‘Não sabemos por onde começar’, diz
médica brasileira no Haiti
Tais Lara, especialista em UTI do Einstein, está tratando vítimas do cólera.
Expectativa é de surto na capital Porto Príncipe daqui a duas semanas.
Os médicos voluntários que foram ao Haiti para tratar as vítimas do cólera estão de mãos atadas por problemas logísticos. A avaliação é de Tais Rodrigues Lara, médica especializada em cuidados intensivos do Hospital Israelita Albert Einstein. “A gente não sabe nem por onde começar, e fica frustrado porque queria ajudar mais”, disse Tais, por telefone, aoG1. A intensivista, que chegou ao Haiti quinta-feira (12) e retorna ao Brasil sexta (19), já esteve no país no início do ano para ajudar os feridos pelo terremoto de 12 de janeiro. “A situação é muito parecida com a que vimos aqui oito meses atrás. Há cerca de 1,3 milhão de pessoas vivendo em tendas, não há saneamento, coleta de lixo ou rede de água e esgoto.”
Não é nada fácil ajudar em um contexto como esse, lamenta a médica. “A chegada dos insumos e equipamentos para tratar o cólera leva muito tempo, e a chave para salvar as vítimas é justamente conter a desidratação rápida, a principal característica da doença”, diz.
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O cólera é uma infecção intestinal causada pela bactéria Vibrio cholerae, que provoca diarreia grave. O tratamento precoce com antibióticos elimina as bactérias e costuma parar a diarreia em 48 horas. Mais de 50% dos pacientes com cólera grave morrem se não forem tratados. Mas, com hidratação rápida, a mortalidade é inferior a 1%. A cepa (variedade) do vibrião do cólera que está circulando no Haiti pode matar em apenas 4 horas, segundo Tais.
O kit para combater o mal não é nada sofisticado: soro para reidratação endovenosa, cateter (tubo para injetar o soro na veia), lençóis, luvas descartáveis e álcool em gel. Mas qualquer deslocamento, mesmo mínimo, leva no mínimo 45 minutos, conta a médica. “O tráfego está caótico, absolutamente parado. Nós perdemos 4 a 5 horas só no trânsito, todos os dias.”
Ainda segundo Tais, a ONG Médicos Sem Fronteiras e outras entidades estão agora se preparando para a subida dos casos de cólera na capital Porto Príncipe nas próximas duas semanas. “A correria, no momento, é para tentar que as pessoas tenham acesso em tempo hábil ao tratamento, que é relativamente simples.”
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