domingo, 27 de maio de 2012

G1 – Dicas de Português – Sérgio Nogueira

G1 – Dicas de Português – Sérgio Nogueira


Conheça a lista de falsos sinônimos mais comuns do português


Esta coluna não tem apenas leitores assíduos. O número de leitores eventuais é cada vez maior. A comprovação são as perguntas já respondidas que voltam com muita frequência. Por causa disso, começamos hoje o nosso “vale a pena ver de novo”.
O primeiro assunto são os falsos sinônimos. São aquelas palavras que verdadeiramente não são sinônimas, mas que muita gente boa usa como se fossem. Em geral, a pergunta dos leitores é uma só: “Qual é a diferença?”
1. MESMO  x  IGUAL?
MESMO = um só; IGUAL = outro idêntico.
“Estamos com o MESMO problema do ano passado.” (= É um problema só. Significa que o problema do ano passado não foi resolvido);
“Estamos com um problema IGUAL ao do ano passado.” (= É outro problema, com as mesmas características do problema do ano passado).

2. INÚMEROS  x  NUMEROSOS?
INÚMEROS = incontáveis; NUMEROSOS = muitos.
“Olho para o céu e vejo INÚMERAS estrelas.” (= São tantas que é impossível contá-las);
“É uma família muito NUMEROSA.” (= É uma família compostas por muitas pessoas).

3. EVENTUAL  x  POSSÍVEL  x  PROVÁVEL  x  POTENCIAL?
EVENTUAL = ocasional, esporádico, ocorre de vez em quando, difícil de acontecer;
POSSÍVEL = tudo o que pode acontecer;
PROVÁVEL = o que deve acontecer;
POTENCIAL = o que pode vir a ser.
“É um problema EVENTUAL.” (= É aquele que acontece de vez em quando);
“Um POSSÍVEL problema” ( = É o que pode tornar-se um problema);
“Um PROVÁVEL problema” (= É o que tem de tudo para tornar-se um problema);
“Um problema POTENCIAL” (= Ainda não é um problema, mas pode tornar-se um).

4. ARRUINADO  x  DESTRUÍDO?
ARRUINADO = quem perdeu tudo; DESTRUÍDO = destroçado.
“Aquele rico empresário acabou ARRUINADO.”
“O prédio foi todo DESTRUÍDO.”

5. SUPLEMENTAÇÃO  x  COMPLEMENTAÇÃO?
SUPLEMENTAÇÃO = extra, adicional;
COMPLEMENTAÇÃO = segunda parte, o que completa.
“Para dar o aumento salarial, foi necessário uma verba SUPLEMENTAR.”
“A etapa COMPLEMENTAR foi melhor que o primeiro tempo.”

6. REVERTER  x  INVERTER  x  MODIFICAR?
REVERTER = voltar ao que era antes; INVERTER = mudar para o oposto; MODIFICAR = simplesmente mudar, alterar.
“O paciente entra em coma. Os médicos tentam REVERTER o quadro.”
“O Detran deve INVERTER a mão desta rua.”
“É preciso MODIFICAR as regras do jogo.”

7. QUESTIONAR  x  PERGUNTAR?
QUESTIONAR = pôr em dúvida; PERGUNTAR = indagar.
“O sócio QUESTIONOU a validade do contrato.”
“Quem é a favor do projeto? PERGUNTOU o diretor.”

8. COMERCIALIZAR  x  VENDER?
COMERCIALIZAR = comprar, vender, alugar, emprestar…;
VENDER = é uma das atividades da comercialização de um produto.
“É uma empresa que COMERCIALIZA software em todo o país.”
“O Vectra está sendo VENDIDO por R$30.000,00.”

9. ACATAR  x  ACOLHER?
ACATAR = obedecer; ACOLHER = aceitar, receber.
“Os empregados ACATARAM a ordem do chefe.”
“O juiz não ACOLHEU a nossa ação.”

10. DESABRIGADO  x  DESALOJADO?
DESABRIGADO = quem fica sem casa para morar;
DESALOJADO = quem teve de sair de casa.
“Os fortes temporais deixaram muitos desabrigados (as casas foram destruídas)”;
“Os fortes temporais deixaram muitos desalojados (as casas não foram destruídas, mas tiveram de sair de casa e ir para um local seguro)”.

HAVER  ou  A VER?
Usamos o verbo HAVER com o sentido de “existir, ocorrer, acontecer, tempo transcorrido…”:
“Deverá haver muitas pessoas na reunião de hoje” (=deverão existir);
“Pode haver acidentes nesta esquina” (=podem ocorrer);
A VER = preposição “a” + verbo “ver”:
“Ele foi obrigado a ver o filme inteiro”;
“Isso não tem nada a ver” (=para ver);
“Tem tudo a ver” (=para ver).

