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José Robson de Almeida.
Número de pessoas com mais de 60 anos deve triplicar até 2050. Estimativas da ONU indicam menor crescimento da população de 7 bilhões.
Daniel BuarqueDo G1, em São Paulo
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O mundo está envelhecendo rapidamente. Entre as principais preocupações dos estudiosos de demografia ao comentar as estimativas da ONU de que o mundo vai atingir na segunda-feira (31) a marca de 7 bilhões de pessoas está não o aumento do total de pessoas no planeta, mas a tendência de crescimento na população com mais de 60 anos, que vai triplicar nos próximos 40 anos.
Idosos chineses fazem exercício coletivo em Xi’an (Foto: Guo Tieliu/Unfpa)
Para alguns pesquisadores, a questão da idade já ultrapassa a preocupação com os problemas ambientais e de sustentabilidade como principal desafio para a demografia global. "Muitos se preocupam com o excesso de população no mundo atual, mas está na hora de começarmos a nos preocupar com a escassez de pessoas. Há um aumento grande na proporção de idosos no mundo", explicou ao G1 o pesquisador José Alberto Magno de Carvalho, que já foi presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais e da International Union for Scientific Study of the Population (a associação internacional mais importante em demografia).
Há no mundo 893 milhões de pessoas com mais de 60 anos, mas no meio do século este número passará de 2,4 bilhões. Segundo o pesquisador, não há razão de continuar-se discutindo a explosão demográfica global. "Antes, falava-se que a população chegaria rapidamente a 15 bilhões de pessoas, mas hoje sabemos que é provavel que a estabilidade chegue antes e que não passemos de 10 bilhões."
Segundo o relatório da ONU que vai marcar a chegada da população mundial a 7 bilhões de pessoas, a principal tendência da demografia global é que na maior parte dos países do mundo a população não cresce mais, ou cresce menos do que no passado.
"Há uma tendência global de menor fecundidade. A população do Brasil, por exemplo, cresce bem mais lentamente, e pode começar a declinar em 20 anos. Mesmo no terceiro mundo, o crescimento está diminuindo. Na China, a fecundidade já é patética, e na Índia, que ainda cresce mais, a fecundidade está diminuindo", disse Carvalho.
Segundo a ONU, no mundo atual, somente na África há um crescimento populacional ainda grande, com média acima de 3 filhos por mulher (4,64). Na Europa, por outro lado, a taxa de natalidade é de 1,53, e 2,03 na América do Norte e na Ásia. Na China e na Índia, países que já têm uma população de mais de um bilhão de pessoas, a estabilidade da população deve ser atingida em poucas décadas.
"A mudança demográfica faz com que o desafio ambiental, de fazer com que haja recursos para uma população formada por bilhões de pessoas, seja menor do que no passado. Ele não está resolvido, mas é menos urgente se considerarmos a queda na fecundidade", diz Carvalho.
Mundo aposentado
Segundo a ONU, o envelhecimento torna necessário um maior planejamento e investimento para lidar com um número cada vez maior de idosos, a necessidade por mais alimentos, água e energia e a maior produção de lixo e poluição. O ambiente não deixou de ser prioridade, mas é preciso pensar a sustentabilidade de um mundo com menor proporção de pessoas em idade produtiva.
O foco é o investimento nos jovens, que vão ter que ser responsáveis por um mundo com mais pessoas e com mais idosos. No Japão, por exemplo, estimativas indicam que em 2050 haverá tantos trabalhadores quanto idosos já aposentados.
"A fecundidade atual é incapaz de repor toda a população. Ela é registrada globalmente em números próximos de 1,9 filho por mulher, e isso significa que a população vai diminuir no futuro", diz Carvalho. "Temos que aprender a lidar com este envelhecimento da população. Até agora, o único local em que isso já aconteceu foi na Europa, mas o processo foi mais lento. Isso é um desafio para a sociedade, por questões de saúde pública, previdência, como lidar com uma população mais velha."
