Após investigações, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, identificaram a causa do óbito de William Charles Erasmus, sul-africano de 53 anos morto na última terça-feira, 2 de dezembro, no Rio de Janeiro, com um quadro de febre hemorrágica não identificada. O resultado da investigação indica que a morte foi causada por febre maculosa, doença transmitida por carrapatos. Não há risco de transmissão pessoa a pessoa.
Especialistas da Fiocruz e do Ministério da Saúde apresentam resultado da investigação sobre a morte do sul-africano: da esquerda para a direita, a diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, Tânia Araújo-Jorge; o vice-presidente de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz, Ary Carvalho de Miranda; a chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC, Elba Lemos; e o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.
A partir de dados sobre o período de estadia no país e o tempo necessário para a manifestação de sintomas, foi concluído que a infecção ocorreu antes da chegada ao Brasil (as manifestações clínicas da doença surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias). "Como os sintomas apareceram dois dias depois da chegada do sul-africano ao Brasil e ele só foi do aeroporto para o hotel e de lá para o trabalho, não havia circunstâncias nem tempo hábil para que ele tivesse sido infectado aqui", disse o vice-presidente de Serviços de Referência e Ambiente, Ary Carvalho de Miranda.
O caso mobilizou um grupo de especialistas que levantou diversas linhas de investigação. A investigação epidemiológica, que comprovou a ausência de vínculo entre este óbito e os casos de infecção por arenavírus que ocorreram na África do Sul, e os testes diagnósticos descartaram a suspeita de infecção por este vírus. As suspeitas de hantavírus, herpes, hepatites, malária e dengue, entre outras, também foram descartadas por testes laboratoriais. "Todas as suspeitas foram verificadas à exaustão; era necessário aventar todas as possibilidades até que chegamos ao diagnóstico de febre maculosa", disse o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.
Dado que esta doença não é transmitida por meio de contato entre humanos, a partir de hoje o Ministério da Saúde, em conjunto com as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, suspendeu o acompanhamento clínico que vinha sendo realizado até então.
Em todo o mundo, existem mais de 20 Rickettsias do grupo que pode causar a febre maculosa. O sul da África, Mediterrâneo e costa atlântica dos Estados Unidos são áreas de alerta para a doença. "A febre maculosa não é uma doença do Rio, do Brasil ou da África. Existem carrapatos no mundo todo e, portanto, a doença pode ocorrer em qualquer lugar", explicou a chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC, Elba Lemos.
A equipe da Fiocruz, liderada pela pesquisadora Elba Lemos, realizou o diagnóstico de febre maculosa por meio de análise de PCR (com base na identificação do DNA da Rickettsia), no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz (Laboratório de Referência Nacional para Rickettsioses). Análise Molecular da pesquisadora Daniele Nunes Peixoto de Almeida indicou o gênero Rickettsia como causador do óbito foi concluída na manhã deste domingo (7/12).
Como a morte foi causada por quadro de febre hemorrágica e o paciente teve passagem por localidades onde ocorrem doenças inexistentes no Brasil, todos os procedimentos foram desenvolvidos em laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB3) – procedimento recomendado para a investigação de agente patogênico desconhecido -, garantindo a contenção do agente e a segurança dos profissionais envolvidos nas análises.
A doença é de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, uma vez que os sintomas são semelhantes aos de outras doenças infecciosas febris. O início geralmente é abrupto e os primeiros sintomas são inespecíficos, incluindo febre (em geral elevada), dores de cabeça, dores musculares, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Podem ocorrer hemorragias na evolução da doença.
Sobre a febre maculosa
A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda, que pode causar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. No Brasil e nos Estados Unidos, a doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. Rickettsia rickettsii, bactéria causadora da febre maculosa no Brasil e nos Estados Unidos (Foto: IOC/Fiocruz).
A doença é transmitida ao homem exclusivamente pelo carrapato infectado. No Brasil, o principal reservatório da Rickettsia rickettsii é o carrapato da espécie Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela. Não há risco de transmissão pessoa a pessoa. Para que a infecção ocorra, o carrapato precisa ficar aderido à pele por algumas horas (de 4 a 6 horas). A transmissão da bactéria também ocorre no momento do esmagamento do carrapato, se houver lesões na pele. Os carrapatos permanecem infectados durante toda a vida, que em geral dura 18 meses.
Carrapato da espécie Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela ou micuim (Foto: CDC/Estados Unidos)
O quadro clínico é marcado por início brusco, com febre elevada e cefaléia (dores de cabeça), podendo haver dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. As manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias. O surgimento de lesões exantemáticas na pele aumentam o grau de suspeição, muito embora existam casos nos quais este sinal pode não ser detectado – no caso de pacientes afro-descendentes, por exemplo.
No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 1929. De 1997 a 2008, foram registrados 641 casos confirmados no país. Em 2007 e 2008, houve 136 casos, sobretudo em Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Nestes dois últimos anos, o Rio de Janeiro registrou 17 casos.
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