sábado, 25 de agosto de 2012


Copa do Mundo no Brasil: evento global e 
desenvolvimento local
1-Reginaldo Gonçalves do Amaral
2-Iragildo Silva Pereira
3-Adriano de Souza Santana

Resumo: 
O presente trabalho busca discutir a realização da Copa do Mundo 
no Brasil em 2014, por se tratar de um fenômeno “glocal” e devido a um 
possível aquecimento na economia do país. A discussão abordará questões de 
ordem regional, na perspectiva de que os investimentos sejam destinados para 
as cidades-sede dos jogos e para os municípios de pequeno e médio portes, 
cujo potencial agrega condicionantes para o bom andamento da competição 
e salvaguarda a marca Brasil perante o mundo. Um desses lugares é Vitória da 
Conquista que, pelo seu acelerado crescimento econômico-social nos últimos 
anos, provavelmente servirá de base para a pré-temporada de uma das seleções 
do grupo que a cidade de Salvador abrigará.     


Palavras-chave:  Copa do Mundo no Brasil. Desenvolvimento local. Crescimento local. 
Vitória da Conquista na Copa.



1 Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Professor do curso de Comunicação Social da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória da Conquista. E-mail: reginaldog.amaral@ig.com.br. 

Bacharel em Direito. E-mail: gildospereira@yahoo.com.br.


Bacharel em Administração. E-mail: adrianodesouzasantana@hotmail.com



Abstract: This paper aims firstly discurse about the realization on the World 
Cup in Brazil in 2014, because it is a phenomenon “glocal” owing to large 
capacity of  mobilization that will happen around the local economy, a nation 
called Brazil. Second, analyze issues of  regional order, from the possibility of  
democratization of  investment, whether public or private, both in host cities 
of  the games as in cities small and medium that have the potential to add 
constraints to the effective conduct of  the competition and insure the Brazil 
brand to the world. For this, we chose Vitoria da Conquista city because of  its 
process of  economic and social growth in recent years, which possibly serve 
as a basis for pre-season of  one of  the football teams raffles for the group that 
will house the city of  Salvador.
Keywords: World Cup in Brazil. Local development. Local growth. Vitória da 
Conquista in the World Cup.

Introdução
No ano de 2010 a Copa do Mundo de Futebol aconteceu, pela 
primeira vez, na África do Sul. Em 2014, o Brasil sediará os jogos pela 
segunda vez na história. Para melhorar a infraestrutura do país, ampliar a 
rede hoteleira, reformar e construir estádios, por exemplo, a expectativa 
é de que os setores público e privado invistam bilhões no considerado 
“país do futebol”.     
O foco deste artigo é fomentar a participação de cidades de 
pequeno e médio portes na Copa do Mundo de Futebol. Desse modo, é 
importante saber de que modo tais municípios poderão ser beneficiados 
com a construção de aeroportos, rodovias, ampliação dos sistemas de 
transporte coletivo, ações de reforço na segurança pública e demais 
medidas que garantam não apenas o bom acolhimento dos turistas 
estrangeiros, mas também produzam um fôlego maior na economia 
brasileira.
Além disso, e uma vez que apenas 12 capitais sediarão os jogos 
oficiais, há uma expectativa em torno da distribuição das seleções pelo 
país. E mais: se os investimentos para a realização da Copa sairão 
do montante arrecadado de tributos, os benefícios dessas aplicações 
abrangerão os estados ou apenas as cidades-sede?  


A capital baiana foi escolhida como uma das sedes de grupo e 
acolherá quatro seleções de futebol, cujos nomes serão divulgados após 
os sorteios das chaves da competição. No entanto, não se conhece o 
destino dos investimentos para a Copa do Mundo, isto é, se apenas as 
capitais (Salvador, por exemplo) receberão benfeitorias ou se haverá 
um planejamento para que outras localidades se favoreçam com 
esse acontecimento. Buscaremos entender neste artigo se Vitória da 
Conquista terá algum proveito com o maior evento esportivo do planeta 
e por ser o futebol o esporte mais popular do país, com lugar de destaque 
no município como forma de entretenimento.
É importante destacar que a Bahia foi o estado que mais atraiu 
turistas brasileiros em 2009. No entanto, para sustentar esse status 
precisa de investimentos e isso inclui, obviamente, Vitória da Conquista, 
principal município da região sudoeste do Estado, conhecido como a 
Suíça baiana.        
Com pouco mais de 320 mil habitantes, e considerada de médio 
porte, Vitória da Conquista atende a 80 cidades da região sudoeste e 
outras do norte de Minas Gerais, totalizando mais de dois milhões 
de habitantes. O município reúne um dos melhores indicadores de 
crescimento socioeconômico do Estado, com destaque nacional. 
Tornou-se cidade polo na oferta de serviços, principalmente nas áreas 
de saúde e educação, consequência da expressiva economia local e do 
bom momento que o país enfrenta. Além do mais, possui um clima 
ameno, atributo que a deixa mais atrativa e com condição de acolher, em 
especial, as seleções de países localizados acima da linha do Equador, 
aqueles que geralmente possuem um clima mais frio.  
A partir deste ano o Brasil estará mais exposto em todas as 
partes do mundo, em primeiro lugar, por ter conquistado o direito de 
sediar a Copa em 2014 e, em segundo, pelo fato de as Olimpíadas em 
2016 serem realizadas no Rio de Janeiro. Com isso, crescem também as 
perspectivas de condicionantes para o país que se tornou uma potencia 
de âmbito mundial e que não pode perder a oportunidade de atrair mais 
investimentos e recursos para oferecer melhor qualidade de vida aos 
brasileiros a longo prazo. 


