quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Enem: Gabarito suspenso e impasse nas universidades


Enem: Gabarito suspenso e impasse nas universidades

Site para pedir a correção invertida também está proibido de entrar no ar. Defensoria vai pedir a anulação de todo o exame

Rio - A Justiça Federal do Ceará, que já havia suspendido temporariamente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), proibiu ontem a divulgação do gabarito e o recebimento pela Internet de reclamações de estudantes que se sentiram prejudicados com os erros de impressão na prova aplicada no fim de semana a 3,2 milhões de candidatos em todo o País. A Defensoria Pública da União decidiu que pedirá anulação de todo o exame, e não só das provas de sábado.

Com a decisão, o Ministério da Educação (MEC) adiou o resultado das questões, que seria divulgado ontem, e o site que entraria hoje no ar. Pelo site do Enem, os candidatos que não seguiram a ordem numérica das questões durante a marcação poderiam pedir a correção invertida. A folha em que eles marcaram as respostas estava com o cabeçalho das provas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza trocado. Além disso, 21 mil provas amarelas foram distribuídas com questões a menos ou duplicadas.

Ontem, a Advocacia-Geral da União informou que entrará, até a próxima segunda-feira, com um pedido de reconsideração na Justiça. “Caso a decisão não seja revista, vamos recorrer”, disse o advogado-geral da União, Luís Inácio Lucena Adams. 

Ao contrário do que havia dito no dia anterior, o ministro da Educação, Fernando Haddad negou que o Inep tivesse tido culpa ao não revisar as provas: “O Inep conferiu a matriz das provas do exame, mas é impossível verificar todas”. O ministro abriu sindicância para apurar responsabilidades no Inep. “Os estudantes merecem, sim, uma retratação”, afirmou Haddad, que voltou a alegar que é possível aplicar novos exames mantendo o mesmo grau de dificuldade. “Não há nenhuma razão para cancelar a prova do sábado”, reforçou o ministro. 

A Defensoria Pública da União no Rio, que havia entrado com requerimento cobrando explicações do Inep e pedindo novo exame para substituir a prova de sábado, quer agora a anulação de todo o exame. “São muitos os problemas. O erro no cabeçalho afetou a todos. Alguém foi negligente. A prova tem que ser totalmente reaplicada por uma questão de isonomia”, afirma o defensor-chefe federal, Ariosvaldo de Gois Gosta Homem. 

Polícia investiga vazamento da redação no dia da prova

A Polícia Federal investiga o vazamento do tema da redação do Enem uma hora antes do início da prova em Pernambuco e Piauí.

A denúncia foi feita por equipe de um curso pré-vestibular da região. Segundo eles, pelo menos 30 estudantes consultaram os professores que montaram um ponto de apoio perto da Universidade de Pernambuco e da Faculdade de Ciências Sociais de Petrolina, locais de prova. Os candidatos pediam ajuda para desenvolver o tema “trabalho e escravidão”. 

Após a prova, os professores ficaram preocupados ao saber que a redação era sobre Trabalho na Construção da Dignidade Humana, com dois textos de apoio, trabalho escravo e futuro do trabalho. De acordo com o professor de Português Marcos Freire, o aluno disse que o tema teria vazado em São Raimundo Nonato (PI). “Vamos ver se alguém recebeu vantagem”, disse o delegado da PF, Alexandre Lucena.

O ministro Haddad foi convocado a explicar as trapalhadas na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Seu depoimento é aguardado para semana que vem.

Universidades enfrentam um impasse

Com a suspensão do Enem, as universidades federais do Rio enfrentam impasse. A UniRio, a Rural e a UFRJ mantêm o Enem no processo de seleção. Já a UFF, que reserva 20% das vagas para o Enem, quer calendário único para início das aulas, com intuito de evitar atraso.

Estudantes estão sendo motivados pelos professores a não perder o foco nos vestibulares. “Continuem estudando, pois os melhores serão sempre os melhores”, diz o diretor-geral da rede MV1 de Ensino, Paulo Silva. Ontem, em poucos minutos, ele e alunos da unidade da Ilha, descobriram vários erros na prova azul. “Parece piada. Pedem para analisar as ‘cores do objeto representado’ (uma pintura de Monet), sendo que a impressão é em preto e branco”, destaca Paulo. A Defensoria Pública da União recebeu 3.574 mensagens com queixas diversas sobre o Enem no e-mail: enem2010@dpu.gov.br.

Fiscais fizeram vista grossa

Lápis, celulares, relógios: tinha de tudo na sala de prova

Rodrigo Gerbassi, 17, primeiro colocado geral na Rede MV1 no último simulado, não esconde o desapontamento com o que classificou de “bagunça generalizada”. 

“Eu não usei lápis e borracha, apesar de achar indispensáveis nos rascunhos das respostas, pois os espaços eram mínimos para os cálculos de Matemática. Mas vi muita gente portando esses objetos”, afirmou Gerbassi, que defende outra prova para todos os alunos.

Leonardo Cordeiro, 18 anos, contou que celulares tocavam a todo momento na sala de prova e relógios digitais foram usados por muitos estudantes. “Os fiscais perderam o controle de tudo e divergiam nas orientações”, lamentou Cordeiro.
Reportagem de Francisco Edson Alves e Maria Luisa Barros

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