quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Opinião: Escolas têm de repensar maneira de ensinar matemática


Opinião: Escolas têm de repensar 


maneira de ensinar matemática

Disciplina não pode ser reduzida a um sistema de signos. 
Ela não se limita a quatro operações e está inserida no cotidiano.

Ana Cássia MaturanoEspecial para o G1, em São Paulo
(Foto: Arte/G1)
Alguns alunos, para justificar seu mau desempenho em alguma disciplina escolar, dizem que ela não serve para nada. Diante de tal argumentação, não tomam atitude alguma para mudar o rumo das coisas.
É comum isso acontecer com o português. Não conseguem enxergar a necessidade prática de diferenciar os vários tipos de orações encontradas num texto, por exemplo (oração subordinada substantiva subjetiva, objetiva direta, objetiva indireta...). Com as outras matérias isso também ocorre, como se aquilo que aprendessem ficasse desvinculado da vida.
Isso se deve, muito provavelmente, à maneira como as escolas têm trabalhado as diversas áreas do conhecimento. Elas têm se prendido a regras preestabelecidas, sendo que a função dos professores tem sido de apresentá-las aos alunos, que, por sua vez, as reproduzem e as memorizam, sem espaço para a real compreensão das coisas e do significado delas em suas vidas. Isso, com certeza, não será percebido pelo aluno se apenas lhe for dito.
A matemática é vítima dessa incompreensão, embora seja muito útil em nossas vidas. Não só pelo óbvio de se fazer uma compra, saber o valor do produto, efetuar o pagamento e conferir o troco. O que já não é pouco. Ela está inserida em muitas coisas da vida, em nossas ações diárias, não se limita às quatro operações.
Por exemplo, ao atravessarmos uma rua, observamos a velocidade do carro e a distância a ser percorrida, para então fazermos o percurso, apertando o passo ou não, para que a travessia se dê com segurança, ou mesmo se devemos esperar o veículo passar.
Não usamos números, apenas a lógica da ação (embora essa ação possa ser escrita e calculada usando números e regras matemáticas), estabelecendo a relação entre os objetos, num pensamento abstrato, sem a necessidade de fazermos experiências concretas para decidir a melhor estratégia a ser usada (caso fizéssemos isso, provavelmente morreríamos atropelados antes de chegarmos a uma conclusão segura).
Apesar do esforço para mudar, algumas escolas ainda guardam muitos ranços quando trabalham com a matemática, acabam reduzindo-na a um sistema de signos e à manipulação dos mesmos. Para os pequenos, isso é muito difícil e sem sentido, o pensamento deles é concreto. Que o digam aqueles que ainda são obrigados a decorar (isso mesmo, decorar!) a tabuada.
Ela nada mais é que uma tabela usada para a multiplicação. Se por um lado ela pode contribuir para agilizar a solução de algumas contas mentalmente, principalmente quando envolve as operações multiplicação e divisão, ela não deve constituir um fim em si mesmo e nem ser cobrada em provas.
A tabuada é apenas um instrumento para agilizar o pensamento, que deverá preceder a compreensão, por exemplo, de quanto um determinado número cabe em outro (cabem dois cinquentas no número cem). Além de entender sua versão mais extensa, que é a soma (três vezes dez é o mesmo que dizer dez mais dez mais dez), que a princípio é mais fácil para um aluno usar.
Memorizar alguns resultados virá do uso que a pessoa fizer dele. De tanto multiplicar o nove pelo oito (= 72), o aluno memorizará. Se for bom de memória. Caso contrário, ele terá um trabalhinho maior para resolver uma questão matemática.
A matemática tem que ser repensada na prática das escolas. O pensamento matemático nada mais é que o pensamento lógico, como bem lembra Piaget. O que importa é que ele seja desenvolvido nos alunos, não se restringindo sua prática a mera reprodução de fórmulas e contas, que rapidamente são esquecidas pelos alunos.
A escola tem que ir de encontro às necessidades dos alunos e não o contrário. Quem sabe assim, o fracasso escolar venha a diminuir.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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