Antes de falarmos de Copa do Mundo e desenvolvimento local é 
importante analisar a condição de Vitória da Conquista, parte do objeto 
de estudo deste artigo, a partir de alguns conceitos atribuídos à Policy 
Analysis, em especial Politics e Polity. Conforme Frey (2000), é necessária a 
realização de levantamentos primários sobre essas duas dimensões para 
os estudos de políticas públicas de ordem municipal. Sobre a terceira 
dimensão política, Policy, Frey (2000, p. 217) diz que “refere-se aos 
conteúdos concretos, isto é, à configuração dos programas políticos, 
aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas”.
No tocante à dimensão política processual Politics que, segundo 
Frey (2000, p. 216-217), “tem-se em vista o processo político, 
frequentemente de caráter conflituoso, no que diz respeito à imposição 
de objetivos, aos conteúdos e às decisões de distribuição”, ao que parece, 
não oferece maiores dificuldades para a cidade de Vitória da Conquista, 
pois a gestão municipal não encontra resistências para aprovação de 
projetos no poder legislativo.
Partindo da análise de governabilidade vertical, de cima para 
baixo, Conquista comunga com as administrações federal e estadual 
das mesmas objeções, uma vez que todas as esferas são governadas 
pelo mesmo partido político, e, caso haja algum ruído ou interferência 
na comunicação entre as esferas, isso pode facilmente ser contornado. 
Quando verificada horizontalmente, a gestão municipal também não 
enfrenta maiores dificuldades em aprovar projetos e leis municipais no 
poder legislativo.
Outro conceito importante da dimensão institucional,  Polity, 
“se refere à ordem do sistema político delineada pelo sistema jurídico, 
e à estrutura institucional do sistema político-administrativo” (FREY, 
2000, p. 216). 
Ao traçar um paralelo a partir do quadro geral do tempo, a primeira dimensão,
Polity, pode ser caracterizada como o tempo passado, é a ordem delimitada em
momentos anteriores e naturalmente praticadaem nossos dias. A segunda,
Politics, é o presente, configurada pela atual gestão municipal e sua capacidade
de resolução de conflitos em prol dos objetivos e conteúdos outrora decididos. 
E, finalmente, a  Policycomo um devir, indicaria o futuro, o vir a ser atribuído
aos programas políticos, suas dificuldades e potencialidades que visam os benefícios 
que um grande evento como a Copa do Mundo pode oferecer à cidade.
Para entendermos os direcionamentos da política municipal, Frey 
(2000, p. 221) alerta-nos sobre a importância dos “arranjos institucionais, 
as atitudes e objetivos dos atores políticos, os instrumentos de ação e 
as estratégias políticas.” O autor comenta:
Isso significa, para a “policy analysis”, no contexto brasileiro, 
levando em conta a situação política e social específica do 
país, que é preciso analisar as instituições para saber se elas 
realmente exercem um papel importante e decisivo nos 
processos de formação de vontade e de decisão, e, se não, quais 
as consequências disso para o processo político em geral (FREY, 
2000, p. 249 apud O’DONNELL, 1991, p. 27).
As discussões acerca de uma possível participação de Vitória 
da Conquista, como sede de uma das seleções em treinamento, não se 
tornaram públicas, mas há esperança de que seja elaborado um plano 
estratégico para o município se tornar uma sede da pré-temporada para 
a preparação de alguma equipe. 
2 A Copa do Mundo como fenômeno “glocal”
Criada em 1928 pelo francês Jules Rimet e organizada pela 
Federation International Football Association (FIFA), a Copa do Mundo 
figura como o maior acontecimento esportivo do mundo. Trata-se de 
um evento itinerante, realizado de quatro em quatro anos e que teve sua 

 “Neologismo resultante da junção dos termos global e local. 
O plasma semântico, 
sem sutura 
visível, entre eles faz do glocal alternativa de terceira grandeza,

não 
redutível à mera somatória 
daqueles, tampouco a um ou a outro, isolados. 
Na nova 
via, global
e local são um e mesmo e, 
simultaneamente, nenhum; globalização 
(ou globalismo) e localização
(ou localismo) restam dissolvidos.” (TRIVINHO, Eugênio. 
Comunicação, glocal e cibercultura:
bunkerização da existência no 
imaginário mediático 
contemporâneo. 2005. 
Disponível em: < http://www.compos.org.br/data/
biblioteca_634. pdf>).  

 primeira edição em 1930 no Uruguai. Entre os anos de 1942 e 1946, a
competição foi suspensa em função da Segunda Guerra Mundial.
A Copa do Mundo é aqui caracterizada como um fenômeno
“glocal” porque pode ser adequada a qualquer país e simultaneamente
acompanhada por uma grande parcela da população mundial. Ao
efetivar-se na África, o evento cumpre um importante papel social,
ou seja, foi realizado em quatro dos cinco continentes do mundo,
experimentando diversas culturas e sempre trazendo, na mais recente
edição, a condição de melhor evento do que a edição anterior.            
Pelo fato de ser um fenômeno “glocal”, realizado a cada quatro
anos em locais escolhidos e planejados, a Copa permite que se faça um
paralelo entre os países onde ocorre o mundial, sejam eles desenvolvidos
ou não, ou melhor, sejam elas sociedades tradicionais, transicionais
ou modernas. Assim, torna-se fácil estabelecer uma ponte entre o
planejamento desenvolvimentista e a capacidade dos governos para
implementá-lo.
Martins (2004, p. 40) destaca dois problemas referentes à gestão
para o desenvolvimento:
[...] dois problemas básicos – tanto da perspectiva empírica
quanto da teórica – da administração para o desenvolvimento.
Primeiro, no que se refere aos  fins, constata que a visão de
futuro dos países subdesenvolvidos é a imagem e semelhança
dos países desenvolvidos. Nesse sentido, a administração para
o desenvolvimento estaria buscando mapear as diferenças
e os obstáculos na conversão de sociedades tradicionais
em transicionais e, sucessivamente, modernas (os países
desenvolvidos). Segundo, no que se refere aos meios, constata que
a forma básica de promover a capacidade de governo consiste
em implementar um padrão de burocracia governamental
ortodoxa, orientada para a eficiência e eficácia, refletindo um
deslumbramento pela evolução das concepções de gestão dos
países desenvolvidos. 

Motta (1972, p. 49) vai além dessa constatação e explicita:

 Fora os novos padrões de eficiência, eficácia e efetividade
que estas novas estruturas não hierárquicas possam vir a
conseguir, é de se ressaltar ainda outros aspectos normativos
da não hierarquia, este é um valor altamente difundido entre os
recentes teóricos da administração. [...] a boa organização é a
organização menos hierárquica, capaz de criar maior satisfação
e autorrealização e eficiência entre os seus membros.
A Copa do Mundo de Futebol é exemplo disso, um projeto
gigantesco, cuja organização não obedece a uma ordem hierárquica.
Ou seja, o comitê organizador, os governos (federal, estadual,
distrital e municipal), a Confederação Brasileira de Futebol, os
clubes, os investidores privados, todos têm conhecimento de suas
competências e possuem atribuições bem definidas para o sucesso da
competição.      
O autor sugere, portanto, uma organização menos hierárquica,
comprometida com o planejamento e implementação de grandes
projetos, “a descentralização administrativa em larga escala poderia ser
uma fonte de efetividade das organizações públicas” (Idem, ibidem:
50). Essa descentralização, ainda segundo Motta (1972, p. 50), está
centrada nas “facilidades de comunicação e relativa homogeneidade
geoeconômica e cultural”.

