Sociedade | 29/7/2011 - 09h00
A questão social influenciando na dinâmica ambiental
por Vinícios de Moraes Betiol*
Não é um tema novo, o debate relativo à ação antrópica no meio ambiente, porém fala-se pouco dos motivos que estão por trás dessas ações. Estamos acostumados a ver problemas serem descritos, muitas das vezes com riquezas de detalhes, e quase sempre o estudo termina no apontamento do culpado, que costuma ser o homem. Porém dificilmente veremos estudos que ao invés de focar o problema ambiental em si, apontem as questões sociais que levaram à formação do problema.
Para trabalhar essa questão, interligando problemas ambientais com a questão social, podemos pegar o Rio Imboaçu, que fica no Município de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, como exemplo de um ambiente que sofre uma série de impactos antrópicos negativos, mas que tem presente em sua dinâmica toda uma problemática social, motivando tais impactos.
Tal rio é apenas um dos muitos rios localizados em áreas urbanas no Brasil, e apresenta características muito conhecidas daqueles que estão acostumados a trabalhar com a questão ambiental.
As construções irregulares estão por toda parte, e muitas das vezes vão além das margens, havendo construções até mesmo dentro do rio. A quantidade de lixo existente também é assustadora, podendo ser vista até mesmo por foto de satélite. Além disso, a maior parte do esgoto da região próxima é jogado diretamente no rio. Como se não bastasse, a Prefeitura frequentemente faz obras de retilinização, cimentação e canalização do rio.
Os problemas citados, como já disse, não são exclusivos do Rio Imboaçu, são características marcantes de boa parte dos rios brasileiros localizados em ambientes urbanos. Que tais problemas são causados por ações antrópicas, também não é uma novidade. A questão é: por que ocorrem essas ações?
Para responder essa pergunta, precisamos saber o perfil das pessoas que auxiliam as ações negativas na dinâmica do rio. Por isso, a primeira coisa que deve ser destacada é a questão da formação do imaginário dessas pessoas.
Quando perguntadas a respeito da poluição de um rio, todas elas são extremamente contra quem faça um ato que possa poluir um rio. O único problema é que para elas, os rios são aqueles que são vistos na televisão, como o Amazonas e o São Francisco. Aquele rio que passa perto da casa delas, é entendido como um “valão”.
A formação desse imaginário errôneo a respeito do rio abre espaço para um outro problema social, que é o tipo de educação a que essas pessoas têm acesso, além da problemática a respeito de com quais tipos de serviços públicos essas pessoas podem contar.
A maior parte do rio passa por áreas carentes, em que boa parte desses indivíduos não tem um estudo adequado, e por isso não tem o mínimo de consciência ambiental, de que ao invés de estar jogando dejetos em um valão, estão poluindo um rio.
Para piorar, além dessas pessoas não terem acesso a uma boa educação ambiental, também não têm acesso a bons serviços públicos. A coleta de lixo, por exemplo, costuma demorar, fazendo com que as pessoas sejam obrigadas a encontrar outros fins que não seja o caminhão de lixo.
A rede de esgoto, também não chega à maior parte dessas pessoas, que sem ter onde despejá-lo, acabam direcionando esses dejetos através de canos, diretamente para dentro do rio, que é tido por eles como o valão.
Os projetos habitacionais também não conseguem dar vazão à demanda, e com isso as pessoas seguem morando em áreas de risco de enchente, às margens ou dentro dos rios, podendo perder bens materiais e até mesmo a vida.
Nesse contexto, fica evidente que não podemos simplesmente apontar os problemas ambientais, e dizer que é por culpa da ação antrópica, sem compreender os problemas sociais que antecederam a agressão ambiental.
Com isso, fica claro que o estudo ambiental encaminha-se para um contexto em que, antes de mais nada, passa a ser necessário haver uma ligação socioambiental para que possamos compreender de fato os causadores dos problemas que estão sendo analisados.
* Vinícios de Moraes Betiol é formado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e cursa pós-graduação em Dinâmicas Urbano-Ambientais e Gestão do Território.
(O autor)
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