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domingo, 22 de novembro de 2009
A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO NA
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O
PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
Ludhiana Bertoncello*
Silvana Regina Rossete**
* Mestre em Educação (2008), com ênfase em teoria e prática pedagógica na formação de
professores, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR; Mestre em Educação
(1996), com ênfase nos processos de ensino-apredizagem pela Universidade Paulista –
UNIP; Diretora de Pesquisa do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR; Docente de
Metodologia de Pesquisa em cursos de Especialização no Centro Universitário de Maringá –
CESUMAR. E-mail: ludhiana@cesumar.br.
** Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR;
Assessora Pedagógica e Docente de História lotada na Secretaria Estadual de Educação de
Santa Catarina. E-mail: erossete@terra.com.br
“O diálogo é o encontro no qual a reflexão e a ação,
inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para
o mundo que é preciso transformar e humanizar.”
Paulo Freire
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo central discutir e mostrar a
importância do diálogo na educação, com ênfase na relação professoraluno,
conforme as proposições de Paulo Freire (1986; 1996; 2000; 2005),
fazendo um vínculo com os pressupostos do paradigma da complexidade
propostos por Behrens (2005; 2006). Para isso, procurou-se definir as
principais variáveis deste estudo: o diálogo e o paradigma da complexidade.
Além dos autores principais, foram utilizadas como fontes as obras de
Morin (2004), Gadotti (1996), Libâneo (2005), Demo (1998) e Yus (2002),
entre outros, com a finalidade de realizar uma pesquisa mais detalhada.
Verificou-se que a pesquisa de Paulo Freire, com a educação dialógica, e
os estudos de Behrens, com o paradigma da complexidade, convergem
para uma proposta uníssona no que tange à relação entre professor e
aluno e, conseqüentemente, entre o ensinar e o aprender.
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Diálogo; Paradigma da Complexidade.
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THE IMPORTANCE OF DIALOGUING IN
THE STUDENT-TEACHER RELATIONSHIP
AND THE COMPLEXITY PARADIGM
ABSTRACT: The main objective of this work was to discuss and show
the importance of dialoguing in education, emphasizing the student-teacher
relationship, according to Paulo Freire’s (1986; 1996; 2000; 2005)
propositions, and establishing a link with the complexity paradigm
presuppositions proposed by Behrens (2005; 2006). Thus, it has been
attempted to define the main variables of this study: the dialog and the
complexity paradigm. Besides the main authors, other sources were used,
such as Morin (2004), Gadotti (1996), Libâneo (2005), Demo (1998) and
Yus (2002), among others, aiming at carrying out a more detailed research.
It was observed that Paulo Freire’s research, with the dialoguing education,
and the studies of Behrens, with the complexity paradigm, converge to a
unison proposal concerning the relationship between teacher and student
and, consequently, between teaching and learning.
KEYWORDS: Education; Dialogue; Complexity paradigm.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é discutir a importância do diálogo destacada
nas propostas e idéias de Paulo Freire, conectando essas propostas e idéias
com os pressupostos do paradigma da complexidade, de forma a contribuir
com a prática educativa.
Paulo Freire, um dos mais importantes marcos da história das idéias
pedagógicas da contemporaneidade, enfatizou que a educação não é
neutra, mas um ato político, o que implica em pensar que tipo de homem,
de formação e que tipo de sociedade nós queremos. Nem toda educação
como ato político é transformadora.
Destarte, no sentido freireano, o educador precisa refletir e dialogar
com a sociedade em que vivemos e analisar os problemas com maior
profundidade. Nesse caso o diálogo tem implicação direta. O diálogo com
o próximo é fundamental. Para Freire, é através do diálogo que se dá a
transformação do homem; diálogo é o caminho que faz o ser humano
buscar a liberdade e rejeitar a manipulação.
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Por trás dessa premissa de uma educação dialógica, faz-se necessário
buscar o paradigma educacional que vem regendo, articulando e
costurando essas reflexões.
1.2 AS CONVERGÊNCIAS DO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
E DA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE
Todo indivíduo traz consigo uma carga histórica que explicita seu modo
de pensar e agir, apontando as influências de sua geração e de os
paradigmas filosófico-científicos que norteiam as suas relações, bem como
todo o conjunto que rege as ações da sociedade na qual está inserido.
Assim, para toda prática e ação há sempre um paradigma norteador.
Historicamente, no final do século XIX e durante todo o século XX a
ciência foi regida pelo paradigma cartesiano-newtoniano. Introduzido
por Galileu Galilei e posteriormente difundido por Descartes, esse
paradigma, firmado no pensamento positivista, no culto ao intelecto e na
formação técnica e utilitarista, trouxe sensíveis mudanças no progresso
científico-tecnológico, buscando o conhecimento através da razão e
experimentação (BEHRENS, 2005).
Apesar de terem provocado uma grande revolução tecnológica,
gerando produção e desenvolvimento, os referenciais do paradigma
cartesiano-newtoniano impregnaram a educação de uma visão de saber
fragmentada e racional. As conseqüências desses pressupostos na sala
de aula foram assim identificadas por Behrens (2005, p. 23):
Uma visão fragmentada levou os professores e os
alunos a processos que se restringem à reprodução
do conhecimento. As metodologias utilizadas pelos
docentes têm estado assentadas na reprodução, na
cópia e na imitação. A ênfase do processo pedagógico
recai no produto, no resultado, na memorização do
conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas
repetitivas que, muitas vezes, não apresentam sentido
ou significado para quem as realiza.
As salas, os temas, os assuntos, foram segmentados e fracionados, e
de alguma forma, valores como a ética, a solidariedade, a sensibilidade,
o respeito mútuo e a singularidade foram esquecidos pela sociedade e
logo suprimidos do ambiente educacional, em favor do conhecimento
técnico e especializados.
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Sob essa influência, a educação no Brasil se estabeleceu através de
uma prática conservadora, caracterizada por três abordagens: abordagem
tradicional, abordagem escolanovista e abordagem tecnicista. Behrens
(2005, p. 41) coloca que, “embora se apresentando em épocas diferentes,
todas têm como característica fundamental a reprodução do conhecimento”
e, por isso, podem ser incluídas no paradigma conservador.