3 Os responsáveis pelo fenômeno “glocal”

Por ser um evento mundial, um espetáculo de alto nível que
chama a atenção de milhares de turistas de todo o mundo, a Copa
requer vultosos investimentos. Portanto, a proposição do evento é
a de um empreendimento privado, diferente das Olimpíadas, outro
megaevento em que o principal investidor é o próprio governo a partir
de seu planejamento organizacional, parcerias, patrocínios etc.
A Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA),
dirigente das associações de futebol, não recebe recursos públicos
para a realização do evento. A Copa do Mundo é bancada por meio
 de aportes da Instituição e patrocinadores da rede privada. O comitê
da Copa, ligado à FIFA, é incumbido de fiscalizar o cumprimento das
metas anteriormente estipuladas.
A responsabilidade do governo recai sobre os investimentos
em infraestrutura, principalmente a que envolve locomoção, como
aeroportos, rodovias, transporte coletivo etc. A partir do planejamento,
o gestor decide como e onde efetuar tais investimentos, firma parcerias
e faz licitações, por exemplo, para atender às exigências do comitê
organizador.  
Além dos aportes da FIFA, dos patrocinadores privados
(nacionais e internacionais) e dos recursos públicos, os clubes de futebol
que possuem estádios selecionados para o evento deverão reformar
ou construir novos estádios segundo as exigências do comitê como,
por exemplo, observar a capacidade mínima de assentos, numerá-los
devidamente e não utilizar nome de patrocínio nos estádios. Tais
investimentos podem ser feitos pelo próprio clube, por meio de parcerias
ou investidores, desde que atendam as especificações do comitê.
Outra questão importante diz respeito às pessoas que irão
trabalhar no Mundial. Já sabemos que a Copa será financiada por meio de
patrocínios, pela venda dos direitos de transmissão dos jogos aos diversos
países, pela venda de ingressos etc, no entanto, se fosse necessário
bancar todo o pessoal para trabalhar no evento seria financeiramente
inviável. Desse modo, a FIFA vai escolher voluntários para ajudar o
comitê organizador em eventos especiais e estádios e para auxiliar os
espectadores das partidas e turistas.
Na penúltima edição da Copa do Mundo, na Alemanha,
integrantes do comitê organizador afirmaram que sem os voluntários
seria impossível promover o Mundial e obter sucesso na sua organização.
Martins (2004, p. 46) sintetiza o esforço de todos os setores
da sociedade e comenta que a solução para um estado eficiente “seria
haver menos Estado e mais mercado e sociedade”. No caso do projeto
Copa do Mundo é isso que acontece, a participação mínima do Estado
e maior participação de investidores privados, de corpo voluntariado e

do terceiro setor, que correspondem à participação social efetiva e direta
na concepção do evento, enquanto a participação indireta, socialmente
falando, está subordinada a aceitação do projeto e de seu consumo antes
e durante a sua realização no país.  
O autor explica melhor esse padrão de governabilidade participativa
e afirma que nem sempre se trata de uma agenda com viés somente
positivo, principalmente quando se trata de países da América Latina.
A implementação desse padrão de Estado mínimo consistia
em processos de redução do Estado segundo orientação
predominantemente fiscal, via redução de despesas (cortes e
contingenciamentos orçamentários), de organizações (mediante
variadas formas de desestatização, tais como: privatização,
devolução, descentralização, parceirização etc.) e de quadros
funcionais (enxugamento, terceirização, voluntarismo etc.). A
implementação do Estado mínimo consiste em uma agenda
negativa, de desconstrução (MARTINS, 2004, p. 46)
Motta (1972, p. 49), por sua vez, destaca a importância da
participação a partir da não hierarquia em uma organização pública.  
A participação na teoria organizacional tem sido vista em duas
perspectivas. Em primeiro lugar, a gerência participativa significando
o envolvimento dos grupos internos e funcionários de níveis
hierárquicos mais baixos no processo decisório. Em segundo
lugar, a administração participatória, significando o envolvimento de
clientes e de outros grupos de fora da organização na tentativa
de alcançar efetividade nas organizações públicas.
O autor segue com suas ideias sobre a participação em
organizações flexíveis, necessária no combate a eventuais turbulências,
e argumenta:
[...] a administração participatória pode servir para contrabalancear
o peso da centralização, da hierarquização e da tecnoestrutura,
criada em burocracias, cada vez mais comprometidas com o
planejamento nacional e com a implementação de grandes
projetos governamentais (MOTTA, 1972, p. 50).

Embora a Copa do Mundo não constitua um grande projeto
governamental, a forma como o evento é concebido nos mostra de
forma muito clara como uma organização, seja ela pública ou não, deve
planejar, executar e controlar os seus projetos a fim de atingir a eficácia
e eficiência esperadas pelos usuários e pela população em geral.      
4 Estatísticas do projeto Copa do Mundo
O planejamento é a chave para o bom êxito de qualquer
empreendimento e a Copa do Mundo não foge à regra. Desse modo,
se o planejamento for bem executado e as responsabilidades divididas,
certamente o resultado será positivo. Mas, afinal, quais as vantagens do
Brasil em promover a Copa do Mundo?
Os economistas internacionais já disseram que a competição
beneficiará o nosso país. Para entender essa afirmação, voltemos à Copa de
2002, ano em que o Japão organizou o evento em conjunto com a Coréia
do Sul. Aquele foi um momento grave de recessão econômica mundial,
de guerra ao terrorismo e de conflitos no Oriente Médio. Mesmo assim,
estima-se que a Copa contribuiu para o aumento de 0,6% ao PIB japonês
e 2,2% ao PIB sul-coreano. Em 2006, na Alemanha, o aumento estimado
foi de 0,5% do PIB e neste ano, na África, espera-se um acréscimo de
aproximadamente US$ 3,5 bilhões ao PIB sul-africano. Dessa soma, US$
1,2 bilhões vão para o governo em forma de impostos extras.
Na verdade, as vantagens de um país que serve de sede para
um evento dessa magnitude começam bem antes da competição
propriamente dita. O Brasil vem sendo beneficiado, pois, desde 2008
quando foi anunciado que o país irá sediar o Mundial em 2014, a marca
`Brasil` está exposta e goza de boa imagem e reputação. Após a copa
de 2010, na África, essa exposição se tornará mais ampla, e o Brasil
começará, a partir daí, a receber mais turistas de todo o mundo, todos
querem saber o que o país que conseguiu se tornar sede de dois dos
maiores eventos esportivos do mundo tem a oferecer, quais são seus
costumes, hábitos, cultura etc.

Em 2006, na Alemanha, quase 3,5 milhões de pessoas do
mundo assistiram aos jogos nos estádios, enquanto cerca de 19 milhões
acompanharam as partidas pelos telões instalados nas praças públicas.
Para se ter uma ideia do montante dos gastos, foram investidos US$
5 bilhões no evento, aproximadamente US$ 1 bilhão foi gasto na
construção e reforma de sete estádios e somente nas vendas dos
ingressos para os jogos o faturamento foi de 3,7 bilhões de dólares.
Com isso, estima-se que a indústria do turismo tenha crescido 19% e
criado 40 mil empregos permanentes.
Segundo a FIFA, os jogos da Copa da Alemanha foram
transmitidos para 240 países por 500 emissoras de TV de todo o mundo,
atingindo 30 bilhões de espectadores. Na Copa da África, a previsão é
de que surjam 170 mil empregos, com 2,7 milhões de torcedores nos
estádios, garantindo um faturamento de US$ 2,1 bilhões.
Outra indústria que sempre se beneficia com a Copa é a de
televisores. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos
Eletroeletrônicos – Eletros – em 2002, foram vendidos 4,9 milhões de
aparelhos. Em 2006, o número de unidades comercializadas chegou a
10,8 milhões.      
No Brasil, em 2014, a expectativa é de que ocorra um forte
impacto na economia e que esse efeito perdure por muito tempo. Na
proposta entregue à FIFA pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
consta que serão gastos US$ 1,1 bilhões na reforma e construção de
estádios e investidos de 5 a 10 bilhões de dólares. A indústria do turismo
espera receber 500 mil turistas estrangeiros e, assim, aquecer a economia
do país, gerando uma receita que pode chegar a 20 bilhões de dólares.
Esse é, portanto, um momento que não deve ser menosprezado.
5 Como está a Suíça baiana
Vitória da Conquista constitui, hoje, um pólo na prestação de
serviços, principalmente nas áreas de educação e saúde. O potencial da
cidade contamina outros segmentos da economia, como o comércio 208                                                                                          