Veja exemplos da influência do grego nas palavras em português

qua, 16/05/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
O português é uma língua neolatina, isto é, deriva-se do latim, que era falado na Roma antiga e que se espalhou pelo grande império romano. Do latim saíram vários “filhotes”: o português, o espanhol, o catalão, o francês, o italiano, o romeno…
Isso significa que a maioria das palavras que usamos hoje é derivada do latim. Eu disse a maioria, e não todas. Uma língua viva, durante a sua evolução, deixa-se influenciar por outras. A língua portuguesa, com o passar do tempo, foi enriquecida pelo árabe, pelo hebraico, pelo francês, pelo inglês, pelo japonês, pelo alemão…
Marcante na nossa língua é a presença do grego.
Você sabe o que é um oftalmotorrinolaringologista?
Aqui está um belo exemplo de um palavrão que não ofende ninguém. É uma palavra composta por alguns elementos de origem grega.
1o) “Oftalmo” significa “olho”. Oftálmico é relativo ao(s) olho(s). Um oftalmologista é especialista em oftalmologia (= ramo da medicina que estuda os olhos em todos seus aspectos).
2o) “Oto” significa “ouvido”. Otite (= oto + ite) é inflamação do ouvido. Otalgia (= oto + algia) é a popular dor de ouvido.
Já que falamos em “algia” (= dor), lembremos a nevralgia ou neuralgia (= dor dos nervos) e a cefalalgia ou cefaleia, que é a popular dor de cabeça. Daí o encéfalo (en + céfalo = dentro da cabeça) e acéfalo (a + céfalo = sem cabeça). Se você quiser acabar com a dor, tome um analgésico (an + algia = sem dor).
3o) “Rino” significa “nariz”. Rinite é inflamação na mucosa nasal. Muita gente pensa que rinite é inflamação no rim. Errou. Rinite é no nariz, e nefrite é inflamação no rim.
Confusão semelhante ocorre com estomatite. Há quem imagine que seja uma inflamação no estômago. Errou de novo. Estomatite é inflamação da membrana mucosa da boca; do estômago é gastrite.
Uma curiosidade: o rinoceronte deve ter este nome por ter um chifre no nariz.
4o) “Laringo” é a laringe (= garganta). A laringe situa-se acima da traqueia e comunica-se com a faringe. A função da laringe é intervir no mecanismo de fonação (= sons da fala, por exemplo) e impedir que alimentos entrem na traqueia. É por isso que uma laringite (= inflamação na laringe) prejudica a fala e o ato de engolir.
5o) “Logia” é “estudo”. Lembrem-se de biologia (= estudo da vida), geologia (= estudo da terra), cardiologia (= estudo do coração), etimologia (= estudo da origem das palavras)…
6o) “-ista” é um sufixo que dá a ideia de “ofício, ocupação”. É o mesmo que aparece em pianista, jornalista, dentista, artista, jurista…
Conclusão: um oftalmotorrinolaringologista é um médico especialista em olhos, ouvidos, nariz e garganta. É uma especialidade hoje quase inexistente. Afinal, é um especialista em tantas coisas que é quase um clínico geral. E, se o valor de sua consulta fosse por letra, estaríamos perdidos.

Nervo ÓTICO ou ÓPTICO?
Segundo o novíssimo dicionário Aurélio:
“ÓTICO 1 – Relativo ou pertencente a ouvido.
ÓTICO 2 – V. óptico.
ÓPTICO – Relativo à visão, ou ao olho; ocular.
(Var.: ótico 2).”
Traduzindo: o adjetivo ÓTICO deveria ser usado somente para o ouvido, mas, por ser também uma forma variante de ÓPTICO, pode ser usado para a visão, para o olho. O adjetivo ÓPTICO só pode ser usado para a visão.
Não é errado, portanto, usarmos ÓTICO para visão: “Na minha ótica (modo de ver as coisas), ele deve ser substituído”; “Comprei meus óculos na Ótica Universal”.
Mas não esqueça que o nervo ótico, a princípio, é o nervo auditivo.

De onde vem o FRANGO?
Leitor descobriu que, em Latim, a forma FRANGO é do verbo frangere, que significa “romper, quebrar, fazer em pedaços”. Quer me convencer que o nosso FRANGO (= o filho da galinha já crescido, porém antes de ser galo) deve ter recebido este nome porque os romanos devoravam os “quase galos” em pedaços.
Pior é que a história pode não ser tão absurda assim. Se consultarmos qualquer dicionário, encontraremos a palavra FRANGALHO, que significa “farrapo, trapo, coisa imprestável, caco”. Deriva-se do verbo FRANGER (= quebrar, despedaçar), que vem do verbo latino frangere.
E ainda tem mais: o dicionário Aurélio diz que o substantivo FRANGO (= pinto adulto) é uma derivação regressiva de FRANGÃO, que por sua vez tem origem controversa.
Gostaria que os especialistas no assunto me ajudassem. Aceito contribuições. Adoro ouvir versões. Fazem pensar, e isso é bom. Vamos decifrar o segredo do FRANGO.

O DESAFIO
Qual é a palavra de origem grega para:
a) quem tem “curta vida”;
b) o “músculo do coração”;
c) o objeto cuja “asa é a hélice”;
d) a “correta escrita”;
e) a “aversão a sangue”.
As respostas são:
a) micróbio;
b) miocárdio;
c) helicóptero;
d) ortografia;
e) hematofobia.