Assim como a própria ONU, o pesquisador brasileiro diz que o principal objetivo de trabalho deve ser o investimento nos jovens de hoje, que vão se tornar os adultos responsáveis por manter o mundo com mais idosos. "O Brasil, por exemplo, precisa investir em educação. Na pirâmide da sociedade brasileira já se percebe que há menos pessoas mais novas de que as que vão envelhecendo. Isso significa que no futuro haverá menos força de trabalho à disposição. Os poucos jovens e adultos vão ter que cuidar da economia", disse.
O melhor exemplo a ser seguido, segundo ele, é o da Coreia do Sul, que superou um problema semelhante relacionado à estrutura etária da população. "Eles tiveram queda na fecundidade, mas investiram em educação de base, o que permitiu que o envelhecimento fosse acompanhado por um aumento na capacidade e na produtividade, sem afetar a sociedade."
Carvalho explica que o movimento é irreversível, e que pensar em resolvê-lo com incentivo a aumento na fecundidade é algo que não faz sentido. "Há países que pensam em incentivar a fecundidade, mas este processo é irreversível."
Diminuição saudável
Para alguns pesquisadores de tendências populacionais, entretanto, além de irreversível, o processo de envelhecimento da população não garante totalmente a sustentabilidade, e ainda é preciso pensar em reduzir o número de pessoas no mundo para poder tornar a vida possível.
"O envelhecimento é inevitável se quisermos ter sustentabilidade. A preocupação com a redução e envelhecimento da população não faz sentido, e as pessoas deveriam comemorar quando a população do mundo começar a diminuir", disse, em entrevista ao G1, Paul R. Ehrlich, professor de estudos populacionais de Stanford.
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A partir das notas médias das escolas, a Folha calculou três faixas de desempenho no Enem. As mesmas faixas foram usadas para classificar os Estados e as escolas. Média nacional
A pontuação média atingida
no Enem pelas escolas que
tiveram desempenho
divulgado foi de:
"Quando alguns de meus colegas se deparam com um resultado estranho, costumam pensar: está errado. É verdade que a maioria das coisas bizarras em ciência acaba mesmo se provando errada, mas não é uma boa coisa fechar os olhos e os ouvidos para elas completamente. Muitas coisas interessantes hoje, em algum momento, já pareceram ser estranhas."
Ouvi esta declaração ontem, partindo de Adam Riess, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2011, quando conversava com o cientista por teleconferência junto de outros jornalistas.
Fiquei feliz por sua descoberta "estranha" _a energia escura, que impulsiona a expansão acelerada do universo_ ter sido premiada. Foi uma das poucas grandes reviravoltas científicas que ocorreram no tempo da minha geração, provavelmente a maior delas.
Muitas pessoas questionaram se não é um pouco cedo demais para premiar a descoberta de algo que ainda não se sabe o que é. A energia escura recebeu o apelido que tem justamente porque ainda não há teoria que a explique.
Na minha opinião, Riess, Brian Schmidt e Saul Perlmutter (que são astrônomos e não físicos teóricos) mais do que merecem o prêmio. Suas observações vêm se confirmando com o tempo a medida que mais dados são coletados sobre galáxias distantes, e é certo que vai sair da energia escura algo que será componente da próxima revolução da física. Por mais desconhecida que seja, essa força estranha representa 70% de tudo o que existe no cosmo.
Mesmo que isso aconteça, não será pouca coisa. Se a energia escura não existir, talvez seja preciso fazer correções na teoria da relatividade geral de Einstein, que permanece sólida há 96 anos. Isso, por si só, teria o potencial de colocar toda a física mundial de pernas para o ar. Ninguém quer ver isso, é claro.
O problema é que nenhuma das teorias candidatas a explicar o que é a energia escura tem feito muito progresso. A mais popular delas postula que essa força misteriosa seria uma entidade similar à que Einstein chamou de “constante cosmológica”. (Esta sim era um artefato imaginário, que o célebre cientista usou para evitar uma implicação natural de sua teoria: a de que o Universo está se expandindo.) Se a constante cosmológica existir de verdade, isso implica que até mesmo o vácuo _o “nada”_ possui uma energia própria, e estaria impulsionando a expansão do Universo. A ver.