e a construção civil. Além disso, mantém o crescimento local e garante
as bases para que o município se torne uma capital regional.
Desenvolvimento local significa:
[...] um processo endógeno registrado em pequenas unidades
territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o
dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da
população. Representa uma singular transformação nas bases
econômicas e na organização social em nível local, resultante
da mobilização das energias da sociedade, explorando as suas
capacidades e potencialidades específicas (SANTOS, 2006, p.
59 apud BUARQUE, 2001, p. 14).
Uma das condições para o desenvolvimento local está no
processo endógeno de crescimento e consumo e Conquista cumpre
essa proposição, uma vez que os serviços oferecidos atendem não só as
suas demandas, mas também as das regiões sudoeste da Bahia e norte
de Minas Gerais.
A longa distância entre essas regiões e as respectivas capitais, que
teoricamente ofereceriam melhores serviços em educação e saúde do
que as cidades do interior, beneficia Vitória da Conquista, que supre uma
lacuna ao oferecer serviços essenciais e, consequentemente, fortalece o
desenvolvimento regional.
[...] a estratégia de desenvolvimento local pressupõe que as ações
baseadas nas condições de cada localidade e região e que tratam
de utilizar eficientemente as potencialidades de desenvolvimento
devem ser combinadas com as políticas setoriais e regionais que
propiciam as administrações centrais com o fim de fornecer a
reestruturação produtiva e a mudança estrutural da economia.
Portanto, de acordo com a estratégia do desenvolvimento local,
as economias locais e regionais estão integradas no sistema
econômico nacional e internacional e que, por conseguinte, os
seus problemas são sempre problemas nacionais, devido ao fato
de que os sistemas produtivos regionais e locais são componentes
dos sistemas nacionais (SANTOS, 2006, p. 59).

De fato, o crescimento de Vitória da Conquista é sustentado por
programas de forte impacto, implementados pelo governo federal, como
os programas de fomento à pesquisa e educação, planos de diminuição do
déficit habitacional e garantia de melhoria de renda da população, fatores
que contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população.  
 
5.1 Educação
Atualmente Vitória da Conquista reúne um considerável número
de instituições de ensino de boa qualidade. Esses estabelecimentos
oferecem cursos que atendem à Educação Básica (ensinos fundamental
e médio), cursos técnicos, profissionalizantes, preparatórios para
vestibulares e concursos e Educação Superior. Aqui, merecem destaque
instituições públicas como a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB), o Instituto Federal de Tecnologia da Bahia (IFBA) e o campus
da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para enriquecer o quadro de instituições que promovem o
conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, surgiram
também algumas faculdades particulares, uma iniciativa de empreendedores
locais. Duas delas se originaram de tradicionais estabelecimentos de ensino
da cidade, como a Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR),
proveniente do Colégio e Curso Pré-vestibular Opção e a Faculdade
Juvêncio Terra (FJT), extensão do Colégio Juvêncio Terra.
Vitória da Conquista conta ainda com a Faculdade de Tecnologia
e Ciência (FTC), uma das maiores redes de ensino superior particular
do país e talvez a principal da Bahia, visto que está presente em
cinco importantes municípios do Estado. Também se estabeleceram
na Suíça baiana algumas universidades e faculdades particulares, de
alcance nacional, representantes da modalidade Educação a distância
(EAD), como: EADCOM, FACINTER, PROGRAD, UNIFACS e
UNOPAR. Em 2011 mais uma instituição de ensino superior será
instalada na cidade, a Faculdade Santo Agostinho, cuja sede está em
Montes Claros-MG..

Na Educação Superior, os principais cursos oferecidos
concentram-se na área da saúde. São diversos cursos de graduação e
pós-graduação que formam profissionais para atender à região e credita
Conquista a se tornar um polo também nessa área.
5.2 Saúde
Outro consumo doméstico que merece consideração é o número de
usuários do sistema de saúde do município, seja ele público ou particular.
A cidade possui o maior hospital público da região, o Hospital
Geral de Vitória da Conquista - HGVC, referência nos atendimentos
de urgência e emergência. O estabelecimento é preparado para atender
a casos de endemias, como gripes, meningites, dengue, além de realizar
diversos tipos de cirurgias, ultrapassando 350 procedimentos por mês,
nos quais se inclui a captação de órgãos para transplantes em Salvador.
O destaque vai para o hospital Samur, um dos mais tradicionais
de Vitória da Conquista. Na última visita do Presidente da República
à cidade, uma ala inteira do hospital foi preparada para, caso houvesse
necessidade, atender ao Presidente.
O sistema de saúde municipal é formado por uma ampla rede de
hospitais e clínicas especializadas nas mais diversas áreas e conta com um
helicóptero UTI, disponibilizado por uma rede de convênios. O sistema
dispõe de cerca de 500 médicos residentes e que também trabalham em
outros municípios da região.
5.3 Infraestrutura
Quanto à possibilidade de Vitória da Conquista poder atuar
antes, durante e após a Copa do Mundo, parece-nos que é viável,
principalmente se ela for preparada para tal nesses quatro anos. Como
foi dito anteriormente, a cidade conta com uma boa estrutura na área da
saúde, mas não possui as instalações necessárias para receber um grande
número de turistas de uma só vez. Como a maioria dos municípios

brasileiros de médio porte, precisa avançar em outros quesitos: dispor
de um aeroporto que atenda à demanda da região; ampliar e melhorar
o sistema rodoviário, o setor hoteleiro e as redes de água e energia;
implantar um programa de mobilidade urbana; investir em sistemas de
transporte de informações, internet banda larga, ou seja, em tecnologias
avançadas que garantam melhor segurança e agilidade aos usuários.
Quanto à tradição em futebol, Vitoria da Conquista é sede de
duas equipes de futebol profissional. O Esporte Clube Primeiro Passo
Vitória da Conquista (ECPP), clube que participa da primeira divisão do
Campeonato Baiano e o Serrano Esporte Clube que conseguiu o acesso
à primeira divisão do Campeonato Baiano de 2011. Os jogos dos clubes
acontecem, geralmente, no Lomanto Júnior, estádio municipal aprovado
em vistoria realizada pela Federação Baiana de Futebol por apresentar
boas condições de uso. Os clubes contam com torcidas apaixonadas,
cantantes, muito organizadas e presentes em todos os jogos das equipes.      
6 Considerações finais
É sabido que desenvolvimento local não está relacionado a
crescimento local. O desenvolvimento alcança determinados segmentos,
geralmente, com o favorecimento de poucos. O crescimento local, por
sua vez, beneficia uma parcela maior ou toda a população, permitindo
assim uma melhor distribuição de renda. O desenvolvimento pode
promover a descentralização concentrada. O crescimento planejado
pode e deve inserir-se nas questões econômicas locais, regionais,
nacionais e mundiais, o que permite ciclos mais longos de crescimento
coordenados a partir do “comprometimento com a eficiência, a eficácia e
a efetividade” (MOTTA, 1972, p. 52) no desenvolvimento de programas
e projetos.
Entender esse “comprometimento” torna-se possível quando
Martins (2004, p. 53) fala das relações entre programas e organizações,
sejam elas públicas ou não.