A importância do uso correto do português nos programas de TV

qua, 09/05/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
Hoje é dia de resgate.
Na semana passada, resolvi organizar melhor o arquivo de cartas e e-mails com perguntas não respondidas. Entre tantas, encontrei algumas antigas que não foram respondidas até hoje e que merecem a nossa atenção.
1ª) Carta de uma leitora indignada: “Os programas de TV abrangem uma parcela muito grande de pessoas e ensinam como falar errado a nossa língua. Frequentemente ouço de apresentadores de TV e entrevistados coisas do tipo:
1ª) Essa pergunta é meia descabida;
2ª) Quando eu ver o filme;
3ª) Na hora que eu ver a foto;
4ª) Fez de tudo para vim no meu programa;
5ª) Era pra mim ter falado.
Poucos são os apresentadores que falam um português correto ou próximo do correto. Por incrível que pareça, os que mais falam errado são os que mais cobram do governo investimento na educação (entenda-se instrução). E os que mais alto salário têm.
Quanto maior o Ibope, maior o salário. Quanto maior o Ibope, mais pessoas atingem.
A mídia ajuda a formar, se é que não forma totalmente, a opinião pública. Ela pode ensinar o certo ou o errado. Os apresentadores deveriam dar o exemplo falando corretamente, pois atingem um percentual enorme da população, que os imita.”
Concordo com a nossa leitora. A responsabilidade dos profissionais de comunicação é cada vez maior. A influência dos apresentadores de TV, principalmente os de programas mais populares e em especial os de programas infantis, é imensa. A tendência natural dos telespectadores, mais ainda das crianças, é imitar os seus ídolos. E aqui incluímos o seu modo de falar.
Não é preciso falar errado para atingir o seu público. Ninguém gosta de ser tratado como idiota ou ignorante. A linguagem coloquial deve ser simples, com vocabulário acessível, mas sem abusar dos desvios gramaticais.
Deve haver um mínimo de respeito às normas gramaticais. Nos exemplos citados pela nossa leitora, as correções a serem feitas são as seguintes:
1ª) Essa pergunta é meio descabida;
2ª) Quando eu vir o filme;
3ª) Na hora em que eu vir a foto;
4ª) Fez de tudo para vir ao meu programa;
5ª) Era para eu ter falado.
2ª) Carta de um leitor revoltado: “Favor avisar ao jornalista panaceia universal é pleonasmo vicioso.”
O prefixo “pan”, de origem grega, significa “tudo, total, geral”: do campeonato pan-americano participam todas as Américas; pancontinental é referente a todos os continentes; panteão era um templo dedicado a todos os deuses; e panorama é a visão em toda sua amplitude.
Panaceia é remédio para todos os males.
O nosso leitor tem razão em parte. Trata-se de uma redundância, mas não chega a ser um pleonasmo grosseiro do tipo “subir pra cima”, “ganhe grátis”, “hemorragia de sangue”…
O dicionário Aurélio cita um exemplo do escritor Ramalho Ortigão: “O campo e a praia, o ar do monte e o ar do mar são…a universal panaceia para as moléstias endêmicas das grandes cidades…”
Muitas vezes a ênfase justifica o uso de um bom pleonasmo: “vi com meus próprios olhos”, “pisei com meus próprios pés”, “lutei uma luta inglória”, “sonhei um sonho sonhado”…

O uso do PONTO E VÍRGULA
É uma pausa maior que a vírgula é menor que o ponto-final, uma vez que não encerra período.
a) Emprega-se vírgula ou ponto e vírgula antes de conectivos adversativos (mas, porém, contudo, todavia…) ou conclusivos (logo, portanto, por isso, por conseguinte…):
“Ele trabalha muito; (ou ,) porém não foi promovido.” (facultativo)
“Ele trabalha muito; não foi, porém, promovido.” (indica que a primeira pausa é maior, pois separa duas orações)
“Ele sempre se dedicou à empresa; será, pois, promovido.”
“Os empregados iriam todos; não havia necessidade, por conseguinte, de ficar alguém no pátio.”
b) Para separar os itens de uma enumeração:
“Devemos tratar, nesta reunião, dos seguintes assuntos:
1º) Cursos a serem oferecidos, no próximo ano, a nossos funcionários;
2º) Objetivos a serem atingidos;
3º) Metodologia de ensino e recursos audiovisuais;
4º) Verba necessária.”
c) Para separar os itens de uma explicação:
“A introdução dos computadores pode acarretar duas consequências: uma, de natureza econômica, é a redução de custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de funcionários.”
d) Para separar itens diferentes de uma enumeração:
“O Brasil produz café, milho, arroz; ouro, níquel, ferro.”  (gêneros alimentícios; riquezas minerais)
“O cavalo sertanejo é esguio, sóbrio, pequeno; rabo compridíssimo, crinas grandes.” (aquilo que o cavalo é; características que ele tem)
e) Para separar grupos de orações coordenadas que, por apresentarem unidade de sentido ou aspectos em comum, convém deixar no mesmo período, embora pudessem figurar em períodos separados:
“Na linguagem escrita é o leitor; na falada, o ouvinte.”
“Nas sociedades anônimas ou limitadas existem problemas: nestas, porque a incidência de impostos é maior; naquelas, porque as responsabilidades são gerais.”

“É proibida a entrada”: veja como usar a concordância de gênero

qua, 02/05/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1ª) A concordância na frase ”Foi necessário a colocação de placas de aço para a passagem de veículos” está correta?
A leitora tem razão. O certo é “Foi NECESSÁRIA a colocação de placas…”
A presença do elemento determinativo (artigo definido = “a” colocação) obriga a concordância no feminino.
É o mesmo caso de: “É PROBIDA a entrada de estranhos”; “Não foi PERMITIDA a remessa dos dólares”; “A cerveja é muito BOA”.

2ª) Na frase: “Seu carisma aumentou ao ser preso e ter sua medalha olímpica caçada por se recusar a lutar na guerra do Vietnam”, o verbo é CAÇAR ou CASSAR?
Alguns “animais” realmente merecem ser caçados. Entretanto, a medalha olímpica do grande campeão foi CASSADA. Isso significa que o seu título foi “anulado, perdeu a validade”.
É o mesmo que CASSAR (=anular) o mandato de um deputado ou a licença para funcionamento de uma empresa.

3ª) DA ou DE A, DO ou DE O?
Carta de uma leitora: “Até hoje não consegui compreender a diferença entre “de a/o” e “da/do”. Por que em alguns casos escreve-se e fala-se a preposição sem fazer a combinação com o artigo?”
A preposição “de” não faz a combinação com o artigo quando o termo a seguir exerce a função de sujeito. Compare:
“Eu saí antes do aluno” (“do aluno” não é sujeito);
“Eu saí antes de o aluno terminar a prova” (“o aluno” é o sujeito do verbo “terminar”).
A dica é o verbo. Para que o termo seja sujeito, é necessária a presença de um verbo (=sempre no infinitivo):
“Os ladrões chegaram antes de a agência abrir.”
“Isso se deve ao fato de o atacante não ter assinado o contrato.”
“Na hipótese de os parlamentares aceitarem as emendas…”
“Apesar de as ideias serem boas …”

4ª) Leitor quer saber se DIFERENÇAR e DIFERENCIAR são sinônimos. Segundo ele, nos seus bons tempos de escola, aprendeu que “fazer diferença” é DIFERENÇAR, e não DIFERENCIAR como ouvimos hoje com muita frequência.
A verdade é que DIFERENÇAR e DIFERENCIAR são sinônimos. Segundo os nossos dicionários, DIFERENÇAR significa “fazer diferença” e DIFERENCIAR, entre outras acepções, também pode ser usado no sentido de “fazer diferença”.