Perguntei ao próprio Riess o que ele achava dessa teoria, e ele se declarou agnóstico. “Tento evitar ter uma teoria preferida”, disse. “Isso atrapalha o trabalho de fazer observações e relatar aquilo que você vê. Muitas pessoas acabam se casando com teorias, mas quando você é quem tem de coletar dados, o melhor é ter a cabeça completamente aberta.”
O astrônomo afirma que está agora trabalhando em técnicas para aprimorar as medidas sobre distâncias de supernovas, as explosões estelares que servem como "régua" para medir a distância entre galáxias. Isso pode ajudar teóricos a peneirar as melhores hipóteses vigentes para explicar a natureza da energia escura.
“Este é um problema rico e profundo que deve atrair os melhores físicos teoricos, astrofísicos e outros cientistas do mundo”, concluiu Riess. “Quem descobrir isso vai ganhar outro Nobel. Eu daria o meu próprio prêmio para quem conseguir.”
Estive na semana passada em um congresso sobre plágio e má conduta na ciência na UESC, em Ilhéus.
O evento foi bastante amplo e abordou a má conduta sobre vários aspectos – inclusive do ponto de vista da cobertura jornalística (assunto sobre o qual eu dei uma palestra).
Mas há algumas conclusões interessantes sobre os dois dias de discussões que gostaria de destacar aqui. A primeira, mais óbvia, é que hoje em dia está mais fácil fazer plágio devido ao acesso facilitado de informações científicas que temos na internet.
A segunda, aí sim mais filosófica, é que o acesso facilitado às informações científicas não justifica o aumento no número de casos de fraude científica. “Não é porque temos acesso às armas que vamos sair por aí atirando”, exemplificou a organizadora do evento Romari Martinez, da UESC.
De acordo com Martinez, muitos estudantes acabam se perdendo em meio a essas informações e copiam trechos sem ter noção de que estão plagiando. Essa, aliás, seria a terceira conclusão do evento: é preciso ensinar os novos pesquisadores a lidar com informações na internet.
Justamente por isso o título da palestra de Martinez foi “Eu não plagiei, professora, eu só copiei da internet”. Ela ouviu essa frase de uma aluna da graduação. “E eu senti pela voz dela que ela estava sendo sincera”.
PESO NA CONSCIÊNCIA
“Em vários momento do congresso eu me senti uma infratora. Depois me senti injustiçada porque ninguém nunca me ensinou a lidar com as informações científicas na internet”, disse uma doutoranda da UESC na conclusão do evento.
Assim como ela, uma plateia lotada de estudantes enchiam os palestrantes de questões. “Agora ninguém mais pode dizer que não sabia que isso é má conduta”, concluiu a doutoranda.
Na mesma semana passada, aqui em São Paulo, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp, lançou um código de boas práticas científicas dizendo que precisamos ensinar os pesquisadores e introduzir o debate sobre ética nas universidades.
Mais do que pensar em punições, talvez seja hora de pensarmos em educação para evitar que as punições sejam necessárias...
O texto traz recomendações sobre, por exemplo, quem deve assinar um artigo científico. Também deixa claro que plágio, falsificação e fabricação de dados são “má conduta científica grave”. E dá recomendações de como devem ser conduzidas as investigações de casos de fraude científica.
Uma agência de fomento à ciência como a Fapesp precisa “ensinar” aos cientistas a não fazer fraude científica?
Não. Mas, como disseram os gestores da Fapesp, essa é uma maneira de fazer com que a ética científica vire um assunto nas universidades brasileiras.
Até que um caso de fraude apareça na imprensa pouco se fala sobre má conduta nos corredores acadêmicos. E os cientistas dificilmente fazem denúncias porque sabem que os processos administrativos muitas vezes acabam em pizza -- e que o pesquisador denunciado pode ser o parecerista de um artigo amanhã.
Do lado da sociedade, há pouca cobrança. Arrisco dizer que ainda existe no Brasil um resquício da ideia do cientista mitificado que trabalha por amor, ganha pouco e, imagine, jamais fraudaria dados.
Mas o que parece mais urgente agora aos gestores de ciência é fazer um levantamento dos casos de fraude no Brasil. Nos EUA, por exemplo, um survey com cientistas no ano passado mostrou que 84% deles já viram ou foram autores de má conduta.