A chave da organicidade e da flexibilidade do modelo de gestão
por programas está nesse intrincado relacionamento ‘programasorganizações’ (fins e meios). A concepção de modelos efetivos
de gestão por programas demandará uma avaliação precisa
da capacidade das organizações envolvidas para alcançar os
resultados propostos, o que implicará, por sua vez, implementar
planos de melhoria institucional, centrados na geração de
resultados. Não obstante, a gestão por resultados requer foco
(a gestão intensiva de uma carteira prioritária por programas),
mecanismos e instrumentos de acompanhamento e avaliação
– dotados de centralidade, seletividade e temporalidade –, e
modelos contratuais de pactuação de resultados, com base em
incentivos claros.
É necessária, aqui, essa citação de Martins para salientar que um
megaprojeto como a Copa do Mundo precisa de programas devidamente
planejados, executados e constantemente avaliados pelos envolvidos.
Até 2014 teremos duas eleições, uma de âmbito federal e estadual, agora
em 2010, e outra de âmbito municipal em 2012. Portanto, é sempre
bom lembrar que a mudança de gestores, em qualquer esfera, pode
prejudicar os programas em andamento. Daí a preocupação idêntica
à de Martins, que declara: obter bons resultados “requer foco” por
parte das instituições envolvidas, especialmente quando se trata de um
projeto a ser executado em 2014, e nesses quatro anos poderão ocorrer
mudanças no cenário político.
Outro ponto é quanto à “pactuação” para obter esses resultados,
algo que nos remete à participação de toda a sociedade. Estamos falando
da Parceria Público-Privada (PPP) contrato administrativo de concessão,
na modalidade patrocinada ou administrativa, modalidade de grande
aceitação quando se trata de resolver alguns gargalos, principalmente
de infraestrutura dos municípios tratados neste artigo.
Vitória da Conquista não chama a atenção de turistas, ao contrário
de outras cidades da região, como Livramento de Nossa Senhora e
Rio de Contas que dão acesso à Chapada Diamantina. No entanto,
Conquista possui atrativos que coincidem com o período da Copa: os
festejos de São João e o Festival de Inverno Bahia. O Festival acontece

todos os anos no mês de agosto, mas poderia ocorrer num período mais
interessante, do ponto de vista de visibilidade da festa e da cidade e do
ponto de vista financeiro.  
Vitória da Conquista não conta com praias, ecoturismo ou pontos
históricos de projeção nacional, mas pode tornar-se um polo de eventos
ligados à ciência e à cultura. Ciência em razão das instituições de ensino
superior que fomentam estudos e pesquisas, condição propícia para
eventos científicos de qualquer natureza. Cultura por reunir um público
com alto potencial de consumo, música, teatro, cinema, dança e outras
manifestações da cultura popular, afinal, é a terra onde nasceu um dos
principais cineastas do país, ator e escritor - Glauber Rocha.
Conquista destaca-se como cidade polo na prestação de serviços
por possuir empresas com interesses em comum, uma das premissas
para a sustentabilidade do desenvolvimento e também do crescimento
local. Mas o município também padece os mesmos problemas das
cidades brasileiras de médio porte. São questões relativas à segurança
pública, transporte e logística, saneamento básico, energia elétrica,
telecomunicações etc. que devem ser discutidas e resolvidas, pois as
vantagens irão além da Copa do Mundo de 2014.
Esperamos que os investimentos para a realização da Copa de
2014 no Brasil proporcionem melhor qualidade de vida a todos ou à
maioria da população brasileira nos mais diversos municípios. Como
diz Mário Quintana: “democracia é dar a todos o mesmo ponto de
partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”. Daí a
importância de se pensar em sustentabilidade, desenvolvimento e
crescimento local após a Copa do Mundo.                              
 
Referências
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benéfico ao país. O Estado de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em:
<http://blogdofavre.ig.com.br/2007/10/copa-do-mundo-de-futeboltem-estimativa-de-receita-de-us-10-bi/>. Acesso em: 02 mar. 2010.









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disciplina em busca da relevância. Revista de Administração Pública, Rio
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Sites consultados
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www.eletros.org.br/
www.ibge.gov.br
www.sei.ba.gov.br
www.ecppvitoriadaconquista.com.br
www.fbf.org.br
Recebido em: agosto de 2010
Aprovado para publicação em: fevereiro de 2011








Aviso de redirecionamento

A ESCOLA SOB O DOGMA DO MERCADO: UMA REFLEXÃO SOBRE O 
TRABALHO DO SUPERVISOR DE ENSINO NESTE CONTEXTO
Ms. Denise Camargo Gomide
1
Supervisora de Ensino da Secretaria de Estado da Educação
Rua Elvira Chaib Zidan, 61 – Santo Antonio de Posse SP
Telefone: (19) 9173-9377

INTRODUÇÃO
O presente artigo propõe diretrizes de análise a partir da identificação histórica de 
formas de privatização da educação pública que exigem uma investigação mais aprofundada, 
destacando formas prioritárias de atuação e de legitimação dos projetos do empresariado para 
a educação, buscando identificar nesse contexto as inferências na ação supervisora, apontando para 
uma dinâmica humanizadora e emancipatória no trabalho do supervisor de ensino.
O período histórico compreendido para esta análise preliminar inicia-se em 1984 até 
os dias atuais, período este caracterizado principalmente pelo processo de globalização, 
transição democrática e educação (inter)nacional. 
O processo de globalização desencadeado a partir dos anos 80 possibilitou a abertura 
política do país e quebrou as barreiras nacionais (territoriais) que impediam que as forças do 
capital ocupassem amplos espaços, criando assim possibilidades inéditas de expansão e 
acumulação.
Com este novo ciclo de expansão do capital, a questão da qualidade da educação, 
tomada hoje em nível mundial, como fator de desenvolvimento econômico passou a ser 
analisada sob a lógica do mercado, e traduzida em índices e rankings. 
Nesse contexto, foram implementadas diversas reformas, como, por exemplo, a 
Reforma do Estado e a Reforma Educacional que preconizavam reestruturar o Estado no 
sentido de desconstruir o Estado providência em prol de um Estado máximo para o capital, 
convertendo assim o sistema educativo em campo de domínio do capital e da produção de 
mercadorias.
No campo educacional, a livre expansão do capital permitiu uma maior abrangência 
do seu campo de ação, dando continuidade e ampliando a tendência privatizante dos anos da 
Ditadura Militar. Nesse sentido, este período histórico foi o cenário da maior perda para o 
ensino público quando a Constituição Federal de 1988 escancarou as portas, que na verdade 
                                                          
