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segunda-feira, 4 de junho de 2012
Brasileiros com mais de 50 anos redescobrem o prazer de estudar
Eles já são mais de 1 milhão nas universidades
POR MARIA LUISA BARROS
'Vou fazer faculdade de Jornalismo no ano que vem', diz Carlindo do Couto, estudante da Unati (Uerj), 73 anos | Foto: João Laet / Agência O Dia
Só que a aposentadoria que recebia da Marinha não era suficiente para arcar com os custos de transporte, compra de livros e alimentação. Luiz então descobriu em uma receita de família a chave que precisava para abrir as portas do Ensino Superior. Aprendeu a preparar cocadas com a ex-sogra. “Acordava às 5h para estudar e ficava até de madrugada fazendo 40 unidades, vendendo a R$ 1 cada”.
Comovidos com o esforço de seu Luiz, carinhosamente chamado de “vovô” pela turma, amigos e professores da Universidade Estácio de Sá passaram a fazer encomendas. Ele se formou no início do ano sem repetir nenhuma matéria durante todo o curso. “Tive de dar o exemplo. Moro longe e sempre cheguei no horário. Quando alguém reclamava da vida, sempre oferecia uma palavra de incentivo”, diz, orgulhoso, o novo bacharel em Direito, que agora se prepara para o concurso de delegado.
Seus passos serão seguidos pelo aposentado Carlindo do Couto, 73 anos, aluno de Rádio Web, na Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), da Uerj. Ele é um dos 2 milhões de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O ex-vendedor e ex-funcionário do Arsenal de Marinha estuda para nova carreira. “Vou fazer Jornalismo”.
Estudo na terceira idade eleva autoestima, previne doenças e melhora a depressão
Cercada por jovens da idade de seus netos, a advogada Emília Sylvia, 76 anos, que é bisavó, passa os dias entre bits, bytes e algoritmos. É aluna do curso de Ciências da Computação da Universidade Plínio Leite, em Niterói. É sua terceira faculdade. “O estudo é uma terapia para mim. Quando aprendo, descanso a cabeça”, conta a estudante.
Estudar como Dona Emília eleva a auto-estima, previne doenças e melhora a depressão, explica a psicanalista Marta Pires Relvas, da Sociedade Brasileira de Neurociência. A motivação ativa o sistema límbico do cérebro, região que está ligada às emoções e ao prazer. A ação produz substâncias como oxitocina e serotonina, que estimulam a capacidade cognitiva de pensar e de memorizar. Quanto mais se aprende, maior o número de conexões neurais que se formam. “O cérebro aprende o tempo todo. No início, há uma dificuldade normal. Mas, quando o idoso descobre que é capaz, ninguém segura. São os mais dedicados”, diz.
Comovidos com o esforço de seu Luiz, carinhosamente chamado de “vovô” pela turma, amigos e professores da Universidade Estácio de Sá passaram a fazer encomendas. Ele se formou no início do ano sem repetir nenhuma matéria durante todo o curso. “Tive de dar o exemplo. Moro longe e sempre cheguei no horário. Quando alguém reclamava da vida, sempre oferecia uma palavra de incentivo”, diz, orgulhoso, o novo bacharel em Direito, que agora se prepara para o concurso de delegado.
Seus passos serão seguidos pelo aposentado Carlindo do Couto, 73 anos, aluno de Rádio Web, na Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), da Uerj. Ele é um dos 2 milhões de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O ex-vendedor e ex-funcionário do Arsenal de Marinha estuda para nova carreira. “Vou fazer Jornalismo”.
Estudo na terceira idade eleva autoestima, previne doenças e melhora a depressão
Cercada por jovens da idade de seus netos, a advogada Emília Sylvia, 76 anos, que é bisavó, passa os dias entre bits, bytes e algoritmos. É aluna do curso de Ciências da Computação da Universidade Plínio Leite, em Niterói. É sua terceira faculdade. “O estudo é uma terapia para mim. Quando aprendo, descanso a cabeça”, conta a estudante.
