terça-feira, 7 de fevereiro de 2012




28/09/2007 - 10h05
Brasil tem segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul

Bruno Aragaki
Da Redação


  • O que fazer para acabar com o analfabetismo? Opine


  • A queda de 29,1% na taxa de analfabetismo entre 1996 e 2006 não foi suficiente para tirar o Brasil do incômodo penúltimo lugar no ranking de alfabetização na América do Sul. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira, o percentual de brasileiros que não sabem ler e escrever é inferior apenas ao da Bolívia, onde a taxa de analfabetismo foi de 11,7% em 2005.

    Analfabetismo na América Latina e Caribe*
    Haiti45,2
    Nicarágua31,9
    Guatemala28,2
    Honduras22,0
    El Salvador18,9
    República Dominicana14,5
    Bolívia11,7
    Jamaica11,3
    Brasil11,1
    Peru8,4
    México7,4
    Colômbia7,1
    Equador7,0
    Panamá7,0
    Venezuela6,0
    Paraguai5,6
    Porto Rico5,4
    Belize5,3
    Bahamas4,2
    Costa Rica3,8
    Chile3,5
    Antilhas Holandesas3,1
    Argentina2,8
    Cuba2,7
    Uruguai2,0
    Trinidad e Tobago1,2
    Guiana1,0
    Barbados0,3
    Média9,95
    *Dados do Cepal 2005

    Em relação a todos os países latino-americanos e caribenhos, o Brasil também vai mal no quesito: tem o 9º pior índice do grupo.

    Mais grave ainda é a situação do Nordeste, que tem o mais elevado índice entre as cinco regiões do país. Na média, um em cada cinco nordestinos declarou que não sabe ler nem escrever um bilhete simples. Se fosse um país, o Nordeste teria o 5º pior desempenho em alfabetização da América Latina e Caribe, à frente apenas de Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti.

    Na comparação de dados de população urbana da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) com os da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) em 2005, o Brasil se saiu pior do que vizinhos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo, como Peru, Venezuela e Colômbia.

    A taxa brasileira de analfabetismo, 11,1% entre os maiores de 15 anos, ficou, em 2005, acima da média do grupo, que foi 9,95%. O número divulgado pelo IBGE referente a 2006, 10,4%, também está acima dessa linha.

    O contingente de analfabetos no Brasil acima de 15 anos, 14 milhões de pessoas, coloca o país no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria.

    O grupo é considerado prioritário para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que criou programa de metas de erradicação de analfabetismo até 2015.
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    Desempenho em matemática na rede privada é mais que dobro da pública


    25/08/2011 18h11 - Atualizado em 26/08/2011 09h05

    Prova ABC mediu quantas crianças do 3ª ano sabem somar e subtrair.

    Na escola privada, 75% atingiram mínimo esperado; na pública, 32%.

    Paulo GuilhermeDo G1, em São Paulo
    Três quartos das crianças do 3º ano do ensino fundamental das escolas particulares sabem o mínimo esperado de matemática, como as operações de somar e subtrair. Já nas escolas públicas, somente uma a cada três conhece o básico do conteúdo desta disciplina nesta série (que tem em sua maioria alunos com oito anos de idade).
    Estes dados foram apresentados nesta quinta-feira (25) na divulgação do resultado da Prova ABC, que avaliou a proficiência de 6 mil alunos de 250 escolas públicas e privadas das capitais do país. A avaliação mostrou uma diferença gritante de desempenho entre estudantes de escolas públicas em relação aos alunos de escolas particulares.
    Apenas um terço (32,58%) dos alunos da rede pública alcançou o índice de 175 pontos que corresponde ao conhecimento esperado dos alunos desta série segundo escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Já o desempenho na rede privada foi de 74,30%, mais que o dobro do índice dos alunos da rede pública. Esta escala é progressiva e vai até o terceiro ano do ensino médio (500 pontos). Na rede privada, a média foi de 211,2 pontos. Entre as escolas públicas, o desempenho foi de 158,0 pontos.
    A Prova ABC mostrou também que 25,59% dos alunos do 3º ano das escolas particulares avaliados conseguiram um desempenho de 250 pontos, o que significa um nível de conhecimento adiantado que lhes permitiram alcançar a média prevista para alunos dois anos mais velhos, do 5º ano. Já entre as crianças de escola pública, somente 3,49% conseguiu tal desempenho (veja quadro abaixo).
    Distribuição nos níveis em % na escala Saeb de matemática (redes pública e privada)
    Até 75 pontosAté 100 pontosAté 125 pontosAté 150 pontosAté 175 pontos (1)Até 200 pontosAté 225 pontosAté 250 pontos (2)Até 275 pontos
    BRASIL98,9492,7880,4663,0942,8326,9614,748,923,94
    Rede pública98,6490,6875,7055,0932,5817,037,123,490,98
    Rede privada99,8799,2595,6987,6774,3057,4438,1725,5913,02
    (1) Média esperada para estudantes do 3º ano do ensino fundamental
    (2) Média que se espera obter no 5º ano do ensino fundamental