Não obstante, já há algum tempo o paradigma cartesiano-newtoniano
vem sofrendo uma crise: objetivou-se tanto a fragmentação e
racionalidade que a sociedade perdeu a visão humanística. Os processos
cristalizados para responder às dúvidas não mais sustentam os anseios
da atualidade perante as novas inter-relações, em constante processo de
mudança e transformação.
A mudança no paradigma científico através das contribuições da física
quântica, da química, da biologia e da matemática traz, em resumo, o conceito
de pensamento sistêmico, a visão não-linear, a inter-relação, o universo
como uma teia, o mundo como uma rede, a idéia de movimento, de
totalidade, de espontaneidade, de criatividade.
Nesse contexto de transição e de mudança de paradigma, Behrens
(2005, p. 35) sinaliza as mudanças na educação:
Na educação, a visão global, sistêmica e transdisciplinar
mais significativa e relevante neste momento histórico,
precisa com urgência ultrapassar a visão
comportamentalista, disciplinar, unida e isolada. Essa
nova ótica para a educação leva a defender que, nos
cursos como um todo, deve haver um esforço para
reaproximar as disciplinas que devem desencadear e
se interconectar como uma rede, como uma teia
interligada e interdependente.
Destarte, para definir um paradigma educacional compatível com as
mudanças paradigmáticas da ciência, Behrens (2005) propôs uma aliança
entre três abordagens, da qual resultou um paradigma chamado de
“paradigma emergente” que hoje aparece mais comumente como
“paradigma da complexidade” (BEHRENS, 2006).
Ao verificar a questão na literatura mais recente, nota-se uma
convergência entre a proposta do paradigma da complexidade e os
pensamentos de Freire. Isto se explica pela aliança realizada entre as três
abordagens educacionais que fundamentam o paradigma da complexidade,
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a saber: a abordagem progressista, concebida por Paulo Freire, a abordagem
holística e o ensino com pesquisa.
Segundo Thomas Kuhn (1994, apud MORAES, 1997, p. 31), um
paradigma constitui-se como “a constelação de crenças, valores e técnicas
partilhados pelos membros de uma comunidade científica”. Sobre o conceito
de paradigma, Weil (1991 apud BEHRENS, 2005, p. 96) refere que
“paradigma em grego significa exemplo ou, melhor ainda, modelo ou padrão”.
Para Libâneo (2005), a teoria da complexidade abrange significações
de apreender a totalidade complexa, das inter-relações das partes, de modo
a se travar uma abertura, um diálogo entre diferentes modelos de análise.
Não significa, portanto, ordenar a realidade, organizá-la; significa, sim, buscar
a desordem, a contradição, a incerteza. Para ele, pensar a complexidade é
usar nossa racionalidade para juntar coisas separadas.
Segundo Morin (2004), complexus significa “o que foi tecido junto”.
De fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis e
constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o
psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo
e inter-retroativo em ter o objeto do conhecimento e seu contexto, as partes
e o todo, o todo e as partes, as partes entre si.
Dessa forma, o paradigma da complexidade apresenta características
que se completam e mostram essa visão de superação e transformação da
realidade. Entre essas características destaca-se a abordagem do ensino
com pesquisa, a qual parte do pressuposto de educar pela pesquisa. Esta é
cotidianamente inserida na sala de aula, envolvendo o professor e os alunos
em um questionamento reconstrutivo que engloba teoria e prática, num
constante “fazer-se e refazer na e pela pesquisa” (DEMO, 1998, p. 5).
Busca-se um ensino aliado à pesquisa como princípio
educativo, e não apenas como princípio científico. Essa
abordagem contempla a visão de educador que propõe
uma metodologia que possibilite ao aluno se apropriar,
construir, reconstruir e produzir conhecimento. Não
se trata apenas de uma mudança de método, mas de
uma postura pedagógica. O aluno passa a ser
participante e sujeito do seu próprio processo de
aprender (BEHRENS, 2006, p. 88).
Dentro da concepção do ensino com pesquisa, educar coincide com
pesquisar objetivando a produção do conhecimento de forma crítica,
competente e emancipatória, levando o aluno a “aprender a aprender”.
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A abordagem holística, também chamada de visão sistêmica, busca
aprender uma nova maneira de viver, que supere as contradições da
sociedade científico-industrial e o paradigma newtoniano-cartesiano. Desta
forma o indivíduo é abrangido em sua totalidade, considerando-se a
espiritualidade, as inter-relações, o equilíbrio, a cooperação, a inclusão, a
experiência e a contextualização (YUS, 2002).
Por fim, a abordagem progressista, de Paulo Freire, tem como
proposição principal a transformação social:
Instiga o diálogo e a discussão coletiva como forças
propulsoras de uma aprendizagem significativa e
contempla os trabalhos coletivos, as parcerias e a
participação crítica e reflexiva dos alunos e dos
professores (BEHRENS, 2006, p. 87).
O diálogo pretendido por Freire como prática educativa – que é diferente
do suposto diálogo vertical proposto pelas elites, que impossibilita a
manifestação do sujeito-aprendiz – é um ato de respeito aos educandos. É
preciso existir uma relação democrática entre professores e alunos,
mediada por um diálogo que respeite a leitura de mundo do educando,
reconhecendo dessa forma, a historicidade do saber.
Desta forma, inserido no paradigma da complexidade, o processo de
ensino-aprendizagem deveria se fundamentar nas seguintes proposições:
• totalidade e diálogo;
• postura crítica e reflexiva;
• produção do conhecimento através da pesquisa;
• aprender a aprender constantemente e uns com os outros;
• ética, coletividade e cooperação.
Neste sentido, os desafios da contemporaneidade, acompanhados dos
avanços científicos e tecnológicos e da globalização, levam a
transformações rápidas nas áreas social, cultural, econômica e política da
sociedade, bem como no processo de produção e aquisição do
conhecimento, exigem novas habilidades na educação, pedindo a presença
de um professor crítico e reflexivo que irá exercer um papel imprescindível
e insubstituível para a construção e socialização dos saberes docentes
intrínsecos à construção do conhecimento.