Qual seria esse número no Brasil? Quantos processos administrativos de má conduta são conduzidos por ano? Não há nem uma estimativa disso. Mas com certeza foram muito mais casos que os três abaixo, recentemente publicados na Folha.
Químico da Unicamp é acusado de fraudar 11 estudos científicos
Se você é, foi ou tem em casa um moleque doido por dinossauros (eu fui um desses), faria bem em não perder o simpático lançamento "Dinos do Brasil", da Editora Peirópolis.
Sou suspeito para falar porque, além de ser escrito pelo competente paleontólogo Luiz Anelli, da USP, o livro ainda é ilustrado por Felipe Alves Elias, um paleontólogo-ilustrador que já mandou bem muito bem dando charme visual a reportagens minhas aqui na Folha e na "Scientific American Brasil". Vale a pena conferir a obra.
De mansinho, as águas-vivas estão conquistando os mares e substituindo outros peixes, como as sardinhas, no controle dos oceanos.
No último sábado, a Folha contou a saga de ascensão das medusas (veja a íntegra da reportagem aqui), que acabam chegando ao topo da cadeia alimentar principalmente com uma forcinha das ações humanas. Especialmente com a pesca predatória e a poluição.
A matéria explica o case de sucesso das águas-vivas, mas não diz as consequências que isso pode provocar. E os efeitos vão além de uma legião de surfistas queimados.
Quem explica o fenômeno é Antonio Carlos Marques, professor do departamento de Zoologia da USP, que além de grande conhecedor do assunto, também já trabalhou com Sean Colin, um dos autores do trabalho citado na matéria.
Segundo ele, além do problema de saúde pública provocado pela legião de banhistas envenenados pelo contato com as organelas urticantes desses bichos, o boom das águas-vivas pode ter consequências no mercado.
“Elas podem competir e mesmo predar larvas e jovens peixes, causando quebra da indústria pesqueira (artesanal e comercial)”, disse.
Fora isso, as superpopulações de medusas “causam também obliterações de sistemas de refrigeração de usinas nucleares e mesmo hidroelétricas e prejuízos em mariculturas, entre outros fenômenos”.
Apesar do currículo de problemas, o pesquisador lembra que não se responsabilizar o animal.
“A ‘culpa’ não é das medusas, mas sim das perturbações ambientais que causamos, como o aumento de substratos artificiais no ambiente marinho, transportes de espécies mediados por seres humano (bioinvasão) e sobrepesca de estoques pesqueiros, causando, aí sim, um aumento das populações de medusas”, completa.
Um relatório recente divulgado pelo Departamento de Comércio dos EUA mostrou que a média salarial dos homens cientistas é 14% maior que a das mulheres que têm as mesmas ocupações.
Nas demais áreas do mercado de trabalho, a coisa anda pior ainda: o salário dos homens chega a ser 21% maior.
Os dados confirmam o que Mayana Zatz, geneticista que coordena o Centro de Estudos do Genoma Humano, comentou comigo nesta semana. “Quando estive nos EUA fazendo pós-doutorado, tive de provar que sou boa mesmo sendo latina e mulher”, disse enquanto falamos sobre seulivro lançado nesta semana.
No Brasil, estima-se que as mulheres recebam em média 25% a menos do que os homens que trabalham nas mesmas funções.
Mas as cientistas brasileiras que trabalham em instituições públicas (que representam cerca de 70% da ciência nacional) não ganham menos que os homens por apenas um motivo: os salários aqui são “tabelados”.
Os concursos públicos das universidades, institutos e empresas públicas (como a Embrapa) fazem com que pessoas com a mesma titulação ganhem os mesmos salários.
A medida é boa para evitar salários diferentes por preconceito, mas péssima do ponto de vista da competitividade. Isso porque, por exemplo, um cientista que publica em uma “Nature” ganhará o mesmo que um pesquisador que não emplaca artigo nenhum.