    Fonte: Prova ABC; Todos Pela Educação; Ibope; Fundação Cesgranrio; Inep
    'Sobe um e empresta um'
    A prova exigiu dos alunos fazer soma de números com diferentes quantidades de algarismos, inclusive adições que exigiam o famoso “sobe um” (como por exemplo, a soma de 15 + 18, no qual a adição das unidades “cria” uma terceira dezena).
    O mesmo foi exigido para subtrações que exigiam um conhecimento mais específico (por exemplo, 40 – 18, no qual não se pode fazer uma subtração simples das unidades 0 e 8). A prova exigiu ainda a resolução de problemas como o cálculo do troco na compra de um objeto; o uso de unidades de medidas padronizadas (litro); a identificação da quantidade de lados de um polígono; a sequencia de números múltiplos de três (3, 6, 9, 12...)
    'A culpa não é da criança', diz especialistaA Prova ABC foi organizada pelo Todos pela Educação em parceria com o Instituto Paulo Montenegro /Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A prova também mediu os conhecimentos das crianças em leitura e escrita.
    Diante dos resultados, a diretora executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, destacou a importância principalmente das prefeituras em investir na educação básica de suas escolas. “A culpa não é da criança. Ela tem o direito de ter 100% do conhecimento. Sem a garantia desse direito dificilmente teremos condições de universalizar a aprendizagem nas demais séries da educação básica”, diz Priscila.
    Para o professor Ruben Klein, consultor da Cesgranrio, é urgente a necessidade de se promover políticas públicas de incentivo a aprendizagem de matemática desde a alfabetização. “Esses dados apontam que os baixos desempenhos em matemática apresentados nas pesquisas feitas com alunos que estão terminando o ensino fundamental e, posteriormente, o ensino médio, já começam a serem traçados nos primeiros anos da vida escolar.
    Klein salienta que alfabetização não é apenas saber ler e escrever, mas também saber fazer contas de somar e dividir. Na opinião do consultor, a formação de professores que trabalha na rede pública também prejudica o desempenho dos alunos. “Muitos desses professores fizeram o curso de pedagogia e eles próprios não aprenderam matemática corretamente. Dizem que têm como missão ensinar a ler e a escrever. Trabalhar com matemática é uma dificuldade para eles.”
    Média de pontos em matemática e percentual de alunos que aprenderam o esperado para o 3º ano

    Rede públicaRede privada
    Média
    RegiãoPontosPercentualPontosPercentualPontosPercentual
    BRASIL158,0(32,6%)211,2(74,3%)171,1(42,85%)
    Norte145,4(21,9%)196,7 (67,7%)152,6 (28,3%)
    Nordeste148,9(25,2%)186,9(54,7%)158,2 (32,4%)
    Sudeste161,9(35,6%)224,2(80,6%)179,1(47,9%)
    Sul171,3%(44,5%)224,9 (86,3%)185,6 (55,7%)
    Centro-Oeste167,1(40,6%)204,2 (78,9%)176,5(50,3%)
    Fonte: Prova ABC; Todos Pela Educação; Ibope; Fundação Cesgranrio; Inep
    Aprendizado sequencial
    Para Elon Lages Lima, pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), o aprendizado da criança com os números e as operações matemáticas são a base para uma boa educação e organização de métodos de aprendizagem. “Para estudar matemática precisa de certos hábitos de disciplina, organização, interesses e organização”, destaca Lima.
    “Estudo da matemática requer esses hábitos. É um estudo sequencial. No estudo de história o aluno pode errar ao dizer que Cristóvão Colombo descobriu o Brasil, mas pode aprender que Dom Pedro I proclamou a Independência. Agora, em matemática, se a criança não souber somar ou subtrair não vai aprender a multiplicar e dividir. E não vai aprender as equações exigidas nas séries seguintes.”
    Leal também vê no investimento na formação dos professores um problema crônico da educação brasileira. “As escolas públicas são mal remuneradas, professores são os que se submetem a salário aviltante. Mesmo assim, para se saber a matemática elementar não é preciso nenhum dom especial.”
    Em nota, Malvina Tuttman, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação, afirma que "a Prova ABC mostra qual é o estágio do processo de alfabetização do país e desafia o MEC a investir mais ainda nos três primeiros anos do ensino fundamental com o objetivo de cumprir a meta do Plano Nacional de Educação".