O Dia Online - Educação - Histórias de quem se debruçou sobre os livros para vencer na vida
O Dia Online - Educação - Histórias de quem se debruçou sobre os livros para vencer na vida
Rio - Eles driblaram a violência e uma vida de carências. Venceram o preconceito que teima em excluir pela raça, pela deficiência e pela pobreza. Paulo, Wallace, Vanderlei e Hugo são exemplos de vida para 6,3 milhões de jovens que estão nas universidadesbrasileiras, o dobro de uma década atrás. Estímulo para jovens do Rio, estado que tem o segundo maior índice de reprovação no Ensino Médio do País. E uma lição para 46% dos estudantes que não concluem esse segmento.
Após anos a fio debruçados sobre pilhas de livros, conquistaram salvo-conduto para uma vida sem discriminação. Paulo Rangel, 50 anos, se tornou, em 2010, o primeiro promotor negro do Ministério Público nomeado desembargador do Tribunal de Justiça pelo governador. Ex-porteiro das Casas Pernambucanas, publicou seis livros e fala três idiomas: inglês, italiano e espanhol. “Não sou gênio. Só estudei mais”, ensina o professor da Uerj, aprovado em 1º lugar no concurso.
Histórias de quem se debruçou sobre os livros para vencer na vida
POR MARIA LUISA BARROS
'Fui vítima de preconceito racial, o que só me fortaleceu', Paulo Rangel, desembargador do TJ, 50 anos | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Wallace Martins, 29 anos, resistiu à guerra do tráfico na favela da Grota, onde foi morto o jornalista Tim Lopes, e se tornou engenheiro. Fez doutorado pela UFRJ e comprou um apartamento para os pais que se mudaram do Complexo da Penha para Olaria. “Sem eles não teria chegado até aqui”, agradece o jovem que leciona no Cefet.
Assim como o pesquisador da Coppe, o professor doutor em História da América Latina, Vanderlei Vazelesk Ribeiro, 42 anos, recebeu dos pais operários a força de que precisava para superar a cegueira que o acompanha desde o berço e sobreviver no elitizado mundo acadêmico. “Na universidade muitos não me queriam nos trabalhos em equipe”, recorda o mestre, aprovado em oito concursos sem reserva para deficientes. No da Rural, ficou com a única vaga, disputada por mais cinco candidatos. Na última seleção conquistou cadeira de professor doutor na UniRio, onde trabalhou na juventude como ascensorista. “Tinha certeza de que um dia voltaria numa situação melhor”.
Hugo Rodrigues dos Santos, 24 anos, ex-morador do Complexo da Maré, ainda sob domínio do tráfico, também foi o primeiro de sua família a chegar à universidade. “Minha mãe é auxiliar de serviços gerais e meu pai, que já faleceu, era caminhoneiro”, conta o técnico em edificações. Cálculos do pesquisador Marcelo Neri mostram que quem tem curso superior — mesmo que ainda não o tenha concluído — tem salário 327% maior que quem nunca frequentou escola: “Nos desculpem os céticos, mas educação é fundamental”.
Ex-morador da Maré que construiu novo futuro
Hugo viu no curso técnico para pedreiro do Senai a chance de um futuro melhor. Das obras do PAC no Complexo do Alemão para a faculdade de Engenharia Civil foi um pulo para o jovem, que pretende saltar ainda mais longe. “Quero gerenciar grandes obras”, sonha o jovem, que concilia o trabalho como instrutor do Senai com as aulas do 1º período de Engenharia. A ascensão social de jovens como Hugo é reflexo do aumento da escolaridade dos brasileiros. De 2000 a 2010, o total de pessoas sem instrução ou com o fundamental incompleto (1º ao 9º anos) caiu de 65,1% para 50,2%, enquanto o de jovens com superior completo subiu de 4,4% para 7,9%.
Ex-morador da Maré que construiu novo futuro
Hugo viu no curso técnico para pedreiro do Senai a chance de um futuro melhor. Das obras do PAC no Complexo do Alemão para a faculdade de Engenharia Civil foi um pulo para o jovem, que pretende saltar ainda mais longe. “Quero gerenciar grandes obras”, sonha o jovem, que concilia o trabalho como instrutor do Senai com as aulas do 1º período de Engenharia. A ascensão social de jovens como Hugo é reflexo do aumento da escolaridade dos brasileiros. De 2000 a 2010, o total de pessoas sem instrução ou com o fundamental incompleto (1º ao 9º anos) caiu de 65,1% para 50,2%, enquanto o de jovens com superior completo subiu de 4,4% para 7,9%.
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