Deixando a competitividade de lado, pergunto-me se os salários “fixos” no Brasil não causem uma falsa ideia de igualdade de gênero. Na grande maioria das vezes, ainda são os homens que continuam chefiando os departamentos, os laboratórios e as universidades...
A entrevista coletiva em que a Nasa divulgou hoje a mais recente descoberta do telescópio espacial Kepler, um planeta com dois sóis, foi, sem trocadilhos, coisa de cinema.
Capitalizando em cima do lado pop da notícia, cientistas encomendaram desenhos e vídeos (veja acima) para distribuir a jornalistas e cederam o microfone para declarações de John Knoll, especialista em efeitos especiais que trabalhou em filmes da série original de "Guerra nas Estrelas".
Knoll não falou nada sobre o novo planeta, Kepler-16b, mas contou sobre como a produção da trilogia concebeu o mundo ficcional Tatooine, que agora os cientistas chamariam de "circumbinário", por exibir dois sóis no céu. Tatooine, para quem não lembra, é o planeta onde nasceu Anakin Skywalker (AKA Darth Vader) e onde seu filho, Luke Skywalker, passou sua infância.
"Eu estive dentro do Tatooine ficcional, um lugar muito quente, que parece até o Norte da África", disse Knoll, fazendo piada com a locação das filmagens, um deserto na Tunísia.
"Não acho que George Lucas estivesse preocupado com teorias de formação de planetas", continuou. "Nós não sabíamos na época se seria possível um planeta orbitar um sistema binário. Quando George escreveu pela primeira vez que o herói do filme viveria num planeta com dois sóis, acredito que é porque seria uma maneira simples de mostrar que aquela cena não estava se passando na Terra."
Segundo Knoll, o fato de Kepler-16b ser um planeta gasoso gigante e gelado, nada parecido com Tatooine, pode até inspirar novas idéias em ficção científica. "Quando somos chamados para fazer esse tipo de coisa nos filmes, a idéia é que criemos algo que nunca foi visto, mas cada vez mais vemos que a ciência consegue ser mais estranha e mais legal do que a ficção".
Pôr-do-sol (ou pôr-dos-sóis) em Tatooine, numa cena de "Guerra nas Estrelas" PS. Na primeira versão do texto, eu havia escrito que Luke Skywalker havia nascido em Tatooine. Só depois, minha colega Giuliana me lembrou que na verdade o parto havia ocorrido dentro de uma espaçonave. Resisti a dar uma errata. Uma vez que Luke nasceu em trânsito, suponho que sua certidão de nascimento tenha sido lavrada em um cartório de Tatooine.
Enquanto o governo federal quer ensinar o cientista a lidar com burocracia para fazer pesquisa, a esfera estadual paulista --que concentra 50% da pesquisa nacional-- quer que essa burocracia não seja mais responsabilidade do pesquisador.
A divergência de opiniões apareceu durante uma discussão sobre "custo Brasil da ciência", na reunião anual da SBG (Sociedade Brasileira de Genética), que acompanhei em Águas de Lindoia.
O "custo Brasil" é um termo genérico usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais que encarecem e atrapalham o desenvolvimento de alguma atividade, como a ciência.
A genética, assim como outras áreas de saúde, é uma das disciplinas que mais sofrem com a burocracia, principalmente na importação de material para pesquisa.
Como a importação científica tem isenção de impostos, os processos são muito burocráticos e chegam a levar cerca de seis meses.
"Sabemos que o desconhecimento e o preenchimento errado da papelada [nos processos de importação] são os principais motivos de atrasos nos pedidos", disse Glaucius Oliva, presidente do CNPq. A instituição tramita cerca de sete mil processos de importação por mês.
Por isso, o CNPq criou um tutorial online "bem completo e detalhado" para orientar os pesquisadores no antes e depois da importação.
Mas, para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp, o manual do CNPq, apesar de "incrível", não resolve o problema.
"Não é para o pesquisador ler o manual e aprender como se faz importação. É preciso que as universidades tenham pessoas que gerenciem os projetos", ressaltou.
"Esse serviço custaria pouco para as universidade, cerca de R$ 50 mil anuais por projeto. Dinheiro tem. É só ver a quantidade de universidade federal que está sendo criada", completou Cruz.