O professor, assim como todos os sujeitos e todas as atividades da
educação, precisa estar em processo constante de mediação e intervenção
crítica para a elaboração da aprendizagem.
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1.3 O PROFESSOR E O ALUNO NA VISÃO DE PAULO FREIRE:
UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
“Paulo Freire é um pensador comprometido com a vida: não pensa
idéias, pensa a existência” (FIORI, 2005, p. 3) – eis o modo como o
professor Ernani Maria Fiori apresenta o educador brasileiro no prefácio
do livro Pedagogia do Oprimido. É um educador preocupado com questões
para além da esfera teórico-pedagógica, em direção à reflexão e prática
em uma esfera mais ampla: a vida.
Educar para uma prática de vida é a grande linha filosófica do
pensamento freireano. A dimensão política no pedagógico de Freire é a
exposição de um elemento-chave de todo o seu pensamento: a educação
como prática da liberdade sinaliza a libertação como fim da educação.
Sua preocupação é situar o ser humano como criador da história e da
cultura. A realidade prática do sujeito é, para ele, o ponto de partida para
a ação pedagógica. Toda ação educativa deve ser precedida de uma
reflexão sobre o homem e de uma análise de seu meio de vida.
A sua “teoria da ação dialógica” pressupõe dois momentos
fundamentais: da denúncia da desumanização e o momento do anúncio
do processo de humanização a ser construído dialogicamente.
A existência porque humana, não pode ser muda,
silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas
palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente,
é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo
pronunciado, por sua vez, se volta problematizado
aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo
pronunciar (FREIRE, 2005, p. 90, grifo do autor).
De acordo com Gadotti (1996, p. 80), o pensamento de Paulo Freire
“tem uma ação direta com a realidade”, comprometendo-se, acima de
tudo”com uma realidade a ser transformada”.
Pensando a educação não apenas como ato estritamente pedagógico,
mas “ao mesmo tempo como ato político, como ato de conhecimento
e como ato criador” (GADOTTI, 1996, p. 80, grifo do autor), Freire
propõe uma de suas mais importantes categorias na direção do processo
de conscientização-reflexão: a prática do diálogo. A partir dela se buscará
um enfoque diferente acerca da relação professor-aluno.
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O diálogo, na concepção freireana, “consiste em uma relação horizontal
e não vertical entre as pessoas implicadas, entre as pessoas em relação”
(GADOTTI, 1996, p. 81). Trata-se de uma categoria que, para o educador,
faz parte da própria natureza humana.
Para elucidar essa afirmação, Gadotti (1991, p. 46) assim se expressa:
[...] os seres humanos se constroem em diálogo, pois
são essencialmente comunicativos. Não há progresso
humano sem diálogo. Para ele, o momento do diálogo
é o momento em que os homens se encontram para
transformar a realidade e progredir.
O diálogo proposto por Freire (2005) como prática educativa –
diferente do suposto diálogo vertical proposto pelas elites, que impossibilita
a manifestação do sujeito-aprendiz – é um ato de “respeito aos educandos,
não apenas enquanto indivíduos, mas também enquanto expressões de
uma prática social” (GADOTTI, 1996, p. 84).
Paulo Freire (2005) insiste na necessidade do diálogo como estratégia
de ensino, dentro de uma pedagogia dialógico-dialética, que tem a
finalidade de renovar a prática pedagógica. Desse modo, propõe que o
educador não possa se colocar na posição ingênua de quem se pretende
detentor do saber. Mas,
[...] deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem
sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto
não é um homem ‘perdido’, fora da realidade, mas alguém
que tem toda uma experiência de vida e por isso também
é portador de um saber. (GADOTTI, 1996, p. 86).
Neste sentido, para Freire, “a educação se torna um momento da
experiência dialética total da humanização dos homens, com igual
participação dialógica de educador e educando” (SCHMIEDKOWARZIK,
1983, p. 69).
O professor e o aluno estão engajados no ato de aprender, de
conhecer. Behrens (2005, p. 73) corrobora essa idéia ao colocar que:
o professor progressista, como educador e também
sujeito do processo, estabelece uma relação horizontal
com os alunos e busca no diálogo sua fonte
empreendedora na produção do conhecimento. O
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docente, sem impor suas idéias e concepções, procura
estar a serviço do aluno superando a visão do aluno
objeto, portanto, nega toda forma de repressão no
processo e possibilita a vivência grupal.
As obras de Paulo Freire da década de 90 revelam várias
preocupações com a educação deste século, pois vivemos em um
mundo extremamente complexo - de globalização capitalista da
economia, das comunicações e da cultura e, ao mesmo tempo, de
ressurgimento dos nacionalismos, do racismo, da violência e do
individualismo neoliberal.
Para Freire, o engajamento político contra o racismo, o capitalismo,
estruturas desumanas de produção, propicia uma educação
emancipadora, libertadora, que não é o único caminho, mas importante
e indispensável para transformar a realidade. E no espaço escolar essa
tarefa é do educador.
Paulo Freire (2005) sustenta a afirmação de que os seres humanos
não estão apenas no mundo, mas com o mundo e alerta que não há
possibilidade de diálogo entre os que buscam a afirmação da humanização
e os que não querem a ‘pronúncia’ do mundo. “Como posso dialogar, se
alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?”
(FREIRE, 2005, p. 30). E questiona:
E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com
B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade
(Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da
esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo
comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam
assim, com amor, com esperança, com fé um no outro,
se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então,
uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há
comunicação (FREIRE, 2005, p. 115).
Nesse novo cenário da educação, será preciso reconstruir o saber
da escola e a formação do educador. Em vez de mostrar a arrogância
de quem se julga dono do saber, o professor deverá ser mais criativo e
aprender com o aluno e com o mundo. O professor deverá promover o
entendimento e a escola deverá ser um espaço de convivência, onde
os conflitos sejam trabalhados realmente - daí a importância do diálogo
nas relações pessoais e interpessoais.
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Uma das características implícitas da globalização é justamente alienar
e convencer os indivíduos de sua impotência, reafirmando a idéia de que
nada se pode fazer no sentido de alterar esta realidade atual.
