espécies de Rickettsia que podem causar febre maculosa.

A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda, que pode causar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. No Brasil e nos Estados Unidos, a doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii.

A doença é transmitida ao homem exclusivamente pelo carrapato infectado. No Brasil, o principal reservatório da Rickettsia rickettsii é o carrapato da espécie Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela. Não há risco de transmissão pessoa a pessoa. Para que a infecção ocorra, o carrapato precisa ficar aderido à pele por algumas horas (de 4 a 6 horas). A transmissão da bactéria também pode ocorrer no momento do esmagamento do carrapato, se houver lesões na pele. Os carrapatos permanecem infectados durante toda a vida, que em geral dura 18 meses.

O quadro clínico é marcado por início brusco, com febre elevada e cefaléia (dores de cabeça), podendo haver dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. As manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias. O surgimento de lesões exantemáticas na pele aumentam o grau de suspeição, muito embora existam casos nos quais este sinal pode não ser detectado – no caso de pacientes afro-descendentes, por exemplo.

No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 1929. De 1997 a 2008, foram registrados 641 casos confirmados no país. Em 2007 e 2008, houve 136 casos, sobretudo em Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Nestes dois últimos anos, o Rio de Janeiro registrou 17 casos.

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