1
dcgomide@gmail.com2
nunca foram fechadas, para que o setor privado pudesse se apropriar de novas fatias do 
público para a educação, justamente por não garantir a destinação exclusiva dos recursos 
públicos para as instituições de ensino mantidas pelo Estado.
No tocante às reformas, o discurso da qualidade foi então a base da Reforma do Estado 
que pretendia tornar mais eficiente o desempenho da máquina governamental, proporcionando 
serviços de melhor qualidade para os cidadãos. Contudo, se adequando aos interesses 
estratégicos dos agentes governamentais, o foco parece ter se deslocado para a esfera 
administrativa, incluindo aí a parceria público-privada como uma das estratégias utilizadas em 
âmbito governamental, que através de parcerias com setores do mercado passou a assumir a 
prestação de serviços públicos antes compreendidos na esfera estatal.
METODOLOGIA
A construção desta análise, sob uma ótica crítica e de referencial marxista, 
considerou as categorias gramscianas que ajudam a compreender o papel da sociedade civil
na construção da hegemonia e as relações de poder implícitas nas políticas governamentais.
A partir dessas questões, procuremos, a partir da compreensão de Gramsci sobre a 
educação unilateral referenciada no conceito de Capital Humano, indagar sobre a redefinição 
da função social da escola pública diante da presença desses organismos privados.
A relevância do tema se confirma porque difunde uma identidade social que se opõe 
ao posicionamento dos educadores que defendem a educação pública comum, única e 
desinteressada, expressa na Escola Unitária de Antonio Gramsci:
A escola unitária requer que o Estado possa assumir as despesas que hoje 
estão a cargo da família, no que toca à manutenção dos escolares, isto é, que 
seja completamente transformado o orçamento da educação nacional, 
ampliando-o de um modo imprevisto e tornando-o mais complexo: a inteira 
função de educação e formação das novas gerações torna-se, ao invés de 
privada, pública, pois somente assim pode ela envolver todas as gerações, 
sem divisões de grupos ou castas. (GRAMSCI, 2006, p. 121).
No tocante à ação supervisora, buscaremos retomar a ação do “intelectual orgânico” 
delineado por Gramsci, no sentido de ter  um projeto assumido conscientemente e, pautado 
nele, ser capaz de despertar, de mobilizar as pessoas para a mudança e fazer junto, com os de 
sua “classe” (a massa docente), o percurso para estabelecer uma linha de mediação no sentido 
de provocar, subsidiar e interagir.
Todo grupo social, ao nascer do terreno originário de uma função essencial 
no mundo da produção econômica, cria também, organicamente, uma ou 3
mais camadas de intelectuais que conferem homogeneidade e consciência da 
própria função não apenas no campo econômico, como também no social e 
político: o empresário capitalista gera junto consigo o técnico da indústria, o 
cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um 
novo direito etc. (Gramsci, 1975, p. 1.513)
RESULTADOS
Nessa perspectiva, podemos inferir que o campo econômico passa a exercer influência 
e dominação sobre todas as esferas sociais fazendo com que as políticas públicas sejam 
orientadas por este novo padrão, especialmente as políticas educacionais:  "trata-se de um 
‘novo padrão desenvolvimentista' a partir do qual o campo econômico constitui-se na ‘molamestra' em torno da qual se articulam o social e o educacional" (SOUZA, 2010, p. 91).
Assim, a questão do financiamento público da educação se destaca entre as estratégias 
da Reforma Educacional e faz parte de uma intricada rede de interesses políticos e 
econômicos das mais diversas ordens e se insere numa problemática mais ampla e polêmica, 
que é o mercado educacional, vislumbrado após a inclusão da educação como um serviço na 
Organização Mundial do Comércio (OMC) na década de 1990. 
Na historiografia educacional brasileira, a temática do público e do privado tem sua 
origem em 1821 (CURY, 2005) quando passa a atestar a ineficiência e incapacidade do 
Estado Nação em garantir a educação básica, que na época se definia como o ensino das 
primeiras letras e, hoje, século XXI, é incapaz de dar conta da educação com qualidade.
Ao longo da história, a educação passou por mudanças, mas continua sendo uma arena 
de embates ideológicos, políticos e culturais. Impulsionadas pela globalização hegemônica e 
transformações na economia, as parcerias entre setor público e privado têm se efetivado 
principalmente através de transferências de serviços historicamente considerados privativos 
do poder público para grupos privados e tornam-se recorrentes em vista do crescimento desta 
prática no Brasil.
Nessa perspectiva, o cenário educacional brasileiro passa a adquirir novas 
configurações diante do mundo globalizado, colocando em evidência e em posições decisivas 
a lógica mercadológica, contrapondo-se ao Estado que passa assumir uma postura de mero 
expectador. No entanto, vale ressaltar que na “saída” do processo educacional, o Estado, 
ironicamente, vem atuando como regulador, na medida em que impõe mecanismos de 
avaliação, cujos resultados encontram-se atrelados a metas, índices, rankings, que valem 
direta ou indiretamente recursos financeiros, tanto para instituições públicas, governos e 
instituições privadas. 4
DISCUSSÃO
Diante da postura do Estado enquanto regulador, no sentido de “garantir” a qualidade 
da educação através de mecanismos externos de avaliação, retomaremos o conceito de 
qualidade nas últimas décadas, fazendo um panorama histórico do desenvolvimento do 
conceito e suas implicações na educação até a década de 90, quando então o debate sobre a 
qualidade na educação se tornou mais acirrado. 
Na década de 20 do século passado, a noção de qualidade emerge no processo de 
industrialização, associada à idéia de tempo e de eficiência do trabalhador no desempenho de 
suas tarefas: "qualidade" tinha como referente o "controle de defeitos de fabricação". Esse 
padrão permaneceu nas décadas de 30, 40 e 50, orientado pela teoria e pelos métodos da 
administração científica desenvolvida por Taylor.
Na década de 60, chegaram as experiências com inovações nos métodos de controle de 
qualidade dos produtos, que ficaram conhecidos como "Controle de Qualidade", 
caracterizando-se como controle de processos que englobava toda a linha de produção, desde 
o projeto até o acabamento.
Na década de 70, a experiência japonesa foi apropriada pelos Estados Unidos, que 
incrementaram algumas modificações de natureza administrativa e atribuíram ao referente de 
qualidade, não só o objetivo de evitar defeitos de fabricação, mas, de organizar toda a 
produção para atingir determinadas metas de produtividade, o que ficou conhecida como 
"administração por objetivos".
Nos anos 80, a evolução dessa prática administrativa adquiriu a designação de "Gestão 
pela Qualidade Total". E, assim, acompanhando a mudança da denominação, o referente 
também foi deslocado de "produto sem defeito" para "cliente sem defeito".
Na década de 90, a prática da gestão e controle do processo de trabalho foi comumente 
designada com a expressão "Qualidade Total", procurando construir um discurso de gerência 
moderna. Esse discurso de gerência moderna procurou trazer novos sentidos para a prática de 
gerenciamento, tornando-se uma das formas de representação da ideologia do mercado.
A partir então do início da década de 1990 há um processo de reconfiguração de 
políticas econômicas e educacionais, e profundas reformas que se estendem da 
redemocratização política à liberalização e à redução da sua esfera pública (Estado menor) e 
da reconstrução de sua regulamentação para expandir a esfera privada, sob uma lógica de 
otimização de recursos, com uma tendência  em vincular a educação a um discurso de 
qualidade sob a lógica empresarial: racionalização administrativa e processos produtivos 5
atrelados a critérios de eficácia e eficiência, sintonizando-se com o desenvolvimento 