Considerando essa visão, o diálogo vem auxiliar na superação do
paradigma conservador, no cotidiano da sala de aula, quando aproxima
os envolvidos:
o diálogo não é apenas uma estratégia pedagógica. È
um critério de verdade. A veracidade do meu ponto de
vista, do meu olhar, depende do olhar do outro, da
comunicação, da intercomunicação. Só o olhar do outro
pode dar veracidade ao meu olhar. O diálogo com o
outro não exclui o conflito. A verdade não nasce da
conformação do meu olhar com o olhar do outro
(GADOTTI, 1991, p. 43).
Para Paulo Freire, repensar a própria prática é tarefa diária do professor,
que deve se posicionar criticamente à pretensa neutralidade da educação.
A educação deve ser vivenciada como uma prática concreta de libertação
e de construção da história.
Aprender a ler, a escrever, é, antes de tudo, aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto, numa relação dinâmica que vincula a linguagem
e a realidade. Neste sentido, o diálogo é ponto de referência central, pois é
através dele que se acredita ser possível seres humanos se transformarem
em seres comunicativos, podendo atuar para transformar a realidade.
Para Freire, o diálogo é o caminho necessário para os indivíduos a
fim de que possam refletir sobre sua realidade tal como a fazem e refazem.
É um evento social que ajusta o relacionamento entre os sujeitos cognitivos
e não uma simples comunicação com uma linguagem simbólica como
fazem os animais.
No sentido educacional é uma posição epistemológica e não uma
prática estranha vinda de uma região qualquer do planeta. Questiona
Freire (1986, p. 125):
Porque será que alguns educadores consideram
bizarra esta perspectiva de uma educação dialógica?
Porque consideram esta perspectiva do ato do
conhecimento como algo bizarro que veio do Terceiro
Mundo? Como é possível pensar assim? A educação
dialógica é uma posição epistemológica e não uma
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invenção bizarra ou uma prática estranha vinda de
uma região exótica do mundo.
O diálogo exige um pensar verdadeiro, um pensar crítico. Ele não
dicotomiza homens e mundo, mas os vê em contínua interação. Enquanto
ser inacabado, o homem se faz na interação com o mundo, objeto da
práxis transformadora. Numa relação amorosa, em permanente busca
pela humanização.
Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor
ao mundo e aos homens. Não é possível a ‘pronúncia’
do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não
há amor que a infunda. Sendo fundamento do diálogo,
o amor, é, também, diálogo (FREIRE, 2005, p. 92).
A educação emancipatória de Paulo Freire (2005) conta com as
potencialidades do sujeito para se comunicar, interagir e administrar o mundo
moderno criando condições para que todos tenham oportunidade de fala,
de argumentação e de decisão sobre as coisas, por meio do diálogo orientado
ao entendimento. Dessa forma ela se contrapõe à prática oriunda da
reprodução das abordagens tradicionais, nas quais o ato de transmissão de
conhecimentos é um ato de depósito de conhecimentos.
Para Paulo Freire, o trabalho educacional não responde sozinho pela
transformação da sociedade, mas sem a educação essa transformação
não acontece. Defende como direito e dever dos oprimidos lutar pela
real e efetiva apropriação de objetivações humanas, tais como a ciência
e a tecnologia, que são patrimônio da humanidade, e não privilégio de
grupos ou classes hegemônicas.
Possibilitar que o oprimido cada vez mais tome consciência de seu
papel no processo de transformação das suas condições de vida, mediante
uma educação para a liberdade, é o grande legado de Paulo Freire.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Faz-se necessário dizer que todo o pensamento de Paulo Freire tem
uma relação direta com a realidade. Segundo esse pensamento, nem o
professor nem o aluno podem se alicerçar em práticas alienadas; ao
contrário, o processo educativo deve ser altamente comprometido com
uma realidade a ser transformada.
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Por isso, a proposta de Freire de uma educação dialógica se apresenta
como uma nova e inovadora concepção pedagógica. Não se trata de
conceber a educação apenas como transmissão de conteúdos, num processo
em que o professor é detentor do saber e o aluno tem a “grande” tarefa de
escutar, ler, decorar e repetir (BEHRENS, 2005). Faz-se relevante
estabelecer um diálogo do qual resulte a aprendizagem para ambos, de
modo que quem educa esteja também aprendendo.
O paradigma da complexidade conduz à superação da
visão linear e disciplinada na escola e leva a buscar a
interconexão das diversas áreas do conhecimento [...]
aponta para processos de aprendizagens que envolvam
a produção do conhecimento crítica, reflexiva e
transformadora. (BEHRENS, 2005, p. 26).
Desta forma, Freire e Behrens exemplificam, com sintonia, novas
concepções educacionais que têm levado a escola e todos os seus agentes a
uma sensível mudança paradigmática: aprender para a vida. Baseada no
relatório Internacional da Unesco para a educação do século XXI (DELORS,
2001), esta nova visão da educação indica quatro pilares importantes:
• aprender a ser;
• aprender a conhecer;
• aprender a fazer;
• e aprender a viver juntos.
Esses quatro fundamentos regem a educação para este século e
amarram uma proposta única para todos os povos e continentes.
Estar fora desses princípios ou negá-los é tomar a contramão do
caminho da história.
A pesquisa e a esperança de Paulo Freire (1986, 1996, 2000, 2005),
que há muito tempo já preconizavam esses pressupostos, e os estudos de
Behrens (2005, 2006), que projetam para a educação um paradigma
coerente com as necessidades de uma nova sociedade, convergem para
uma via de mão única, alimentando a esperança daqueles que buscam
uma prática educativa cidadã, crítica e com responsabilidade.
Freire não objetiva em momento algum ditar receitas para o dia-a-dia
educativo de o que fazer, de como fazer e/ou porque fazer, mas faz da sua
práxis, estímulo, curiosidade para que busquemos através dos seus escritos
pensar nossa prática, um convite constante à reflexão sobre nossa ação. É
pensando a prática que posso melhorar minha teoria sobre ela.
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REFERÊNCIAS
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de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis: Vozes, 2006.
_________. O paradigma emergente e a prática pedagógica.
Petrópolis: Vozes, 2005.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 5. ed.
Brasília, DF: Cortez; UNESCO, 2001.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Autores
Associados, 1998.