Para Oliva, o ideal seria abolir a isenção, de modo que o governo repassasse o dinheiro dos impostos para as agências de fomento. "Mas como não sabemos se isso aconteceria, é melhor manter do jeito que está..."
Sou obrigado a adotar o dialeto do padre Quevedo (aquele que dizia "eso no ecziste" para derrubar supostos donos de poderes paranormais na TV) diante da reportagem de capa da revista "Veja" desta semana. Os colegas da publicação infelizmente adotaram expressões como "Parece milagre!" e "bala de prata" para se referir à liraglutida, medicamento antidiabetes que está sendo usado como remédio para emagrecer, com resultados impressionantes. Vamos deixar as coisas claras: bala de prata no ecziste; milagre, só com intervenção divina.
O mais estranho é que a reportagem da "Veja", em grande parte, claramente fez a lição de casa. Explica de forma límpida, por exemplo, a ação da liraglutida, que imita um hormônio ligado à sensação de saciedade e à produção de insulina. A questão é que ela assume, com base em evidência anedótica -- basicamente relatos isolados de pacientes e médicos -- e estudos pequenos para os padrões internacionais de segurança, feitos com algumas centenas de pessoas, que a droga, sozinha, provavelmente é a solução para a obesidade e o excesso de peso. (Pelo menos o texto evita jurar de pé junto que ela já é a solução. Já é alguma coisa.)
Alguns probleminhas que uma reportagem menos ávida em provar a própria tese deveria levar em conta:
1)A droga é injetável, e tem de ser injetada pelo próprio paciente diariamente. Para qualquer tratamento de qualquer doença, esse é um obstáculo considerável à adesão por parte dos pacientes.
2)O medicamento está no mercado (para diabetes) faz dois anos na Europa, um ano nos EUA e só três meses no Brasil. É muito pouco tempo. É notoriamente difícil conhecer a fundo os problemas que uma substância pode causar sem que ela passe pelo teste do uso crônico (por longos períodos) e por grandes grupos populacionais, com variação étnica suficiente para que certas susceptibilidades naturais das pessoas venham à tona.
3)Última e mais grave escorregadela: "O detalhamento desse mecanismo é a prova de que o ser humano não foi programado para carregar um amontoado de células de gordura. É antinatural, herança dos piores hábitos da vida moderna", diz o texto.
Hmmmm... OK. Defina "programado". Do ponto de vista da seleção natural, faz todo sentido estarmos PROGRAMADOS, sim, para desejar comida "gorda" e ter um metabolismo sovina, mão-de-vaca, que fará de tudo para acumular a energia advinda dessa comida, porque evoluímos num ambiente em que esse tipo de alimento era precioso e escasso, podendo fazer a diferença entre a vida e a morte.
Achar que uma "bala de prata" qualquer vai vencer de goleada 4 bilhões de anos de bioquímica teimosa é precipitado -- e, até prova em contrário, simplesmente errado. A principal vítima desse erro é o público, que provavelmente seria mais bem informado se soubesse um pouquinho mais sobre a complexidade do nosso maquinário biológico, em vez de ler sobre uma nova maravilha farmacêutica que pode se tornar bem menos maravilhosa nos próximos meses e anos.
Deixei de aproveitar a oportunidade para escrever no fim de semana sobre o "McDia Feliz", campanha da franquia de lanchonetes McDonald's que destina a renda das vendas do sanduíche Big Mac para combate ao câncer infantil. Vou falar sobre o tema com dois dias de atraso, assumindo o risco de provocar sensação de ressaca moral em alguns leitores.
Esse tipo de estratégia de marketing é cada vez mais comum na indústria alimentícia, e aparentemente dá retorno. Neste ano, testemunhei pessoas que considero inteligentes _uma delas um cientista da área de saúde_ aplaudindo o McDia feliz. Eu já não bato mais palmas.