5ª) Sobre a frase: “Estamos habituados a falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.”
Leitor pergunta: “Não seria este um caso típico para se usar o ponto e vírgula no lugar das duas vírgulas empregadas?”
Não é preciso substituir as vírgulas pelo ponto e vírgula. O uso do ponto e vírgula é para indicar uma pausa maior. Se não houver vírgula (=pausa menor), para que o ponto e vírgula?

6ª) A respeito da frase: “Usaram-se e abusaram-se de palavras e expressões que nada dizem.”
Foram tantas cartas que perdi a conta. Os leitores estão atentíssimos.
Misturaram as duas possibilidades de indeterminar o sujeito da frase: ou “Usaram e abusaram de palavras e expressões que nada dizem” ou “Usou-se e abusou-se de palavras e expressões que nada dizem.”

7ª) Leitor quer saber se está correta a pontuação da frase “Se dirigir; não beba, se beber; não dirija”.
Já escrevi a respeito dessa frase. Bêbado estava quem a escreveu.
O correto é “Se dirigir, não beba; se beber, não dirija”. As vírgulas indicam o deslocamento das orações subordinadas (= “se dirigir” e “se beber” são orações subordinadas adverbiais condicionais). O ponto e vírgula indica a pausa maior que separa as duas ideias coordenadas: “não beba se dirigir ou não dirija se beber”.

DESAFIO 1
Onde está o erro da frase abaixo:
“Aqui estão as cláusulas que faltavam incluir no contrato”?
O certo é: “Aqui estão as cláusulas que faltava incluir no contrato”.
O verbo (=faltava) deve ficar no singular para concordar com o seu sujeito (=incluir no contrato). O que faltava era “incluir as cláusulas no contrato”, e não “as cláusulas”.

DESAFIO 2
As dúvidas são:
1ª) Passou muito mal, PORISSO ou POR ISSO deve ser perdoado?
2ª) Foi demitido HAJA VISTA ou HAJA VISTO o problema surgido?
3ª) Falava A ou À respeito da festa?
As respostas são:
1ª) POR ISSO (Não existe a forma porisso);
2ª) HAJA VISTA (Não existe, como conectivo, a forma haja visto);
3ª) A RESPEITO DE (Não há crase antes de palavra masculina).

Dúvidas dos leitores: uso do ‘mesmo’ e o duelo ‘vir’ X ‘vier’

qua, 25/04/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
Leitores desta coluna querem que eu comente algumas frases publicadas em vários jornais.
1ª) “Solicito ao prezado professor informar se há erro no emprego da palavra MESMOS no seguinte trecho: “…trabalhos da CPI, fazendo com que não venham os mesmos a ser declarados nulos futuramente…”
Para os gramáticos mais rigorosos, existe erro: não deveríamos usar o pronome MESMO para substituir termos expressos anteriormente (=trabalhos da CPI). Só poderíamos usar a palavraMESMO como pronome de reforço: “Eu mesmo fiz este trabalho” (=eu próprio); “Ela mesma resolveu o caso” (=ela própria); “Eles feriram a si mesmos” (=a si próprios)…
Entretanto, devido ao uso consagrado, muitos estudiosos da língua portuguesa já aceitam o uso do MESMO como pronome substantivo (=substituindo um termo anterior).
Eu não considero erro, mas sou contra. Sugiro que se evite o uso do pronome MESMO em lugar de algum termo já expresso. Ainda que não seja erro, caracteriza pobreza de estilo. Muitas vezes usamos a palavra mesmo porque falta vocabulário ou porque não sabemos usar outros pronomes.
Na frase em questão, o pronome mesmos poderia simplesmente ser omitido: “…fazendo com que não venham a ser declarados nulos…”
2ª) E a concordância na frase “…a grande maioria das empresas de educação superior foramfragorosamente chumbadas…” está correta?
Erro não é, pois nossas gramáticas preveem a tal concordância atrativa: o verbo concorda com o adjunto (=empresas) devido à proximidade.
Não é, entretanto, o nosso padrão. A nossa orientação é fazer o verbo concordar rigorosamente com o núcleo do sujeito (=maioria). Para nós, portanto, deveria ser: “…a grande MAIORIA das empresas de educação superior FOI fragorosamente CHUMBADA…”
3ª) E a frase “Fechar as que têm mal desempenho…” está correta?
Se não escrevemos BEM, é porque estamos escrevendo MAL. Se o desempenho das universidades não foi BOM, devemos “fechar as que têm MAU desempenho”.
4ª) E a frase “Grande empresa também fica na mão” é boa?
Concordo com o nosso leitor. Não é uma questão de certo ou errado. Trata-se de uma expressão inadequada ao nosso texto. “Ficar na mão” é uma expressão excessivamente coloquial e não é apropriada à linguagem dos bons jornais. Deve ser evitada, principalmente em títulos. Termos e expressões coloquiais são adequados somente em textos informais.
5ª) Leitor diz ter lido num jornal on-line: “O irmão do deputado cujo
mandato foi cassado pela Câmara, teve sua prisão preventiva decretada em novembro e estava foragido há um mês.” A dúvida do leitor é a seguinte: CUJO refere-se ao irmão ou ao deputado?
Nosso leitor tem razão. Trata-se de uma frase ambígua. O pronome
relativo CUJO pode fazer referência tanto ao deputado quanto ao irmão dele. É lógico que o autor da frase usou o CUJO para referir-se ao ex-deputado, mas quem não acompanha as páginas policiais ou políticas poderia perfeitamente entender que a Câmara tinha cassado o mandato do irmão.
É a mania de dar várias informações numa única frase. E a desculpa de que o leitor já sabe quem foi cassado é absurda. Se o leitor já sabia, para que repetir a informação?

