Fonte: Das Sociedades Comunais ao modo de Produção Feudal
Escola
de Formação Básica
Multiplicadora
da Economia Popular Solidária
2ª edição
“O mundo de carências
das populações periféricas, revela a violência do sistema que as cria. No
fundo, geradas nas carências impostas e apresentadas como algo natural, para
estas populações a vida, quase sempre, é o que há a partir do que sobra. De vez
em quando, porém, o sonho ultrapassa os limites do que sobra. Os corpos cansam,
mas no coração e nas noites as pessoas praticam, a seu modo, os sonhos de uma
existência em que a vida não seja apenas o que há a partir do que sobra.” Paulo Freire,
1921-1997
É muito comum, hoje
em dia, escutar as seguintes frases: “O trabalho dignifica o homem”; “Quem
não trabalha é vagabundo”, etc. Mas não foi sempre assim.
“Trabalho” vem
de tripalium (latim), que era um instrumento de tortura usado pelos
romanos, para obrigar os escravos a trabalhar. A idéia de sofrimento deu lugar
ao termo “esforçar-se”, “lutar”, para chegar, enfim, à palavra “trabalhar”.
Inclusive, em muitas
línguas derivadas do latim, costuma-se ainda dizer “trabalho de parto”,
recuperando a maldição divina contra Eva. Aliás, não só contra ela. Em Gn
(3:16), disse Deus a Adão: “Maldito é o solo por causa de ti! Com
sofrimento dele te nutrirás todos os dias de tua vida (...). Com o suor
de teu rosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste
tirado” (CHAUÍ. In: LAFARGUE,p. 12).
“A história do
trabalho teve sua origem na busca humana de formas de satisfazer suas
necessidades biológicas de sobrevivência. À medida que essas necessidades foram
sendo satisfeitas, outras foram surgindo, fazendo com que nascessem novas
relações que determinaram a condição histórica do trabalho.
Com o passar do
tempo, a produção, antes limitada à sobrevivência, começou a ser maior que o
necessário, gerando excesso de produção. Quando isto acontecia, o
excedente era estocado para ser usado, por exemplo, em uma catástrofe natural,
ou então em festas coletivas. “Essa enorme produção, obtida sem gerar a
exploração de ninguém, foi adquirida por um trabalho mínimo: 3 a 4 horas
por dia, no período de máxima intensidade; 15 dias de trabalho por ano,
em média. Em um sistema ecologicamente equilibrado, a natureza dava
generosamente seus frutos, e a técnica, adaptada às necessidades, era
muito desenvolvida” (GUILLERM e BOURDET, p. 99).
Infelizmente, esse
excedente acabou fazendo com que fosse despertada em alguns indivíduos, a
possibilidade da detenção do poder. A produção começou a ser disputada. Além
disso, a terra, que era de todos, foi sendo repartida, tornando-se propriedade
privada, terminando assim a igualdade entre eles, uma vez que apenas uma
minoria foi beneficiada. A desigualdade começa quando se estabelece a divisão
entre as famílias proprietárias e as não-proprietárias. Assim, surgem as classes
sociais; e também “(...) a luta de classes, na medida em que a classe
proprietária procura aumentar suas posses, impedindo que19 Das Sociedades
Comunais ao modo de Produção Feudal os demais se tornem proprietários; e na
medida em que os não proprietários
querem se tornar
proprietários, ameaçando as propriedades
dos primeiros” (Frei BETTO, p. 14).
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