Admiro qualquer iniciativa para combater o câncer e acho que existem muitas maneiras inteligentes de empresas arrecadarem fundos para este fim. Me parece um contra-senso, porém, arrecadar verba ao promover um tipo de alimentação que tem alta correlação com a incidência de obesidade e hipertensão. Há muitos tipos de doenças impulsionadas pela obesidade; diabetes e problemas cardíacos talvez sejam os riscos maiores. É uma ironia perversa que entre outros problemas estejam até alguns tipos de câncer.
Confesso que até pouco tempo atrás eu não tinha parado para refletir sobre o assunto. Hoje já tenho uma opinião formada sobre o McDia Feliz. Trata-se de uma empresa com modelo de negócio obsoleto e nocivo usando instituições filantrópicas como escudo humano para se defender dos ataques dos sanitaristas.
O marketing da empresa _que tem um palhaço como garoto propaganda_ é todo voltado para atrair crianças. Um hábito de alimentação ruim criado na infância é difícil de reverter, e muitos pais têm a preocupação de evitar que os filhos caiam nesse círculo vicioso. Já a empresa busca "formar" logo cedo um cliente que esteja disposto a consumir seus produtos a vida toda, distribuindo brinquedos e fazendo que mais for preciso. A escolha do combate ao câncer infantil como alvo da campanha, acredito, não foi à toa, e tem o poder de sensibilizar quem tem filhos.
Não acho que as instituições filantrópicas que se beneficiam da arrecadação do McDia Feliz tenham culpa. Ao que parece, são organizações carentes de verba que sucumbem à tentação de aceitar qualquer ajuda quando o maço de dinheiro é posto na mesa. No ano passado, foram R$ 13 milhões. Diante de uma criança com câncer, quem teria coragem de recusar?
Mas será que a ajuda do McDia feliz no combate ao câncer compensa o estrago que o Big Mac traz à saúde pública nos outros 364 dias do ano? Não consegui descobrir se algum sanitarista já se atreveu a fazer essa conta. Talvez não seja preciso fazê-la, se considerarmos a estratégia de limpeza de imagem do McDonald's um problema ético, e não matemático. Se a Souza Cruz revertesse parte dos seus lucros para ajudar no combate a doenças pulmonares, será que estaríamos comprando cigarros para ajudar na causa?
A maneira com que decidi "comemorar" o McDia Feliz deste ano foi fazendo uma busca rápida na internet por estudos que investigam a correlação da fast food com a obesidade e, depois, da obesidade com o câncer. Seguem abaixo links para resumos de alguns trabalhos bem interessantes (em inglês). Todos foram publicados em revistas científicas certificadas e aprovados por comitês de revisão independentes. Se alguém se lembrar de algum outro, pode postar nos comentários.
PS. Não mencionei na versão original do texto que, para quem estiver interessado, o Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) também recolhe doações diretas, fora da campanha do McDia.Clique aqui
No último dia 20, demos uma matéria sobre um biólogo que, mesmo um artigo e um livro internacional cassados por plágio, é professor de uma universidade federal e recorrentemente é convidado para dar cursos na sua área de atuação –- na qual é considerado referência (leia aqui).
A questão central dessa discussão é: o que deve acontecer com um cientista que comprovadamente copiou um trabalho, manipulou dados, roubou a ideia de um colega ou assinou um trabalho do qual não participou efetivamente?
Não existem regras claras para punição de fraude científica no Brasil. Isso significa que cada caso de má conduta é analisado individualmente pela instituição onde a fraude ocorreu (se for analisado). E pode nem haver uma "punição" propriamente dita.
Se o cientista for convidado a se retirar da universidade ou instituto de pesquisa ele ainda pode ingressar em outra instituição, como é o caso do biólogo que aparece na reportagem mencionada.
Isso acontece porque nada impede que um cientista com histórico de fraude continue atuando no Brasil. Pior: os casos de má conduta tendem a ser “abafados” pelas instituições.
E esse mesmo pesquisador-fraudador concorrerá, em novos concursos públicos, com cientistas que provavelmente terão menos publicações científicas porque trabalharam corretamente. É uma competição desigual e desonesta.
O governo tem estudado a criação de uma comissão nacional para lidar com fraudes científicas. Esse seria um primeiro passo para discutirmos abertamente esse assunto que ainda é um tabu nos corredores acadêmicos, já que parece quebrar o "mito do cientista perfeito".