FIORI, Ernani Maria. Prefácio. In: FREIRE, P. Pedagogia do
Oprimido. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
____________, SCHOR, Ira. Medo e Ousadia - O cotidiano do
professor. Tradução de Adriana Lopez. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
Coleção Educação e Comunicação. v. 18.
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YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o
século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O
PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
Ludhiana Bertoncello*
Silvana Regina Rossete**
* Mestre em Educação (2008), com ênfase em teoria e prática pedagógica na formação de
professores, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR; Mestre em Educação
(1996), com ênfase nos processos de ensino-apredizagem pela Universidade Paulista –
UNIP; Diretora de Pesquisa do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR; Docente de
Metodologia de Pesquisa em cursos de Especialização no Centro Universitário de Maringá –
CESUMAR. E-mail: ludhiana@cesumar.br.
** Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR;
Assessora Pedagógica e Docente de História lotada na Secretaria Estadual de Educação de
Santa Catarina. E-mail: erossete@terra.com.br
“O diálogo é o encontro no qual a reflexão e a ação,
inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para
o mundo que é preciso transformar e humanizar.”
Paulo Freire
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo central discutir e mostrar a
importância do diálogo na educação, com ênfase na relação professoraluno,
conforme as proposições de Paulo Freire (1986; 1996; 2000; 2005),
fazendo um vínculo com os pressupostos do paradigma da complexidade
propostos por Behrens (2005; 2006). Para isso, procurou-se definir as
principais variáveis deste estudo: o diálogo e o paradigma da complexidade.
Além dos autores principais, foram utilizadas como fontes as obras de
Morin (2004), Gadotti (1996), Libâneo (2005), Demo (1998) e Yus (2002),
entre outros, com a finalidade de realizar uma pesquisa mais detalhada.
Verificou-se que a pesquisa de Paulo Freire, com a educação dialógica, e
os estudos de Behrens, com o paradigma da complexidade, convergem
para uma proposta uníssona no que tange à relação entre professor e
aluno e, conseqüentemente, entre o ensinar e o aprender.
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Diálogo; Paradigma da Complexidade.
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THE IMPORTANCE OF DIALOGUING IN
THE STUDENT-TEACHER RELATIONSHIP
AND THE COMPLEXITY PARADIGM
ABSTRACT: The main objective of this work was to discuss and show
the importance of dialoguing in education, emphasizing the student-teacher
relationship, according to Paulo Freire’s (1986; 1996; 2000; 2005)
propositions, and establishing a link with the complexity paradigm
presuppositions proposed by Behrens (2005; 2006). Thus, it has been
attempted to define the main variables of this study: the dialog and the
complexity paradigm. Besides the main authors, other sources were used,
such as Morin (2004), Gadotti (1996), Libâneo (2005), Demo (1998) and
Yus (2002), among others, aiming at carrying out a more detailed research.
It was observed that Paulo Freire’s research, with the dialoguing education,
and the studies of Behrens, with the complexity paradigm, converge to a
unison proposal concerning the relationship between teacher and student
and, consequently, between teaching and learning.
KEYWORDS: Education; Dialogue; Complexity paradigm.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é discutir a importância do diálogo destacada
nas propostas e idéias de Paulo Freire, conectando essas propostas e idéias
com os pressupostos do paradigma da complexidade, de forma a contribuir
com a prática educativa.
Paulo Freire, um dos mais importantes marcos da história das idéias
pedagógicas da contemporaneidade, enfatizou que a educação não é
neutra, mas um ato político, o que implica em pensar que tipo de homem,
de formação e que tipo de sociedade nós queremos. Nem toda educação
como ato político é transformadora.
Destarte, no sentido freireano, o educador precisa refletir e dialogar
com a sociedade em que vivemos e analisar os problemas com maior
profundidade. Nesse caso o diálogo tem implicação direta. O diálogo com
o próximo é fundamental. Para Freire, é através do diálogo que se dá a
transformação do homem; diálogo é o caminho que faz o ser humano
buscar a liberdade e rejeitar a manipulação.
BERTONCELLO, L.; ROSSETE, S. 179
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Por trás dessa premissa de uma educação dialógica, faz-se necessário
buscar o paradigma educacional que vem regendo, articulando e
costurando essas reflexões.
1.2 AS CONVERGÊNCIAS DO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
E DA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE
Todo indivíduo traz consigo uma carga histórica que explicita seu modo
de pensar e agir, apontando as influências de sua geração e de os
paradigmas filosófico-científicos que norteiam as suas relações, bem como
todo o conjunto que rege as ações da sociedade na qual está inserido.
Assim, para toda prática e ação há sempre um paradigma norteador.
Historicamente, no final do século XIX e durante todo o século XX a
ciência foi regida pelo paradigma cartesiano-newtoniano. Introduzido
por Galileu Galilei e posteriormente difundido por Descartes, esse
paradigma, firmado no pensamento positivista, no culto ao intelecto e na
formação técnica e utilitarista, trouxe sensíveis mudanças no progresso
científico-tecnológico, buscando o conhecimento através da razão e
experimentação (BEHRENS, 2005).
Apesar de terem provocado uma grande revolução tecnológica,
gerando produção e desenvolvimento, os referenciais do paradigma
cartesiano-newtoniano impregnaram a educação de uma visão de saber
fragmentada e racional. As conseqüências desses pressupostos na sala
de aula foram assim identificadas por Behrens (2005, p. 23):
Uma visão fragmentada levou os professores e os
alunos a processos que se restringem à reprodução
do conhecimento. As metodologias utilizadas pelos
docentes têm estado assentadas na reprodução, na
cópia e na imitação. A ênfase do processo pedagógico
recai no produto, no resultado, na memorização do
conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas
repetitivas que, muitas vezes, não apresentam sentido
ou significado para quem as realiza.
As salas, os temas, os assuntos, foram segmentados e fracionados, e
de alguma forma, valores como a ética, a solidariedade, a sensibilidade,
o respeito mútuo e a singularidade foram esquecidos pela sociedade e
logo suprimidos do ambiente educacional, em favor do conhecimento
técnico e especializados.
