O bullying – atitudes agressivas intencionais e repetitivas, sem motivação aparente, de um ou mais estudantes contra outro(s) – tem se tornado um problema comum em instituições educacionais de todo o mundo. Nos últimos anos, secretarias de Educação de municípios e estados brasileiros vêm adotando leis e outras medidas para prevenir e combater a prática do bullying em nossas escolas, mas esta batalha só pode ser vencida com o trabalho conjunto de gestores, professores, pais e familiares por meio da conscientização de crianças e jovens sobre os perigos dessa prática. A psiquiatra e terapeuta do Serviço de Psicologia Médica do IFF Cecy Abranches explica que atitudes caracterizam o bullying dentro e fora do ambiente escolar e como combatê-las.
Quais as formas mais comuns de bullying e quem são suas principais vítimas?
Cecy Abranches: O bullying pode ser direto, mais comum entre os meninos, ou indireto, mais adotado pelas meninas. O direto é caracterizado por apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal estar em suas vítimas, enquanto o indireto acontece por meio de atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação dos desejos. Atualmente, vemos ainda o crescimento do cyberbullying, que é o uso das tecnologias de informação e comunicação (e-mails, celulares, blogs) como recurso para adoção de comportamentos repetitivos e hostis para com o outro. Em geral, seus alvos são crianças ou adolescentes pouco sociáveis, inseguros ou desesperançados quanto à possibilidade de adequação ao grupo, e que, em razão disto, não dispõem de muitos recursos para reagir ou cessar o bullying.
Que efeitos o bullying pode ter sobre aqueles que vivenciam a situação?
Cecy: O bullying traz consequências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores. Entre as consequências de curto e longo prazo, estão as dificuldades acadêmicas, sociais e emocionais. O simples testemunho de atos de bullying já é suficiente para causar descontentamento, medo, ansiedade e/ou depressão em relação ao ambiente escolar, levando até mesmo à necessidade de troca de escola. Pessoas que foram alvo de bullying na infância são mais propensas a sofrerem de depressão e baixa autoestima quando adultos; os agressores, por sua vez, têm maior risco de apresentarem comportamentos antissociais na vida adulta, passando por problemas como instabilidade no trabalho e nos relacionamentos afetivos.
Como combater o bullying, que parece ser uma manifestação “natural” na infância?
Cecy: Os programas antibullying devem ver as escolas como sistemas dinâmicos e complexos, desenvolvendo estratégias que levem em conta as características sociais, econômicas e culturais de sua população. O envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para o sucesso de projetos de redução do bullying, que devem abordar suas características e conseqüências e buscar novas formas de relacionamento. Em primeiro lugar, é preciso desnaturalizar essa forma de socialização. Como se trata de um fenômeno complexo e de difícil solução, faz-se necessário um trabalho continuado em todos os momentos da vida escolar, ou seja, uma mudança de mentalidade na escola. Enfatizar as capacidades sociais e a aquisição de competências está entre as estratégias mais eficazes para a prevenção da violência juvenil.
Como a família pode ajudar um membro que é vítima de bullying?
Cecy: As famílias, tanto dos alvos como dos agressores, devem ser auxiliadas a entender obullying, conhecendo todas as suas possíveis consequências. É importante contar com a parceria da escola por meio do diálogo com gestores ou professores mais sensíveis ao problema, além de buscar o atendimento profissional na área da saúde mental. Se a família ainda necessitar de ajuda, deve procurar o Conselho Tutelar mais próximo à escola onde ocorre o bullying para que se possa fazer os encaminhamentos de que o caso necessita.
Publicado em 4/2/2011.
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