“O Brasil é neurótico. Está perdendo a mão de novo”, disse-me um pesquisador que trabalha com etanol, durante o primeiro congresso internacional sobre bicombustíveis que acontece desde domingo em Campos do Jordão.
O motivo da neurose: desenvolvemos o motor flex, fizemos os consumidores voltarem a usar etanol, aprendemos a produzir esse etanol do bagaço da cana (o que é chamado de etanol de “2ª geração”), mas agora estamos sendo atropelados por outros países, como os EUA, que já produzem quase o dobro de etanol por ano em relação a nós.
Como os EUA fazem isso? “Com muito dinheiro para pesquisa”, disse Sharlene Weatherwax, do DOE (Departamento de Energia dos EUA). Isso incluiu financiamento pesado a cerca de 300 institutos de pesquisa americanos. “Convidamos pessoas de todo o mundo para fazer pesquisa com a gente”, explica.
O que precisa ser colocado no divã é que há cerca de três anos a expectativa do mercado era que a gente passasse a exportar etanol para os americanos. Mas aconteceu quase o contrário.
Nossa produção está caindo, o número de plantas novas está se reduzindo a cada ano desde 2008 e os projetos sobre biotecnologia e cana estão cada vez mais escassos. Em outras palavras: estamos perdendo a mão.
O risco disso é nos tornarmos, de novo, um vendedor de commodities. Se o preço do açúcar sobe no mercado mundial, passamos a vender açúcar. E os investimentos na tecnologia de etanol são repentinamente freados.
Os cientistas estão nervosos porque já deveríamos entrar na 3ª geração da produção de etanol, mas ainda estamos patinando na 2ª. Há pouca inovação no setor, o marco regulatório não está claro e há poucas políticas públicas que tratem da produção e consumo do etanol, eles alegam.
Muitos dos cientistas que vieram a Campos do Jordão para participar do evento da Fapesp queriam discutir com o ministro Aloizio Mercadante (MCTI) sobre as políticas para o setor. Há mais de 500 pessoas por aqui. Mas Mercadante -- que carrega a bandeira do Pré-Sal -- não veio ao evento.
Seria esse mais um sinal de que as coisas não estão indo bem com o etanol brasileiro?
De 14 a 18 de agosto, a Unicamp receberá quatro prêmios Nobel de química: Ei-ichi Negishi (Nobel em 2010), Ada Yonath (2009), Richard Schrock (2005) e Kurt Wüthrich (2002). O encontro acontece na ESPCA (Escola São Paulo de Ciência Avançada), uma iniciativa da Fapesp. O tema será sobre “Produtos Naturais, Química Medicinal e Síntese Orgânica”. De acordo com a própria Unicamp, será a primeira vez que quatro laureados estarão juntos em um evento em uma universidade do país, ao lado de outros tantos pesquisadores renomados do país –-como Simon Campbell, que coordenou a equipe que chegou ao Viagra. O que exatamente isso significa? Significa que a ciência do Brasil está aparecendo mais internacionalmente.
“Tenho ouvido que a ciência brasileira tem progredido muito. Sei que há muitos cientistas que estão vindo trabalhar no Brasil. Se isso for mantido, o Brasil poderá ser um país pioneiro em alguns anos”, disse Ada Yonath, quando a entrevistei há alguns meses em outra viagem dela ao Brasil (leia).
Esses tantos pesquisadores de fora do país vêm pra cá não só porque terão passagem e hospedagem pagas pela Fapesp. Mas porque eles querem vir para cá.
Em termos numéricos, o Brasil é 13o produtor mundial de ciência e os pesquisadores brasileiros cada vez mais circulam em corredores acadêmicos internacionais.
Mas ainda há desafios. “Um deles é a própria língua inglesa”, lembra o físico Leandro Tessler, coordenador de relações internacional da Unicamp. O inglês ainda é falado aos trancos na universidade brasileira (já escrevi sobre isso, leia aqui). E muita gente é contra cursos ministrados em inglês nas universidades brasileiras. Adianta termos quatro prêmios Nobel por aqui se não falarmos a língua deles?