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Sob essa influência, a educação no Brasil se estabeleceu através de
uma prática conservadora, caracterizada por três abordagens: abordagem
tradicional, abordagem escolanovista e abordagem tecnicista. Behrens
(2005, p. 41) coloca que, “embora se apresentando em épocas diferentes,
todas têm como característica fundamental a reprodução do conhecimento”
e, por isso, podem ser incluídas no paradigma conservador.
Não obstante, já há algum tempo o paradigma cartesiano-newtoniano
vem sofrendo uma crise: objetivou-se tanto a fragmentação e
racionalidade que a sociedade perdeu a visão humanística. Os processos
cristalizados para responder às dúvidas não mais sustentam os anseios
da atualidade perante as novas inter-relações, em constante processo de
mudança e transformação.
A mudança no paradigma científico através das contribuições da física
quântica, da química, da biologia e da matemática traz, em resumo, o conceito
de pensamento sistêmico, a visão não-linear, a inter-relação, o universo
como uma teia, o mundo como uma rede, a idéia de movimento, de
totalidade, de espontaneidade, de criatividade.
Nesse contexto de transição e de mudança de paradigma, Behrens
(2005, p. 35) sinaliza as mudanças na educação:
Na educação, a visão global, sistêmica e transdisciplinar
mais significativa e relevante neste momento histórico,
precisa com urgência ultrapassar a visão
comportamentalista, disciplinar, unida e isolada. Essa
nova ótica para a educação leva a defender que, nos
cursos como um todo, deve haver um esforço para
reaproximar as disciplinas que devem desencadear e
se interconectar como uma rede, como uma teia
interligada e interdependente.
Destarte, para definir um paradigma educacional compatível com as
mudanças paradigmáticas da ciência, Behrens (2005) propôs uma aliança
entre três abordagens, da qual resultou um paradigma chamado de
“paradigma emergente” que hoje aparece mais comumente como
“paradigma da complexidade” (BEHRENS, 2006).
Ao verificar a questão na literatura mais recente, nota-se uma
convergência entre a proposta do paradigma da complexidade e os
pensamentos de Freire. Isto se explica pela aliança realizada entre as três
abordagens educacionais que fundamentam o paradigma da complexidade,
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a saber: a abordagem progressista, concebida por Paulo Freire, a abordagem
holística e o ensino com pesquisa.
Segundo Thomas Kuhn (1994, apud MORAES, 1997, p. 31), um
paradigma constitui-se como “a constelação de crenças, valores e técnicas
partilhados pelos membros de uma comunidade científica”. Sobre o conceito
de paradigma, Weil (1991 apud BEHRENS, 2005, p. 96) refere que
“paradigma em grego significa exemplo ou, melhor ainda, modelo ou padrão”.
Para Libâneo (2005), a teoria da complexidade abrange significações
de apreender a totalidade complexa, das inter-relações das partes, de modo
a se travar uma abertura, um diálogo entre diferentes modelos de análise.
Não significa, portanto, ordenar a realidade, organizá-la; significa, sim, buscar
a desordem, a contradição, a incerteza. Para ele, pensar a complexidade é
usar nossa racionalidade para juntar coisas separadas.
Segundo Morin (2004), complexus significa “o que foi tecido junto”.
De fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis e
constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o
psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo
e inter-retroativo em ter o objeto do conhecimento e seu contexto, as partes
e o todo, o todo e as partes, as partes entre si.
Dessa forma, o paradigma da complexidade apresenta características
que se completam e mostram essa visão de superação e transformação da
realidade. Entre essas características destaca-se a abordagem do ensino
com pesquisa, a qual parte do pressuposto de educar pela pesquisa. Esta é
cotidianamente inserida na sala de aula, envolvendo o professor e os alunos
em um questionamento reconstrutivo que engloba teoria e prática, num
constante “fazer-se e refazer na e pela pesquisa” (DEMO, 1998, p. 5).
Busca-se um ensino aliado à pesquisa como princípio
educativo, e não apenas como princípio científico. Essa
abordagem contempla a visão de educador que propõe
uma metodologia que possibilite ao aluno se apropriar,
construir, reconstruir e produzir conhecimento. Não
se trata apenas de uma mudança de método, mas de
uma postura pedagógica. O aluno passa a ser
participante e sujeito do seu próprio processo de
aprender (BEHRENS, 2006, p. 88).
Dentro da concepção do ensino com pesquisa, educar coincide com
pesquisar objetivando a produção do conhecimento de forma crítica,
competente e emancipatória, levando o aluno a “aprender a aprender”.
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A abordagem holística, também chamada de visão sistêmica, busca
aprender uma nova maneira de viver, que supere as contradições da
sociedade científico-industrial e o paradigma newtoniano-cartesiano. Desta
forma o indivíduo é abrangido em sua totalidade, considerando-se a
espiritualidade, as inter-relações, o equilíbrio, a cooperação, a inclusão, a
experiência e a contextualização (YUS, 2002).
Por fim, a abordagem progressista, de Paulo Freire, tem como
proposição principal a transformação social:
Instiga o diálogo e a discussão coletiva como forças
propulsoras de uma aprendizagem significativa e
contempla os trabalhos coletivos, as parcerias e a
participação crítica e reflexiva dos alunos e dos
professores (BEHRENS, 2006, p. 87).
O diálogo pretendido por Freire como prática educativa – que é diferente
do suposto diálogo vertical proposto pelas elites, que impossibilita a
manifestação do sujeito-aprendiz – é um ato de respeito aos educandos. É
preciso existir uma relação democrática entre professores e alunos,
mediada por um diálogo que respeite a leitura de mundo do educando,
reconhecendo dessa forma, a historicidade do saber.
Desta forma, inserido no paradigma da complexidade, o processo de
ensino-aprendizagem deveria se fundamentar nas seguintes proposições:
• totalidade e diálogo;
• postura crítica e reflexiva;
• produção do conhecimento através da pesquisa;
• aprender a aprender constantemente e uns com os outros;
• ética, coletividade e cooperação.
Neste sentido, os desafios da contemporaneidade, acompanhados dos
avanços científicos e tecnológicos e da globalização, levam a
transformações rápidas nas áreas social, cultural, econômica e política da
sociedade, bem como no processo de produção e aquisição do
conhecimento, exigem novas habilidades na educação, pedindo a presença
de um professor crítico e reflexivo que irá exercer um papel imprescindível
e insubstituível para a construção e socialização dos saberes docentes
intrínsecos à construção do conhecimento.