VIR ou VIER?
1)    VIR pode ser:
a)    INFINITIVO:
“Eles precisam VIR ao nosso escritório para assinar o contrato.”
Cuidado: “Ele vai vim” está totalmente errado. O certo é “ele vai VIR”. Melhor ainda: “ele VIRÁ”.
b)    FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VER:
“Quando eu VIR o filme, poderei opinar.”
“Se você VIR o projeto, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu ver o filme…” e “Se você ver o projeto…” está errado.
2)    VIER é FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VIR:
“Quando eu VIER novamente, assinaremos o contrato.”
“Se você VIER ao Rio de Janeiro, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu vir aqui novamente” e “Se você vir ao Rio de Janeiro” está errado.

O DESAFIO
Qual é a forma correta?
1ª) Ver O jogo ou AO jogo?
2ª) Assistir O jogo ou AO jogo?
Segunda a regência clássica, exigida em nossos concursos, as respostas corretas são:
1ª) Ver O jogo (VER é verbo transitivo direto);
2ª) Assistir AO jogo (ASSISTIR, no sentido de “ver”, é transitivo indireto).

Dúvidas dos leitores

qua, 18/04/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
Uso dos NEOLOGISMOS
O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores. É bom lembrar que a edição lançada em 1999, última publicada pela Editora Nova Fronteira, apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído pela nova edição.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. Esses números aumentam a cada nova edição. Isso é normal. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem de pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está devidamente registrado no último VOLP e nas novas edições dos nossos dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor nos manda o seguinte exemplo: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.
Portanto, não sejamos radicais. Bom senso e cautela não fazem mal a ninguém. E ter opinião não é crime.

ACURADO e APURADO?
ACURADO significa “esmerado, apurado, aprimorado”;
APURADO significa “que tem ou é feito com apuro; elegante, esmerado, fino; correto, perfeito; apressado, impaciente”. (Dicionário Larousse)
Como podemos observar, em determinadas situações ACURADO e APURADO podem ser sinônimos.
Leitor pergunta a respeito da frase “Eles ficaram surpresos com a acurácia das previsões…”: “Existe a palavra ACURÁCIA?”
Existe. Tanto o Vocabulário Ortográfico da ABL quanto o dicionário Aurélio registram a palavra ACURÁCIA, que significa “precisão”. Era exatamente isso que o autor queria dizer: “Eles ficaram surpresos com a PRECISÃO das previsões…”

RANQUEAMENTO?
Leitor quer saber se RANQUEAMENTO é um neologismo aceitável ou não?
É uma questão muito subjetiva.
Se você quer saber se a palavra “ranqueamento” tem registro em algum dicionário ou no Vocabulário Ortográfico da ABL, a resposta é SIM e NÃO.
A palavra “ranqueamento” é derivada de ranking, que já aparece registrada em alguns dicionários, como o Michaelis.
Como as últimas edições de nossos dicionários incorporaram um grande número de estrangeirismos usados no Brasil, ficarei surpreso se não encontrar o registro de ranking e de“ranqueamento”. Só pode ser esquecimento.
Nada tenho contra a palavra ranqueamento. Na minha opinião, é bem-vinda.

Dúvidas dos leitores

qua, 11/04/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
O verbo HAVER
É frequente ouvirmos a expressão “HÁ MUITO TEMPO ATRÁS”. Trata-se de uma redundância, pois, se ocorreu “HÁ MUITO TEMPO”, só pode ter sido “MUITO TEMPO ATRÁS”.
Aprendemos, faz tempo, que devemos usar a forma “HÁ”, do verbo “HAVER”, quando nos referimos a um tempo já transcorrido: “Não nos vemos HÁ dois dias”; “HÁ dez anos que ele partiu”.
É interessante observar que a redundância “HÁ…ATRÁS” só ocorre com o verbo “HAVER”. Quando se opta pelo verbo “FAZER”, ninguém diz “FAZ dez anos ATRÁS”. Aí todos falam corretamente: “FAZ dez anos”; “FAZ muito tempo”.
É importante lembrar também que, caso a ideia seja de “tempo futuro” ou de “distância”, devemos usar a preposição “a”: “Só nos veremos daqui a dois dias”; “Estamos a dez quilômetros do vilarejo”.
Vamos ver se consigo simplificar as “coisas”.
A dúvida é uma só: é verbo ou não é verbo?
Se for, devemos escrever “HÁ”; se não for, trata-se da preposição “a”. Para provar que é verbo, podemos usar o “macete” da substituição do “HÁ” pela forma “FAZ”: “Não nos vemos há (=faz) dois dias”, “Há (=faz) dez anos que ele partiu.”
Caso a substituição não seja possível, significa que não é verbo. Em “Só nos veremos daqui a dois dias”, não é possível substituirmos por “daqui faz dois dias”. O mesmo ocorre em “Estamos a dez quilômetros do lugarejo” (“Estamos faz dez quilômetros” não faz sentido).
Usamos “ano-luz” para medir distância: “…um astro semelhante ao sol a 153 anos-luz de distância da Terra.” O certo, portanto, é “…estão a anos-luz de distância…”
Por outro lado, está correto o leitor escrever: “o eclipse ocorreu há (=faz) 153 anos” e “…ocorreu há (=faz) muitos anos terrestres atrás”. O “atrás” é que é desnecessário. Agora, temos a ideia de “tempo transcorrido”.