econômico para que o Estado possa competir no mercado internacional.
Nessa perspectiva, o discurso da qualidade passa, assim como nas empresas, a 
ser a principal meta propagada pelo discurso político oficial dos governantes, como sinônimo 
de eficiência e eficácia, termos estes basilares do modelo empresarial, destacando-se assim 
como motor desencadeador de novas políticas e programas de ações na área educacional.
Contudo, diante dos baixos resultados em avaliações, nacional e internacional, 
como Pisa, Prova Brasil; Sabe; Enem, Idade, amplamente divulgados e criticados pela mídia 
nacional e internacional, que refletem nos índices do IDEB ([Índice de Desenvolvimento da 
Educação Básica) e no IGC (Índice Geral de Cursos), a educação pública torna-se notícia 
mercadológica de jornal e ganha espaço na mídia.
Apple (2004, p. 45) afirma que  "estamos em um período de reação em educação 
devido aos fracassos da mesma" e entende que nessa nova conjuntura política e econômica, o 
fracasso da educação é interpretado como prejudiciais ao desenvolvimento econômico e perda 
de competitividade internacional e, portanto, a escola e o ensino passam a ser vistos como 
investimento e o aluno como capital intelectual. 
Diante da profunda crise da social-democracia e do Estado do Bem-Estar que 
marcou profundamente as últimas três décadas do século XX, novas exigências se puseram
para a economia e para o Estado. As demandas da chamada sociedade  do conhecimento
pressionavam a educação a  mudar. Essa mudança foi  provocada principalmente pela
diminuição do papel do Estado em vários setores, particularmente, no educacional.
Através de programas de isenções tributárias, transferências diretas e indiretas, como 
bolsas de estudo para as escolas privadas, além de empréstimos com juros negativos e uma 
legislação bem flexível e amigável no que diz respeito ao funcionamento das escolas, os 
militares foram os grandes favorecedores da ação da iniciativa privada no campo educacional. 
Após o término do período militar, os presidentes civis, em virtude de uma profunda crise
fiscal presente no país, começam um movimento pela redefinição das funções do Estado. Essa 
redefinição tornou-se mais evidente a partir do Governo Collor, quando se iniciou o
programa de privatização. Nesse contexto, os investimentos no setor público foram
decrescendo em relação aos do setor privado, deslocando o eixo norteador das políticas 
implementadas para a lógica de mercado. 
Sendo assim, com o fim do regime militar, essa ideologia privatista ganhou força e
aos poucos se incorporou às idéias e práticas já arraigadas no Brasil. Os grupos econômicos
privados passaram a acusar o Estado pela crise dos anos 80. A retomada do processo6
inflacionário, a manutenção de uma grande, onerosa e desnecessária burocracia, e a 
crescente dívida interna atribuída à necessidade de empréstimos a juros cada vez mais altos, 
alimentando uma especulação financeira sem precedentes, são alguns dos fatores apontados 
por esses grupos econômicos interessados no mercado educacional.
Nessa luta ideológica, podemos definir o termo “privatizou brasileiro” a partir de 
Cunha (1995, p. 11) “como a prática de pôr a administração pública a serviço de grupos
particulares, sejam econômicos, religiosos ou político-partidários”.
Genericamente, o termo privatização designa as iniciativas que ampliam o papel do
mercado em áreas anteriormente consideradas privativas do Estado, não só a partir da venda
de bens e serviços de propriedade exclusiva do Estado, mas, também, da liberalização de
serviços, até então de responsabilidade do Estado como a educação, saúde e meio 
ambiente.
A prestação de serviços educacionais no Brasil  pelo setor privado já vinha se
expandindo desde a década de 1960, mas foi intensificado a partir da década de 1970, 
quando foi inaugurado o primeiro programa governamental de privatização. As políticas
educacionais, posteriores à década de 1980, atendiam às recomendações do Banco Mundial
que, após a eclosão da crise do endividamento, passou a impor uma série de
condicionantes para a concessão de novos empréstimos. Soares  (1996)  afirma que os 
programas de ajuste do Banco Mundial possuíam cinco eixos principais, dentre os quais 
se destaca, aqui, a privatização das empresas e dos serviços públicos.
Contudo, foi na década de 1990 que esta discussão efetivamente veio à tona, de 
modo mais específico com o início do governo Collor quando o Estado passou a delegar a 
maior parte de suas obrigações ao setor privado, se limitando apenas àquelas de caráter 
assistencial para os cidadãos cujo poder aquisitivo não permite pagar por um serviço privado.
Essa interferência do privado no setor público pode ser identificada na legislação
que, segundo Cunha (2000) favoreceu a iniciativa privada e reconheceu as instituições
privadas com finalidade lucrativa a partir da LDB de 1996, ao  mesmo tempo em que
mantinha estagnados os recursos financeiros para as instituições públicas.
Em 30 de dezembro de 2004 foi aprovada a Lei de n
o
11.079 (BRASIL, 2004), que 
trata das Parcerias Público-Privadas – PPPs, instituindo normas gerais para licitação e 
contratação de parcerias público-privadas no âmbito da administração pública. Desse modo,
excetuando o poder de regular, legislar e policiar, todo o restante poderá vir a ser objeto de
ação do setor privado.7
É bem verdade que grandes expectativas nortearam a transição entre os governos dos
presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva no tocante a 
educação pública.
No entanto, a desmobilização das principais entidades que representavam a classe 
trabalhadora, refletiu negativamente na militância em defesa da escola pública. As políticas 
educacionais governamentais passaram a convergir com as proposições educacionais do
empresariado. Este movimento se expressa através do que se tornou o maior empreendimento 
da educação de Lula: o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
A partir de então, o empresariado passou a ter grande expressão na educação pública
brasileira com a concomitante ascendência do grupo empresarial “Movimento Todos pela
Educação” que se legitimou com o decreto presidencial do PDE. Este decreto, na prática,
revogou a lei do PNE e teve como principal objetivo a instituição de programas educativos
de caráter fragmentado, de gestão privada e que não incidem sobre a ampliação dos direitos 
no campo educacional (SAVIANI, 2007).
Como forma de legitimar a política privatizante encaminhada pelo PDE, expressa 
pelas parcerias público-privadas para todos os níveis e modalidades de ensino, o próprio 
decreto institui a realização de um exame padronizado de conhecimentos pelos alunos das 
escolas públicas, que gera o IDEB. Hierarquizando o repasse financeiro às escolas públicas 
a partir de um sistema de gratificações meritocrático, repassa-se um maior montante às
escolas que atingiram maior IDEB, que curiosamente coincidem com aquelas em que as
fundações privadas tem atuado mais efetivamente, inclusive definindo os conhecimentos a
serem priorizados na escola tendo em vista à realização dos testes.
Os convênios estabelecidos com a iniciativa privada, em geral sob forma de parcerias,
estão no âmago da redefinição da função do Estado como provedor da educação pública,
de forma que os particularismos defendidos pelos grupos empresariais investidores agora
têm espaço para definir o caráter da escola pública, expressando um papel cada vez mais
orgânico dos interesses da burguesia. Desta forma, o capital se torna também mais presente
nos assuntos relativos à formação humana e a educação passa a constituir-se como um
espaço de disputa de projetos sociais de classe, no qual cabe ao capital forjar  um ethos 
coerente com o novo espírito do capitalismo.
Além de definir a pauta do conhecimento difundido na escola, o empresariado se 
vale de algumas vantagens como as generosas isenções tributárias e da associação positiva 
de sua imagem aos serviços típicos de Estado.