O professor, assim como todos os sujeitos e todas as atividades da
educação, precisa estar em processo constante de mediação e intervenção
crítica para a elaboração da aprendizagem.
BERTONCELLO, L.; ROSSETE, S. 183
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1.3 O PROFESSOR E O ALUNO NA VISÃO DE PAULO FREIRE:
UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
“Paulo Freire é um pensador comprometido com a vida: não pensa
idéias, pensa a existência” (FIORI, 2005, p. 3) – eis o modo como o
professor Ernani Maria Fiori apresenta o educador brasileiro no prefácio
do livro Pedagogia do Oprimido. É um educador preocupado com questões
para além da esfera teórico-pedagógica, em direção à reflexão e prática
em uma esfera mais ampla: a vida.
Educar para uma prática de vida é a grande linha filosófica do
pensamento freireano. A dimensão política no pedagógico de Freire é a
exposição de um elemento-chave de todo o seu pensamento: a educação
como prática da liberdade sinaliza a libertação como fim da educação.
Sua preocupação é situar o ser humano como criador da história e da
cultura. A realidade prática do sujeito é, para ele, o ponto de partida para
a ação pedagógica. Toda ação educativa deve ser precedida de uma
reflexão sobre o homem e de uma análise de seu meio de vida.
A sua “teoria da ação dialógica” pressupõe dois momentos
fundamentais: da denúncia da desumanização e o momento do anúncio
do processo de humanização a ser construído dialogicamente.
A existência porque humana, não pode ser muda,
silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas
palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente,
é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo
pronunciado, por sua vez, se volta problematizado
aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo
pronunciar (FREIRE, 2005, p. 90, grifo do autor).
De acordo com Gadotti (1996, p. 80), o pensamento de Paulo Freire
“tem uma ação direta com a realidade”, comprometendo-se, acima de
tudo”com uma realidade a ser transformada”.
Pensando a educação não apenas como ato estritamente pedagógico,
mas “ao mesmo tempo como ato político, como ato de conhecimento
e como ato criador” (GADOTTI, 1996, p. 80, grifo do autor), Freire
propõe uma de suas mais importantes categorias na direção do processo
de conscientização-reflexão: a prática do diálogo. A partir dela se buscará
um enfoque diferente acerca da relação professor-aluno.
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O diálogo, na concepção freireana, “consiste em uma relação horizontal
e não vertical entre as pessoas implicadas, entre as pessoas em relação”
(GADOTTI, 1996, p. 81). Trata-se de uma categoria que, para o educador,
faz parte da própria natureza humana.
Para elucidar essa afirmação, Gadotti (1991, p. 46) assim se expressa:
[...] os seres humanos se constroem em diálogo, pois
são essencialmente comunicativos. Não há progresso
humano sem diálogo. Para ele, o momento do diálogo
é o momento em que os homens se encontram para
transformar a realidade e progredir.
O diálogo proposto por Freire (2005) como prática educativa –
diferente do suposto diálogo vertical proposto pelas elites, que impossibilita
a manifestação do sujeito-aprendiz – é um ato de “respeito aos educandos,
não apenas enquanto indivíduos, mas também enquanto expressões de
uma prática social” (GADOTTI, 1996, p. 84).
Paulo Freire (2005) insiste na necessidade do diálogo como estratégia
de ensino, dentro de uma pedagogia dialógico-dialética, que tem a
finalidade de renovar a prática pedagógica. Desse modo, propõe que o
educador não possa se colocar na posição ingênua de quem se pretende
detentor do saber. Mas,
[...] deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem
sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto
não é um homem ‘perdido’, fora da realidade, mas alguém
que tem toda uma experiência de vida e por isso também
é portador de um saber. (GADOTTI, 1996, p. 86).
Neste sentido, para Freire, “a educação se torna um momento da
experiência dialética total da humanização dos homens, com igual
participação dialógica de educador e educando” (SCHMIEDKOWARZIK,
1983, p. 69).
O professor e o aluno estão engajados no ato de aprender, de
conhecer. Behrens (2005, p. 73) corrobora essa idéia ao colocar que:
o professor progressista, como educador e também
sujeito do processo, estabelece uma relação horizontal
com os alunos e busca no diálogo sua fonte
empreendedora na produção do conhecimento. O
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docente, sem impor suas idéias e concepções, procura
estar a serviço do aluno superando a visão do aluno
objeto, portanto, nega toda forma de repressão no
processo e possibilita a vivência grupal.
As obras de Paulo Freire da década de 90 revelam várias
preocupações com a educação deste século, pois vivemos em um
mundo extremamente complexo - de globalização capitalista da
economia, das comunicações e da cultura e, ao mesmo tempo, de
ressurgimento dos nacionalismos, do racismo, da violência e do
individualismo neoliberal.
Para Freire, o engajamento político contra o racismo, o capitalismo,
estruturas desumanas de produção, propicia uma educação
emancipadora, libertadora, que não é o único caminho, mas importante
e indispensável para transformar a realidade. E no espaço escolar essa
tarefa é do educador.
Paulo Freire (2005) sustenta a afirmação de que os seres humanos
não estão apenas no mundo, mas com o mundo e alerta que não há
possibilidade de diálogo entre os que buscam a afirmação da humanização
e os que não querem a ‘pronúncia’ do mundo. “Como posso dialogar, se
alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?”
(FREIRE, 2005, p. 30). E questiona:
E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com
B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade
(Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da
esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo
comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam
assim, com amor, com esperança, com fé um no outro,
se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então,
uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há
comunicação (FREIRE, 2005, p. 115).
Nesse novo cenário da educação, será preciso reconstruir o saber
da escola e a formação do educador. Em vez de mostrar a arrogância
de quem se julga dono do saber, o professor deverá ser mais criativo e
aprender com o aluno e com o mundo. O professor deverá promover o
entendimento e a escola deverá ser um espaço de convivência, onde
os conflitos sejam trabalhados realmente - daí a importância do diálogo
nas relações pessoais e interpessoais.
