quinta-feira, 9 de dezembro de 2010


Opinião: Pais têm de observar se 


timidez dos filhos é excessiva

Vida social é uma parte importante de todo e qualquer indivíduo.
Crianças muito tímidas têm de ser estimuladas pelos familiares.

Ana Cássia MaturanoEspecial para o G1, em São Paulo
Ilustração psicóloga(Ilustração: Arte/G1)
Na coluna anterior, comentei sobre a importância dos pais participarem das festas de fim de ano nas escolas das crianças. Se para um adulto este tipo de evento parece ser algo sem importância, para elas é justamente o contrário: as atividades escolares é o que há de principal em suas vidas.
Nessas situações, que expõe bastante os alunos, algumas crianças são bem exibidinhas. Passeiam pelo palco (geralmente é alguma apresentação teatral) como se estivessem no quintal de casa. Fazem graça e acontecimentos fora do script e são levados na brincadeira. Conseguem se divertir com suas próprias atrapalhadas.
Nem todas, porém, se sentem à vontade diante de uma plateia. Apesar de saberem toda a sequência da apresentação, estar na frente das pessoas, para algumas delas, é um tanto sofrido. Mesmo assim participam, apesar do desconforto. Com a maioria funciona desta maneira.
No entanto, para outras crianças, a situação muda de figura. Podem estar bem preparadas em seu papel, mas a hora de aparecer para o público se torna tão angustiante, que caem aos prantos. O sofrimento fica estampado em seus rostos e se negam a participar. Agarram-se aos seus pais, principalmente às mães, como se fossem verdadeiros polvos: pernas e braços se engancham no corpo do adulto. Entre elas, algumas já desistem de antemão: nem participam dos ensaios.
Muitas famílias já preveem o comportamento dos pequenos. Sabem que ele irá chorar e o lembram disso: “Vê se não vai chorar na hora!”. Há pais que se angustiam mais que os filhos. Sofrem porque acham que o pequeno não vai aguentar. E não é que suas previsões estavam certas: o garoto pulou fora na hora.
Às vezes, não sabemos quem é que realmente está sofrendo: o adulto, por achar que o filho não consegue; ou o filho, por ser muito tímido. Em situações assim, muitos não sabem como agir: forçar a criança a participar mesmo contra sua vontade ou simplesmente deixar como está, como se essa fosse uma característica sua?
Timidez não é algo necessariamente ruim. Penso não ser muito sábio uma pessoa chegar em um lugar e simplesmente ir ocupando os espaços. Nem tudo é seguro e ir um pouco devagar em situações novas é, no mínimo, prudente. Pode-se, assim, conhecer a situação.
No entanto, para algumas pessoas, qualquer situação que possa colocá-la um pouco em evidência, como cumprimentar alguém em uma festa, por exemplo, pode ser extremamente doloroso. Algumas tendem até a se isolar das outras – não participam de nada além da rotina já velha conhecida. Costumam temer as situações sociais, quando os fantasmas da rejeição e de uma possível avaliação negativa as rondam.
Vida social
Pessoas com essas características carregam isso desde a infância. Por isso, embora ninguém precise participar de um teatro escolar a contragosto, é importante observar se a criança tem apenas uma resistência ao palco ou se as interações sociais são muito sofridas para ela. Caso ela tenha dificuldades nessa área, é necessário cuidar – além de ser sofrido para a criança, isso não tende a melhorar com o tempo (como muitos pensam).
A vida social é uma parte importante de todo e qualquer indivíduo. O desenvolvimento das habilidades sociais depende da interação dele com seus pares. Quanto mais a pessoa se fecha, mais difíceis se tornam essas situações para ela, quando então passa a se considerar uma pessoa incompetente para isso.
Por isso, ao percebermos uma criança muito tímida, é importante que a ajudemos em situações com os outros que não os familiares. Um bom começo é estimulá-la com palavras que demonstrem confiança em sua capacidade de participar de um grupo, de interagir com outras pessoas ou até de se colocar em evidência (como o teatro). E jamais obrigá-la a fazer algo que não queira.
Diante de uma desistência, como no caso de não querer participar da festa escolar, o melhor é acolhê-la com carinho. Quem sabe até acompanhá-la em uma situação que ela tema. Sempre com o cuidado de os pais não ficarem presos no medo da criança e, assim, desestimulá-la de qualquer participação social.
Se com o passar do tempo e a ajuda da família e da escola (principal meio social onde muitas coisas são observadas e trabalhadas) não houver nenhuma mudança, faz-se necessário procurar ajuda de um profissional da área da psicologia. Vale a pena! Pessoas assim sofrem muito com suas inseguranças e medos.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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