Após a resistência contra as reformas do Estado e da deslegitimação do neoliberalismo8
explícito, os governos comprometidos com as políticas neoliberais estão retomando estas
reformas valendo-se de mecanismos persuasivos e do discurso ideológico. Afirma-se que é
possível manter os valores do público no setor privado, através do conceito de 
“publicização”, atualizado nas novas formas de organização da sociedade civil. Segundo o 
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, “publicização” equivale  “(...) a 
descentralização para o setor público não-estatal da execução de serviços que não envolvem 
o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado, como é o caso dos
serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica.” (BRASIL, 1995, p.1).
Esta ofensiva neoliberal tem pautado o papel do supervisor de ensino a partir de uma
cultura de administração centrada em práticas autoritárias, fiscalizadoras e reprodutoras de 
políticas públicas emanadas dos órgãos centrais. Sendo assim, faz-se necessário reafirmar as 
ações que incorporam a práxis do Supervisor Humanizador e Emancipador, que se 
caracterizam pela consciência de sua função social, disposição política para a ação 
supervisora, sensibilidade social, capacidade argumentativa e compromisso em assumir-se 
como intelectual orgânico, comprometido com a sua formação e com a de sua classe, a massa 
docente, sendo capaz de organizá-la e instrumentalizá-la para  a realização de um projeto 
educativo comprometido com a transformação social, afastando-se assim daquela postura de 
controle burocrático.
Para isso, é preciso romper com as ideologias impostas pelo capitalismo, no sentido de 
questioná-las, combatendo assim a ação supervisora desvinculada da ação político-social.    
Nessa dinâmica, o supervisor de ensino precisa lembrar, antes de mais nada, que é um
educador, e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a 
reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o conhecimento desvinculado da 
realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente (repetência ou aprovação sem 
apropriação do saber), a  discriminação social na e através da escola, o nível de exclusão e 
miséria social; na busca de uma práxis educacional que a cada dia mais se aproxime do 
compromisso com a emancipação social.
Nessa perspectiva, o supervisor de ensino precisa compreender o sentido pedagógico e 
político da sua ação. Compreender o sentido pedagógico implica em reconhecer a sua função 
como essencialmente comprometida com a qualidade do ensino. Compreender o sentido 
político consiste em considerar que esta qualidade de ensino deve estar comprometida, por 
sua vez, com a realização de um projeto educativo qualitativamente adequado às classes 
trabalhadoras, atual clientela majoritária da escola pública, de modo a assegurar o acesso aos 
conhecimentos socialmente construídos, enquanto instrumental indispensável à participação e 9
transformações sociais, e não se limitar  ao oferecimento das primeiras letras ou o 
conhecimento básico para o exercício da atividade laborativa.
CONCLUSÃO
Diante dessas considerações, entendemos que  a luta histórica dos educadores em 
defesa de uma escola pública, obrigatória, gratuita, laica e  que cumpra com o papel de 
transmissora dos conhecimentos historicamente construídos, não pode ser negligenciada nem 
mesmo interrompida pela expansão do protagonismo do setor privado e da crescente 
desresponsabilização do Estado com a educação pública.
É fato que a presença desses organismos privados redefine a função social da escola 
pública, ao preconizar uma educação comprometida com o capital, e por isso necessita ser 
repensada, avaliando suas origem histórica e suas conseqüências, identificando qual o sentido
da educação veiculada por essa iniciativa da sociedade civil dirigida pelo empresariado.
A formação preconizada pelos projetos do empresariado para a educação não é capaz
de garantir o ensino “desinteressado” e sem  “finalidades práticas imediatas ou muito
imediatas; formativo ainda que instrutivo, isto é, rico de noções concretas” (GRAMSCI,
2006, p.49), conformando uma estratégia educativa pró-sistêmica e incompatível com o 
público.
Estas questões são de fato instigadoras e incômodas diante do modo que tem se 
buscado atingir a dita qualidade da educação e, portanto, é preciso  questionar as bases 
ideológicas desse modelo educacional que vem sendo delineado e consolidado, apontando os 
seus riscos à educação pública, pois com o deslocamento da educação pública para  uma
atividade a ser operada em sintonia com o chamado livre mercado, a principal tendência da
agenda educacional atual é o enfraquecimento da escola pública.
Sendo assim, concluímos que em nome da eficiência e da democratização do Estado
e da sociedade surgem os instrumentos políticos e administrativos adequados à reprodução
ampliada do capital. Estes instrumentos aparecem como elementos discursivos, de caráter
ideológico, utilizados para a extração de uma maior taxa de mais-valia e como mecanismos
de controle social, como: a flexibilização, a autonomia organizacional, o incentivo à inovação,
a descentralização, a gestão por resultados, a administração voltada para o cliente, a
negociação de metas e índices de desempenho entre as agências estatais e a utilização de
mecanismos de mercado na prestação de serviços públicos (BENTO, 2003), que são 
nitidamente identificadas nos documentos criadores das novas políticas educacionais e,10
portanto, devem ser  questionadas, considerando que o  modelo gerencial das empresas é
incompatível com os princípios inerentes à educação verdadeiramente pública.
Neste tipo de formação veiculada nas escolas não há a garantia do ensino
desinteressado. Ou seja, escola básica pública sob uma perspectiva socialista e democrática
“não deve ter finalidades práticas imediatas ou muito imediatas, deve ser formativo ainda
que instrutivo, isto é, rico de noções concretas” (GRAMSCI, 2006, p.49).
Manifesta-se então  a necessidade retomar os nexos entre as classes sociais e seus
projetos de educação. Em oposição ao Estado burguês e ao mercado, que mascaram os
interesses do capital, os projetos educacionais que tem como objetivo a defesa da educação
pública de qualidade para os filhos dos trabalhadores devem pautar-se no marxismo por seu
inseparável caráter científico e ideológico.
Simultaneamente à difusão do fracasso das escolas públicas através dos índices de 
desempenho, argumenta-se que a gestão privada é o único caminho para a  melhoria da
qualidade da educação, já que modelo empresarial está imbuído da “técnica” da 
administração institucional. Esta tentativa de destituir o Estado da sua imagem competente
para gerir as atividades sociais está no bojo das ações da reestruturação produtiva do capital
na atualidade.
O proposto “ajuste estrutural” ao qual deveriam submeter-se os países capitalistas
dependentes, marca assim início da implementação das políticas neoliberais, que sustentam
a privatização dos serviços públicos essenciais e um Estado como um mero “regulador” legal
destas atividades.
A institucionalização do IDEB é um dos retratos do que o Estado avoca como sua 
principal função: a “observação” do funcionamento da escola básica de forma a gratificar 
ou penalizar as escolas conforme aproximação ou distanciamento de um conjunto de “metas”
definidas por um consórcio de interesses particularistas.
A educação pública precisa cumprir com a  função social de elevar a formação
humana, possibilitando, aos filhos dos trabalhadores, os conhecimentos que sempre lhes 
foram negados. A eles,  o Estado Capitalista só oferece as primeiras letras, a mínima
instrumentação para o trabalho precário. É por isso que aqueles que vivem o trabalho
explorado devem se utilizar das instituições públicas como espaço da luta de classes contra a
difusão dos interesses hegemônicos do capital e pela educação que represente de fato uma
dimensão da emancipação humana.11
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