Nas últimas décadas, a história dos livros e das leituras foi colocada em relevo sobretudo por meio dos trabalhos de Roger Chartier, que tem tido excelente recepção no Brasil. Os textos desse historiador francês inspirou a elaboração de dissertações e teses sobre livros, leituras e bibliotecas nas universidades brasileiras.
A tese de doutoramento de Gisela Eggert-Steindel, defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), é um ótimo exemplo de trabalho acadêmico fundamentado nas idéias historiográficas de Chartier. Essa tese de doutorado foi transformada no livro intitulado “Dos espaços de leitura à Biblioteca Municipal de Jaraguá do Sul: discursos e percursos (1937-1983)”, publicado recentemente pela Editora Insular. Inicialmente o livro faz uma cartografia dos espaços de leitura no município de Jaraguá do Sul. Ele constata que, no início do século XX, na chamada “Colônia Jaraguá”, circulavam jornais, especialmente em língua alemã, que publicavam catálogos de livros, constituindo-se o que a autora da obra chama de “biblioteca sem paredes”. Outro espaço de leitura interessante foi a “Biblioteca Integralista”, publicada no jornal “Jaraguá”, editado pelo Núcleo Integralista de Jaraguá do Sul, que teve destacada importância política municipal. Também são analisadas a chamada “biblioteca jurídica”, do juiz Dr. Thiago Ribeiro Pontes, e a biblioteca da Associação Atlética Baependi – clube desportivo de referência na sociedade jaraguaense. A obra em tela focaliza sobremaneira a história da constituição da Biblioteca Pública de Jaraguá do Sul, desde o seu início na década de 1940 até a sua consolidação nas últimas décadas. A primeira iniciativa de formar uma biblioteca municipal em Jaraguá do Sul deu-se em 1943, mas não se concretizou. A segunda tentativa ocorreu em 1947, quando foi anunciada a criação da “Biblioteca Municipal Emílio Carlos Jourdan” – homenagem ao fundador da “Colônia Jaraguá” –, que acabou não se materizalizando por causa de disputas político-partidárias entre a UDN e o PSD. Somente no início da década de 1950 foi formada uma biblioteca pública em Jaraguá do Sul, que passou a funcionar de forma precária. Finalmente, em 31 de março de 1971 – data do sétimo aniversário da “revolução” de 64 – foi entregue à sociedade jaraguaense a Biblioteca Municipal Rui Barbosa, que é analisada em detalhes no último capítulo da obra. O livro da professora Gisela Eggert-Steindel sobre os espaços de leitura e a constituição histórica da biblioteca pública de Jaraguá do Sul indica as dificuldades e barreiras na instituição de bibliotecas públicas no Brasil, constituindo-se numa contribuição instigante para repensar a democratização da cultura.
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