Estilos de liderança e escola democrática
Resumo
O sistema educativo português tem assistido, nas últimas duas
décadas, ao aparecimento de medidas de política educativa cuja agenda reformista
tem dado importância crescente às dimensões da gestão e da liderança escolares.
Ao longo deste percurso marcado por ensaios e reajustamentos morfológicos nos
órgãos de gestão, denota-se uma valorização crescente do papel das lideranças no
desenvolvimento da autonomia das escolas. Percepcionada politicamente como uma
solução óptima para a resolução dos problemas da indisciplina, do abandono e do
insucesso, a liderança emerge paulatinamente como uma variável de controlo da
excelência escolar, ao arrepio de uma cultura de gestão colegial historicamente
enraizada nas escolas portuguesas. Apesar de serem claras as influências de
inspiração neoliberal na forma como se reduz a realidade educativa a indicadores
de natureza gerencialista, é interessante, mesmo assim, problematizar a natureza
da relação entre os estilos de liderança e gestão e os resultados escolares e o
seu impacto no desenvolvimento democrático da escola. Partindo da análise
crítica aos Relatórios de Avaliação Externa das Escolas, elegemos como objectivo
central deste texto a discussão dos significados conferidos a uma "boa
liderança", a uma "boa organização e administração escolar" e à sua eventual
relação com os resultados escolares, de modo a compreendermos quais as tensões
que este processo avaliativo comporta no plano das configurações e das práticas
organizacionais das diferentes escolas-objecto. Interrogamo-nos se este processo
não constituirá uma espécie de "missionarismo gestionário", que subverte as
lógicas de decisão autónoma e democrática das escolas.
Nenhum comentário :
Postar um comentário