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Uma das características implícitas da globalização é justamente alienar
e convencer os indivíduos de sua impotência, reafirmando a idéia de que
nada se pode fazer no sentido de alterar esta realidade atual.
Considerando essa visão, o diálogo vem auxiliar na superação do
paradigma conservador, no cotidiano da sala de aula, quando aproxima
os envolvidos:
o diálogo não é apenas uma estratégia pedagógica. È
um critério de verdade. A veracidade do meu ponto de
vista, do meu olhar, depende do olhar do outro, da
comunicação, da intercomunicação. Só o olhar do outro
pode dar veracidade ao meu olhar. O diálogo com o
outro não exclui o conflito. A verdade não nasce da
conformação do meu olhar com o olhar do outro
(GADOTTI, 1991, p. 43).
Para Paulo Freire, repensar a própria prática é tarefa diária do professor,
que deve se posicionar criticamente à pretensa neutralidade da educação.
A educação deve ser vivenciada como uma prática concreta de libertação
e de construção da história.
Aprender a ler, a escrever, é, antes de tudo, aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto, numa relação dinâmica que vincula a linguagem
e a realidade. Neste sentido, o diálogo é ponto de referência central, pois é
através dele que se acredita ser possível seres humanos se transformarem
em seres comunicativos, podendo atuar para transformar a realidade.
Para Freire, o diálogo é o caminho necessário para os indivíduos a
fim de que possam refletir sobre sua realidade tal como a fazem e refazem.
É um evento social que ajusta o relacionamento entre os sujeitos cognitivos
e não uma simples comunicação com uma linguagem simbólica como
fazem os animais.
No sentido educacional é uma posição epistemológica e não uma
prática estranha vinda de uma região qualquer do planeta. Questiona
Freire (1986, p. 125):
Porque será que alguns educadores consideram
bizarra esta perspectiva de uma educação dialógica?
Porque consideram esta perspectiva do ato do
conhecimento como algo bizarro que veio do Terceiro
Mundo? Como é possível pensar assim? A educação
dialógica é uma posição epistemológica e não uma
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invenção bizarra ou uma prática estranha vinda de
uma região exótica do mundo.
O diálogo exige um pensar verdadeiro, um pensar crítico. Ele não
dicotomiza homens e mundo, mas os vê em contínua interação. Enquanto
ser inacabado, o homem se faz na interação com o mundo, objeto da
práxis transformadora. Numa relação amorosa, em permanente busca
pela humanização.
Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor
ao mundo e aos homens. Não é possível a ‘pronúncia’
do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não
há amor que a infunda. Sendo fundamento do diálogo,
o amor, é, também, diálogo (FREIRE, 2005, p. 92).
A educação emancipatória de Paulo Freire (2005) conta com as
potencialidades do sujeito para se comunicar, interagir e administrar o mundo
moderno criando condições para que todos tenham oportunidade de fala,
de argumentação e de decisão sobre as coisas, por meio do diálogo orientado
ao entendimento. Dessa forma ela se contrapõe à prática oriunda da
reprodução das abordagens tradicionais, nas quais o ato de transmissão de
conhecimentos é um ato de depósito de conhecimentos.
Para Paulo Freire, o trabalho educacional não responde sozinho pela
transformação da sociedade, mas sem a educação essa transformação
não acontece. Defende como direito e dever dos oprimidos lutar pela
real e efetiva apropriação de objetivações humanas, tais como a ciência
e a tecnologia, que são patrimônio da humanidade, e não privilégio de
grupos ou classes hegemônicas.
Possibilitar que o oprimido cada vez mais tome consciência de seu
papel no processo de transformação das suas condições de vida, mediante
uma educação para a liberdade, é o grande legado de Paulo Freire.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Faz-se necessário dizer que todo o pensamento de Paulo Freire tem
uma relação direta com a realidade. Segundo esse pensamento, nem o
professor nem o aluno podem se alicerçar em práticas alienadas; ao
contrário, o processo educativo deve ser altamente comprometido com
uma realidade a ser transformada.
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Por isso, a proposta de Freire de uma educação dialógica se apresenta
como uma nova e inovadora concepção pedagógica. Não se trata de
conceber a educação apenas como transmissão de conteúdos, num processo
em que o professor é detentor do saber e o aluno tem a “grande” tarefa de
escutar, ler, decorar e repetir (BEHRENS, 2005). Faz-se relevante
estabelecer um diálogo do qual resulte a aprendizagem para ambos, de
modo que quem educa esteja também aprendendo.
O paradigma da complexidade conduz à superação da
visão linear e disciplinada na escola e leva a buscar a
interconexão das diversas áreas do conhecimento [...]
aponta para processos de aprendizagens que envolvam
a produção do conhecimento crítica, reflexiva e
transformadora. (BEHRENS, 2005, p. 26).
Desta forma, Freire e Behrens exemplificam, com sintonia, novas
concepções educacionais que têm levado a escola e todos os seus agentes a
uma sensível mudança paradigmática: aprender para a vida. Baseada no
relatório Internacional da Unesco para a educação do século XXI (DELORS,
2001), esta nova visão da educação indica quatro pilares importantes:
• aprender a ser;
• aprender a conhecer;
• aprender a fazer;
• e aprender a viver juntos.
Esses quatro fundamentos regem a educação para este século e
amarram uma proposta única para todos os povos e continentes.
Estar fora desses princípios ou negá-los é tomar a contramão do
caminho da história.
A pesquisa e a esperança de Paulo Freire (1986, 1996, 2000, 2005),
que há muito tempo já preconizavam esses pressupostos, e os estudos de
Behrens (2005, 2006), que projetam para a educação um paradigma
coerente com as necessidades de uma nova sociedade, convergem para
uma via de mão única, alimentando a esperança daqueles que buscam
uma prática educativa cidadã, crítica e com responsabilidade.
Freire não objetiva em momento algum ditar receitas para o dia-a-dia
educativo de o que fazer, de como fazer e/ou porque fazer, mas faz da sua
práxis, estímulo, curiosidade para que busquemos através dos seus escritos
pensar nossa prática, um convite constante à reflexão sobre nossa ação. É
pensando a prática que posso melhorar minha teoria sobre ela.
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