Envelhecimento da população
mundial preocupa pesquisadores
Número de pessoas com mais de 60 anos deve triplicar até 2050.
Estimativas da ONU indicam menor crescimento da população de 7 bilhões.
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O mundo está envelhecendo rapidamente. Entre as principais preocupações dos estudiosos de demografia ao comentar as estimativas da ONU de que o mundo vai atingir na segunda-feira (31) a marca de 7 bilhões de pessoas está não o aumento do total de pessoas no planeta, mas a tendência de crescimento na população com mais de 60 anos, que vai triplicar nos próximos 40 anos.
Para alguns pesquisadores, a questão da idade já ultrapassa a preocupação com os problemas ambientais e de sustentabilidade como principal desafio para a demografia global. "Muitos se preocupam com o excesso de população no mundo atual, mas está na hora de começarmos a nos preocupar com a escassez de pessoas. Há um aumento grande na proporção de idosos no mundo", explicou ao G1 o pesquisador José Alberto Magno de Carvalho, que já foi presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais e da International Union for Scientific Study of the Population (a associação internacional mais importante em demografia).
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Há no mundo 893 milhões de pessoas com mais de 60 anos, mas no meio do século este número passará de 2,4 bilhões. Segundo o pesquisador, não há razão de continuar-se discutindo a explosão demográfica global. "Antes, falava-se que a população chegaria rapidamente a 15 bilhões de pessoas, mas hoje sabemos que é provavel que a estabilidade chegue antes e que não passemos de 10 bilhões."
Segundo o relatório da ONU que vai marcar a chegada da população mundial a 7 bilhões de pessoas, a principal tendência da demografia global é que na maior parte dos países do mundo a população não cresce mais, ou cresce menos do que no passado.
"Há uma tendência global de menor fecundidade. A população do Brasil, por exemplo, cresce bem mais lentamente, e pode começar a declinar em 20 anos. Mesmo no terceiro mundo, o crescimento está diminuindo. Na China, a fecundidade já é patética, e na Índia, que ainda cresce mais, a fecundidade está diminuindo", disse Carvalho.
Segundo a ONU, no mundo atual, somente na África há um crescimento populacional ainda grande, com média acima de 3 filhos por mulher (4,64). Na Europa, por outro lado, a taxa de natalidade é de 1,53, e 2,03 na América do Norte e na Ásia. Na China e na Índia, países que já têm uma população de mais de um bilhão de pessoas, a estabilidade da população deve ser atingida em poucas décadas.
"A mudança demográfica faz com que o desafio ambiental, de fazer com que haja recursos para uma população formada por bilhões de pessoas, seja menor do que no passado. Ele não está resolvido, mas é menos urgente se considerarmos a queda na fecundidade", diz Carvalho.
Mundo aposentado
Segundo a ONU, o envelhecimento torna necessário um maior planejamento e investimento para lidar com um número cada vez maior de idosos, a necessidade por mais alimentos, água e energia e a maior produção de lixo e poluição. O ambiente não deixou de ser prioridade, mas é preciso pensar a sustentabilidade de um mundo com menor proporção de pessoas em idade produtiva.
Segundo a ONU, o envelhecimento torna necessário um maior planejamento e investimento para lidar com um número cada vez maior de idosos, a necessidade por mais alimentos, água e energia e a maior produção de lixo e poluição. O ambiente não deixou de ser prioridade, mas é preciso pensar a sustentabilidade de um mundo com menor proporção de pessoas em idade produtiva.
O foco é o investimento nos jovens, que vão ter que ser responsáveis por um mundo com mais pessoas e com mais idosos. No Japão, por exemplo, estimativas indicam que em 2050 haverá tantos trabalhadores quanto idosos já aposentados.
"A fecundidade atual é incapaz de repor toda a população. Ela é registrada globalmente em números próximos de 1,9 filho por mulher, e isso significa que a população vai diminuir no futuro", diz Carvalho. "Temos que aprender a lidar com este envelhecimento da população. Até agora, o único local em que isso já aconteceu foi na Europa, mas o processo foi mais lento. Isso é um desafio para a sociedade, por questões de saúde pública, previdência, como lidar com uma população mais velha."
Assim como a própria ONU, o pesquisador brasileiro diz que o principal objetivo de trabalho deve ser o investimento nos jovens de hoje, que vão se tornar os adultos responsáveis por manter o mundo com mais idosos. "O Brasil, por exemplo, precisa investir em educação. Na pirâmide da sociedade brasileira já se percebe que há menos pessoas mais novas de que as que vão envelhecendo. Isso significa que no futuro haverá menos força de trabalho à disposição. Os poucos jovens e adultos vão ter que cuidar da economia", disse.
O melhor exemplo a ser seguido, segundo ele, é o da Coreia do Sul, que superou um problema semelhante relacionado à estrutura etária da população. "Eles tiveram queda na fecundidade, mas investiram em educação de base, o que permitiu que o envelhecimento fosse acompanhado por um aumento na capacidade e na produtividade, sem afetar a sociedade."
Carvalho explica que o movimento é irreversível, e que pensar em resolvê-lo com incentivo a aumento na fecundidade é algo que não faz sentido. "Há países que pensam em incentivar a fecundidade, mas este processo é irreversível."
Diminuição saudável
Para alguns pesquisadores de tendências populacionais, entretanto, além de irreversível, o processo de envelhecimento da população não garante totalmente a sustentabilidade, e ainda é preciso pensar em reduzir o número de pessoas no mundo para poder tornar a vida possível.
Para alguns pesquisadores de tendências populacionais, entretanto, além de irreversível, o processo de envelhecimento da população não garante totalmente a sustentabilidade, e ainda é preciso pensar em reduzir o número de pessoas no mundo para poder tornar a vida possível.
"O envelhecimento é inevitável se quisermos ter sustentabilidade. A preocupação com a redução e envelhecimento da população não faz sentido, e as pessoas deveriam comemorar quando a população do mundo começar a diminuir", disse, em entrevista ao G1, Paul R. Ehrlich, professor de estudos populacionais de Stanford.