HÁ ou HAVIA?
Leitor quer saber: “Ela estava em cena HÁ ou HAVIA mais de uma hora”.
Segundo o princípio da correspondência dos tempos verbais, devemos dizer que “ela ESTAVA em cena HAVIA mais de uma hora”.
O princípio é o seguinte: devemos usar “HAVIA” em vez de “HÁ”, quando o verbo que acompanha está no pretérito imperfeito (=estava, fazia, era) ou no pretérito mais-que-perfeito (=estivera, fizera, soubera, tinha estado, havia feito).
Em caso de dúvida, podemos usar o seguinte “macete”: substituir o verbo “HAVER” pelo “FAZER”. Se o resultado da troca for “FAZIA” (e não “FAZ”), use “HAVIA” (e não “HÁ”):
“ESTAVA sem comer HAVIA (=fazia) três dias.”
“HAVIA (=fazia) dez anos que o clube não ERA campeão.”
“Ela ESTIVERA naquela cidade HAVIA (=fazia) muito tempo.”
É importante observar que a ação se encerrou. A forma HÁ (=faz) indica que a ação verbal prossegue. Veja a diferença:
a)    “HAVIA dez anos que o clube não era campeão.” (=o clube acabou
de ganhar o campeonato);
b)    “HÁ dez anos que o clube não é campeão.” (=o clube continua sem
ganhar o campeonato).

TEM ou HÁ?
Leitor considerou uma vergonha o anúncio: “No Brasil não TEM maremotos, vulcões, terremotos, furacões.”
Comentário de outro leitor: “Aprendi que não devemos confundir os verbos “HAVER” e “TER”: ‘Nesta banca HÁ (=existe) várias revistas’ e ‘Esta banca TEM (=possui) várias revistas’. Os gênios da publicidade são os que mais cometem tal erro.”
Os nossos leitores têm razão em parte. Segundo a gramática tradicional, não devemos usar o verbo “TER” no sentido de “HAVER” (=existir).
Não podemos, entretanto, esquecer que o uso do verbo “TER” em lugar do verbo “HAVER” é uma das características do Português falado no Brasil. Isso significa que, num texto informal que queira retratar a linguagem coloquial brasileira, o uso do verbo TER é aceitável.
Não devemos reduzir o caso a simples discussão de certo ou errado. Inadequado seria usar o verbo TER (=haver, existir) em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, que siga os padrões da chamada norma culta.

O GRAMA ou A GRAMA?
Estava escrito: “…a grama da gordura animal tem nove calorias, enquanto a grama da proteína do feijão tem quatro calorias.”
Nossos leitores têm razão. O autor deve estar fazendo referência “à grama” que o animal comeu e virou gordura e também “à grama” que nasceu junto aos pés de feijão.
A história é velha, mas vamos repetir. O substantivo GRAMA quando se refere à massa (na linguagem popular, falamos “peso”) é MASCULINO.
Portanto, “…O GRAMA da gordura animal tem nove calorias, enquanto O GRAMA da proteína do feijão tem quatro calorias.”

Dúvidas dos leitores

qua, 04/04/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
Vícios do “futebolês”
A linguagem esportiva está sempre a merecer a nossa atenção. Basta um descuido nosso e lá estão os velhos vícios de volta.
Vamos comentar hoje uma série de exemplos coletados por nossos leitores.
Jogavam Flamengo e Peñarol no Estádio Centenário em Montevidéu. Logo após o árbitro ter encerrado o jogo, os jogadores uruguaios partiram para a briga e agrediram os rubro-negros. Além da triste cena de selvageria explícita, tivemos o desgosto de ouvir de um comentarista “especializado”: “Transformaram o Estádio Centenário numa verdadeira praça de guerra”. Por que verdadeira? Poderia ter sido uma “falsa” praça de guerra? E, cá entre nós, ninguém aguenta mais a tal “praça de guerra”. Eta chavãozinho batido! Minha ênfase é intencional. Afinal, todo chavão é “batido”.
Outro dia, o repórter que fazia a cobertura do treino do Corinthians: “O clima entre os jogadores é de alto astral”. O astral entre os jogadores pode estar alto, mas a linguagem dos repórteres esportivos está muito pobre. Foi o décimo quinto alto astral que ouvi só naquele mês. De vez em quando, o “alto astral” poderia virar “bom ambiente”, “jogadores animados”, “time otimista”…
Pode haver quem ache que eu esteja sendo muito rigoroso, mas é importante alertar nossos jornalistas esportivos para a pobreza dos clichês: “lenda viva”, “monstro sagrado”, “subiu no 3oandar (para cabecear)”, “chutar contra o patrimônio”, o zagueiro que “não perde a viagem”…
Mais incrível foi o narrador de um jogo da série B dizer que “o Fulano de Tal cobrou o manual”. Pelo amor de Deus, quem cobrava “manual” era “beque” da década de 50. É do tempo do off sidee do center half. É do tempo que narrador era speaker.
Por falar em narrador, um alerta vermelho: “O atacante estava literalmente impedido”. Literalmente como? A quem interessar possa: LITERAL significa “transcrição por escrito, com todas as letras; fiel ao texto original, sem alterar palavra”. Logo, é impossível alguém ficar“literalmente impedido”. Não dá para aceitar nem como metáfora.
Já que falamos de palavras mal usadas. É bom lembrar a “febre” do DEFINIR: “As datas dos jogos ainda não foram definidas” (marcadas, fixadas); “O técnico ainda não definiu o time que sairá jogando” (decidiu, escalou); “Ele ainda não definiu quem será o substituto” (escolheu, decidiu)… Além do empobrecimento vocabular, o verbo DEFINIR está sendo mal usado.
Para facilitar as coisas: “DEFINIR o adversário” não é determinar quem será ele e sim dizer como ele é (negro, alto, forte, 27 anos…).
Portanto, esta história de “definir placar” é uma asneira imensa. DEFINIR não é “dar fim”. Trocaram o velho chavão “dar cifras definitivas ao placar” pelo modernoso e duvidoso “definir o placar”. Piorou.
Para terminar, dois errinhos:
1o) “A bola passou entre a barreira.” Entre a barreira e o quê? Ora, a bola passou pelo meio da barreira ou entre os jogadores que estavam na barreira.
2o) “Ronaldinho preferiu correr com a bola ao invés de chutar.” O certo é “em vez de chutar”. Ele trocou uma coisa por outra. AO INVÉS DE significa “ao contrário de”. Só devemos usar AO INVÉS DE, quando forem coisas opostas. E “correr com a bola” e “chutar” não são coisas opostas.

