sexta-feira, 20 de julho de 2012

A exposição inicial do painel “Do livro de papel ao livro digital” esteve a cargo de Silvio Meira, professor de informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


8º Congresso supera expectativa

    A abertura do 8º Congresso Rio de Educação 2012 na sexta-feira, dia 13 de julho, no Hotel Sofitel, em Copacabana, apresentou aos mais de 800 inscritos conferências com intelectuais de grande destaque na vida cultural do país, a premiação dos estudantes vencedores do Concurso de Redação 2012 e o lançamento da Medalha Edília Garcia, que será sempre conferida a personagens de notável atuação na área educacional. No discurso inaugural do evento, o presidente do Sinepe Rio, professor Victor Notrica, reafirmou o compromisso de 80 anos da entidade em defesa da livre iniciativa em educação e contra a interferência abusiva do Estado no segmento das escolas privadas. 
    O tradicional primeiro dia de palestras do Congresso Rio de Educação foi aberto com a mesa de debates “Do livro de papel ao livro digital”, que reuniu os renomados professores Muniz Sodré e Silvio Meira, sob a mediação do imortal Arnaldo Niskier. A segunda apresentação coube à pesquisadora Suzana Herculano-Souzel, que falou sobre “A neurociência do aprendizado”. O médico psiquiatra Flávio Gikovate encerrou a jornada de abertura com a preleção “A arte de educar”. Além do público inscrito, estiveram presentes diretores de entidades representativas das escolas privadas e autoridades públicas.
    Com a palavra de apresentação aos participantes do importante evento educacional, o professor Victor Notrica enfatizou os semelhantes ideais e propósitos do Sindicato e do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, ambos comemorando 80 anos. O presidente do Sinepe Rio manifestou sua preocupação com a ação centralizadora e autoritária do Governo Federal ao manter medidas provisórias perversas em relação ao setor privado em educação. Enfatizou, ainda, o empenho da entidade no sentido de resolver as questões que afligem as escolas e seus diretores (luta contra a “lei do calote”, leis escolares, salários, etc).
    A exposição inicial do painel “Do livro de papel ao livro digital” esteve a cargo de Silvio Meira, professor de informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele demonstrou como a evolução dos meios de comunicação, desde os primeiros livros impressos até os tablets, foi calcada na cada vez maior velocidade de assimilação e superação em favor de um novo meio. O educador chamou a atenção para o fato de que os videogames estão concentrando a maior atenção dos jovens. Alertou seus colegas quanto às novas plataformas de compatibilidade, que proporcionam funcionalidade, flexibilidade e facilidade de uso. Deixou, ainda, um vaticínio preocupante acerca da iminente chegada ao Brasil da rede social de literatura Kindle, que teria consequências “catastróficas” para a existência do livro físico e de livrarias.
    Professor da UFRJ e ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré disse acreditar que se assiste não ao fim da forma livro, mas da sua continuidade em outro formato. Por isso, aconselhou os educadores a se abrirem para a diversidade transformadora que a tecnologia pode trazer, na medida em que supera a lógica sequencial e introduz a leitura plural. Segundo o pensador, a leitura sempre esteve associada à construção da consciência e à produção de sentido e do real — mas segundo a lógica da reprodução do modelo escolar do século XIX, definida por Michel Foucault como de hierarquização e vigilância, que justificava a estrutura social. O reencantamento da técnica proporcionado pela internet descentra o saber e amplia a gestualidade dos indivíduos. Porém, Sodré sustenta que a educação implica cérebro, argumento e ação dos professores para a implicação e a explicação.
    A neurocientista e professora da UFRJ Suzana Herculano-Houzel abordou na palestra “A neurociência do aprendizado” o problema de como usar adequadamente os pressupostos de sua disciplina com o fim de estender o conhecimento de crianças e jovens. Na avaliação da professora, aprender é mudar o cérebro conforme a experiência. Ela demonstrou como uma rede de neurônios é capaz de mudar outros neurônios e ser influenciada por diferentes neurônios, num processo conhecido como sinapse. O excesso de sinapses, numa linguagem bem específica, significaria a matéria-prima para o aprendizado — as crianças, por exemplo, têm mais sinapses do que os adultos. Assim, a associação de ideias permite que se tenha acesso a várias informações no cérebro. Quanto mais rico o processo de associação de ideias, mais fácil será o processo de aprendizado. De acordo com a neurocientista, os fatores que influenciam o aprendizado são: a atenção, a motivação, o método e a prática.
    Concluindo as apresentações da sexta-feira, o médico psiquiatra Flávio Gikovate discorreu acerca do que concebe como “A arte de educar”. Em primeiro lugar, chamou a atenção para a velocidade das mudanças no início do século XXI, o que transformou o ato de educar crianças e adolescentes num fenômeno individual. De fato, o individualismo resultou dos avanços tecnológicos. Como contrapartida à crescente convivência de crianças com computadores e videogames, o psicoterapeuta sustenta que valores são fundamentais como padrões de referência na família e na escola. Na sua avaliação, há dois pilares de sustentação do mundo novo: a formação moral e a inquietação/curiosidade intelectual. A disciplina deveria voltar imediatamente a fazer parte dos princípios educacionais, mas a envelhecida dualidade entre egoísmo e generosidade teria de ser abandonada em favor de um novo padrão moral sem sentimentos de culpa.

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