ENTRE ou DENTRE?
Leitora quer saber quando usar ENTRE e DENTRE.
1)    A preposição ENTRE só deve ser usada com “unidades” (entre elementos ou entre conjuntos):
“A bola passou entre os jogadores da barreira.”
“Ronaldinho ficou entre o pai e a mãe da noiva.”
“Andava entre as árvores da floresta.”
“Desejamos a paz entre as nações.”
Devemos evitar o uso da preposição ENTRE antes de palavras com ideia “coletiva”:
“A bola passou entre a barreira.” (= “no meio da barreira” ou poderia ser “entre a barreira e o juiz”)
“Ronaldinho ficou entre o casal.” (= “entre os pais da noiva” ou poderia ser “entre o casal e a noiva”)
“Andava entre a floresta.” (= “entre as árvores” ou poderia ser “entre a floresta e o rio”)
“Desejamos a paz entre a população.” (= “entre os homens, entre as pessoas, entre os habitantes, entre os povos” ou poderia ser “entre a população e o governo”)
2)    Devemos usar a forma DENTRE quando há um sentido de “movimento” ou de “posse” (=de entre):
“Dentre os relacionados, saiu Ronaldinho.”
“Dentre os candidatos, surgiu Fulano de Tal.”
“Um dentre os acusados é o assassino.”
“Alguém dentre nós terá de resolver o problema.”

PARA ONDE ou PARA AONDE?
Leitor quer saber qual é forma correta: “PARA ONDE ou PARA AONDE vão nossas crianças?”
O certo é “PARA ONDE vão nossas crianças”.
A forma “para aonde” simplesmente não existe.
Existem AONDE (=quando você vai “a” algum lugar) e PARA ONDE (=quando você vai “para” algum lugar):
“Ipanema é a praia AONDE ela vai em todos os fins de semana.” (=Ela vai à praia);
“São Paulo é a cidade PARA ONDE ele foi transferido.” (=Ele foi transferido para São Paulo).

Dúvidas dos leitores

qua, 28/03/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
Uma boa redação: a CONCISÃO
Ouço muito: um bom texto deve ser claro e conciso.
Não há dúvida de que a clareza é a principal qualidade do texto. Ser conciso, entretanto, é uma luta muito árdua.
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras, sem prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.
Para muitos, esse hábito começa na escola. É só fazer uma “sessão nostalgia” e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que o professor anunciava: “hoje é dia de redação”. Você se lembra da “alegria” que contagiava a turma? Você se lembra de algum coleguinha que dizia estar “inspirado”? Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado toda a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum. Pedíamos outro tema. Se o professor apresentasse vários temas, pedíamos “tema livre”. E se fosse “tema livre”, exigíamos um. Era uma insatisfação total. Depois de muita briga, o tema era “democraticamente imposto”. E aí vinha aquela tradicional pergunta: “Quantas linhas?” A resposta era original: “No mínimo 25 linhas”. Eu costumo dizer que 25 é um número traumático na vida do aluno. A partir daquele instante, começava um verdadeiro drama na sua vida: “Meu reino pela 25ª linha”. Valia tudo para se chegar lá. Desde as ridículas letras que “engordavam” repentinamente até a famosa “encheção de linguiça”.
E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a “encher linguiça”. Pelo visto, há políticos que fizeram “pós-graduação” no assunto. São os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas situações não têm o que dizer, às vezes não sabem explicar e muitas vezes precisam “enrolar”.
O problema maior, entretanto, é que a doença atinge também outras categorias profissionais.
Vejamos três exemplos retirados de bons jornais:
  1. “A largada será no Leme. A chegada acontecerá no mesmo local da partida.”
Cá entre nós, bastava ter escrito: “A largada e a chegada serão no Leme.”
  1. “O procurador encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria determinando que seja investigado…”
Sendo direto: “O procurador mandou investigar”.
  1. “A posição do Governo brasileiro é de que esgotem todas as possibilidades de negociação para que se alcance uma solução pacífica.”
Enxugando a frase: “O Brasil é a favor de uma solução pacífica”.

À TOA ou À-TOA?
Antes do novo acordo ortográfico era assim:
a)    À TOA = “a esmo, ao acaso, sem fazer nada” (locução adverbial de modo = refere-se ao verbo): “Passou a vida à toa”; “Anda à toa pelas ruas”;
b)    À-TOA = “inútil, desprezível, desocupado, insignificante” (adjetivo = acompanha um substantivo): “Era uma mulher à-toa”; “Não passava de um sujeitinho à-toa”.
Com o novo acordo ortográfico, não devemos mais usar o hífen nesse caso. Assim sendo, a forma adjetiva não tem mais hífen: “mulher à toa”; “sujeitinho à toa”, “probleminha à toa”…

MUITO ou MUITA pouca comida?
O certo é “MUITO POUCA comida”.
1o) “POUCA comida” – POUCA é um pronome adjetivo indefinido porque acompanha um substantivo (=comida). Os pronomes concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem: “poucas pessoas”; “muita saúde”; “tantos livros”; “provas bastantes”…
2o) “MUITO pouca comida” – MUITO é um advérbio de intensidade pois se refere ao pronome adjetivo (=pouca), e não ao substantivo. Os advérbios não apresentam flexão de gênero e número: “Elas estão muito satisfeitas”; “Os jogadores estão pouco confiantes”; “As alunas ficaram bastante felizes”…

O DESAFIO
As dúvidas são:
1ª) VENDE-SE ou VENDEM-SE estas casas ?
2ª) Da 1a A  ou  À  5ª série ?
3ª) Seja BENVINDO  ou  BEM-VINDO ?
4ª) ADQUIRI-LOS  ou  ADQUIRÍ-LOS ?

Respostas:
1ª) VENDEM-SE estas casas. (No plural para concordar com o sujeito “estas casas” = “Estas casas são vendidas”);
2ª) Da 1ª À 5ª série. (Com crase = preposição “a” + artigo “a” que define a 5ª série);
3ª) Seja BEM-VINDO. (O novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa já registra a forma “benvindo” como variante linguística);
4ª) ADQUIRI-LOS. (Sem acento agudo).

Dúvidas dos leitores

qua, 21/03/12
por snogueira.sn |
categoria Dicas
CERTO ou ERRADO? Ou questão de ADEQUAÇÃO?
Leitor solicita que eu faça um rápido comentário a respeito de cada exemplo a seguir.

1.“…mais um acidente com vítima fatal.”
FATAL é “o que provoca a morte”. Portanto, não é a vítima que é fatal. FATAL é o acidente. “Vítima fatal” está consagrada pelo uso e, hoje, perfeitamente compreensível.

2. “Os vencimentos serão pagos numa parcela única.”
“Parcela única” é muito estranho. PARCELA é “pequena parte de qualquer coisa”. Rigorosamente, “pequenas parcelas” pode ser uma redundância e “parcela única” seria incoerente.

3. “Queremos reaver o prejuízo.”
Duvido que alguém queira o prejuízo de volta. Queremos é ser indenizados pelo prejuízo.
Não sejamos, entretanto, tão rigorosos com a língua portuguesa, a expressão “correr atrás do prejuízo”, embora incoerente, é perfeitamente compreensível.

4. “O secretário explicou ontem por que deixou o cargo.”
Se tinha deixado o cargo no dia anterior, não era mais secretário.
Portanto, “o ex-secretário explicou ontem por que deixou o cargo”.

5. “Se o atacante for regularizado pela Federação…”
Não é o atacante que deve ser regularizado. A situação do jogador é que deve ser regularizada pela Federação. Leitor tem razão em parte. Nossa língua não é tão lógica como muitos pensam. O subentendido faz parte da nossa linguagem. Não sejamos tão rigorosos.

6. “Ninguém se feriu no desabamento, com exceção do porteiro.”
Para que o porteiro não se sinta pior que “ninguém”, seria melhor ter escrito: “Somente o porteiro se feriu no desabamento”. Concordo com o leitor. Frase de muito mau gosto.

7. “O Pão de Açúcar é quase 20 vezes menor que o Aconcágua.”
É impossível ser “20 vezes menor”. É um problema matemático. O contrário de “3 vezes mais” é “um terço”. Na verdade, “o Aconcágua é 20 vezes maior que o Pão de Açúcar”.

8. “Ao contrário do que foi publicado ontem, Romário fez dezoito e não dezessete gols…”
Dezoito e dezessete não são coisas contrárias. Portanto, o mais adequado é dizer: “Diferentemente do que foi publicado ontem…”

9. “Um homem se afogou e foi tirado do mar desacordado.”
Ou se afogou ou estava desacordado. Se houve afogamento, o homem estava morto; se foi tirado do mar desacordado, o homem quase se afogou.

10. “O filho fez curso de técnico de som até se tornar um nome de referência na área.”
Isso é que é força de vontade. Não largou o curso enquanto não ficou famoso. Para ficar claro: o rapaz fez um curso de técnico de som e tornou-se famoso na sua área. Ficou famoso depois de fazer o curso, e não “fez o curso até ficar famoso”.

Fui eu QUEM FEZ ou Fui eu QUE FIZ?
Tanto faz.
O verbo pode concordar com o pronome QUEM (=quem fez) ou com o antecedente do pronome QUE (=eu que fiz).
Vamos observar o exemplo que um leitor nosso encontrou no livro Memorial do Convento do grande escritor português José Saramago: “…são eles quem está construindo a obra que lhe vou mostrar…”
Nesse caso, embora o antecedente esteja no plural, o autor faz o verbo concordar com o pronome QUEM: “…eles quem ESTÁ construindo…”
Corretíssimo.

Pode-se tornar OU pode se tornar?
Leitor nos escreve: “Na versão eletrônica do Estadão, lia-se a seguinte frase ‘Corinthians pode-se tornar campeão domingo’. Não sei se se trata de um erro de impressão ou, pior ainda, de gramática, mas parece-me que a frase é incorreta.”
A frase pode perecer estranha, mas não está errada. Trata-se de uma ênclise do verbo auxiliar (=pode-se tornar). Essa colocação do pronome átono após o verbo auxiliar é raríssima no português do Brasil. A maioria dos brasileiros diria “Corinthians pode se tornar…” (sem hífen = próclise do verbo principal).
Eu prefiro a ênclise do infinitivo: “Corinthians pode tornar-se campeão no domingo”.